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quinta-feira, 15 de maio de 2025

Anvisa inicia monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos

 







Coletas serão feitas em varejista, tais como supermercados e sacolões

A Agência de Nacional de Vigilância Sanitária Anvisa (Anvisa) iniciou este mês um novo ciclo de coleta de amostras do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos. A ação é uma parceria com estados e municípios e com o Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais

Em nota, a agência reguladora informou que o ciclo 2025 prevê a coleta de 3.505 amostras de um total de 13 alimentos, incluindo abacaxi, amendoim, batata, brócolis, café (em pó), feijão, laranja, mandioca (farinha), maracujá, morango, quiabo, repolho, trigo (farinha).

As coletas, segundo a Anvisa, estão previstas para ocorrer entre maio e dezembro no Distrito Federal e nos seguintes estados: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.


“Este é o terceiro ciclo do Plano Plurianual 2023–2025, que prevê o monitoramento de 36 alimentos que representam cerca de 80% do consumo nacional de alimentos de origem vegetal”, destacou a agência.

Entenda

Criado em 2001, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos é o resultado de uma ação conjunta da Anvisa, de vigilâncias sanitárias locais e de laboratórios centrais de saúde pública. A proposta é monitorar resíduos de agrotóxicos em alimentos que chegam à mesa do consumidor, visando reduzir eventuais riscos à saúde.

De acordo com a Anvisa, as coletas dos alimentos são realizadas pelas vigilâncias sanitárias estaduais e municipais, em locais onde a população adquire os alimentos, de forma que se obtenha amostras com características semelhantes ao que será consumido.

“Assim, as coletas são realizadas semanalmente no mercado varejista, tais como supermercados e sacolões, seguindo uma programação que envolve a seleção prévia dos pontos de coleta e das amostras a serem coletadas”, informou a agência.

Atualmente, o programa analisa mais de 300 agrotóxicos em 36 alimentos, totalizando mais de 45 mil amostras analisadas desde 2001. A escolha dos alimentos leva em conta a dieta básica da população brasileira, conforme dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Anvisa explica que os resultados subsidiam medidas quanto às irregularidades e riscos identificados, além de possibilitar a avaliação e o mapeamento das situações em que os resíduos de agrotóxicos nos alimentos possam representar risco à saúde da população.

Fonte: Agência Brasil

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Água da chuva pode estar contaminada por agrotóxico, diz estudo

 








Pesquisa encontrou resíduos do produto em amostras de três cidades

Estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que a água da chuva pode estar contaminada por agrotóxicos e que o uso desta água para fins de abastecimento da população deve ser feito com cautela. As informações são da Revista Fapesp.

A pesquisa, publicada no periódico científico Chemosphere, coletou e examinou amostras de três cidades paulistas: Campinas, Brotas e a capital São Paulo. Nos três locais, a água da chuva estava contaminada com agrotóxicos. A coleta ocorreu no período de agosto de 2019 a setembro de 2021.

Campinas apresentou a maior concentração de agrotóxicos (herbicidas, fungicidas e inseticidas), com 701 microgramas por metro quadrado (µg/m²), seguindo-se Brotas, com 680 µg/m2, e São Paulo, com 223 µg/m².

Segundo a Revista Fapesp, as análises indicaram uma associação direta entre a proporção de agrotóxicos encontrados e a extensão dos cultivos agrícolas, que ocupam quase metade dos 795 quilômetros quadrados (km²) do município de Campinas, 30% dos 1.101 km² de Brotas e 7% dos 1.521 km² da capital paulista.

Entre os 14 agrotóxicos identificados, o herbicida atrazina, apesar do uso ser proibido, foi detectado em todas as amostras das três cidades.

“A ideia de que a gente, ao tomar água de chuva, nós estamos tomando uma água limpa, ela não é de toda verdade. Eu acho que isso que o estudo acaba trazendo um pouco: de levantar esse alerta com relação a essa questão ou a esse uso”, destacou a coordenadora do estudo, Cassiana Montagner à Revista Fapesp.

Fonte: Agência Brasil

quarta-feira, 3 de julho de 2019

UM ABORTO A CADA QUATRO GRÁVIDAS

A cidade em que o agrotóxico glifosato contamina o leite materno e mata até quem ainda nem nasceu
The Intercept Brasil

Bebê morreu ainda no útero, com 25 semanas
Por Nayara Felizardo, The Intercept Brasil
O FILHO DE MARIA Félix, de 21 anos, resistiu pouco mais de seis meses de gestação. Morreu ainda no ventre, com apenas 322 gramas. A causa do aborto, que aconteceu com 25 semanas de gravidez, foi má formação: o bebê tinha o intestino para fora do abdômen e também problemas no coração. Não é incomum que as mães da região percam seus filhos precocemente. O bebê de Maria, ao que tudo indica, foi mais uma vítima precoce do agrotóxico glifosato, usado em grandes plantações de soja e de milho em Uruçuí, a 459 km de Teresina, no Piauí.

O mesmo veneno que garante a riqueza dos fazendeiros da cidade, no sul do estado, está provocando uma epidemia de intoxicação com reflexo severo em mães e bebês. Estima-se que uma em cada quatro grávidas da cidade tenha sofrido aborto, que 14% dos bebês nasçam com baixo peso (quase do dobro da média nacional) e que 83% das mães tenham o leite materno contaminado. Os dados são de um levantamento do sanitarista Inácio Pereira Lima, que investigou as intoxicações em Uruçuí na sua tese de mestrado em saúde da mulher pela Universidade Federal do Piauí.

Conheci a história de Maria Félix Costa Guimarães na maternidade do hospital regional Tibério Nunes, na cidade de Floriano. É para lá que as mulheres de Uruçuí são encaminhadas quando têm problemas na gravidez. Nos primeiros exames, feitos em julho, já havia sido identificada a má-formação no feto. Em setembro, no leito do hospital, encontrei a jovem, que lia a Bíblia e se recusava a comer. Carregava um olhar entristecido, meio envergonhado. Ela tinha sofrido o aborto no dia anterior e aguardava o médico para fazer uma ultrassom e se certificar de que não seria necessária a curetagem (cirurgia para retirada de restos da placenta).

Laudo do ultrassom que constatou a morte do bebê. ‘A principal consequência é a atrofia de alguns órgãos’, diz o médico. 
Maria não tinha condições emocionais para conversar, por isso falei com a sua tia, a funcionária pública Graça Barros Guimarães. Ela não sabia sobre a pesquisa realizada em Uruçuí, mas acredita nos resultados apontados por Lima. “Se a gente for avaliar, o agrotóxico causa problema respiratório e de alergia. Então é claro que se a mulher tiver grávida, o bebê pode se contaminar também”.
Graça me contou que a sobrinha sempre esteve rodeada de fazendas de soja. A casa onde vive, em Uruçuí, fica a cerca de 15 km de uma plantação. Antes, ela morava na zona rural do município de Mirador, no Maranhão, onde também há plantio de soja. “Os fazendeiros tomaram conta de tudo.”

Em meados de agosto estive em Uruçuí para conversar com profissionais da saúde e com os trabalhadores agrícolas. Eu queria entender como viviam as pessoas no município contaminado pelo glifosato, e se elas tinham noção de que o problema existe. Também liguei para o pesquisador Inácio Pereira Lima, que culpa o agronegócio pelo adoecimento das pessoas. “Tudo isso é consequência do modelo de desenvolvimento econômico em que só o lucro está em foco, independente das consequências negativas para a população”, ele me disse.

