Mostrando postagens com marcador INSTITUTO BUTANTAN. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador INSTITUTO BUTANTAN. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Aranha causa cobreiro? Lesões na pele provocadas por herpes-zóster podem ser confundidas com alergia

 


Crença popular que associa caranguejeiras à doença viral é mito e surgiu porque a aranha possui cerdas capazes de provocar reação alérgica

Você já deve ter ouvido falar que encostar em aranha pode causar cobreiro – aquelas lesões avermelhadas na pele, acompanhadas de coceira, formigamento, febre e mal-estar. Mas será que isso tem algum fundamento científico? Segundo o aracnólogo Paulo Goldoni, tecnologista no Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, a resposta é NÃO.

Cobreiro é o nome popular das manifestações que podem ocorrer na pele como consequência da herpes-zóster, doença causada pelo vírus varicela-zoster e que não tem nada a ver com as pobres aranhas. Esse vírus é o mesmo da catapora (ou varicela), doença comum na infância e prevenível pela vacina tetravalente, disponível na rede pública a partir dos 15 meses de idade. A herpes-zóster, predominante em idosos, acontece quando o varicela-zoster é reativado no organismo após ficar “dormente” por um período – ele pode levar décadas para se manifestar e, em algumas pessoas, isso nunca acontece.

ENTÃO DE ONDE VEM ESSA HISTÓRIA DE QUE ARANHA CAUSA COBREIRO?
A palavra “cobreiro” surgiu justamente da ideia de que as lesões na pele são provocadas pelo contato com aranhas, cobras ou até sapos, embora a crença sobre os aracnídeos tenha ganhado mais destaque no imaginário popular. As aranhas associadas ao cobreiro são as caranguejeiras, da família Theraphosidae – aquelas grandes e “peludas” que vemos nos filmes. No Brasil, há 185 espécies descritas dessa família.

De acordo com Paulo, esses “pelos” são, na verdade, cerdas modificadas capazes de causar reação alérgica. “O contato com essas cerdas pode provocar uma variedade de respostas. Algumas pessoas podem ficar apenas com vermelhidão e coceira, enquanto outras podem chegar a ter pequenas bolhas e feridas na pele, que acabam sendo confundidas com as lesões da herpes-zóster”, explica.

As caranguejeiras com cerdas urticantes pertencem a uma subfamília específica, a Theraphosinae, distribuída em todo o território brasileiro. “Algumas espécies têm o hábito de caminhar, em vez de ficar escondidas em tocas. Com isso, acabam sendo mais vistas pelas pessoas, inclusive nas residências. Segundo a crença popular, essas espécies mais ativas seriam responsáveis pelo cobreiro”, diz o especialista.

As cerdas são usadas como mecanismo de defesa e lançadas quando a aranha se sente ameaçada. Os pelos urticantes podem atingir até os olhos e o trato respiratório, causado intensa irritação. Vale ressaltar que a caranguejeira não é um animal agressivo e esses acidentes só acontecem se as pessoas se aproximam ou tentam segurá-la. Por isso, ao cruzar com uma dessas aranhas, é melhor deixá-la seguir seu rumo.

COMO DIFERENCIAR AS LESÕES: COBREIRO E URTICÁRIA

As feridas da herpes-zóster costumam aparecer, principalmente, no tórax, pescoço e costas, e somente de um lado do corpo. Além de coceira, ardor e formigamento, as bolhas podem provocar dores fortes, já que o vírus fica alojado nas células nervosas. A doença é mais comum em idosos e pessoas com sistema imune comprometido, podendo deixar sequelas como dor crônica. O tratamento é feito com antivirais e existe uma vacina disponível na rede privada de saúde que ajuda a prevenir a infecção.

Já a alergia provocada pelas cerdas da caranguejeira é caracterizada por vermelhidão, dor e coceira intensa no local do contato, não se espalhando por outros lugares do corpo. Também podem ocorrer manifestações sistêmicas, como espirros e tosse. Raramente, pessoas com maior sensibilidade podem ter reações alérgicas mais graves que necessitam de atendimento médico. Já foram descritos, também, casos de inflamação crônica nos olhos.



Cerdas modificadas da aranha podem causar reação alérgica

Tive contato com as cerdas da aranha, preciso tomar o soro antiaracnídico do Butantan?

Não. As cerdas não estão ligadas às glândulas de veneno e não provocam envenenamento. Assim, o tratamento é feito com base nos sintomas da alergia. Apesar de as caranguejeiras terem veneno, assim como os outros aracnídeos, sua toxina não é ativa em humanos e não representa perigo. A picada pode provocar dor local, coceira, inchaço e vermelhidão na pele, sintomas que também são tratados com medicamentos convencionais e que não exigem a aplicação de soro.

Fonte: Instituto Butantan

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Butantan se prepara para testar vacina contra gripe aviária em humanos

 

O Instituto Butantan, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, vai iniciar os testes, em seres humanos, da primeira vacina brasileira contra a gripe aviária (H5N8). O instituto recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última terça-feira (1º) para o início dos ensaios clínicos e agora aguarda o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

Segundo o Butantan, a vacina influenza monovalente A (H5N8) será testada em duas doses, com intervalo de 21 dias, em adultos de 18 anos até 59 anos, em um primeiro momento. Depois, serão realizados os testes em pessoas com mais de 60 anos.

O instituto concluiu os estudos pré-clínicos em camundongos e coelhos com resultados positivos de segurança e imunogenicidade (capacidade de gerar uma resposta imunológica). O Butantan pretende recrutar 700 adultos e idosos voluntários, que participarão das fases 1 e 2 do estudo em cinco centros de pesquisa em Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo.

O objetivo é terminar o acompanhamento destes participantes em 2026, para ter dados que contemplem uma faixa etária ampla para a submissão do pedido de registro à Anvisa.


