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sábado, 16 de agosto de 2025

Saiba como é o novo teste do SUS para detectar câncer de colo do útero

 
Tecnologia nacional permite rastrear a doença precocemente

A partir desta sexta-feira (15), o Ministério da Saúde passa a oferecer, via Sistema Único de Saúde (SUS), o teste de biologia molecular DNA-HPV, indicado para o rastreamento organizado do câncer de colo do útero.

A tecnologia detecta 14 genótipos do papilomavírus humano (HPV), identificando a presença do vírus no organismo antes da ocorrência de lesões ou de câncer em estágios iniciais, mesmo em mulheres assintomáticas.

Além de conferir maior sensibilidade diagnóstica, o teste reduz a necessidade de exames e intervenções desnecessárias, com intervalos maiores entre as coletas quando o resultado for negativo.

“Por ser mais eficaz, a nova tecnologia permite ampliar os intervalos de rastreamento para até cinco anos, aumentando a eficiência e reduzindo custos”, explica o Ministério da Saúde.

Outra vantagem do teste, de acordo com a pasta, é o rastreamento equitativo e de alta performance, que permite alcançar mulheres em áreas remotas ou onde há menor oferta de serviços em saúde.

COLETA

Produzida pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a tecnologia vai substituir o exame citopatológico popularmente conhecido como papanicolau, que passará a ser realizado apenas para confirmação de casos em que o teste molecular der positivo.

No teste de DNA, a coleta é similar à do papanicolau e envolve a secreção do colo do útero, portanto, a mulher ainda precisa passar por um exame ginecológico. No entanto, ao invés de colocar a secreção em uma lâmina, ela é colocada em um tubo com líquido conservante, que vai para o laboratório, onde é feita a pesquisa do DNA do vírus.

IMPLEMENTAÇÃO


A
incorporação do teste na rede pública, no início de 2024, passou pela avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que considerou a tecnologia mais precisa que a atualmente ofertada no SUS.

A tecnologia, 100% nacional, será ofertada inicialmente nos seguintes estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Bahia, Pará, Rondônia, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco e no Distrito Federal.

Essas localidades, segundo o ministério, foram contempladas por contarem com serviços de referência para colposcopia e biópsia, garantindo fluxo assistencial completo para mulheres que apresentarem resultados alterados no teste.

A implementação começa com um município em cada estado e será ampliada conforme a finalização da substituição do método. A meta é que, até dezembro de 2026, o rastreio esteja presente na rede pública em todo o território nacional, beneficiando 7 milhões de mulheres com idade entre 25 a 64 anos todos os anos.
HPV

De acordo com o ministério, o HPV é a principal causa do câncer do colo do útero, terceiro tipo de câncer mais incidente em mulheres, com 17 mil novos casos estimados por ano no triênio 2023-2025.

Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam 15 casos da doença para cada grupo de 100 mil mulheres no Brasil. “Por isso, a oferta do novo modelo de rastreamento é considerada um marco para a saúde da mulher”, destacou a pasta.

O câncer do colo do útero, segundo a pasta, segue como o que mais mata mulheres no Nordeste brasileiro. No Brasil, são 20 mortes por dia — até seis vezes mais que os casos de feminicídio em alguns estados.

TESTAGEM

Recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a testagem de HPV é considerada padrão ouro para a detecção de casos de câncer de colo de útero e integra as estratégias propostas pela entidade para a eliminação da doença como problema de saúde pública até 2030.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Brasil tem 229 mil crianças não vacinadas contra difteria, tétano e coqueluche, aponta Unicef

 

País está em 17º lugar na lista de nações com menos crianças vacinadas; no mundo, 14 milhões de meninos e meninas não receberam a primeira dose da vacina DTP em 2024

O Brasil reapareceu na lista dos 20 países com maior número de crianças não vacinadas contra difteria, tétano e coqueluche (DTP) em 2024, segundo relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O país está em 17º lugar na lista, com 229 mil crianças que não receberam a primeira dose da DTP ou Tríplice Bacteriana em 2024. No calendário nacional de vacinação, a DTP é indicada em três doses e dois reforços, sendo a primeira aplicada aos 2 meses de idade.

Apesar da volta do Brasil à lista, da qual tinha saído em 2024, com dados de 2023, o relatório aponta que o país atingiu uma cobertura global da DTP1 de 91% - mais próxima da meta de 95%. Isso indica que o Brasil está entre os países com as maiores coberturas percentuais do imunizante do mundo.

“É uma lista que foca em números absolutos, não na cobertura vacinal. Apesar deste número corresponder a 2% da população de crianças que devem tomar essa vacina, 229 mil crianças é um número gigantesco, semelhante a populações inteiras de cidades e até de países, o que deve ser levado em conta”, afirma o infectologista e gestor médico do Butantan, Érique Miranda.

A vacina DTP na sua versão acelular é um dos imunizantes produzidos pelo Butantan. No ano passado, o Instituto forneceu ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) 4 milhões de doses, que foram encaminhadas aos estados e municípios pelo Ministério da Saúde para serem distribuídas gratuitamente à população nos postos de saúde.

Para a OMS, a primeira dose de DTP é um indicador para o acesso aos serviços de imunização. Quando ela não é administrada, a criança é considerada “zero dose”, ou seja, que não recebeu nenhuma vacina. No ano passado, o Brasil deixou de figurar na lista ao computar 103 mil crianças não vacinadas, uma queda acentuada comparada aos dados de 2022, quando foram registradas 418 mil crianças zero dose no país.

Segundo o Ministério da Saúde, no primeiro quadrimestre de 2025 o Brasil registrou um aumento na cobertura de 15 das 16 vacinas do calendário nacional na comparação ao mesmo período de 2024; entre os imunizantes que tiveram sua cobertura ampliada está o primeiro reforço da DTP, que foi de 74,49% para 81,97% - mas ainda fora da meta de 95%.

“Houve sim uma queda nas coberturas vacinais e essa variação desde a pandemia já foi suficiente para colocar o Brasil nesta lista. É um número macro e a tendência dele, de acordo com os dados recentes do governo, que demonstram uma curva de melhora, é o Brasil sair dessa lista novamente”, afirma Érique Miranda.

