sábado, 23 de maio de 2015

ABELHAS EM PERIGO, HUMANIDADE EM PERIGO




“Sem abelhas, o planeta vai virar um deserto”. A frase, do presidente da Associação Gaúcha de Apicultores (AGA), Adenor Furtado, ilustra uma realidade distópica que, infelizmente, nunca foi tão possível: as colmeias estão diminuindo gradativamente e ameaçam sumir por completo. Sem elas, a humanidade duraria mais, no máximo, quatro anos, segundo ninguém menos que Albert Einstein. No Hemisfério Norte, a síndrome do desaparecimento foi detectada pela primeira vez em 2007. No Brasil, em 2011. E de lá para cá, pouco foi feito para reverter o quadro. Adenor declara que os produtores de mel gaúchos já perceberam, sim, uma queda nas populações de abelhas no Rio Grande do Sul e atribui o fato aos transgênicos, já que o pólen é onde mais se manifesta a alteração genética e o excesso de agrotóxicos. “Sem pólen bom, não há abelha sadia”.

A apicultora e engenheira agrônoma Claudia Wolff tem certificação orgânica e garante não ter sentido diferença: por serem orgânicas, as colmeias devem estar a uma distância de pelo menos 3 km de áreas urbanas ou de lavouras que utilizam agrotóxicos, o que garante a saúde dos enxames. O que Claudia percebe é como está cada vez mais difícil encontrar áreas adequadas para este cultivo de mel. “Ainda tem muito mato disponível, mas a soja está entrando com muita força, muitos produtores tem de mudar os apiários de lugar porque são surpreendidos com novas lavouras nas proximidades”, conta.


Osmia caerulescens. Fonte: USGS Bee Inventory and Monitoring Lab, Creative Commons


Mais do que trabalhadoras produtoras de um poderoso adoçante natural, elas são um exemplo perfeito de como nosso estilo de vida deveria estar em harmonia com a natureza e todos os animais. Exploramos colônias de abelhas desde a pré-história, mas a importância desses insetos para nossa alimentação, embora poucos tenham consciência disso, vai muito além de mel, cera, própolis e geléia real.


A importância das abelhas
Abelhas são as maiores, melhores e mais eficientes polinizadoras da natureza, o que torna-as responsáveis pela manutenção de milhares de espécies vegetais, preservando o meio ambiente, equilibrando ecossistemas e produzindo alimentos.



O valor do trabalho das abelhas equivale a cerca de 10% da produção agrícola mundial, ou 212 bilhões de dólares. Uma das obras vencedoras do prêmio Jabuti de 2013, o livro “Polinizadores no Brasil” mostra que o mel é um subproduto se comparado ao valor da polinização, fundamental na produção agrícola. Frutas e verduras lideram o ranking das comidas que precisam de insetos polinizadores para existir, mas 75% da alimentação humana depende direta ou indiretamente de plantas beneficiadas pela polinização animal. Além de aumentar a produtividade, elas melhoram o produto, atuam na qualidade do habitat e tornam a agricultura mais sustentável, favorecendo o ecossistema e a preservação da biodiversidade.




Foto: Max Westby, Creative Commons



Culturas como a canola e a soja, por exemplo, produzem entre 20% e 40% a mais por hectare quando são polinizadas por abelhas Apis Melífera. Já o tomateiro precisa de abelhas que vibram nas flores, como as Miliponas. Cresce o cultivo de culturas que necessitam de abelhas em sua produção, o que faz com que o aluguel de colônias custe algumas centenas de dólares nos Estados Unidos. Mas antes fosse o preço o grande problema de alugar o “serviço”.


Por que elas estão sumindo

Realocação de colmeias: Por serem sinônimo de aumento nos lucros, grandes empresas utilizam abelhas de forma irresponsável, exportando milhares para outros lugares do mapa com o clima oposto ao qual elas estavam habituadas. Abelhas se estressam facilmente e dependem de padrões estáveis de tempo e clima. Quando estão insatisfeitas, podem abandonar a rainha para buscar condições melhores, o que faz com que muitas abelhas saiam para o trabalho e não voltem.

Experiências em laboratório e intervenção externa: Os estudos feitos com abelhas e zangões comprometem populações inteiras. Não bastasse serem modificadas geneticamente e fecundadas artificialmente, colmeias que se controlavam de forma autônoma são alteradas para aumentar o lucro de empresas apicultoras. Essas empresas chegam a substituir e mel e o néctar por caldas açucaradas para aumentar a produção.




Apis Melifera. Fonte: USGS Bee Inventory and Monitoring Lab, Creative Commons



Agrotóxicos e transgênicos: Pesticidas enfraquecem o sistema imunológico das abelhas, o que faz com que parasitas se aproveitem e reduzam pela metade a população de colmeias. Extremamente populares (são presentes em mais de 95% da produção americana de milho, apenas para citar um exemplo), o uso de pesticidas conhecidos como neocotinóides também é um dos principais agravantes. Três deles (clotianidina, imidaciprida e tiametoxam) já estão restritos na União Européia depois de comprovados os malefícios de seu uso.

Nas palavras de Adenor Furtado, os apicultores vêem o crescimento dos transgênicos no Rio Grande do Sul como uma das principais ameaças. “A sensação é de que somos jogados com nossas colmeias entre lavouras com transgênicos. Fala-se muito na televisão sobre os recordes batidos na produção de grãos, mas e o resto?”, lamenta.

Mudanças climáticas: Os habitats favoráveis às abelhas diminuem a cada ano, o que originou a descoberta de um fenômeno batizado como “desordem do colapso das colônias”, ou CCD, em inglês. No Nordeste brasileiro, por exemplo, a previsão do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas) é de um aumento de 4ºC na temperatura nos próximos 50 anos, o que impacta diretamente as áreas de ocorrência das abelhas.

Monocultura: Ao serem utilizadas por agricultores que plantam somente um tipo de cultura no campo, elas recebem apenas um tipo de alimento, e sofrem com a falta de todos os outros nutrientes essenciais.


E o mel?

Os produtores de mel brasileiros preveem queda de assustadores 20% nas exportações dos últimos anos, levando em conta o possível impacto de uma recente medida. No mês passado a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) aprovou a comercialização de eucalipto transgênico, o que torna o Brasil o primeiro país a permitir o plantio. O produto geneticamente modificado rende 20% mais madeira que o convencional. Além disso, como o eucalipto transgênico tem um tempo mais curto, pode não chegar a florescer, ele também compromete a produção de mel convencional.


Para quem vive do mel, cerca de 30% da produção vêm dos eucaliptos, e a nova variedade pode contaminar as abelhas e prejudicar a venda de orgânicos. Em 2014, o Brasil exportou 25 mil toneladas de mel orgânico, consolidando-se como o 11º exportador mundial. Para a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), a medida fará com que o país perca mercado e diferencial.


O que fazer?

Alguns especialistas defendem que tudo poderia ser revertido em uma década se um terço (vejam bem, apenas um terço) dos alimentos fosse plantado de forma mais responsável. O site Sem Abelha Sem Alimento dá às seguintes dicas para fazer o que está ao nosso alcance:


– Mantenha-se informado sobre as campanhas de proteção às abelhas (aconselhamos, também, os filmes Vanishing Of The Bees (2009) e More Than Honey – Abelhas e Homens (2012) e o site BeeAlert).


– Consuma produtos orgânicos.
– Tenha uma colméia em casa.
– Plante árvores e cultive flores.
– Não utilize pesticidas.

Fonte:Teia Orgânica

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