RISCO DE NOVA EPIDEMIA

O diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, explica que existe uma quantidade muito grande de vírus aviários de influenza, e que há uma pequena percentagem deles que pode ganhar agressividade e causar doenças mais graves. Mesmo que afetem primeiramente as aves, esses vírus podem chegar a alguns mamíferos que entram em contato com elas, e finalmente, caso se adaptem, existe o risco de causarem infecções em humanos. Segundo Kallás, desde 1996, um tipo de vírus específico de aves chamado H5 demonstrou a capacidade de ser transmitido esporadicamente para algumas pessoas.

“Nos últimos anos, o vírus vem se adaptando cada vez mais e conseguindo causar levas de mortes em mamíferos, primeiro em aquáticos, mas agora também em mamíferos terrestres. Está cada vez mais se aproximando de ter as adaptações que precisaria para serem transmitidos entre as pessoas. Essa possibilidade alerta a toda a comunidade científica e a saúde pública sobre a possibilidade de a gente ter uma pandemia causada pela gripe aviária”, afirmou o diretor.

De acordo com ele, essa não é uma opinião apenas de especialistas do Instituto Butantan, do estado de São Paulo, ou dos brasileiros. É uma avaliação que está presente no mundo todo.

“É para se antecipar, fazer uma preparação para isso, que o Instituto Butantan vem, desde o começo de 2023, trabalhando no desenvolvimento de uma vacina candidata para prevenir uma infecção ou o desenvolvimento de doença grave por esse vírus H5, que vem sendo transmitido principalmente entre os animais das Américas. Nosso objetivo é verificar se a vacina é bem tolerada, se é segura, e se induz uma proteção verificada pelo exame de sangue depois de as pessoas terem sido vacinadas".

"Se a gente tiver isso pronto, caso esse vírus comece a ser transmitido entre as pessoas, e causar um surto, uma epidemia, ou uma pandemia, o Butantan já trilhou um caminho de desenvolvimento para produzir essa vacina no enfrentamento em saúde pública”, completa Kallás.

TRANSMISSÃO ENTRE HUMANOS

A diretora médica do Instituto Butantan, Fernanda Boulos, destaca que o grande risco que existe para a gripe aviária é ter uma transmissão inter-humana, de pessoa para pessoa.


“Se isso acontecer, há chance de ocorrer uma epidemia. Isso não aconteceu até agora porque esse vírus da influenza não tem a capacidade de se adaptar em sistema respiratório humano. No entanto, sabemos que os vírus influenza são altamente mutagênicos e, se sofrer uma mutação específica que permita ele se adaptar no sistema respiratório de humanos, aí, sim, há o risco de transmissão entre humanos e o risco de epidemia. Estamos querendo nos antecipar a esse risco”, afirmou Fernanda.

A diretora acrescenta que a vacina em desenvolvimento é de vírus inativado, também chamado de vírus morto, incapaz de causar infecções. “Com a aprovação ética do estudo se concretizando, a gente abre os cinco centros de pesquisa que irão recrutar participantes desse estudo para avaliar se a vacina é segura e gerou imunidade nesse primeiro teste em humanos”, disse a pesquisadora.

LETALIDADE

Segundo a Anvisa, especialistas de todo o mundo alertam para o risco de disseminação de novas variantes do vírus da gripe aviária, como o H5N1, H5N8 e H7N9, que chamam a atenção por seu alto potencial de letalidade e capacidade de mutação. Desde 2021, esses vírus causaram a morte de 300 milhões de aves e impactaram 315 espécies silvestres em 79 países, segundo dados globais.

“Em humanos, embora ainda sejam raros, os casos chamam a atenção pela gravidade: entre 2003 e 2024, houve 954 infectados em 24 países, com 464 mortes — uma taxa de letalidade de 48,6%, significativamente mais alta que a registrada durante a pandemia de covid-19, de menos de 1%”, destaca a agência reguladora.

O Ministério da Saúde informa que, até o momento, não foi confirmado nenhum caso humano de influenza aviária no Brasil. “O risco de infecção humana é baixo e não ocorre pelo consumo de carne ou ovos devidamente cozidos, mas, sim, por contato direto com aves doentes ou com ambientes contaminados. Dessa forma, a medida preventiva mais eficaz é evitar o contato com aves mortas ou doentes”, diz a pasta.

CASOS NO RIO GRANDE DO SUL

Neste ano, foi notificada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) a infecção em aves comerciais de uma granja no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. No dia 18 de junho, o Brasil voltou a ser um país livre da influenza aviária, após ter cumprido os protocolos internacionais que preveem, entre outras medidas, o prazo de 28 dias sem novos registros em granjas comerciais. O anúncio oficial de cumprimento do período de vazio sanitário foi dado pelo Mapa, em comunicado enviado à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).

De acordo com o Ministério da Saúde, as aves, quando infectadas, podem disseminar vírus através da saliva, secreções de mucosas e fezes. A infecção se dá tanto pelo contato direto ─ respirar o vírus contido em gotículas ou partículas transportadas pelo ar ─ ou pelo contato com superfícies contaminadas por ave infectada e depois tocando seus próprios olhos, boca ou nariz.

“As pessoas raramente contraem a influenza aviária, mas, quando isso ocorre, geralmente é devido ao contato direto desprotegido com aves infectadas, sem uso de equipamentos de proteção individual como luvas, roupas de proteção, máscaras, respiradores ou proteção dos olhos”, diz a pasta.

PLANO DE CONTINGÊNCIA

Para garantir uma resposta rápida a possíveis surtos, o ministério lançou, em dezembro de 2024, o Plano de Contingência Nacional do Setor Saúde para Influenza Aviária, que orienta a atuação da pasta, incluindo vigilância integrada, diagnóstico laboratorial, assistência e comunicação em saúde.