Durante a pandemia de Covid-19, houve uma queda significativa nas coberturas da primeira e terceira dose de DTP nas Américas. Em 2021, a região atingiu seu nível mais baixo em duas décadas, com coberturas de 87% para DTP1 e 81% para DTP3. No entanto, os dados de 2023 mostraram uma recuperação parcial, com 90% para DTP1 e 88% para DTP3, segundo a OPAS.

CAUSAS DA NÃO VACINAÇÃO

O relatório do Unicef aponta que 20 milhões de crianças permaneceram não vacinadas ou subvacinadas no mundo em 2024. Destas, 14,3 milhões não receberam nenhuma vacina (zero dose de DTP1), um aumento em relação aos 12,9 milhões de 2019. Entre as crianças que permanecem não vacinadas ou subvacinadas no mundo, aproximadamente 10,2 milhões (51%) vivem em países com fragilidade institucional e social ou afetados por conflitos.

Vinte e sete países apresentaram cobertura de DTP1 abaixo de 80%, sugerindo a necessidade de ampliar o acesso aos serviços de imunização locais. A maioria deles está localizada na África Ocidental e Central (7), África Oriental e Meridional (6) e América Latina e Caribe (6).

O relatório aponta que, globalmente, mais de 50% das crianças com zero dose estão concentradas em nove países altamente populosos e/ou que vivem em conflitos políticos e econômicos que impactam a vacinação.
São eles: Nigéria (228 milhões de habitantes e 15% de crianças zero dose), Índia (1,43 bilhão de habitantes e 6% de crianças zero dose), Sudão (50 milhões de habitantes e 6% de crianças zero dose), República Democrática do Congo (106 milhões de habitantes e 5% de crianças zero dose), Etiópia (129 milhões de habitantes e 5% de crianças zero dose), Indonésia (281 milhões de habitantes e 5% de crianças zero dose), Iêmen (39,4 milhões de habitantes e 4% de crianças zero dose), Afeganistão (41,5 milhões e 3% de crianças zero dose) e Angola (36,8 milhões e 3% de crianças zero dose).

O relatório pondera o grande número de habitantes de alguns países contribuem para os números globais, apesar das altas taxas de cobertura vacinal. Por exemplo, em 2024, a Índia contabilizou 909 mil crianças com zero dose, o que corresponde a 6% da população elegível, apesar de atingir 96% de cobertura para uma coorte de 22,7 milhões de bebês sobreviventes.

A lista de 20 países elaborada pela Unicef leva em conta o número absoluto de crianças não vacinadas, portanto destacam-se países muito populosos e com graves limitações do sistema de saúde pública. “A Nigéria, que está no topo da lista, com 2 milhões de crianças não vacinadas, é o sexto país mais populoso do mundo e ainda é uma área endêmica para poliomielite que enfrenta questões de segurança, socioeconômicas, de infraestrutura e sistêmicas que contribuem para o desafio geral de alcançar uma alta cobertura vacinal no país”, explica Érique Miranda.

Em segundo lugar vem a Índia, o segundo país mais populoso do mundo e seis vezes mais populoso que a Nigéria, porém com metade do número de crianças sem vacinar observado no país africano: quase 1 milhão. O Brasil, que tem uma população um pouco menor que a da Nigéria, tem 229 mil, e está em 17º na lista, ao lado da China.

COQUELUCHE PREOCUPA

O relatório detalhou também a cobertura global da terceira dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3) - frequentemente usada como um indicador de quão bem os países estão fornecendo serviços de imunização de rotina para crianças  e da vacina de sarampo, já que a doença é considerada um marcador de transmissão.

Em 2024, a cobertura global da terceira dose da DTP3 foi de 85%, de acordo com as estimativas mais recentes da OMS e do Unicef, pouco abaixo da meta global de 90% estabelecida pela Agenda de Imunização 2030.

Ao todo, 111 países (57%) alcançaram pelo menos 90% de cobertura da DTP3 em 2024. Esse número é menor do que em 2019, quando 125 países atingiram a meta.

A Europa, Ásia Central e o sul da Ásia apresentaram a maior cobertura da vacina DTP3, com 92%, enquanto a África Ocidental e Central apresentaram a menor, com 72%. A cobertura nos países da América Latina e Caribe foi de 82%.

No seu Alerta Epidemiológico de Aumento de Casos de Coqueluche na Região das Américas, a OPAS apresentou a evolução das coberturas de DTP3 entre 2020 e 2024 em sete países da região — Brasil, Colômbia, Equador, Estados Unidos, México, Paraguai e Peru —, que registram surtos de coqueluche em 2025.

Segundo o relatório, a cobertura de DTP3 no Brasil sofreu altos e baixos nos últimos quatro anos, com totais de 86% (2020), 68% (2021), 77% (2022), 90% (2023) e 91% (2024).

No Brasil, até meados de maio de 2025, foram notificados 1.819 casos confirmados de coqueluche, incluindo seis óbitos. Dos estados com casos confirmados de coqueluche, os que apresentaram maior número foram Minas Gerais (417 casos e um óbito), São Paulo (321 casos e dois óbitos), Rio Grande do Sul (249 casos e um óbito) e Paraná (247 casos). A faixa etária mais acometida é a de crianças menores de um ano (498 casos), representando 27,4%, seguida da faixa etária de 1 a 4 anos (462), representando 25,4%.

“A queda das coberturas durante a pandemia fez ressurgir surtos de coqueluche em adultos que estão infectando crianças porque, depois dos 7 anos, não se recebe mais reforço da coqueluche, só se recebe a vacina duplo adulto acelular (tétano e difteria). Os adultos sem imunidade contra coqueluche infectam principalmente bebês que ainda não receberam os três reforços. Por isso, é importante possibilitar reforços para adultos, para além das gestantes e profissionais de saúde”, explica Érique.

Causada pela bactéria Borderella pertussis, a coqueluche é repassada pelo contato com gotículas de pessoas doentes, sendo altamente transmissível. É justamente por esse motivo que a meta de vacinação é a mais alta - de 95%.

O QUE PRECISA SER FEITO PARA REVERTER O CENÁRIO

O documento da OMS e Unicef destaca que os desafios para aumentar a cobertura vacinal são numerosos e persistem em regiões frágeis e afetadas por conflitos. Em 2024, ao menos oito países apresentaram coberturas da DTP3 de 60% ou menos (Afeganistão, Azerbaijão, Bolívia, República Centro-Africana, Líbano, Papua-Nova Guiné, Sudão e Iêmen). Seis em cada oito desses países vivem em situação de fragilidade institucional e social, ou são afetados por conflitos.