Epidemia de glifosato
O glifosato é o agrotóxico mais usado no Brasil. É vendido principalmente pela Monsanto, da Bayer, com o nome comercial de Roundup. Seus impactos na saúde humana são tão conhecidos que o Ministério Público pediu que sua comercialização fosse suspensa no Brasil até que a Anvisa fizesse sua reavaliação toxicológica. Em agosto, a justiça aceitou e o glifosfato foi proibido. A suspensão foi classificada como um “desastre” pelo então ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e foi duramente combatida por ruralistas e pela indústria.

A decisão, no entanto, foi derrubada pela justiça em segunda instância poucas semanas depois. Maggi – que também é conhecido como “rei da soja” – não escondeu o seu entusiasmo com a liberação do agrotóxico:


A Monsanto diz que o produto é seguro, mas e-mails da empresa divulgados no ano passado mostram que ela pressionou cientistas e órgãos de controle nos EUA para afirmarem que o glifosato não causa câncer. Isso não impediu a Monsanto de ser condenada a pagar mais de R$ 1 bilhão a um homem que está morrendo de câncer nos Estados Unidos. Cerca de 4 mil ações parecidas estão em curso naquele país.

O produto representa quase a metade de todos os agrotóxicos comercializados no Piauí. O pesquisador Lima explicou que a presença da substância no leite materno indica a contaminação direta ou que as quantidades utilizadas na atividade agrícola da região são tão elevadas, que o excesso não foi degradado pelo metabolismo da planta. As mulheres estudadas por ele sequer trabalham nas lavouras: elas estão intoxicadas porque fazem limpeza, cozinham nas fazendas ou porque comeram o herbicida nos alimentos. Lima, em sua tese, explica que o organismo é contaminado pela pele e vias respiratória e oral.

Mulheres, as maiores vítimas
Pelos registros do hospital regional de Uruçuí, os abortos ocorrem geralmente em mulheres entre 20 e 30 anos, que chegam até a 10ª semana de gestação. O número elevado de casos é citado por Iraídes Maria Saraiva, enfermeira plantonista. “São muitas as mulheres que chegam com sangramento ou já com o ultrassom mostrando que o feto não tem batimentos cardíacos. A maioria desses abortos são espontâneos”, me disse.

Muitas mulheres têm a gravidez interrompida logo nas primeiras semanas. Sem saber que estão grávidas, elas seguem trabalhando cercadas pelo glifosato. Quando descobrem, já não há mais o que fazer. “Dificilmente é a primeira gravidez e elas não têm doenças pré-existentes. Quer dizer, são mulheres jovens que aparentam ser saudáveis”, observou a enfermeira.

Há ainda as que sabem que estão esperando um filho mas não podem deixar o trabalho, simplesmente porque dependem do salário. As que passam da fase mais crítica e levam a gravidez até o fim correm alto risco de ter má formação do feto.

Na maternidade de Floriano, o coordenador do setor de obstetrícia Luiz Rosendo Alves da Silva já viu muitos casos de aborto e de má-formação. Ele acredita na culpa dos agrotóxicos. “É uma contaminação lenta, gradual e diária. A principal consequência é a atrofia de alguns órgãos, principalmente coração e pulmão”.

Alanne Pinheiro, enfermeira do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), observa que as mulheres estão expostas aos agrotóxicos de forma mais perigosa do que os homens que trabalham diretamente na aplicação do veneno. “Elas ficam na cozinha ou fazem a limpeza das fazendas e acabam inalando o agrotóxico de forma indireta. Como não usam roupas especiais, sofrem mais o efeito da intoxicação passiva.”

PIB alto, salário baixo
A cidade de 21 mil habitantes tem as características comuns do interior, onde a vida acontece sossegada e todo mundo se conhece. Quase um terço da população vive na zona rural. No percurso de 40 km do centro até o Assentamento Flores – onde moram muitos dos trabalhadores com quem eu pretendia conversar – quase não há árvores, exceto em pontos isolados ao redor da casa grande, a sede da fazenda. A sensação é de um enorme deserto e uma riqueza distribuída entre poucos.

Uruçuí não é um município pobre. O PIB per capita, de R$ 49 mil, era o 2º maior do Piauí em 2015, último ano da pesquisa do IBGE. Perdia apenas para a cidade vizinha, a também agrícola Baixa Grande do Ribeiro. Mas na prática, o salário dos trabalhadores é de R$ 1.900 por mês, em média.

Quem enriquece de verdade são os fazendeiros. A maioria deles saiu do sul do Brasil para o cerrado piauiense em busca de terras e do clima ideal para o plantio de suas lavouras. Outros ocupam ou já ocuparam cargos na política como deputados ou vereadores. É o caso do ex-deputado estadual Leal Júnior, eleito três vezes para o mesmo cargo, e da vereadora de Uruçuí Tânia Fianco.

‘Não fale com eles’
Joana* trabalhou como cozinheira na Fazenda Serra Branca há sete anos. Ela conta que o cheiro do agrotóxico chega até as trabalhadoras, mesmo quando elas não estão nos locais onde o veneno é aplicado. “Dependendo da posição do vento, a gente sentia. E se tivesse aplicando com o avião, era mais forte. Às vezes eu chegava em casa com dor de cabeça e sabia que era do veneno”, lembra ela, que prefere não se identificar. “Sabe como é, né? A gente depende das fazendas”, conforma-se. O marido ainda trabalha no agronegócio.

Se os males causados pelos agrotóxicos se limitassem às mães e aos seus bebês, o problema já seria grave o bastante, mas o sanitarista Inácio Pereira Lima faz um alerta. “Como minha pesquisa foi voltada para a mulher, coletei amostras biológicas exclusivas; por isso foi o leite. Mas, se a pesquisa fosse da população em geral, poderia optar por outro tipo de amostra como sangue ou urina. E talvez chegasse a esses mesmos resultados. Ou seja, toda a população está sob risco, e não só as mães que amamentam”, me explicou o pesquisador.

Ouvi de muitas pessoas da cidade que alguns fazendeiros não são simpáticos com quem os contraria. O conselho que todo mundo me deu foi: “Não fale com eles”. As fazendas têm seguranças armados.

Decidi ir ao escritório da Fazenda Canel, administrada pelas famílias Bortolozzo e Segnini, originárias de Araraquara, no interior de São Paulo. Eles se instalaram no Piauí há 30 anos e são os pioneiros no plantio de soja no estado. Eu queria entender a posição deles. Todos se negaram a conversar comigo. Funcionários justificaram que os responsáveis estavam “viajando para o exterior”.

Mais medo de demissão do que de doença
Na cidade onde quase todo mundo se conhece, o mesmo segredo é compartilhado. Ninguém fala para os profissionais de saúde quando sente os efeitos do agrotóxico no organismo, e dificilmente o hospital é procurado. Se a intoxicação for mais grave, os trabalhadores escondem dos médicos sua possível causa. É muito difícil detectar laboratorialmente doenças causadas por agrotóxico. Se o paciente não fala, muitas internações provocadas pelos químicos não caem na conta deles.

A enfermeira Alanne Pinheiro me disse que as pessoas têm medo de perder o emprego. “Se eles disserem que estão doentes por causa dos agrotóxicos, aquilo pode repercutir na cidade e ficar mal pro fazendeiro. Os trabalhadores têm mais medo de demissão do que de uma doença.”

‘Quando a gente começa a investigar, eles não falam tudo.’
Há ainda a falta de conhecimento sobre os riscos dos agrotóxicos. “Eles nem acreditam que possa acontecer algum problema grave porque os danos só aparecem a longo prazo. Não existe a percepção de que os males se acumulam e podem trazer doenças irreversíveis, como um câncer que já se descobre em metástase”, diz Alanne.