Além do plano, a pasta publicou também o Guia de Vigilância da Influenza Aviária em Humanos, com definições de caso e demais detalhes operacionais de toda a rotina de vigilância, desde o monitoramento de pessoas expostas até o manejo clínico de casos suspeitos e os fluxos laboratoriais adequados.
Fonte: Agência Brasil



“O Brasil atua em diferentes frentes para se preparar diante de um eventual risco de casos em humanos. Por meio do SUS, o Ministério da Saúde possui capacidade para a realização de exames laboratoriais, mantém estoque do medicamento oseltamivir, utilizado no tratamento dos diversos tipos de influenza e, caso necessário, dispõe de tecnologia para a produção de vacinas”, diz, em nota.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Butantan obtém patentes de dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose que oferecem resultados em 25 minutos

Testes que detectam anticorpos no sangue e na urina identificam infecção em poucos minutos, enquanto exames tradicionais são menos sensíveis e têm resultados em dias

Uma equipe de pesquisadoras do Laboratório de Bacteriologia e do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan desenvolveu dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose, um de detecção pela urina e outro pelo sangue. Ambos os testes oferecem resultados em até 25 minutos, enquanto nos testes padrão o resultado confirmatório da doença pode demorar dias. As duas pesquisas já têm patentes concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão atrelado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Governo Federal.

Cada teste permite detectar a doença em momentos distintos – o primeiro, pela urina, no início da infecção; o segundo, pelo sangue, quando a bactéria já se espalhou. Isso pode ser determinante no acesso mais ágil ou em tempo hábil ao tratamento, levando em conta que a leptospirose pode causar a morte em até 40% dos casos graves, segundo o Ministério da Saúde.

Atualmente, o diagnóstico da doença é feito somente em laboratórios de referência e depende de cultura bacteriana, com resultado que pode demorar de 15 a 30 dias para ser conclusivo. A demora decorre da necessidade de análise de uma segunda amostra de sangue do paciente.

Os testes rápidos permitem obter um resultado entre 20 e 25 minutos. O feito com urina usa o método de quimioluminescência (emissão de luz durante uma reação química) e o com sangue é uma análise imunocromatográfica (identificação da doença por associação a anticorpos), semelhante ao teste rápido de Covid-19.



A pesquisadora Patricia Aniz atuou nos estudos de dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose, um de detecção pela urina e outro pelo sangue
“O diagnóstico da leptospirose é complexo do ponto de vista clínico porque os sintomas se confundem com doenças febris como malária, dengue e febre amarela, entre outras. Se tivermos um teste rápido, simples e eficiente, conseguimos tratar principalmente os que evoluem de forma grave”, afirma a pesquisadora científica, atualmente do Núcleo de Produção de Vacinas Bacterianas do Butantan, Patricia Aniz, que coordenou o desenvolvimento dos dois testes.

SOBRE A LEPTOSPIROSE

A leptospirose é uma infecção transmitida de forma direta ou indireta pelo contato com a urina de animais infectados pela bactéria Leptospira, que penetra na pele a partir de lesões ou quando se passa muito tempo imerso em água contaminada, como em enchentes. Os animais domésticos, como cães, e de criação, como bovinos, suínos e equinos, são os mais comumente acometidos. O período entre a transmissão e os sintomas ocorre geralmente entre sete a 14 dias após a exposição a situações de risco.

No mundo, estima-se que a incidência desta doença seja de mais de 500 mil de casos por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a leptospirose apresenta surtos epidêmicos em períodos de chuva e é encontrada com maior frequência nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Bahia e Pernambuco. Nos últimos três anos, foi observado um aumento da incidência, com aproximadamente 3.000 casos por ano, de acordo com o Ministério da Saúde. Houve um aumento significativo de registros na região Sul, provavelmente devido às enchentes que ocorreram nos últimos anos.

A leptospirose também causa perdas econômicas, por provocar alterações reprodutivas nos animais infectados, como infertilidade, mastites, abortos e natimortalidade. “Ficamos muito felizes por ter resolvido um problema de saúde pública e que também afeta a agropecuária, levando à diminuição na produção de leite e de carne”, afirma Patricia Aniz.



Patricia Aniz em frente ao prédio onde está localizado o Laboratório de Bacteriologia


Métodos tradicionais e a demora do diagnóstico

Atualmente o método mais utilizado para o diagnóstico de leptospirose é o Teste de Aglutinação Microscópica (MAT), considerado padrão ouro. Nele, o soro do paciente é incubado com diferentes leptospiras, e diluído em séries. Se apresentar uma aglutinação mínima de 50%, comparada à incubação das bactérias sem o contato com o soro, indica um resultado positivo.

“Porém, este método tem como desvantagem a manutenção de culturas vivas de leptospira, com risco de contaminação para o operador e baixa sensibilidade quando considerado a fase inicial de infecção”, descreve Patricia.
Outra desvantagem apontada pela pesquisadora é que o resultado conclusivo pode demorar muitos dias, devido à necessidade de duas amostras para confirmar a infecção, pois o teste depende da detecção de um aumento nos títulos de anticorpos específicos. “Nesse tempo, a pessoa pode desenvolver sintomas graves”, ressalta Patricia Aniz.

O método sorológico ELISA-IgM [ensaio de imunoabsorção enzimática], bastante usado em ensaios para a detecção de anticorpos, também é utilizado para detectar a leptospirose. Sua principal vantagem é permitir o diagnóstico na fase aguda da doença. “Porém, como desvantagem, este método possui baixa especificidade, menor sensibilidade comparada ao MAT e alto índice de reações cruzadas para outras doenças”, esclarece a pesquisadora.



Patricia avalia o teste imunocromatográfico no Laboratorio de Bacteriologia

Vantagens dos testes rápidos

Diante das dificuldades em se obter resultados laboratoriais precisos e da apresentação clínica inespecífica da leptospirose, as equipes do Laboratório de Bacteriologia e do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan entenderam ser cada vez mais necessário trabalhar no desenvolvimento de métodos mais simples e eficientes.

“O objetivo das pesquisas foi resolver os problemas constantes que envolvem o diagnóstico de leptospirose a partir do desenvolvimento de dois testes mais rápidos, sensíveis e específicos que possibilitem um resultado confirmatório e definitivo, contribuindo na escolha correta do tratamento da leptospirose”, afirma Patricia.



