A atualidade da filosofia
No dia 17 de novembro, celebra-se o Dia Mundial da Filosofia. É um momento oportuno para refletir sobre esse saber, ao mesmo tempo, tão antigo e tão atual. A Filosofia não é algo depositado em textos do passado que só interessam aos historiadores das ideias. Pelo contrário, as questões que ela levanta são do interesse de quase todos nós. Afinal, quem pode permanecer indiferente a muitos dos seus problemas como, por exemplo, se Deus existe ou não, se o universo e nós nele somos o produto do cego acaso, ou se, pelo contrário, fazemos parte do plano de um ser superior, se a morte é ou não é o fim de tudo?
Muitas vezes se tem decretado a morte da Filosofia. No século 19 os positivistas acreditaram que o avanço da ciência deixaria a Filosofia sem temas, pois, na sua perspectiva, todos os assuntos que, até então, tinham sido objeto da especulação filosófica poderiam, no futuro, ser abordados de forma científica, por meio do método experimental. Contudo, não foi isso o que aconteceu. Ao invés, o progresso da ciência e da tecnologia abriu novos âmbitos para a pesquisa filosófica. Basta pensar na bioética, ramo atual da Filosofia em que são avaliadas, desde um olhar ético, decisões sobre a vida e a morte, envolvidas nas discussões sobre o aborto, a eutanásia e a pesquisa farmacológica com animais. Mas, também nesse ramo da Filosofia, discutem-se problemas éticos inconcebíveis para os filósofos do passado, como os relativos ao uso de embriões e à fecundação in vitro. Outra área da Filosofia que o avanço científico e tecnológico tornou possível é a que se denomina Filosofia da mente. Nessa disciplina, abordam-se assuntos tais como: se as máquinas poderiam pensar e em que sentido poderiam fazê-lo; se os processos mentais são processos cerebrais, ou, pelo menos, são redutíveis a eles; se o ser humano é livre ou se é um autômato.
Nessa enumeração das questões atuais da Filosofia, não poderia deixar de ser mencionada a ética ambiental, na qual se contrapõem, desde uma visão filosófica do assunto, de um lado o imperativo do desenvolvimento econômico e social e de outro lado a necessidade de se preservar o meio ambiente para as futuras gerações. Se os problemas dos diversos ramos da ética filosófica são tão difíceis de resolver, isso é devido ao fato de não se tratar, nessa disciplina, de opor o bem ao mal, mas de avaliar as razões que militam em favor de escolher entre Bens que não podem ser obtidos ao mesmo tempo. Com efeito, escolher um significa sacrificar o outro.
Esses novos problemas da Filosofia acompanham os tradicionais, sobre os quais se debate desde a antiguidade clássica: o ceticismo e a possibilidade de chegar a conhecimentos certos; as relações entre linguagem, realidade e pensamento; o sentido da vida humana; a questão da existência de Deus. Nestes últimos tempos, a Filosofia recuperou uma função que já tivera na época do Império romano: a de ser uma sabedoria, um discurso argumentativo, baseado na razão humana e não na religião, cujo tema é como devemos viver para ser felizes. Daí decorre o sucesso de livros como Aprender a viver, do francês Luc Ferry.
Com este breve texto, esperamos ter despertado no nosso leitor o interesse e a curiosidade pela Filosofia e ter-lhe mostrado a atualidade dessa disciplina. Nesse caso, nosso propósito ao escrevê-lo terá se realizado.
Jorge Alberto Molina
Professor de Filosofia da Unisc
Fonte:Jornal Gazeta do Sul 17/11/2011
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