Um possível exemplo é João*, marido de Helena*. Conversei com ela porque João sai cedo para a Fazenda Nova Aliança e só chega à noite. Este ano, o trabalhador teve uma alergia nos braços, mas decidiu tratar em casa. Sem avaliação médica e sem exames, João se auto-medicou. “Acho que não foi agrotóxico, porque ele é pedreiro e não mexe com veneno. Deve ter sido por causa do cimento”, opina a mulher.

É comum que os moradores atribuam os sintomas da intoxicação a outras causas. “Os pacientes chegam com queixas vagas, como ardência nos olhos. Mas, quando a gente começa a investigar, eles não falam tudo”, comenta a enfermeira Iraídes. Nas raras vezes em que vão ao hospital, são levados por algum funcionário da fazenda. Com essa vigília, o medo de perder o emprego é maior e a saúde fica em segundo plano.

O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador está tentando evitar o alto índice de subnotificação: eles treinam os enfermeiros e médicos para que notifiquem os casos de intoxicação quando perceberem os sintomas, independente do que afirmam os pacientes.

Tecnologia para o lucro
Geivan Borges da Silva é técnico em agropecuária e presta assessoria para muitos fazendeiros de Uruçuí. Ele defende que o uso de sementes transgênicas reduz a necessidade de agrotóxicos. “Quase 100% das áreas plantadas aqui são de variedades transgênicas, resistentes a muitos tipos de praga e ervas daninhas”, ameniza.

Na verdade, as provas científicas dizem o contrário. O dossiê sobre agrotóxicos da Abrasco, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva, mostra que o uso de transgênicos aumentou a necessidade de defensivos agrícolas. É só olhar para a soja, campeã no uso de agrotóxicos: 93% da safra é transgênica, e a quantidade de litros de produtos químicos aumentou mesmo assim.

Na região sul do Piauí, as sementes de milho, soja e algodão também são vendidas pela Monsanto, a mesma que fornece o glifosato, de acordo com o cadastro de junho de 2018 da Agência de Defesa Agropecuária do Piauí, a Adapi.

Outra tecnologia defendida por Silva é a que minimiza a disseminação do agrotóxico no ar: usa-se um produto que aumenta o peso da gota, fazendo com que ela desça diretamente na planta e não disperse com o vento. “Tudo é agricultura de precisão para reduzir os custos”, argumenta.

É certo que essas tecnologias otimizam a produção agrícola, mas elas foram incapazes de evitar a intoxicação de Emanuel*, que trabalha como operador de máquina de aplicação de agrotóxico na Fazenda Condomínio União 2000.

Após um ano trabalhando, Emanuel sentiu tontura, fraqueza, ardência nos olhos e chegou a vomitar. Quem conta essa história é a esposa dele, Rosa*. “Nós fomos pro hospital e quando saiu o resultado do exame, deu que tinha agrotóxico no sangue. A médica passou remédio, mandou ele se afastar do trabalho por um tempo e tomar muito leite”.

Emanuel melhorou, mas há três anos voltou para o mesmo ofício. “Ele já me disse que só fica até o final desse ano. Não vale a pena perder a saúde por causa de dois mil por mês”, diz Rosa. Eram 18h quando me despedi. O marido dela ainda não tinha chegado. Ele trabalha para a vereadora Tânia Fianco, do PSDB.

No Brasil, o Projeto de Lei conhecido como PL do Veneno pretende liberar mais rapidamente vários produtos, entre eles muitos que são à base de glifosato. O lobby da indústria é pesado, e ataca sobretudo a Anvisa, agência reguladora suscetível a todo tipo de pressão e que já mostrou que está disposta a fazer o jogo das grandes corporações.

*Os nomes dos trabalhadores foram alterados para preservar suas identidades.

Fonte:The Intercept Brasil / EcoAgência

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Mortandade das abelhas já é generalizada no Rio Grande do Sul (primeira parte)

Nunca houve nada igual, dizem apicultores. Pelo menos 250 mil colmeias desapareceram no Rio Grande do Sul em 2015. Culpa é dos agrotóxicos usados nas lavouras, apontam os especialistas

Chocados, tristes, desanimados. É como se sentem muitos apicultores do Rio Grande do Sul diante da assustadora mortandade das abelhas em suas colmeias. Pelo menos 250 mil colmeias desapareceram no Rio Grande do Sul em 2015. Todos os especialistas ouvidos não têm dúvidas em afirmar que a responsabilidade é dos agrotóxicos, usados descontroladamente nas lavouras, além do desmatamento que não para de aumentar.

“No Estado a morte de abelhas tornou-se generalizada, principalmente em áreas com uso intensivo de agrotóxicos”, afirma o coordenador da Câmara Setorial de Apicultura e Meliponicultura da Secretaria Estadual da Agricultura (Casam), Nadilson Ferreira. “O problema atinge maiores proporções nas regiões da Depressão Central, Missões, Alto Uruguai e parte da Campanha. Os agrotóxicos estão acelerando a perda de biodiversidade e contribuindo para o extermínio das populações de abelhas”, completa.

O fenômeno da mortandade tem um impacto muito grande no Estado, já que o Rio Grande do Sul é o maior produtor de mel do Brasil. São cerca de 30 mil apicultores, que produzem em torno de oito mil toneladas por ano (60% na primavera e 40% no outono). A metade é exportada, principalmente para a Europa, e a outra parte consumida no mercado interno.

Um temor que ronda os apicultores que trabalham com exportação é que, a continuar assim, o mel gaúcho passe a sofrer restrições e a perder valor nos países compradores por causa da contaminação por esses venenos. “Com toda essa desgraça (das mortes por envenenamento) o mel gaúcho ainda é considerado orgânico”, ressalta Ferreira.

O período de maior colheita, a primavera, é justamente o de maior atividade agrícola no Estado e de maior extermínio destes insetos pelos venenos jogados nas plantações. Estima-se que as perdas decorrentes, tanto de colmeias como da produção de mel, andem em torno de 30% a 40%, quase a metade. Mas os apicultores que ouvimos apontam um prejuízo muito acima disso.

MORTE ANORMAL

Os produtores de mel, de forma geral, contam que as abelhas começaram a morrer de forma anormal, sem nenhuma doença ou desnutrição que justificasse, há cerca de três ou quatro anos. É o caso de Luiz Darci Demo Garlet, 60 anos, que entre dezembro e janeiro último perdeu nada menos que 600 das 1.200 colmeias que tinha em Cruz Alta, no Noroeste do Estado.

Desde 2013 ele já vinha tendo perdas por causa dos agrotóxicos, de 100 a 200 caixas, onde ficam as colmeias, por ano. Ele tem certeza que a causa, desta última vez, foi um veneno ainda mais forte que usaram para atacar o “tamanduá-da-soja”, um inseto que raspa o caule da planta. Outros venenos, como os da lagarta da soja, relata, não matam tanto, mas deixam as abelhas desorientadas, fracas, e acabam perecendo também.

Como boa parte dos apicultores, ele acomoda as colmeias em propriedades de outras pessoas mediante o pagamento de uma comissão. Por isso, muitos como ele não reclamam e não informam o ocorrido aos órgãos de fiscalização ambiental. “Não podemos reclamar, porque senão os donos das terras vão dizer ‘pega tuas caixas (de abelhas) e vai embora’. Não tem o que fazer, fazer o quê?”, indaga o apicultor. Ele calcula que vai demorar quase dois anos para recuperar o que perdeu, isso se a mortandade não continuar.