O Teste por quimioluminescência foi criado para detecção de leptospiras na urina


 Teste imunocromatográfico

A análise imunocromatográfica é uma velha conhecida dos cientistas, já que a tecnologia é usada em testes de detecção de anticorpos de Covid-19, entre outras doenças. O teste desenvolvido no Butantan parte da pesquisa de doutorado da estudante Tatiana Barrinuevo Gotti, desenvolvida no Laboratório de Bacteriologia em colaboração com a pesquisadora Roxane Maria Fontes Piazza, coordenadora do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Instituto Butantan e com a pesquisadora Letícia Barboza Rocha. A patente do teste foi solicitada em 6 de setembro de 2016 e concedida em 17 de dezembro de 2024.

“Para o desenvolvimento do método foram selecionadas 11 proteínas da membrana externa da leptospira como candidatos a antígenos, com uma apresentando reatividade. Estas proteínas foram clonadas, expressas e purificadas, sendo testadas em ensaios do tipo Elisa e western-blot [teste de identificação de proteínas específicas]. Depois essa proteína reativa foi ligada ao ouro coloidal [que é o que deixa a cor da linha avermelhada] e também inoculada em animais para a produção de anticorpos específicos”, esclarece Patricia.

No teste desenvolvido pelo Butantan, a amostra de soro obtida do sangue do paciente é adicionada a uma fita de membranas de nitrocelulose e papel absorvente, que entra em contato com reagentes e com os anticorpos contra a leptospira. A detecção da ligação do anticorpo com a proteína da leptospira (antígeno) oferece um resultado em até 20 minutos. Se duas linhas (linha teste e linha controle) aparecerem avermelhadas, o resultado é positivo; se aparecer só uma linha (controle) vermelha, o resultado é negativo.

O trabalho de Tatiana, Letícia, Roxane e Patrícia foi vencedor do Prêmio de Inovação (Butantan – IPLYMPICS) na 17a Reunião Científica Anual do Instituto, realizada em dezembro de 2015.

Segundo Patricia, o método traz uma série de vantagens, sendo a principal a rapidez no resultado e a facilidade de execução. “O resultado está disponível em poucos minutos, permitindo uma resposta rápida e um manejo mais eficaz da doença. Além disso, a simplicidade de aplicação contribui para uma maior acessibilidade, além do fato de o teste ter uma sensibilidade adequada e um baixo custo”, finaliza.




Estudos foram realizados em conjunto com pesquisadoras do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan


Teste por quimioluminescência

Anos antes da pesquisa de Tatiana e Letícia, a então doutoranda Larissa do Rêgo Barros Mato, com colaboração do pesquisador Luiz Bezerra de Carvalho Júnior, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e sob orientação de Patrícia, desenvolveu outro teste diagnóstico para a leptospirose no Laboratório de Bacteriologia, complementar ao teste imunocromatográfico.

O método desenvolvido para o diagnóstico da leptospirose é baseado em um anticorpo ligado a um composto quimioluminescente para detecção de leptospiras na urina. A reação entre o anticorpo e o antígeno (a leptospira) é detectada pela emissão de luz. A patente foi solicitada em 14 de maio de 2014 e concedida em 3 de novembro de 2021.

O método já é utilizado no diagnóstico de doenças infecciosas, dosagens hormonais (como teste de gravidez) e detecção de biomarcadores devido a sua alta sensibilidade e rapidez, o que permite a detecção de substâncias em concentrações muito baixas.

Ele funciona da seguinte forma: a amostra de urina é colocada em contato com o anticorpo ligado a um composto quimioluminescente por 15 minutos em temperatura ambiente; depois é centrifugada por 5 minutos e o sedimento é ressuspendido em solução salina, à qual são adicionados dois reagentes (A e B). A emissão de luz, que é avaliada por um aparelho chamado luminômetro, capaz de medir as unidades relativas de luz (RLU), ocorre em segundos. A amostra é considerada positiva para a presença de leptospiras se o valor de RLUs for maior que o limite de detecção.

“A principal vantagem deste método é permitir o diagnóstico precoce e rápido da leptospirose, uma vez que detecta a bactéria na fase inicial da doença, antes da produção de anticorpos”, conta Patricia. “Além disso, é um procedimento simples e de baixo custo, de execução em até 25 minutos, sem reatividade com outras bactérias presentes na urina ou que causam infecções em pessoas e animais”, ressalta a pesquisadora.

O Butantan mantém outras pesquisas ligadas à criação de novos métodos diagnósticos para leptospirose. Uma delas, realizada pelo Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas, desenvolveu uma proteína quimérica para o diagnóstico da leptospirose que se mostrou superior ao teste padrão atualmente recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fonte: Instituto Butantan

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Gripe aviária pode ser transmitida entre humanos? Pode afetar carne de frango? Pode virar pandemia? Pesquisador do Butantan responde

 











Não há até o momento notificação de caso de transmissão entre pessoas, mas mutações constantes do vírus aumentam chance de isso ocorrer; veja essa e outras respostas
Apesar de a gripe aviária não ser transmitida de humano para humano atualmente, a circulação contínua dos vírus e sua transmissão entre aves, mamíferos e alguns casos em humanos, juntamente com o seu potencial de mutação, são fatos preocupantes que requerem medidas preventivas e uma preparação em caso de disseminação do vírus entre pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O que é a gripe aviária e o significa potencial pandêmico

A gripe A (H5N1) é causada por um vírus aviário da influenza que está se espalhando rapidamente no mundo, causando a morte de milhões de animais e sintomas graves, que podem levar à morte de humanos. No momento, não há transmissão confirmada deste vírus em pessoas. Porém, se alguma linhagem se modificar a ponto de tornar possível a transmissão entre humanos, há um risco real de pandemia.

“O vírus de influenza A(H5N1) está sendo transmitido de aves para aves, de aves para mamíferos, de mamíferos para mamíferos, de aves para humanos e mamíferos para humanos. Só não vimos ainda a transmissão de pessoa para pessoa, mas existe um potencial do vírus adquirir essa capacidade, o que é muito perigoso porque aumenta o risco de uma pandemia”, afirma o pesquisador científico e gerente de Desenvolvimento e Inovação de Produtos do Butantan, Paulo Lee Ho.