O documento ressalta ainda que a cobertura também é afetada por investimentos inadequados em programas nacionais de imunização, escassez de vacinas e surtos de doenças.

“Para elevar os níveis globais de imunização, é essencial priorizar os esforços nos países com os maiores números absolutos de crianças não vacinadas. No entanto, é igualmente importante garantir que os países com baixas taxas de cobertura, onde as crianças têm maior probabilidade de não serem imunizadas, recebam a atenção necessária, especialmente em nações com coortes de nascimento menores”, pondera o Unicef.

Fonte: Instituto Butantan

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Butantan obtém patentes de dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose que oferecem resultados em 25 minutos

Testes que detectam anticorpos no sangue e na urina identificam infecção em poucos minutos, enquanto exames tradicionais são menos sensíveis e têm resultados em dias

Uma equipe de pesquisadoras do Laboratório de Bacteriologia e do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan desenvolveu dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose, um de detecção pela urina e outro pelo sangue. Ambos os testes oferecem resultados em até 25 minutos, enquanto nos testes padrão o resultado confirmatório da doença pode demorar dias. As duas pesquisas já têm patentes concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão atrelado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Governo Federal.

Cada teste permite detectar a doença em momentos distintos – o primeiro, pela urina, no início da infecção; o segundo, pelo sangue, quando a bactéria já se espalhou. Isso pode ser determinante no acesso mais ágil ou em tempo hábil ao tratamento, levando em conta que a leptospirose pode causar a morte em até 40% dos casos graves, segundo o Ministério da Saúde.

Atualmente, o diagnóstico da doença é feito somente em laboratórios de referência e depende de cultura bacteriana, com resultado que pode demorar de 15 a 30 dias para ser conclusivo. A demora decorre da necessidade de análise de uma segunda amostra de sangue do paciente.

Os testes rápidos permitem obter um resultado entre 20 e 25 minutos. O feito com urina usa o método de quimioluminescência (emissão de luz durante uma reação química) e o com sangue é uma análise imunocromatográfica (identificação da doença por associação a anticorpos), semelhante ao teste rápido de Covid-19.



A pesquisadora Patricia Aniz atuou nos estudos de dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose, um de detecção pela urina e outro pelo sangue
“O diagnóstico da leptospirose é complexo do ponto de vista clínico porque os sintomas se confundem com doenças febris como malária, dengue e febre amarela, entre outras. Se tivermos um teste rápido, simples e eficiente, conseguimos tratar principalmente os que evoluem de forma grave”, afirma a pesquisadora científica, atualmente do Núcleo de Produção de Vacinas Bacterianas do Butantan, Patricia Aniz, que coordenou o desenvolvimento dos dois testes.

SOBRE A LEPTOSPIROSE

A leptospirose é uma infecção transmitida de forma direta ou indireta pelo contato com a urina de animais infectados pela bactéria Leptospira, que penetra na pele a partir de lesões ou quando se passa muito tempo imerso em água contaminada, como em enchentes. Os animais domésticos, como cães, e de criação, como bovinos, suínos e equinos, são os mais comumente acometidos. O período entre a transmissão e os sintomas ocorre geralmente entre sete a 14 dias após a exposição a situações de risco.

No mundo, estima-se que a incidência desta doença seja de mais de 500 mil de casos por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a leptospirose apresenta surtos epidêmicos em períodos de chuva e é encontrada com maior frequência nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Bahia e Pernambuco. Nos últimos três anos, foi observado um aumento da incidência, com aproximadamente 3.000 casos por ano, de acordo com o Ministério da Saúde. Houve um aumento significativo de registros na região Sul, provavelmente devido às enchentes que ocorreram nos últimos anos.

A leptospirose também causa perdas econômicas, por provocar alterações reprodutivas nos animais infectados, como infertilidade, mastites, abortos e natimortalidade. “Ficamos muito felizes por ter resolvido um problema de saúde pública e que também afeta a agropecuária, levando à diminuição na produção de leite e de carne”, afirma Patricia Aniz.



Patricia Aniz em frente ao prédio onde está localizado o Laboratório de Bacteriologia


Métodos tradicionais e a demora do diagnóstico

Atualmente o método mais utilizado para o diagnóstico de leptospirose é o Teste de Aglutinação Microscópica (MAT), considerado padrão ouro. Nele, o soro do paciente é incubado com diferentes leptospiras, e diluído em séries. Se apresentar uma aglutinação mínima de 50%, comparada à incubação das bactérias sem o contato com o soro, indica um resultado positivo.

“Porém, este método tem como desvantagem a manutenção de culturas vivas de leptospira, com risco de contaminação para o operador e baixa sensibilidade quando considerado a fase inicial de infecção”, descreve Patricia.
Outra desvantagem apontada pela pesquisadora é que o resultado conclusivo pode demorar muitos dias, devido à necessidade de duas amostras para confirmar a infecção, pois o teste depende da detecção de um aumento nos títulos de anticorpos específicos. “Nesse tempo, a pessoa pode desenvolver sintomas graves”, ressalta Patricia Aniz.

O método sorológico ELISA-IgM [ensaio de imunoabsorção enzimática], bastante usado em ensaios para a detecção de anticorpos, também é utilizado para detectar a leptospirose. Sua principal vantagem é permitir o diagnóstico na fase aguda da doença. “Porém, como desvantagem, este método possui baixa especificidade, menor sensibilidade comparada ao MAT e alto índice de reações cruzadas para outras doenças”, esclarece a pesquisadora.



Patricia avalia o teste imunocromatográfico no Laboratorio de Bacteriologia

Vantagens dos testes rápidos

Diante das dificuldades em se obter resultados laboratoriais precisos e da apresentação clínica inespecífica da leptospirose, as equipes do Laboratório de Bacteriologia e do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan entenderam ser cada vez mais necessário trabalhar no desenvolvimento de métodos mais simples e eficientes.

“O objetivo das pesquisas foi resolver os problemas constantes que envolvem o diagnóstico de leptospirose a partir do desenvolvimento de dois testes mais rápidos, sensíveis e específicos que possibilitem um resultado confirmatório e definitivo, contribuindo na escolha correta do tratamento da leptospirose”, afirma Patricia.