“Outra dificuldade é a falta de lugar para colocar as abelhas porque estão terminando com os matos e elas têm que ser colocadas na sombra, porque se as colmeias ficarem no sol morrem todas”, acrescenta. Garlet que normalmente tirava 30 toneladas de mel por safra, este ano colheu apenas 11 toneladas com a perda de tantas colmeias: “Meus dois funcionários ficaram até mais chocados que eu. Tinha um apiário com 25 colmeias novas, lindas, bonitas, morreram as 25. Isso entristece muito”, lamenta.

NUNCA HOUVE NADA IGUAL

O vice-presidente da Associação dos Apicultores da cidade, Walmor Kirchhof, 65 anos, confirma que a mortandade é generalizada, atingindo a todos os apicultores: “Nunca tinha acontecido nada igual como nesse ano, todo o pessoal da região perdeu uma barbaridade de abelhas”, relata.

Das suas 200 caixas sobreviveram apenas 40 colmeias. “Teve local que não sobrou nenhuma caixa”, completa. Até alguns anos atrás, perdia meia dúzia de caixas por ano.

Kirchhof garante que “doença não foi, as abelhas estavam fortes e estavam produzindo mel”. Mas, de repente, morreram todas e apodreceu tudo nas caixas. “Geralmente as traças comem a cera (quando as abelhas morrem por algum outro motivo), mas neste caso nem as traças apareceram, também morreram”, acrescentou.

Ele é aposentado, trabalha com isso há 35 anos e o mel é a maior parte da sua renda. “É um prejuízo enorme, a gente depende disso aí”. Como fornece para a merenda escolar, precisou comprar mel de outros fornecedores, de regiões distantes, para cumprir as encomendas.

VONTADE DE DESISTIR

Distante dali, bem no interior de São Borja, junto ao rio Uruguai, na fronteira com a Argentina, Vilmar Soares, 78 anos, que tem na atividade um complemento para a aposentadoria, já pensou até em desistir da apicultura. “Tinha 223 caixas, sobraram 70”, relata. Dos 900 quilos que costumava colher das colmeias agora só colhe 200. 

Ele conta que o extermínio começou por volta de 2014 e também está certo de que vem acontecendo por causa dos venenos das lavouras: “Já vi um enxame e no outro dia, depois que passaram veneno por perto, as abelhas estavam todas mortas. E a caixa fica imunizada, porque novos enxames na mesma caixa morrem também. Disseram que é um veneno que se um só inseto leva para a colmeia, contamina todas as outras”.

Assim como tantos outros, não procurou ajuda de ninguém, nenhum técnico, nenhuma autoridade, porque não sabe a quem procurar. Mas, principalmente, porque não quer “se incomodar” com os vizinhos agricultores, que estão utilizando os agrotóxicos: “A gente precisa dos vizinhos”, explica.

Soares diz que já se sentiu “desacorçoado”, um termo fronteiriço para desânimo, desalento. Pensou em desistir, mas vai continuar, por enquanto, tentando salvar o que restou da matança das suas abelhas pelos venenos das lavouras.

Da conversa com eles fica muito evidente que, além do negócio, cria-se uma relação de grande afeição por esses insetos, que Garlet conhece desde criança, quando ajudava o pai a produzir mel: “Na apicultura, se a pessoa não gosta das abelhas não funciona, a apicultura é uma profissão diferente, é algo da natureza, tem que gostar do bichinho”.

Por isso, se o prejuízo desses apicultores é enorme, o abalo emocional pela mortandade também: “É horrível!”, desabafa Kirchoff.

SITUAÇÃO EXTREMAMENTE GRAVE

A situação é tão alarmante que foi criado um Grupo de Trabalho da Mortandade das Abelhas, em 2015, ligado à Câmara Setorial (Casam). Durante um ano, entre 2015 e 2016, o GT fez estudos, reuniões, e, mês passado, entregou suas conclusões ao secretário da Agricultura, Ernani Polo.

“É uma situação extremamente grave”, define Sanderlei Pereira, coordenador da Emater/Ascar em Candelária, que coordenou o GT. “Estimamos uma redução de 40% do volume de mel colhido nas últimas safras e uma diminuição de 40% das colmeias do RS”. O GT constatou que todo o Estado está sendo atingido pela mortandade, com maior intensidade nas regiões com maior produção de cultivos anuais, como soja, arroz e milho.

A apicultura gaúcha exercida basicamente por pequenos agricultores/apicultores. Isto é positivo, diz Sanderlei, porque distribui muito bem geograficamente as colmeias e seus benefícios, na melhoria da alimentação das famílias rurais, na comercialização do seu excedente, agregando renda, e também pela polinização das culturas na propriedade. “Por outro lado, isso dificulta o levantamento da morte das colmeias e da diminuição da colheita”.

FIPRONIL E NEONICOTINOIDES

“A mortandade de abelhas ocorre também por fome, manejo errado de apiários, pólen tóxico (barbatimão), doenças e parasitas, causas essas conhecidas pelos apicultores, diferente da mortandade que vem ocorrendo nos últimos anos pela ação do Fipronil e algumas partículas dos neonicotinóides”, diz o relatório do GT.

O documento reforça como principal causa “O uso em larga escala no Brasil de agrotóxicos com efeitos nocivos às abelhas, em especial aqueles do grupo dos Neonicotinóides (Clotianidina, Imidacloprid, Tiametoxam) e Fipronil”.

Esses, especificamente, são os que têm ação fulminante sobre as abelhas, salienta Sanderlei. Eles causam a morte das polinizadoras até mesmo quando são usados no tratamento das sementes porque são sistêmicos, ou seja, entram na seiva das plantas e contaminam o pólen e néctar de suas flores, que são visitadas pelas abelhas quando acontece a floração.

Também as caixas e caixilhos ficam com resíduo de agrotóxico, muitas vezes causando intoxicação crônica na nova colmeia que ali é alojada e acaba sucumbindo também – como relataram os apicultores que entrevistamos.

PADRÃO DAS MORTES

O padrão do extermínio é sempre o mesmo. A morte repentina das abelhas, na sua totalidade ou em parte, com presença de abelhas mortas na caixa. Quando há presença de abelhas vivas ao redor, elas estão desorientadas e em pequeno número e há mel produzido nos favos.

Noutros casos, as colmeias vão perdendo população até ficarem sem abelhas no final do processo. Com a diminuição da população, acontece um estresse nas suas defesas que conduz a sucessivos ataques de varroase (um ácaro), bactérias e fungos, que causam a morte dos insetos restantes.

“Nenhuma espécie de abelha está livre da ação destes inseticidas. Sempre existiu morte de colmeias, por fome, mau manejo, mas com características próprias conhecidas pelos apicultores e técnicos, em média 10% ao ano, totalmente diferente do que vem ocorrendo, com mortalidade de até 80% das colmeias”, afirma Sanderlei.

O coordenador do GT salienta que não é a proximidade das lavouras que implica nas mortes e sim os produtos químicos usados nelas. A soja, por exemplo, “é benéfica para as abelhas, produz mel de excelente qualidade e a soja também se beneficia com as abelhas através da polinização, que amplia em média 10% a produtividade da lavoura”.

Na Europa, foi registrada perda de mais de um milhão de colmeias devido às mortes causadas pelos neonicotinóides. Quanto ao Fipronil, a Agência de Proteção do Meio Ambiente dos Estados Unidos classificou esse produto como de alto potencial cancerígeno (afeta principalmente a tireóide).

FONTE: Ecoagência


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

AGROTÓXICOS NOS ALIMENTOS






















Listamos 7 motivos para se preocupar com os agrotóxicos:

1) Em 10 anos, o número de agrotóxicos que chega ao consumidor final no Brasil dobrou

2) Cada brasileiro consome, em média, 5,5kg de defensivos agrícolas por ano

3) De cada 3 vegetais consumidos, pelo menos um possui níveis inaceitáveis de agrotóxicos
...