A OMS ainda considera baixo o risco de uma pandemia em humanos, sobretudo pelo número de casos notificados nos últimos 20 anos no mundo e pela avaliação de risco de sua ferramenta conhecida como TIPRA (Tool for Influenza Pandemic Risk Assessment - Ferramenta para Avaliação de Risco de Pandemia de Influenza).

De 2003, quando o vírus foi detectado pela primeira vez, até 27 de maio de 2025, a OMS registrou 976 casos de infecção humana em 25 países; destes, 13 casos e cinco mortes ocorreram em 2025. Do total de 976 casos, 470 foram fatais, o que confere uma taxa de letalidade de 48,2%.

“Apesar de a OMS considerar o risco baixo, nós nunca sabemos quando a transmissão entre humanos pode começar. Por isso, temos que nos preparar caso aconteça”, ressalta Paulo Lee Ho.

A linhagem de gripe A(H5N1) surgiu pela primeira vez em 1996 e tem causado surtos em aves desde então. Desde 2020, uma variante desses vírus levou a um número sem precedentes de mortes em aves selvagens e aves domésticas em muitos países. Depois de afetar a África, Ásia e Europa, em 2021, o vírus se espalhou para a América do Norte e, em 2022, para a América Central e do Sul.

De 2021 a 2022, a Europa e a América do Norte observaram a maior e mais extensa epidemia de gripe aviária com persistência incomum do vírus em populações de aves selvagens. Desde 2022 há relatos crescentes de surtos mortais entre mamíferos, também causados por vírus influenza A/H5 – incluindo influenza A (H5N1).

No Brasil, até o momento, não foi registrado nenhum caso da doença em humanos, embora o país já tenha registrado e controlado alguns focos em aves silvestres e em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).

Dentro deste contexto, o pesquisador Paulo Lee Ho esclarece dúvidas sobre o vírus e o que o Butantan vem estudando para preparar uma vacina contra a doença.

1- O que é a gripe aviária?

A influenza aviária, conhecida mundialmente como Influenza A Viruses ou pela sigla IAV, é um tipo de gripe zoonótica (ou animal) que afeta sobretudo aves selvagens e domésticas, e que tem como agente responsável um ortomixovírus.

Todos os vírus influenza de aves e de muitos mamíferos são do tipo A. Eles são classificados em subtipos com base em diferenças antigênicas de duas proteínas de superfície: hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA). Existem pelo menos 16 subtipos de HA e 9 de NA reconhecidos como de origem aviária, que dão origem aos subtipos da influenza A H5N1, H9N2, H3N8, entre outros.

Os IAVs podem ser classificados pela categoria e subtipo de patogenicidade. Os vírus de alta patogenicidade (HPAI – Highly Pathogenic Avian Influenza, na sigla em inglês) H5 ou H7 são assim classificados a partir de um teste de virulência realizado em galinhas, conforme a capacidade do vírus de causar lesões severas e alta mortalidade. Os de subtipo H3N2 são considerados de baixa patogenicidade.

O A (H5N1) é um dos vários vírus da gripe que podem causar uma doença respiratória altamente infecciosa em aves. Infecções em mamíferos, incluindo humanos, também foram documentadas. A infecção pelo vírus da gripe A(H5N1) pode causar uma série de doenças em humanos, de leves a graves e, em alguns casos, pode até ser fatal.

2- O que causa uma pandemia de gripe?

Pandemias de gripe acontecem de tempos em tempos, justamente pelos vírus influenza serem altamente recombináveis, mutáveis e circularem nos hemisférios norte e sul do planeta. A OMS os monitora continuamente, e essas informações são utilizadas pelos produtores de vacina para atualizar os imunizantes de influenza sazonal todos os anos.

Como o vírus influenza aviário A/H5 está em constante evolução, ele tem potencial de se tornar transmissível de pessoa para pessoa, após cruzar a barreira de transmissão ave-humanos. Não se sabe se isso vai acontecer e nem quando.

Mas se ocorrer, pode dar início a uma nova pandemia de influenza – como foi o caso da gripe espanhola de 1918 e da gripe A(H1N1) de 2009, segundo a OMS – que pode ser avassaladora, devido à alta taxa de mortalidade do vírus.

3- Já vivemos outras pandemias de gripe?

Sim. Um milhão de pessoas em todo o mundo morreram em um surto de gripe em 1957, que começou na China, mas se espalhou globalmente. Em 1968, outro surto ceifou de 1 a 3 milhões de vidas no mundo. Em 2003, o ressurgimento da gripe A(H5N1) evidenciou como o vírus podia ser transmitido de animais para pessoas, mas não atingiu o estágio pandêmico: o vírus não conseguiu se transmitir de forma sustentável de pessoa para pessoa – o que ainda se mantém.

A última pandemia foi a de gripe A(H1N1) em 2009, debelada graças às vacinas, embora milhares de pessoas tenham morrido. A doença que não foi de origem aviária, ficou conhecida como “gripe suína”, começou no México e se espalhou rapidamente para mais de 214 países, territórios e comunidades ultramarinas. Estima-se que entre 105 mil a 395 mil pessoas tenham morrido.

Mas a pior pandemia de influenza da história foi a gripe espanhola, que infectou meio bilhão de pessoas no mundo em 1918 e matou mais de 50 milhões. A gripe ganhou este nome porque surgiu na Espanha, embora tenha se espalhado para outros países. Globalmente, o número de mortos superou o da Primeira Guerra Mundial, que foi de cerca de 17 milhões, em dados da OMS.

As pandemias mais recentes não foram tão mortais, devido aos avanços científicos referentes ao acesso a antivirais, vacinas, testes diagnósticos e técnicas modernas de vigilância. Mas, assim como acontece com muitas outras doenças, as pandemias de gripe afetam mais duramente as comunidades pobres e socialmente marginalizadas. Um estudo publicado na revista The Lancet, que analisou o impacto potencial de uma pandemia semelhante à de 1918 no mundo moderno, concluiu que "os países e regiões que menos podem se preparar para uma pandemia serão os mais afetados".