O Teste por quimioluminescência foi criado para detecção de leptospiras na urina


 Teste imunocromatográfico

A análise imunocromatográfica é uma velha conhecida dos cientistas, já que a tecnologia é usada em testes de detecção de anticorpos de Covid-19, entre outras doenças. O teste desenvolvido no Butantan parte da pesquisa de doutorado da estudante Tatiana Barrinuevo Gotti, desenvolvida no Laboratório de Bacteriologia em colaboração com a pesquisadora Roxane Maria Fontes Piazza, coordenadora do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Instituto Butantan e com a pesquisadora Letícia Barboza Rocha. A patente do teste foi solicitada em 6 de setembro de 2016 e concedida em 17 de dezembro de 2024.

“Para o desenvolvimento do método foram selecionadas 11 proteínas da membrana externa da leptospira como candidatos a antígenos, com uma apresentando reatividade. Estas proteínas foram clonadas, expressas e purificadas, sendo testadas em ensaios do tipo Elisa e western-blot [teste de identificação de proteínas específicas]. Depois essa proteína reativa foi ligada ao ouro coloidal [que é o que deixa a cor da linha avermelhada] e também inoculada em animais para a produção de anticorpos específicos”, esclarece Patricia.

No teste desenvolvido pelo Butantan, a amostra de soro obtida do sangue do paciente é adicionada a uma fita de membranas de nitrocelulose e papel absorvente, que entra em contato com reagentes e com os anticorpos contra a leptospira. A detecção da ligação do anticorpo com a proteína da leptospira (antígeno) oferece um resultado em até 20 minutos. Se duas linhas (linha teste e linha controle) aparecerem avermelhadas, o resultado é positivo; se aparecer só uma linha (controle) vermelha, o resultado é negativo.

O trabalho de Tatiana, Letícia, Roxane e Patrícia foi vencedor do Prêmio de Inovação (Butantan – IPLYMPICS) na 17a Reunião Científica Anual do Instituto, realizada em dezembro de 2015.

Segundo Patricia, o método traz uma série de vantagens, sendo a principal a rapidez no resultado e a facilidade de execução. “O resultado está disponível em poucos minutos, permitindo uma resposta rápida e um manejo mais eficaz da doença. Além disso, a simplicidade de aplicação contribui para uma maior acessibilidade, além do fato de o teste ter uma sensibilidade adequada e um baixo custo”, finaliza.




Estudos foram realizados em conjunto com pesquisadoras do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan


Teste por quimioluminescência

Anos antes da pesquisa de Tatiana e Letícia, a então doutoranda Larissa do Rêgo Barros Mato, com colaboração do pesquisador Luiz Bezerra de Carvalho Júnior, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e sob orientação de Patrícia, desenvolveu outro teste diagnóstico para a leptospirose no Laboratório de Bacteriologia, complementar ao teste imunocromatográfico.

O método desenvolvido para o diagnóstico da leptospirose é baseado em um anticorpo ligado a um composto quimioluminescente para detecção de leptospiras na urina. A reação entre o anticorpo e o antígeno (a leptospira) é detectada pela emissão de luz. A patente foi solicitada em 14 de maio de 2014 e concedida em 3 de novembro de 2021.

O método já é utilizado no diagnóstico de doenças infecciosas, dosagens hormonais (como teste de gravidez) e detecção de biomarcadores devido a sua alta sensibilidade e rapidez, o que permite a detecção de substâncias em concentrações muito baixas.

Ele funciona da seguinte forma: a amostra de urina é colocada em contato com o anticorpo ligado a um composto quimioluminescente por 15 minutos em temperatura ambiente; depois é centrifugada por 5 minutos e o sedimento é ressuspendido em solução salina, à qual são adicionados dois reagentes (A e B). A emissão de luz, que é avaliada por um aparelho chamado luminômetro, capaz de medir as unidades relativas de luz (RLU), ocorre em segundos. A amostra é considerada positiva para a presença de leptospiras se o valor de RLUs for maior que o limite de detecção.

“A principal vantagem deste método é permitir o diagnóstico precoce e rápido da leptospirose, uma vez que detecta a bactéria na fase inicial da doença, antes da produção de anticorpos”, conta Patricia. “Além disso, é um procedimento simples e de baixo custo, de execução em até 25 minutos, sem reatividade com outras bactérias presentes na urina ou que causam infecções em pessoas e animais”, ressalta a pesquisadora.

O Butantan mantém outras pesquisas ligadas à criação de novos métodos diagnósticos para leptospirose. Uma delas, realizada pelo Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas, desenvolveu uma proteína quimérica para o diagnóstico da leptospirose que se mostrou superior ao teste padrão atualmente recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fonte: Instituto Butantan

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Gripe aviária pode ser transmitida entre humanos? Pode afetar carne de frango? Pode virar pandemia? Pesquisador do Butantan responde

 











Não há até o momento notificação de caso de transmissão entre pessoas, mas mutações constantes do vírus aumentam chance de isso ocorrer; veja essa e outras respostas
Apesar de a gripe aviária não ser transmitida de humano para humano atualmente, a circulação contínua dos vírus e sua transmissão entre aves, mamíferos e alguns casos em humanos, juntamente com o seu potencial de mutação, são fatos preocupantes que requerem medidas preventivas e uma preparação em caso de disseminação do vírus entre pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O que é a gripe aviária e o significa potencial pandêmico

A gripe A (H5N1) é causada por um vírus aviário da influenza que está se espalhando rapidamente no mundo, causando a morte de milhões de animais e sintomas graves, que podem levar à morte de humanos. No momento, não há transmissão confirmada deste vírus em pessoas. Porém, se alguma linhagem se modificar a ponto de tornar possível a transmissão entre humanos, há um risco real de pandemia.

“O vírus de influenza A(H5N1) está sendo transmitido de aves para aves, de aves para mamíferos, de mamíferos para mamíferos, de aves para humanos e mamíferos para humanos. Só não vimos ainda a transmissão de pessoa para pessoa, mas existe um potencial do vírus adquirir essa capacidade, o que é muito perigoso porque aumenta o risco de uma pandemia”, afirma o pesquisador científico e gerente de Desenvolvimento e Inovação de Produtos do Butantan, Paulo Lee Ho.