4) Os 5 alimentos mais contaminados: pimentão, morango, pepino, alface e cenoura

5) 64% dos agrotóxicos utilizados no Brasil foram considerados como produto perigoso

6) O glifosato é o mais utilizado no Brasil e a OMS reconheceu características cancerígenas do produto

7) Os agrotóxicos contaminam alimentos, a água que você bebe e também o leite materno


Em várias ações pelo país, o Ministério Público Federal vem pedindo a suspensão ou o banimento do uso de certos produtos agrotóxicos. Em uma dessas ações, a Justiça determinou que a Anvisa precisa concluir estudos sobre 6 herbicidas utilizados no Brasil. Entre eles está o glifosato, considerado produto perigoso.
http://bit.ly/1LIJCNF

Relatório da Anvisa:
http://bit.ly/1ekn7R5
Dossiê Abrasco:
http://bit.ly/1NloI33
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2012 (IBGE):
http://bit.ly/1Noo0Xd

sábado, 23 de maio de 2015

ABELHAS EM PERIGO, HUMANIDADE EM PERIGO




“Sem abelhas, o planeta vai virar um deserto”. A frase, do presidente da Associação Gaúcha de Apicultores (AGA), Adenor Furtado, ilustra uma realidade distópica que, infelizmente, nunca foi tão possível: as colmeias estão diminuindo gradativamente e ameaçam sumir por completo. Sem elas, a humanidade duraria mais, no máximo, quatro anos, segundo ninguém menos que Albert Einstein. No Hemisfério Norte, a síndrome do desaparecimento foi detectada pela primeira vez em 2007. No Brasil, em 2011. E de lá para cá, pouco foi feito para reverter o quadro. Adenor declara que os produtores de mel gaúchos já perceberam, sim, uma queda nas populações de abelhas no Rio Grande do Sul e atribui o fato aos transgênicos, já que o pólen é onde mais se manifesta a alteração genética e o excesso de agrotóxicos. “Sem pólen bom, não há abelha sadia”.

A apicultora e engenheira agrônoma Claudia Wolff tem certificação orgânica e garante não ter sentido diferença: por serem orgânicas, as colmeias devem estar a uma distância de pelo menos 3 km de áreas urbanas ou de lavouras que utilizam agrotóxicos, o que garante a saúde dos enxames. O que Claudia percebe é como está cada vez mais difícil encontrar áreas adequadas para este cultivo de mel. “Ainda tem muito mato disponível, mas a soja está entrando com muita força, muitos produtores tem de mudar os apiários de lugar porque são surpreendidos com novas lavouras nas proximidades”, conta.


Osmia caerulescens. Fonte: USGS Bee Inventory and Monitoring Lab, Creative Commons


Mais do que trabalhadoras produtoras de um poderoso adoçante natural, elas são um exemplo perfeito de como nosso estilo de vida deveria estar em harmonia com a natureza e todos os animais. Exploramos colônias de abelhas desde a pré-história, mas a importância desses insetos para nossa alimentação, embora poucos tenham consciência disso, vai muito além de mel, cera, própolis e geléia real.


A importância das abelhas
Abelhas são as maiores, melhores e mais eficientes polinizadoras da natureza, o que torna-as responsáveis pela manutenção de milhares de espécies vegetais, preservando o meio ambiente, equilibrando ecossistemas e produzindo alimentos.



O valor do trabalho das abelhas equivale a cerca de 10% da produção agrícola mundial, ou 212 bilhões de dólares. Uma das obras vencedoras do prêmio Jabuti de 2013, o livro “Polinizadores no Brasil” mostra que o mel é um subproduto se comparado ao valor da polinização, fundamental na produção agrícola. Frutas e verduras lideram o ranking das comidas que precisam de insetos polinizadores para existir, mas 75% da alimentação humana depende direta ou indiretamente de plantas beneficiadas pela polinização animal. Além de aumentar a produtividade, elas melhoram o produto, atuam na qualidade do habitat e tornam a agricultura mais sustentável, favorecendo o ecossistema e a preservação da biodiversidade.




Foto: Max Westby, Creative Commons



Culturas como a canola e a soja, por exemplo, produzem entre 20% e 40% a mais por hectare quando são polinizadas por abelhas Apis Melífera. Já o tomateiro precisa de abelhas que vibram nas flores, como as Miliponas. Cresce o cultivo de culturas que necessitam de abelhas em sua produção, o que faz com que o aluguel de colônias custe algumas centenas de dólares nos Estados Unidos. Mas antes fosse o preço o grande problema de alugar o “serviço”.


Por que elas estão sumindo

Realocação de colmeias: Por serem sinônimo de aumento nos lucros, grandes empresas utilizam abelhas de forma irresponsável, exportando milhares para outros lugares do mapa com o clima oposto ao qual elas estavam habituadas. Abelhas se estressam facilmente e dependem de padrões estáveis de tempo e clima. Quando estão insatisfeitas, podem abandonar a rainha para buscar condições melhores, o que faz com que muitas abelhas saiam para o trabalho e não voltem.

Experiências em laboratório e intervenção externa: Os estudos feitos com abelhas e zangões comprometem populações inteiras. Não bastasse serem modificadas geneticamente e fecundadas artificialmente, colmeias que se controlavam de forma autônoma são alteradas para aumentar o lucro de empresas apicultoras. Essas empresas chegam a substituir e mel e o néctar por caldas açucaradas para aumentar a produção.




Apis Melifera. Fonte: USGS Bee Inventory and Monitoring Lab, Creative Commons



Agrotóxicos e transgênicos: Pesticidas enfraquecem o sistema imunológico das abelhas, o que faz com que parasitas se aproveitem e reduzam pela metade a população de colmeias. Extremamente populares (são presentes em mais de 95% da produção americana de milho, apenas para citar um exemplo), o uso de pesticidas conhecidos como neocotinóides também é um dos principais agravantes. Três deles (clotianidina, imidaciprida e tiametoxam) já estão restritos na União Européia depois de comprovados os malefícios de seu uso.

Nas palavras de Adenor Furtado, os apicultores vêem o crescimento dos transgênicos no Rio Grande do Sul como uma das principais ameaças. “A sensação é de que somos jogados com nossas colmeias entre lavouras com transgênicos. Fala-se muito na televisão sobre os recordes batidos na produção de grãos, mas e o resto?”, lamenta.

Mudanças climáticas: Os habitats favoráveis às abelhas diminuem a cada ano, o que originou a descoberta de um fenômeno batizado como “desordem do colapso das colônias”, ou CCD, em inglês. No Nordeste brasileiro, por exemplo, a previsão do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas) é de um aumento de 4ºC na temperatura nos próximos 50 anos, o que impacta diretamente as áreas de ocorrência das abelhas.

Monocultura: Ao serem utilizadas por agricultores que plantam somente um tipo de cultura no campo, elas recebem apenas um tipo de alimento, e sofrem com a falta de todos os outros nutrientes essenciais.


E o mel?

Os produtores de mel brasileiros preveem queda de assustadores 20% nas exportações dos últimos anos, levando em conta o possível impacto de uma recente medida. No mês passado a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) aprovou a comercialização de eucalipto transgênico, o que torna o Brasil o primeiro país a permitir o plantio. O produto geneticamente modificado rende 20% mais madeira que o convencional. Além disso, como o eucalipto transgênico tem um tempo mais curto, pode não chegar a florescer, ele também compromete a produção de mel convencional.