4- Há risco de a infecção ser passada de humano para humano?

As evidências disponíveis sugerem que os vírus da influenza A(H5) em circulação não adquiriram a capacidade de se transmitir eficientemente entre pessoas. Portanto, neste momento, a transmissão sustentada de pessoa para pessoa é considerada improvável.

Ainda que a ameaça zoonótica permaneça elevada devido à disseminação dos vírus entre aves, considera-se que o risco geral de pandemia associado à influenza aviária A(H5) não mudou significativamente em comparação com anos anteriores. A OMS recomenda aos países que permaneçam vigilantes e considerem medidas de mitigação para reduzir a exposição humana a aves e outros mamíferos potencialmente infectados, a fim de reduzir o risco de infecção zoonótica adicional.

5- Com os focos em aves no Brasil, há perigo em consumir carne de frango?

Não há perigo porque frango é um alimento que não se consome cru. O vírus não consegue sobreviver às altas temperaturas de cozimento. No entanto, recomenda-se evitar tocar em aves mortas ou se aproximar de aves e galinhas que pareçam doentes, ou seja, que estejam caídas ou espirrando. Nestes casos, é indicado chamar a autoridade sanitária local para fazer a remoção. Para pessoas que convivem ou trabalham em granjas, frigoríficos ou áreas rurais, é importante o uso de equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras no manuseio dos animais.
Como o vírus está atingindo outros animais, como mamíferos, inclusive vacas leiteiras, não se recomenda a ingestão de leite cru. O leite deve ser consumido fervido ou pasteurizado.

6- Como está o processo da vacina do Butantan?

O Butantan tem um estoque reserva de uma candidata vacinal contra gripe aviária A (H5N8) desenvolvida com cepas fornecidas pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.
Na prova de conceito, o antígeno e o adjuvante usados na candidata vacinal se mostraram eficazes para combater a doença. Estes resultados foram enviados à análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para um possível uso em pesquisa clínica.

O Butantan tem capacidade e expertise para fabricar o imunizante pelo fato de ele ser desenvolvido com a mesma plataforma da vacina da influenza sazonal, de vírus fragmentado e inativado, que o Instituto produz anualmente para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.

Apesar da vacina do Butantan conter o vírus influenza A(H5N8), ela protege também contra o vírus A (H5N1), devido ao fato de ambos apresentarem o componente H5 (Hemaglutinina 5) semelhante ou idêntico. Além disso, o Instituto desenvolveu e produziu em escala piloto o adjuvante IB160 que foi combinado com sucesso com o antígeno H5N8 na prova de conceito da vacina realizada em modelo animal, mostrando a necessidade do uso do adjuvante e protocolo de imunização de duas doses da formulação vacinal.

A produção em escala industrial do adjuvante está prevista para ser iniciada no final do ano e começo de 2026. Com isso, em caso de pandemia do vírus H5N1 circulante, o Instituto terá capacidade de produção do antígeno e do adjuvante para a formulação da vacina, representando uma possível autonomia do país na produção dos componentes vacinais.

Em 2018, o Instituto chegou a fazer estudo de fase 1 com uma outra vacina pandêmica de gripe aviária A (H7N9), em parceria com Organização Mundial de Saúde (OMS), com a Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (BARDA) e com o Instituto de Pesquisa em Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (IDRI), quando houve a transferência de tecnologia de produção do adjuvante IB160 ao Butantan.

Em virtude dos riscos da gripe A (H5N1), os estudos com as novas cepas de gripe A/H5 estão sendo realizados como forma de preparação para uma potencial pandemia envolvendo a cepa em circulação.

Fonte: Instituto Butantan

terça-feira, 17 de junho de 2025

Butantan é pioneiro na conservação ex situ de serpentes, estratégia fundamental para preservação de espécies endêmicas

 











Espécime de Bothrops insularis em seu ambiente natural, na Ilha da Queimada Grande (Foto: Otavio Marques)

Além de garantir a condução de pesquisas que geram conhecimento e recursos capazes de serem aplicados in situ, contribuindo assim para uma melhor gestão do habitat e um possível aumento da população do animal em questão, a conservação ex situ garante a preservação genética da espécie e auxilia possíveis práticas de reprodução em biotério – o que pode viabilizar casos de reintrodução na natureza diante de situações reais de extinção.

Uma história de longa data

Desde a década de 1920, com a descrição da B. insularis pelo herpetólogo Afrânio do Amaral (1894-1982), o Butantan encontra-se na vanguarda das pesquisas relacionadas à espécie. Em 2009, a organização deu os primeiros passos rumo à conservação ex situ da serpente ao coletar os primeiros espécimes para tal finalidade.

“A B. insularis foi escolhida para esse trabalho de conservação não apenas por ser ‘criticamente ameaçada’, mas também por reunir um volume considerável de informações relacionadas à sua biologia e evolução, cruciais para o desenvolvimento de técnicas adequadas para sua manutenção fora do ambiente natural”, explica o pesquisador científico do LEEv Otavio Marques.



Recinto que será dedicado à conservação da jararaca-ilhoa nas novas instalações do LEEv (Foto: José Felipe Batista)

Somam-se a isso o apelo cultural da jararaca-ilhoa e o “boom” de produções científicas ocorrido naquela época – impulsionadas, principalmente, pela retomada das expedições à Queimada Grande –, o que resultou em conhecimentos inéditos sobre sua população, reprodução e hábitos na ilha.

Com a inauguração da nova sede do Laboratório de Ecologia e Evolução no início deste ano, o Instituto Butantan deu mais um importante salto na consolidação de seu programa de conservação ex situ da jararaca-ilhoa: considerado o primeiro criadouro científico com fins conservacionistas para répteis do Brasil, o espaço conta com um inovador viveiro de 250 metros quadrados que será totalmente dedicado à manutenção da espécie. Atualmente, a estrutura encontra-se em fase de finalização.