A OMS ainda considera baixo o risco de uma pandemia em humanos, sobretudo pelo número de casos notificados nos últimos 20 anos no mundo e pela avaliação de risco de sua ferramenta conhecida como TIPRA (Tool for Influenza Pandemic Risk Assessment - Ferramenta para Avaliação de Risco de Pandemia de Influenza).

De 2003, quando o vírus foi detectado pela primeira vez, até 27 de maio de 2025, a OMS registrou 976 casos de infecção humana em 25 países; destes, 13 casos e cinco mortes ocorreram em 2025. Do total de 976 casos, 470 foram fatais, o que confere uma taxa de letalidade de 48,2%.

“Apesar de a OMS considerar o risco baixo, nós nunca sabemos quando a transmissão entre humanos pode começar. Por isso, temos que nos preparar caso aconteça”, ressalta Paulo Lee Ho.

A linhagem de gripe A(H5N1) surgiu pela primeira vez em 1996 e tem causado surtos em aves desde então. Desde 2020, uma variante desses vírus levou a um número sem precedentes de mortes em aves selvagens e aves domésticas em muitos países. Depois de afetar a África, Ásia e Europa, em 2021, o vírus se espalhou para a América do Norte e, em 2022, para a América Central e do Sul.

De 2021 a 2022, a Europa e a América do Norte observaram a maior e mais extensa epidemia de gripe aviária com persistência incomum do vírus em populações de aves selvagens. Desde 2022 há relatos crescentes de surtos mortais entre mamíferos, também causados por vírus influenza A/H5 – incluindo influenza A (H5N1).

No Brasil, até o momento, não foi registrado nenhum caso da doença em humanos, embora o país já tenha registrado e controlado alguns focos em aves silvestres e em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).

Dentro deste contexto, o pesquisador Paulo Lee Ho esclarece dúvidas sobre o vírus e o que o Butantan vem estudando para preparar uma vacina contra a doença.

1- O que é a gripe aviária?

A influenza aviária, conhecida mundialmente como Influenza A Viruses ou pela sigla IAV, é um tipo de gripe zoonótica (ou animal) que afeta sobretudo aves selvagens e domésticas, e que tem como agente responsável um ortomixovírus.

Todos os vírus influenza de aves e de muitos mamíferos são do tipo A. Eles são classificados em subtipos com base em diferenças antigênicas de duas proteínas de superfície: hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA). Existem pelo menos 16 subtipos de HA e 9 de NA reconhecidos como de origem aviária, que dão origem aos subtipos da influenza A H5N1, H9N2, H3N8, entre outros.

Os IAVs podem ser classificados pela categoria e subtipo de patogenicidade. Os vírus de alta patogenicidade (HPAI – Highly Pathogenic Avian Influenza, na sigla em inglês) H5 ou H7 são assim classificados a partir de um teste de virulência realizado em galinhas, conforme a capacidade do vírus de causar lesões severas e alta mortalidade. Os de subtipo H3N2 são considerados de baixa patogenicidade.

O A (H5N1) é um dos vários vírus da gripe que podem causar uma doença respiratória altamente infecciosa em aves. Infecções em mamíferos, incluindo humanos, também foram documentadas. A infecção pelo vírus da gripe A(H5N1) pode causar uma série de doenças em humanos, de leves a graves e, em alguns casos, pode até ser fatal.

2- O que causa uma pandemia de gripe?

Pandemias de gripe acontecem de tempos em tempos, justamente pelos vírus influenza serem altamente recombináveis, mutáveis e circularem nos hemisférios norte e sul do planeta. A OMS os monitora continuamente, e essas informações são utilizadas pelos produtores de vacina para atualizar os imunizantes de influenza sazonal todos os anos.

Como o vírus influenza aviário A/H5 está em constante evolução, ele tem potencial de se tornar transmissível de pessoa para pessoa, após cruzar a barreira de transmissão ave-humanos. Não se sabe se isso vai acontecer e nem quando.

Mas se ocorrer, pode dar início a uma nova pandemia de influenza – como foi o caso da gripe espanhola de 1918 e da gripe A(H1N1) de 2009, segundo a OMS – que pode ser avassaladora, devido à alta taxa de mortalidade do vírus.

3- Já vivemos outras pandemias de gripe?

Sim. Um milhão de pessoas em todo o mundo morreram em um surto de gripe em 1957, que começou na China, mas se espalhou globalmente. Em 1968, outro surto ceifou de 1 a 3 milhões de vidas no mundo. Em 2003, o ressurgimento da gripe A(H5N1) evidenciou como o vírus podia ser transmitido de animais para pessoas, mas não atingiu o estágio pandêmico: o vírus não conseguiu se transmitir de forma sustentável de pessoa para pessoa – o que ainda se mantém.

A última pandemia foi a de gripe A(H1N1) em 2009, debelada graças às vacinas, embora milhares de pessoas tenham morrido. A doença que não foi de origem aviária, ficou conhecida como “gripe suína”, começou no México e se espalhou rapidamente para mais de 214 países, territórios e comunidades ultramarinas. Estima-se que entre 105 mil a 395 mil pessoas tenham morrido.

Mas a pior pandemia de influenza da história foi a gripe espanhola, que infectou meio bilhão de pessoas no mundo em 1918 e matou mais de 50 milhões. A gripe ganhou este nome porque surgiu na Espanha, embora tenha se espalhado para outros países. Globalmente, o número de mortos superou o da Primeira Guerra Mundial, que foi de cerca de 17 milhões, em dados da OMS.

As pandemias mais recentes não foram tão mortais, devido aos avanços científicos referentes ao acesso a antivirais, vacinas, testes diagnósticos e técnicas modernas de vigilância. Mas, assim como acontece com muitas outras doenças, as pandemias de gripe afetam mais duramente as comunidades pobres e socialmente marginalizadas. Um estudo publicado na revista The Lancet, que analisou o impacto potencial de uma pandemia semelhante à de 1918 no mundo moderno, concluiu que "os países e regiões que menos podem se preparar para uma pandemia serão os mais afetados".

4- Há risco de a infecção ser passada de humano para humano?

As evidências disponíveis sugerem que os vírus da influenza A(H5) em circulação não adquiriram a capacidade de se transmitir eficientemente entre pessoas. Portanto, neste momento, a transmissão sustentada de pessoa para pessoa é considerada improvável.