Para quem vive do mel, cerca de 30% da produção vêm dos eucaliptos, e a nova variedade pode contaminar as abelhas e prejudicar a venda de orgânicos. Em 2014, o Brasil exportou 25 mil toneladas de mel orgânico, consolidando-se como o 11º exportador mundial. Para a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), a medida fará com que o país perca mercado e diferencial.


O que fazer?

Alguns especialistas defendem que tudo poderia ser revertido em uma década se um terço (vejam bem, apenas um terço) dos alimentos fosse plantado de forma mais responsável. O site Sem Abelha Sem Alimento dá às seguintes dicas para fazer o que está ao nosso alcance:


– Mantenha-se informado sobre as campanhas de proteção às abelhas (aconselhamos, também, os filmes Vanishing Of The Bees (2009) e More Than Honey – Abelhas e Homens (2012) e o site BeeAlert).


– Consuma produtos orgânicos.
– Tenha uma colméia em casa.
– Plante árvores e cultive flores.
– Não utilize pesticidas.

Fonte:Teia Orgânica

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Declínio nas populações de abelhas ameaça a produção agrícola mundial




Já tem quase uma década que criadores de abelhas e cientistas começaram a perceber um declínio nas populações destes insetos e de outros polinizadores, principalmente na Europa e Estados Unidos (embora o fenômeno esteja se espalhando na Ásia e na Africa. Eles são de importância crítica para nossa oferta de alimentos.

Estudiosos mostraram que esta queda, conhecida comodesordem do colapso de colônias, se deve a diversos fatores, das mudanças climáticas a vírus e perda de habitats. Mas o uso exagerado de algunspesticidas, conhecidos como neocotinóides, é um contribuinte importante. São os mais usados no mundo. A substância reveste as sementes utilizadas nas plantações. Estima-se, por exemplo, que estes pesticidas estejam presentes em mais de 95% da produção americana de milho.

A atração dos produtos é simples. Agricultores plantam suas sementes na primavera. O neocotinóide, que se dissolve na água, é absorvido quando a planta cresce e protege seus tecidos. Porém, sobram resíduos dos pesticidas no néctar e pólen, quando a planta floresce e ele permanece.

Os neocotinóides, como o nome sugere, são derivados da nicotina e funcionam como veneno para o sistema nervoso. Os defensores de seu uso dizem que são na verdade um repelente de abelhas. Mas hoje é muito difícil sustentar este argumento.

Em matéria publicada no site do nosso parceiro Planeta Sustentável no ano passado, Karina Toledo, da Agência Fapesp, entrevistou alguns especialistas, e o que eles disseram foi alarmante. “As abelhas domesticadas da América do Norte e da Europa estão desaparecendo de uma hora para outra, sem nenhum motivo aparente. Enxames inteiros somem de repente, como por encanto, e seus criadores encontram a caixa usada para a criação apenas com a abelha rainha e pouquíssimas operárias à sua volta. Na rotina diária à procura de alimento, as abelhas se afastam até 3 quilômetros de sua colônia. Ocorre que não estão voltando para casa”, relatou Karina.

"O valor do serviço prestado pelas abelhas é de cerca de 10% do valor da produção agrícola mundial”, disse no artigo a professora da Universidade de São Paulo (USP) Vera Lúcia Imperatriz Fonseca. Isto é calculado em US$ 212 bilhões. Verduras e frutas lideram as categorias de produtos que necessitam de insetos para polinização (com valores estimados em US$ 56 bilhões cada). Seguem as culturas oleaginosas, estimulantes (café e chá), amêndoas e especiarias. Juntando todas as culturas, a soma sobe para quase U$ 800 bilhões.

“Cerca de 75% da alimentação humana depende direta ou indiretamente de plantas polinizadas ou beneficiadas pela polinização animal. Dessas, 35% dependem exclusivamente de polinizadores. Nos demais casos, insetos como as abelhas ajudam a aumentar a produtividade e a qualidade dos frutos”, afirmou Fonseca na matéria.

Voltemos à chamada desordem do colapso de colônias e o que a provoca. A monocultura é um dos fatores. Os agricultores plantam apenas um tipo de cultura no campo e soltam as abelhas para a polinização. Assim abelhas recebem só um tipo de alimento, sem todos os outros nutrientes essenciais. Outro fator é que, como pesticidas enfraquecem o sistema imunológico destes insetos, os parasitas se aproveitam e em alguns casos são responsáveis pela destruição de metade das colmeias.

Um terceiro problema é o comprometimento do repertório genético nas abelhas com baixa imunidade, os produtores de alimentos começam a transportar colônias de um lugar para outro a fim de introduzir diversidade nas colônias. No entanto, os insetos são altamente propensos ao estresse e se tornam muito dependentes de padrões do tempo e de climas estáveis. Se o estresse do transporte for excessivo, as operárias podem abandonar sua rainha na busca de condições mais estáveis.

Tudo isso poderia ser revertido em uma década, dizem especialistas europeus, se um terço dos alimentos consumidos fossem plantados de forma mais responsável.


Agora surge uma surpresa. Pesquisadores no Reino Unido conduziram recentemente um experimento de laboratório no qual deram a abelhas a escolha entre uma solução açucarada e outra com neocotinóides. E dizem ter descoberto que as abelhas preferem o pesticida. Como assim? Desde o final de 2013, o uso de três neocotinóides (clotianidina, imidacliprida e tiametoxam) foi restrito na União Europeia, como parte de uma moratória de dois anos, depois de pilhas de evidência dos malefícios de seu uso. Trata-se de um negócio bilionário, e as grandes corporações que as produzem, de olho na satisfação dos acionistas, mas não necessariamente na agricultura responsável e sustentável, investem muito em campanhas mundiais de relações públicas para tentar negar a ciência (como o fizeram a indústria do tabaco e a dos combustíveis fósseis). Ah. A pesquisa foi muito elogiada pela Bayer CropScience, uma líder do setor.

por José Eduardo Mendonça, do blog Planeta Urgente - Planeta Sustentável

quarta-feira, 29 de abril de 2015

O VENENO ESTÁ NA MESA II

Após impactar o Brasil mostrando as perversas consequências do uso de agrotóxicos em O Veneno está na Mesa, o diretor Sílvio Tendler apresenta no segundo filme uma nova perspectiva. O Veneno Está Na Mesa 2 atualiza e avança na abordagem do modelo agrícola nacional atual e de suas consequências para a saúde pública. O filme apresenta experiências agroecológicas empreendidas em todo o Brasil, mostrando a existência de alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis, que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. 

Com este documentário, vem a certeza de que o país precisar tomar um posicionamento diante do dilema que se apresenta: Em qual mundo queremos viver? O mundo envenenado do agronegócio ou da liberdade e da diversidade agroecológica?

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After the impact of the first film, 'The Poison Is On The Table II' updates and goes deeper on the evil consequences for public health, caused by the use of chemicals in agriculture. This second feature focuses on the possible alternatives, respecting the environment, the country worker, and the consumer. With this documentary, comes a big question on which we must think: In which world do we want to live in? The poisoned world of the 'aggro-business' or the world of freedom and agricultural diversity? 

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Realização: Caliban Cinema e Conteúdo

Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida
Fiocruz
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
Bem Te Vi
Cineclube Crisantempo

NUVENS DE VENENO

A nuvem se espraia pelas plantações. Em vez de molhar, seca. Ela não traz a chuva, traz o veneno. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de soja, algodão, milho e também um dos maiores consumidores de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Nuvens de veneno expõe as preocupações com as consequências do uso desses agroquímicos no ambiente, especialmente, na saúde do trabalhador. Um documentário revelador que faz refletir sobre a forma que crescemos e sobre o tipo de desenvolvimento que queremos.