Paulo Nico, diretor do LEEv, dá as boas-vindas aos participantes da oficina de avaliação do Plano Nacional de Conservação (Foto: Renato Rodrigues)

De olho no futuro

Na Semana Mundial do Meio Ambiente, o Butantan mais uma vez reforça sua posição de referência quando o assunto é conservação de serpentes ao sediar a Oficina de Avaliação do Plano de Ação Nacional para conservação da herpetofauna ameaçada de extinção da região sudeste do Brasil, realizada nos dias 2 e 3/6.

O encontro foi coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e contou com a participação presencial e virtual de mais de 30 especialistas de diferentes instituições, como Zoológico de São Paulo, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além do próprio Instituto.

“O Butantan é parceiro do ICMBio e estamos procurando estabelecer novas cooperações e fortalecer as já existentes no âmbito da conservação de animais. Para nós, é de extrema importância participar deste tipo de discussão e contribuir com as diretrizes do Plano Nacional de Conservação”, reforçou o pesquisador científico e diretor do Laboratório de Ecologia e Evolução, Paulo Nico Monteiro, durante a abertura do evento.



Parte do time de especialistas que participaram dos dois dias de oficina (Foto: André Ricoy)

De acordo com o veterinário e analista ambiental do ICMBio Carlos Abrahão, o objetivo da discussão foi elencar quais são as serpentes e lagartos ameaçados que precisam ser priorizados para possíveis programas de conservação ex situ, e identificar quais instituições estariam aptas a assumir tal missão.

Para isso, os participantes responderam a 19 questionários – cada um dedicado a uma das espécies ameaçadas pré-selecionadas –, que reuniam cerca de 30 perguntas relacionadas ao risco de extinção do animal, assim como sua importância filogênética, distribuição geográfica, valor cultural local, situação populacional e potenciais ameaças.

Espécies como a jararaca-ilhoa (B. insularis); a jararaca-de-alcatrazes (Bothrops alcatraz); a jararaca-de-vitória (Bothrops otavioi); a jiboia-do-ribeira (Corallus cropanii); a cobra-de-duas-cabeças (Amphisbaena nigricauda); e o calango-liso-da-restinga (Brasiliscincus caissara) foram algumas das avaliadas.

“Ficamos muito honrados por receber esse evento aqui no Butantan e encabeçar um assunto tão relevante atualmente, junto com o ICMBio”, completou a bióloga e tecnologista do LEEv Karina Kasperoviczus, responsável por coordenar a ação no Instituto Butantan.

Até o final do ano, a expectativa do ICMBIo é realizar mais quatro oficinas similares com foco nas outras regiões do país e consolidar uma lista preliminar que ajudará a balizar futuros programas de conservação voltados à herpetofauna brasileira.


Fonte: Instituto Butantan

terça-feira, 10 de junho de 2025

Butantan muda embalagens de soros antiveneno para facilitar a identificação dos produtos

Caixas na cor verde serão substituídas por cartuchos de cores diferentes para cada soro, que conterão ilustrações de animais, toxinas ou vírus correspondentes ao produto



O Instituto Butantan desenvolveu novas embalagens para seus soros, que agora apresentam uma cor para cada produto e ilustrações dos animais, da toxina ou do vírus correspondentes. O objetivo da mudança, que não envolve qualquer alteração na composição dos soros, é melhorar a identificação e diferenciação dos imunobiológicos para minimizar possíveis equívocos de aplicação. Além das cores e ilustrações novas, o nome do produto ganhou fontes maiores para favorecer a leitura.

“A mudança foi feita pensando em agilizar a identificação do soro correto a ser administrado, desde o momento em que é retirado da geladeira, evitando também equívocos no preparo e na aplicação pelo profissional de saúde”, afirma a diretora técnica de produção de soros do Butantan, Fan Hui Wen.

A aprovação de uma nova Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estabelece as regras para a rotulagem de medicamentos no Brasil, foi o que determinou a mudança. O artigo 67 da RDC nº 768, de 12 de dezembro de 2022, estabelece que os rótulos de medicamentos ou insumos farmacêuticos devem ter características que os diferenciem entre si e que inibam erros de dispensação, administração e uso.

O parágrafo primeiro do artigo ressalta que essa diferenciação na embalagem pode incluir alterações nas cores, no tamanho e no estilo da fonte, entre outras características, que garantam a fácil distinção. Anteriormente, por determinação da RDC n° 71, de 30 de março de 2016, as embalagens dos soros apresentavam a mesma identidade visual, diferenciando-se apenas pelo nome da imunoglobulina.

“Com a alteração da norma, deixou de ser obrigatório manter as embalagens no padrão verde e houve uma necessidade de uma revisão dos cartuchos [caixas] e dos rótulos contidos nos frascos.



Nova embalagem de soro contra picada de veneno de jararaca (gênero Bothops)

Os primeiros lotes de soros antibotulínico, antiescorpiônico, antibotrópico, anticrotálico, antielapídico, antiaracnídico e antibotrópico e antilaquético com as novas embalagens foram enviados entre dezembro de 2024 e em fevereiro deste ano ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, que faz a distribuição para os estados brasileiros. Vale ressaltar que a mudança não impacta o uso dos soros com as embalagens elaboradas antes e ainda disponíveis na rede de unidades de saúde credenciadas do SUS.

“Durante a transição para as novas embalagens, alguns lotes dos soros ainda podem estar disponíveis no modelo antigo. Ambas as versões podem ser utilizadas até sua data de validade, sem qualquer prejuízo à sua qualidade, segurança e eficácia", informa a diretora técnica dos Centros de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância do Butantan, Vera Gattás.