Ainda que a ameaça zoonótica permaneça elevada devido à disseminação dos vírus entre aves, considera-se que o risco geral de pandemia associado à influenza aviária A(H5) não mudou significativamente em comparação com anos anteriores. A OMS recomenda aos países que permaneçam vigilantes e considerem medidas de mitigação para reduzir a exposição humana a aves e outros mamíferos potencialmente infectados, a fim de reduzir o risco de infecção zoonótica adicional.

5- Com os focos em aves no Brasil, há perigo em consumir carne de frango?

Não há perigo porque frango é um alimento que não se consome cru. O vírus não consegue sobreviver às altas temperaturas de cozimento. No entanto, recomenda-se evitar tocar em aves mortas ou se aproximar de aves e galinhas que pareçam doentes, ou seja, que estejam caídas ou espirrando. Nestes casos, é indicado chamar a autoridade sanitária local para fazer a remoção. Para pessoas que convivem ou trabalham em granjas, frigoríficos ou áreas rurais, é importante o uso de equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras no manuseio dos animais.
Como o vírus está atingindo outros animais, como mamíferos, inclusive vacas leiteiras, não se recomenda a ingestão de leite cru. O leite deve ser consumido fervido ou pasteurizado.

6- Como está o processo da vacina do Butantan?

O Butantan tem um estoque reserva de uma candidata vacinal contra gripe aviária A (H5N8) desenvolvida com cepas fornecidas pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.
Na prova de conceito, o antígeno e o adjuvante usados na candidata vacinal se mostraram eficazes para combater a doença. Estes resultados foram enviados à análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para um possível uso em pesquisa clínica.

O Butantan tem capacidade e expertise para fabricar o imunizante pelo fato de ele ser desenvolvido com a mesma plataforma da vacina da influenza sazonal, de vírus fragmentado e inativado, que o Instituto produz anualmente para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.

Apesar da vacina do Butantan conter o vírus influenza A(H5N8), ela protege também contra o vírus A (H5N1), devido ao fato de ambos apresentarem o componente H5 (Hemaglutinina 5) semelhante ou idêntico. Além disso, o Instituto desenvolveu e produziu em escala piloto o adjuvante IB160 que foi combinado com sucesso com o antígeno H5N8 na prova de conceito da vacina realizada em modelo animal, mostrando a necessidade do uso do adjuvante e protocolo de imunização de duas doses da formulação vacinal.

A produção em escala industrial do adjuvante está prevista para ser iniciada no final do ano e começo de 2026. Com isso, em caso de pandemia do vírus H5N1 circulante, o Instituto terá capacidade de produção do antígeno e do adjuvante para a formulação da vacina, representando uma possível autonomia do país na produção dos componentes vacinais.

Em 2018, o Instituto chegou a fazer estudo de fase 1 com uma outra vacina pandêmica de gripe aviária A (H7N9), em parceria com Organização Mundial de Saúde (OMS), com a Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (BARDA) e com o Instituto de Pesquisa em Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (IDRI), quando houve a transferência de tecnologia de produção do adjuvante IB160 ao Butantan.

Em virtude dos riscos da gripe A (H5N1), os estudos com as novas cepas de gripe A/H5 estão sendo realizados como forma de preparação para uma potencial pandemia envolvendo a cepa em circulação.

Fonte: Instituto Butantan

domingo, 18 de maio de 2025

Gripe aviária: tire suas dúvidas sobre doença que afeta aves

 







Brasil confirma primeiro caso da infecção no Rio Grande do Sul

O Brasil confirmou esta semana o primeiro caso de vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em um matrizeiro de aves comerciais no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, trata-se do primeiro foco de IAAP detectado em sistema de avicultura comercial do país.

Em nota, a pasta destacou que a doença não é transmitida pelo consumo de carne nem de ovos.

“A população brasileira e mundial pode se manter tranquila em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer restrição ao seu consumo. O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas (vivas ou mortas)”.

Desde o anúncio do primeiro caso de IAAP no país, China, União Europeia e Argentina suspenderam as importações de carne de frango brasileira, inicialmente por um prazo de 60 dias. Apesar do foco ser regional, as restrições comerciais, no caso da China e do bloco europeu, abrangem todo o território nacional, por exigências previstas em acordos comerciais com o Brasil.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, desde 2006, casos de IAAP vêm sendo registrados em diversas partes do mundo, sobretudo na Ásia, na África e no norte da Europa.

Confira, a seguir, as principais perguntas e respostas sobre a infecção, conforme avaliação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

O que é a influenza aviária?

A influenza aviária, comumente conhecida como gripe aviária, é uma doença causada por vírus influenza originários de aves. Esses vírus pertencem à família Orthomyxoviridae e incluem o A(H5N1). Eles afetam principalmente aves, mas também foram detectados em mamíferos, incluindo bovinos. A gripe aviária raramente afeta humanos, mas a orientação é que as pessoas se mantenham informadas e tomem as medidas preventivas recomendadas.

Como acontece a transmissão?

A forma mais comum de entrada do vírus em um território é por meio de aves selvagens migratórias. O principal fator de risco para a transmissão do vírus de aves para humanos é o contato direto ou indireto com animais infectados ou com ambientes e superfícies contaminados por fezes ou outros fluidos animais. Depenar, manusear carcaças de aves infectadas e preparar aves para consumo, especialmente em ambientes domésticos, também podem ser fatores de risco.

Quais são os sintomas em humanos?

Os sintomas variam de leves – com alguns pacientes até mesmo assintomáticos – a graves. As principais manifestações relatadas incluem febre, tosse, resfriado, conjuntivite, sintomas gastrointestinais e problemas respiratórios.

Qual é o tratamento para a gripe aviária?

Medicamentos antivirais são recomendados para pessoas com quadros graves ou em risco de desenvolver quadros graves devido a condições pré-existentes ou subjacentes, como no caso de idosos ou indivíduos com problemas de saúde crônicos. A orientação é que pessoas que apresentarem sintomas de gripe aviária entrem em contato com um profissional de saúde para receber o tratamento adequado.

Pessoas podem morrer de gripe aviária?

Os seres humanos não têm imunidade prévia à gripe aviária, portanto, o vírus pode causar quadros graves da doença. Entretanto, a OMS diz ser difícil generalizar a análise com base em dados históricos, já que o vírus tem evoluído. Desde 2003, cerca de 900 casos humanos de infecção por A(H5N1) foram relatados, com uma taxa de mortalidade superior a 50%.