Realização: Secretaria de Saúde de Mato Grosso, Terra Firme e VideoSaúde

Direção: Beto Novaes

Distribuição: VideoSaúde -- Distribuidora da Fiocruz

Ano da produção: 2013

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Pulverização aérea de lavouras contribui para poluição de rios do RS

Agrotóxico provoca dano ambiental em Área de Preservação Permanente.
RS aparece 3 vezes na lista que mostra os dez rios mais poluídos do Brasil.

O agrotóxico que cai do avião agrícola pulveriza as lavouras de arroz e protege as plantações e o futuro dos grãos, mas também provoca um dano ambiental gravíssimo em uma Área de Preservação Permanente. A cena se repete com frequência na Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande, entre Glorinha e Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço, da RBS TV

No local, animais e águas deveriam ser permanentemente protegidos. Também é ali que fica o principal rio da região: o Gravataí, que nasce no banhado, em Santo Antônio da Patrulha, e termina junto ao Delta do Jacuí, entre Canoas e Porto Alegre. No percurso, de quase 100 quilômetros, o rio praticamente desaparece no meio das lavouras.

“Nessas áreas, se for pega uma aplicação aérea, é aplicada uma multa para o rizicultor. Essa prática não é permitida. Em áreas de nascentes ou Áreas de Preservação Permanente não é permitido que se utilize as aeronaves na aplicação de defensivos, se ocorrer um vento pode levar muito desses defensivos para dentro d’água”, diz o pesquisador do Instituto Riograndense do Arroz, Hélio Marcolin.

O Rio Grande do Sul aparece três vezes na lista que mostra os dez rios mais poluídos do Brasil. Rio dos Sinos, Gravataí e Rio Caí estão em quarto, quinto e oitavo lugares no levantamento feito pelo IBGE. Por três meses, a reportagem da RBS TV esteve nos três rios para tentar descobrir por que eles estão tão poluídos. Mais de 2,8 mil quilômetros foram percorridos pelos municípios que fazem parte das três bacias. A equipe voou mais de 50 milhas para mostrar do alto os impactos do que acontece todos os dias.

Imagens feitas pela equipe da RBS TV mostram o agrotóxico sendo despejado pelo avião e atingindo o que restou da mata que protege o rio. O dano ambiental é visível: árvores secas, sem folhas e ninhos abandonados pelas aves. Nem voando os pássaros escapam do banho de veneno.

Os flagrantes foram feitos em janeiro deste ano, em uma propriedade que três meses antes foi notificada pelos danos à mata e pelo despejo irregular de agrotóxico na água. Um inquérito policial investiga o caso. Os produtores assinaram um termo com o Ministério Público se comprometendo a não causar mais poluição.

A notificação só aconteceu graças à análise feita pela Fundação do Meio Ambiente de Gravataí que revelou: as aplicações feitas na lavoura afetaram a qualidade das águas na região.

“O veneno automaticamente é dissolvido na massa da água e aí, em função dos princípios ativos, ele vai agir de formas diferente em organismos diferentes. Alguns venenos por suas características exterminam a biodiversidade. Animais e organismos que entram em contato com esse veneno não têm resistência para isso. Alguns assimilam esse veneno e acabam sendo comidos por outros e acumulam quantidade de veneno maior nos seus corpos”, explica o biólogo Jackson Müller.

Os estragos também são percebidos por quem conhece o rio há muito tempo. "Ninguém mais sobrevive da pesca, porque não tem condições. É muita poluição, e os granjeiros colocando produto químico na água, não é bom. Só de colocar o peixe na frigideira, no azeite, se sente o gosto diferente", diz o morador de Gravataí, Luís Fernando da Silva Rosa.

Além dos problemas com o uso de agrotóxicos, a retirada da água para as plantações também prejudica o Gravataí. Ao longo do rio, há canais e canos que puxam a água. Essa é uma preocupação constante do Comitê de Bacia do Gravataí, grupo formado por pessoas da comunidade e por especialistas, para proteger o rio.

“Dentro das ações que nós definimos no plano, está o uso racional da agricultura. Não podemos utilizar a agua como se usava há 20, 30 anos atrás. Isso é algo que nos precisamos compreender. Nós precisamos guardar”, diz o engenheiro civil Paulo Robinson da Silva Samuel, presidente do comitê.

Para o pesquisador Hélio Marcolin, do Instituto Riograndense do Arroz, alguns produtores cometem irregularidades pela falta de fiscalização, brechas na lei e pelo baixo valor das multas.

"Há um grande problema de conscientização nosso, do pessoal que faz isso aí, sabe que é proibido e a lei é pouco branda de mais e o pessoal acaba fazendo, porque o que eles ganham podem pagar multa e eles continuam fazendo", diz Marcolin.

O diretor do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Fernando Meireles, responsável por liberar e controlar a retirada da água, admite que falta pessoal e tecnologia para fiscalizar.

"Tecnicamente se o DRH dá essa outorga, ele deveria fazer a fiscalização. Não tem temos uma estrutura de pessoal para isso. Atendemos denúncias. Hoje em todo o DRH trabalham 40 pessoas, sendo 34 técnicos e 6 administrativos. Só saem em caso de denúncia", explica o diretor.

Em nota a Federação das Associações de Arrozeiros do estado diz que possui o compromisso com a legalidade, sustentabilidade, boas práticas agrícolas e respeito ao meio ambiente. Mas que têm consciência que há casos que não cumprem com os conceitos de sustentabilidade defendidos pela entidade.

Fonte:G1 RBSTV

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Polinizadores em risco de extinção são ameaça à vida do ser humano

Colmeias exterminadas por agrotóxicos são problema mundial. No Brasil, há registros em São Paulo e Minas

LUCIENE DE ASSIS

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está investigando o extermínio de abelhas por intoxicação por agrotóxicos em colmeias de São Paulo e Minas Gerais. Os estudos com inseticidas do tipo neonicotinóides devem estar concluídos no primeiro semestre de 2015. Trata-se de um problema de escala mundial, presente, inclusive, em países do chamado primeiro mundo, e que traz como conseqüência grave ameaça aos seres vivos do planeta, inclusive o homem.

De acordo com o coordenador geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas e Produtos Perigosos do Ibama, Márcio Freitas, o órgão está reavaliando, desde 2010, vários produtos suspeitos de causar colapsos e distúrbios em colmeias paulistas e mineiras. Segundo Freitas, que integra o Comitê de Assessoramento da Iniciativa Brasileira para Conservação e Uso Sustentável dos Polinizadores, a intoxicação prejudica a comunicação entre as abelhas e isto impede que elas retornem às colmeias, levando ao extermínio dos enxames. 

PROIBIÇÃO
Enquanto as análises dos produtos investigados não são concluídas, o órgão proibiu sua aplicação aérea (por avião) e na época da florada para não prejudicar a ação de insetos, aves e morcegos. “Interessa ao Ibama conhecer o comportamento dos polinizadores, entender seu comportamento e estabelecer medidas de mitigação para protegê-los”, explica Freitas.

Estudos em realizados em todos os continentes mostram que abelhas, marimbondos, borboletas, morcegos, formigas, moscas, vespas, além do beija-flor, estão seriamente ameaçados de desaparecer em função do uso indiscriminado de pesticidas e agrotóxicos na agricultura. É claro que o balé harmônico de polinizadores como o beija-flor em volta das flores, à procura do néctar, encanta homens e mulheres de todas as idades. Mas a maioria desconhece como eles são essenciais à existência e manutenção da vida no planeta. 