Existe uma vacina para gripe aviária?

A OMS atualiza regularmente vacinas em potencial no intuito de se preparar para eventuais pandemias, o que ajuda a garantir que as doses possam ser produzidas rapidamente, se necessário. No caso do vírus H5N1 encontrado em vacas leiteiras, a entidade já tem vacinas em potencial prontas por meio de seu Sistema Global de Vigilância e Resposta à Influenza. Em relação a vacinas para humanos, a OMS tem acordos com 15 fabricantes de imunizantes para acessar cerca de 10% da produção em tempo real de uma futura dose contra a influenza em caso de pandemia. Essas vacinas, segundo a entidade, serão distribuídas aos países com base no risco e na necessidade para a saúde pública.

A vacina contra a gripe sazonal protege contra a gripe aviária?

As vacinas atuais contra a influenza sazonal ou gripe comum não protegem contra a infecção humana pelo vírus da gripe animal, incluindo os vírus H5N1.

Quem corre risco de contrair a gripe aviária?

De acordo com a Opas, sempre que houver qualquer tipo de exposição a animais infectados (como aves domésticas, aves selvagens ou mamíferos) ou a ambientes contaminados, onde circulam os vírus da gripe aviária, existe risco de infecção humana esporádica. Casos humanos de gripe aviária associada ao vírus A(H5N1), segundo a entidade, são isolados. Ao longo dos últimos anos, cerca de 70 infecções humanas foram relatadas na região das Américas, sendo 67 nos Estados Unidos (até abril de 2022), uma no Equador (janeiro de 2023), uma no Chile (março de 2023) e uma no Canadá (novembro de 2024), com uma morte associada à infecção nos Estados Unidos. A maioria dos casos está ligada ao contato com a criação de gado (40 casos, todos nos Estados Unidos) ou aves. A transmissão entre humanos não foi identificada em nenhum desses cenários.

É seguro consumir ovos e frango originários de áreas com surto em animais?

Carnes e ovos podem ser consumidos com segurança, desde que preparados adequadamente. O consumo de carne e ovos crus ou mal cozidos de áreas com surtos de gripe aviária é de alto risco e deve ser evitado. Da mesma forma, animais doentes ou que morreram inesperadamente não devem ser consumidos.

Como preparar carne e ovos com segurança?

A OMS recomenda seguir cinco orientações específicas: mantenha o ambiente limpo;
separe alimentos crus dos cozidos;
longo tempo de cozimento;
manter alimentos em temperaturas seguras;
utilizar água e matérias-primas seguras.

É seguro beber leite de vacas infectadas?

Altas quantidades do vírus A(H5N1) foram encontradas no leite cru de rebanhos infectados. O consumo e manuseio do leite em meio à transmissão da doença está sendo investigado pela OMS. Produtos lácteos produzidos com leite seguindo rigorosos padrões de higiene devem ser considerados seguros para consumo. A OMS e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) recomendam fortemente o consumo de leite pasteurizado, já que a pasteurização é um sistema eficaz contra o vírus e outros patógenos. Estudos da Food and Drug Administration (FDA) sobre pasteurização também mostraram resultados promissores. A OMS alerta, entretanto, que algumas amostras comerciais de leite pasteurizado nos Estados Unidos continham fragmentos de vírus. Desde que o leite contenha apenas fragmentos de vírus e não o vírus vivo ou em sua forma infecciosa, ele é considerado seguro para consumo. Para trabalhadores da indústria leiteira, atividades que envolvem o manuseio do leite de rebanhos infectados, como ordenhar vacas ou limpar a sala de ordenha, podem aumentar a chance de infecção. Portanto, esses profissionais devem seguir medidas preventivas recomendadas.

E quanto ao queijo e outros laticínios?

Laticínios feitos com leite pasteurizado e que seguem rigorosos padrões de higiene são considerados seguros para consumo. No caso do queijo de leite cru, a sobrevivência do vírus durante a produção está sendo investigada. Como precaução, a produção de queijo de leite cru em áreas com surtos não é recomendada.

A carne bovina foi afetada? É seguro consumir carne de animais afetados?

Não foram relatados casos de detecção em rebanhos de gado de corte. A OMS recomenda o cozimento completo da carne para reduzir a exposição a patógenos.

O que tem sido recomendado para prevenir ou controlar surtos de gripe aviária em animais?

Os países precisam ter um plano de contingência completo e atualizado para surtos. Recomendações específicas para esses planos podem ser obtidas de organizações como a Food and Drug Administration (FAO) e a Organização Mundial da Saúde Animal (WOAH). Equipes envolvidas na vigilância e na resposta à gripe animal devem ser treinadas para implementar esses planos em caso de emergência, além de receber recursos necessários para isso. Também é considerado fundamental que produtores de aves reforcem a biossegurança em suas instalações, evitando o contato entre aves domésticas e aves selvagens, inclusive por meio de água e ração. Ainda segundo a OMS, os produtores desempenham papel fundamental na detecção precoce da doença e precisam ser capazes de reconhecê-la e notificá-la às autoridades veterinárias, para que a gripe aviária possa ser descartada ou confirmada e medidas apropriadas sejam tomadas. A detecção precoce facilita uma resposta oportuna, ajudando assim a reduzir a propagação do vírus. Indivíduos ou famílias que criam aves para consumo pessoal também devem estar bem informados sobre como reconhecer uma ave infectada, quais medidas tomar e como se proteger adequadamente.

Gatos são afetados pela gripe aviária? Existe risco para humanos que criam gatos?

Os gatos são suscetíveis ao H5N1, incluindo os de estimação e também felinos selvagens, como tigres, leões e leopardos. Os fatores de risco para gatos incluem exposição a aves doentes ou mortas, o consumo de aves cruas infectadas ou a ingestão de leite cru. Gatos infectados podem desenvolver sintomas graves e morrer em razão da doença. Estudos sugerem que as pessoas podem transmitir o vírus da gripe sazonal aos gatos, mas o risco da transmissão, para humanos, através de gatos infectados é classificado como baixo. A OMS, entretanto, recomenda evitar o contato com animais doentes ou mortos e a prática de hábitos de higiene ao manusear animais de estimação.

Por que a vigilância animal e a detecção precoce de casos são importantes?

A vigilância adequada da presença de influenza aviária em animais, incluindo aves e mamíferos, fornece informações sobre quais subtipos de influenza estão em circulação. O processo também permite detectar a presença do vírus com caráter zoonótico mais acentuado, ou seja, possivelmente apresentando alterações genéticas que podem resultar em maior adaptabilidade à transmissão de humano para humano, o que é importante para a saúde pública. A detecção precoce torna possível ainda que os países implementem ações de resposta rápida para mitigar o risco de transmissão do vírus para humanos.

Fonte: Agência Brasil

sábado, 17 de maio de 2025

Vacina trivalente da gripe do Butantan protege contra vírus influenza circulantes neste inverno no Brasil

 







OMS e FDA

recomendam a priorização do uso de vacinas trivalentes da gripe, que podem ser encontradas nos postos de saúde para crianças, idosos, grávidas e outros públicos

A vacina trivalente da gripe produzida pelo Butantan este ano, disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é capaz de proteger contra os principais vírus influenza circulantes no país em 2025, protegendo contra casos sintomáticos, hospitalizações e mortes pela doença. A composição do imunizante segue a formulação determinada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que este ano recomendou o uso de vacinas trivalentes da gripe, em vez de quadrivalentes.

A vacina da gripe é alterada anualmente, devido à alta taxa de mutação do vírus. A própria OMS monitora continuamente os vírus influenza circulantes nos hemisférios Norte e Sul e consegue estimar, por meio de vigilância epidemiológica, quais serão as cepas que vão predominar no ano seguinte. Essa informação é repassada para os fabricantes de vacinas, que atualizam seus produtos com as cepas recomendadas pelo órgão. Geralmente, são indicadas duas cepas de influenza A e uma de influenza B.

“A vacina da gripe trivalente produzida pelo Butantan para a campanha deste ano é composta pelos vírus influenza A/Victoria (H1N1), A/Croácia (H3N2) e B/Áustria (linhagem Victoria). Essas são as cepas de gripe que mais tendem a circular nos hemisférios Norte e Sul em 2025, segundo a OMS”, explica a gestora médica de Desenvolvimento Clínico do Butantan Carolina Barbieri.

Em nota publicada em fevereiro deste ano, a OMS declarou que “a composição recomendada das vacinas contra influenza para o hemisfério Norte de 2025 a 2026 permanece a mesma que os vírus recomendados para as vacinas do hemisfério Sul de 2025.”

A agência orienta o uso de apenas três cepas na composição vacinal, em vez de quatro, aconselhando os fabricantes que façam a transição das vacinas quadrivalentes para trivalentes.

Esse posicionamento se baseia nos dados de vigilância da organização, que não detecta a circulação da cepa influenza B (Yamagata), em nível mundial, desde março de 2020. “A ausência contínua de detecção confirmada de ocorrência natural da linhagem B/Yamagata após março de 2020 é indicativo de um risco muito baixo de infecção pela linhagem do vírus Influenza B/Yamagata”, afirma a OMS no documento com perguntas e respostas sobre a composição recomendada das vacinas contra o vírus influenza.

“O antígeno de linhagem em vacinas quadrivalentes de influenza não é mais justificado, e todos os esforços devem ser feitos para excluir esse componente o mais rápido possível. Autoridades nacionais ou regionais devem tomar decisões sobre a transição para vacinas trivalentes de influenza em suas jurisdições”, destaca a OMS no mesmo documento.

O FDA publicou sua recomendação em março de 2025, destacando que “como resultado da reunião com os parceiros federais, o FDA recomenda que a formulação trivalente de vacinas contra influenza à base de ovos para a temporada de influenza dos EUA 2025-2026 contenha um vírus A/Victoria/ (H1N1), um vírus A/Croácia/ (H3N2) e um vírus B/Áustria”.

A recomendação passou a ser feita formalmente também no continente europeu pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), após ter sido aprovada pelo Comitê de Medicamentos de Uso Humano (CHMP) da agência em sua reunião plenária de março de 2025.

“Em 2024, a Força-Tarefa de Emergência (ETF) da EMA emitiu um comunicado recomendando a transição de vacinas quadrivalentes para vacinas trivalentes que não incluam a cepa B/Yamagata. A transição está prevista para a temporada 2025/2026.”, descreveu a EMA em nota.



OMS e as agências norte-americana e europeia aconselham os fabricantes que façam a transição das vacinas quadrivalentes para trivalentes

Vacinas tri e quadrivalente com mesma proteção

A recomendação das agências indica que as vacinas trivalentes são capazes de conferir a mesma proteção do que as quadrivalentes, já que a composição desta contém uma cepa que não circula e que, portanto, não faria diferença para os imunizados.

“Neste momento epidemiológico podemos dizer que a vacina trivalente protege tanto quanto a quadrivalente, pois a quarta cepa não circula neste momento no Brasil. Atualmente quem tomar a vacina trivalente ou a quadrivalente da gripe terá a mesma proteção porque as cepas circulantes são as mesmas”, afirma Carolina Barbieri.

A vacina trivalente da gripe do Butantan inclusive já é pré-qualificada pela OMS desde 2021, o que permitiu que o imunizante ganhasse um endosso internacional e pudesse ser fornecida às agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e a outros países por meio da OMS e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

“Essa pré-qualificação significa que a vacina da gripe do Butantan foi validada em todo o seu processo, dos estudos clínicos às Boas Práticas de Fabricação, produção, envase, farmacologia e qualidade, ressaltando a sua qualidade e eficiência”, explica a gestora médica de Desenvolvimento Clínico do Butantan.


A vacina da gripe do Butantan está disponível em unidades básicas de saúde de todo o país e na rede privada

Produção em larga escala

A vacina da gripe do Butantan está disponível em unidades básicas de saúde de todo o país e na rede privada. Ela é feita totalmente no Brasil, na fábrica do Instituto, o que permite uma produção em grande escala de vacinas sazonais ou mesmo outras, caso surjam novas cepas com força de se tornarem pandêmicas.

“A vacina trivalente da gripe do Butantan é uma vacina 100% produzida no Brasil, da cadeia produtiva até o produto final, o que incentiva a autossuficiência da indústria nacional e permite uma resposta mais rápida a qualquer evento de influenza, seja o surgimento de novas cepas sazonais ou até mesmo uma nova pandemia”, esclarece o gerente da Franquia Influenza do Butantan, Felipe Carvilhe.

Fonte: Instituto Butantan