DEPENDÊNCIA
Documentos divulgados em dezembro 2013, durante a reunião da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistêmicos (IPBES), em Antalya, Turquia, mostram que pelo menos três quarto (75%) das culturas do mundo dependem da polinização por abelhas e outros polinizadores para se desenvolver e gerar frutos. O evento contou com a participação de cerca de 400 delegados representantes de mais de 100 países.
Os participantes decidiram, para os próximos cinco anos, desenvolver um programa de trabalho visando preparar um conjunto de avaliações acerca da polinização e sua relação com a produção de alimentos, degradação da terra e espécies invasoras. O objetivo é fornecer aos formuladores de políticas as ferramentas destinadas a enfrentar a pressão decorrente dos desafios ambientais. 

INTOXICAÇÃO
Espera-se que a primeira avaliação esteja disponível em dezembro de 2015, e o foco será a polinização e a produção de alimentos. Pesquisadores vinculados à IPBES acreditam ser necessárias mais informações a fim de se compreender melhor como a polinização sustenta a produção de alimentos, e avaliar a eficácia das políticas atuais. 

Cientistas de todos os continentes concordam que a intoxicação dos polinizadores por agrotóxicos representa uma grave ameaça inclusive à sobrevivência do ser humano, caso nenhuma medida seja adotada. De acordo com a analista ambiental e doutoranda em ecologia e conservação de recursos naturais do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ceres Belchior, esses produtos podem provocar a morte de polinizadores e aves e sugere restringir sua aplicação pelo menos durante a florada.

Como o assunto integra as políticas e ações estruturantes do MMA, o secretário de Biodiversidade e Florestas, Roberto Cavalcanti, enumerou seis eixos temáticos a serem trabalhados sobre vários eixos. Eles incluem as relações entre a polinização e a cultura agrícola; a política para apicultura no Distrito Federal, situado numa região que abriga mais de 500 espécies de abelhas nativas; a elaboração de um projeto de lei voltado ao pagamento por serviços ambientais com polinização; a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas naturais, que, no Cerrado, somam pelo menos 12 mil espécies de plantas lenhosas da preferência das variedades de abelhas; as avaliações da política de mudanças do clima e os impactos na polinização; e uma reavaliação do licenciamento de agrotóxicos e pesticidas. 

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
A mortandade disseminada das abelhas devido ao uso de agrotóxicos foi tema de explanação de Cavalcanti, em audiência pública na Câmara dos Deputados. De acordo com o secretário, 87,5% das espécies de plantas com flores conhecidas no mundo dependem de polinizadores (insetos, aves, mamíferos) para gerarem frutos e sementes sadios. 

Segundo Cavalcanti, os polinizadores são tão importantes que 75% da alimentação humana dependem, direta ou indiretamente, de plantas polinizadas ou beneficiadas pela polinização. E esclareceu: “Sem polinizadores, as plantas dependentes não se reproduzem e as populações que delas necessitam declinam e a abelha do mel (Apismellifera) é o polinizador de importância agrícola mais utilizado no mundo”.

Ele se lembrou da importância econômica dos polinizadores, que movem economia mundial. Dados de 2007 mostram que verduras e frutas lideram as categorias de alimento que necessitam de insetos para a polinização, gerando riquezas em torno de R$ 160 bilhões (50 bilhões de euros) para cada uma dessas áreas. Em 2009, o valor econômico anual total da polinização girou na cada dos R$ 489,6 bilhões (cerca de 153 bilhões de euros), o que representou 9,5% do valor da produção agrícola mundial para alimentação humana em 2005.

FRUTAS E VERDURAS
A cada ano, os polinizadores naturais geram uma economia superior a R$ 483 bilhões, no caso das culturas beneficiadas pela polinização por insetos, e a quantia astronômica de R$ 2,435 trilhões quando se trata dos cultivos dependentes da ação dos polinizadores. O alerta, repassado aos parlamentares, é de que o declínio da quantidade de polinizadores pode levar à redução da produção de frutas, verduras e estimulantes (como café) abaixo do necessário para o consumo atual global.
Insetos, aves e animais polinizadores, como o morcego, estão ameaçados por causa da fragmentação dos habitats naturais, do uso indiscriminado de pesticidas, pela falta de práticas agrícolas amigáveis à sua conservação; surgimento de doenças; e mudanças climáticas inesperadas. 

A Iniciativa Internacional para Uso Sustentável dos Polinizadores (IPI, na sigla em inglês), criada no ano 2000 e articulada pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), está empenhada em monitorar o declínio de polinizadores, suas causas e seu impacto; resolver a falta de informações taxonômicas (que define os grupos de organismos biológicos) sobre polinizadores; medir o valor econômico da polinização; e promover a conservação, restauração e uso sustentável da diversidade de polinizadores na agricultura e em ecossistemas relacionados. 

FALTA PESQUISA
Nos Estados Unidos, a desordem e a desorientação das abelhas melíferas provocaram a perda de 90% das colmeias. Na Alemanha, França, Suíça e Península Ibérica, o desaparecimento das abelhas foi relacionado ao uso de inseticidas. O problema chegou ao Brasil e causou preocupação o extermínio de 5 mil colmeias de abelhas africanizadas no estado de São Paulo. A questão, segundo Roberto Cavalcanti, é que existem poucos estudos toxicológicos avaliando os efeitos dos pesticidas sobre outras espécies de abelhas, inclusive internamente.

No campo das políticas ambientais, o MMA está imerso em projetos e ações destinadas a evitar maiores prejuízos aos polinizadores. Nos próximos anos, os esforços também se destinam a apoiar estudos acadêmicos, como os inseridos no Projeto de Conservação e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentável através de uma Abordagem Ecossistêmica, iniciado em 2009 e com previsão de término para 2014, mas foi prorrogado até o final de 2015.

O Projeto recebeu investimentos de R$ 67 milhões, executados pelo Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), tendo esses recursos destinados ao Brasil, Gana, Índia, Quênia, Nepal, Paquistão e África do Sul. O apoio também veio do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), no valor de R$ 20,4 milhões.

MAIS CONHECIMENTO
A iniciativa visa ampliar o conhecimento e oferecer ferramentas acessíveis aos profissionais que trabalham com a polinização; disponibilizar orientações e publicações sobre as limitações desta prática, manejo de serviços relacionados com agroecossistemas (que são a interpretação, avaliação e manejo do sistema agrícola, que permitem conduzir a produção com base nas inter-relações entre os elementos constitutivos desses sistemas, como homem e recursos naturais – solo, água, plantas e organismos e microrganismos – e entre outros sistemas externos, do ponto de vista econômico, social, cultural e ambiental), e valoração socioeconômica da polinização, além de fornecer ferramentas fáceis de serem utilizadas na identificação de polinizadores. 

Uma das vertentes do projeto prevê a capacitação de agricultores para conservar e utilizar os serviços dos polinizadores silvestres, bem como melhorar a capacidade de pesquisa e construir ferramentas para desenvolvimento e manejo dos serviços de polinização. Várias culturas já se beneficiam dos resultados desses esforços, como é o caso da produção de melão, maracujá, melancia, abóbora, caju, castanha do Brasil, maçã, canola, tomate e algodão, entre outras. 

No caso do algodão, a Rede de Pesquisas dos Polinizadores do Algodoeiro no Brasil, realizou um estudo sobre a atuação das abelhas no incremento da produção nas áreas de Cerrado, no sul da região amazônica e na Caatinga. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Carmem Pires, apesar de o algodoeiro não necessitar de polinização para produzir, ficou demonstrado pela Rede de Pesquisas que as flores desta cultura que recebem a visita de abelhas apresentam um aumento de 12%

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE  28/08/2014