Embalagem de soro contra veneno de escorpião também contará com desenho do animal para ajudar na identificação do produto

Novo design

A mudança das embalagens envolveu o trabalho das equipes de Produção de Soros, Assuntos Regulatórios, Farmacovigilância e Desenvolvimento Industrial do Butantan. A primeira levantou o histórico de embalagens anteriores e fotos dos animais peçonhentos para ajudar no desenho das novas caixas; a segunda garantiu o alinhamento da mudança à nova RDC; a terceira assegurou que o produto fosse facilmente identificado pelo profissional de saúde, já que é a área que notifica erros e/ou dificuldade de administração em hospitais e postos de saúde.



Nova embalagem do soro contra veneno de cobra-coral verdadeira (Micrurus sp.)

Com todas essas diretrizes, a equipe de Desenvolvimento de Produtos fez o novo design, baseado em cores já utilizadas em embalagens de soros mais antigas do Butantan, e focou na pesquisa de mercado para evitar criar uma identidade parecida com imunobiológicos já existentes.

“Não foi somente uma ação de desenvolvimento de embalagem, mas um conjunto de fatores aliados à abertura da legislação que permitiu fazermos algo diferente, mostrar nosso lado criativo, ao mesmo tempo em que estávamos considerando as novas normas regulatórias da Anvisa, as recomendações da Farmacovigilância e das demais áreas envolvidas”, afirma a coordenadora de Desenvolvimento de Material de Embalagem do Butantan, Anna Carolina Vectore.



Cores das embalagens atualizadas foram baseadas nos cartuchos feitos na década de 1990, quando as cores para cada produto foram estabelecidas

Na década de 1990, quando a norma permitia embalagens diferenciadas para cada produto, os produtos do Butantan tinham cores diferenciadas para cada tipo de soro. Nas versões atuais, esse histórico foi revisitado e as embalagens também ganharam novas cores, mas em um outro layout: listras cor de rosa para o soro contra picada de jararaca; azul claras para o soro antiveneno de cobra coral; amarelas para soro antiveneno da cascavel; laranjas para o soro antiveneno de escorpião; verdes para o soro antiveneno de jararaca e surucucu pico-de-jaca; vermelhas para o soro antiaracnídico; e em azul marinho para o soro antibotulínico. Embalagens dos outros soros estão sendo modificadas gradativamente.

“Fizemos este resgate de materiais impressos e voltamos a colocar cor para diferenciar um soro do outro. A lição de casa foi resgatar todos as embalagens e a evolução delas até chegarmos no que fizemos hoje”, conta a analista de Desenvolvimento de Materiais de Embalagem do Butantan, Erika Higashi.

Fonte: Instituto Butantan

sábado, 17 de maio de 2025

Vacina trivalente da gripe do Butantan protege contra vírus influenza circulantes neste inverno no Brasil

 







OMS e FDA

recomendam a priorização do uso de vacinas trivalentes da gripe, que podem ser encontradas nos postos de saúde para crianças, idosos, grávidas e outros públicos

A vacina trivalente da gripe produzida pelo Butantan este ano, disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é capaz de proteger contra os principais vírus influenza circulantes no país em 2025, protegendo contra casos sintomáticos, hospitalizações e mortes pela doença. A composição do imunizante segue a formulação determinada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que este ano recomendou o uso de vacinas trivalentes da gripe, em vez de quadrivalentes.

A vacina da gripe é alterada anualmente, devido à alta taxa de mutação do vírus. A própria OMS monitora continuamente os vírus influenza circulantes nos hemisférios Norte e Sul e consegue estimar, por meio de vigilância epidemiológica, quais serão as cepas que vão predominar no ano seguinte. Essa informação é repassada para os fabricantes de vacinas, que atualizam seus produtos com as cepas recomendadas pelo órgão. Geralmente, são indicadas duas cepas de influenza A e uma de influenza B.

“A vacina da gripe trivalente produzida pelo Butantan para a campanha deste ano é composta pelos vírus influenza A/Victoria (H1N1), A/Croácia (H3N2) e B/Áustria (linhagem Victoria). Essas são as cepas de gripe que mais tendem a circular nos hemisférios Norte e Sul em 2025, segundo a OMS”, explica a gestora médica de Desenvolvimento Clínico do Butantan Carolina Barbieri.

Em nota publicada em fevereiro deste ano, a OMS declarou que “a composição recomendada das vacinas contra influenza para o hemisfério Norte de 2025 a 2026 permanece a mesma que os vírus recomendados para as vacinas do hemisfério Sul de 2025.”

A agência orienta o uso de apenas três cepas na composição vacinal, em vez de quatro, aconselhando os fabricantes que façam a transição das vacinas quadrivalentes para trivalentes.

Esse posicionamento se baseia nos dados de vigilância da organização, que não detecta a circulação da cepa influenza B (Yamagata), em nível mundial, desde março de 2020. “A ausência contínua de detecção confirmada de ocorrência natural da linhagem B/Yamagata após março de 2020 é indicativo de um risco muito baixo de infecção pela linhagem do vírus Influenza B/Yamagata”, afirma a OMS no documento com perguntas e respostas sobre a composição recomendada das vacinas contra o vírus influenza.

“O antígeno de linhagem em vacinas quadrivalentes de influenza não é mais justificado, e todos os esforços devem ser feitos para excluir esse componente o mais rápido possível. Autoridades nacionais ou regionais devem tomar decisões sobre a transição para vacinas trivalentes de influenza em suas jurisdições”, destaca a OMS no mesmo documento.

O FDA publicou sua recomendação em março de 2025, destacando que “como resultado da reunião com os parceiros federais, o FDA recomenda que a formulação trivalente de vacinas contra influenza à base de ovos para a temporada de influenza dos EUA 2025-2026 contenha um vírus A/Victoria/ (H1N1), um vírus A/Croácia/ (H3N2) e um vírus B/Áustria”.

A recomendação passou a ser feita formalmente também no continente europeu pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), após ter sido aprovada pelo Comitê de Medicamentos de Uso Humano (CHMP) da agência em sua reunião plenária de março de 2025.

“Em 2024, a Força-Tarefa de Emergência (ETF) da EMA emitiu um comunicado recomendando a transição de vacinas quadrivalentes para vacinas trivalentes que não incluam a cepa B/Yamagata. A transição está prevista para a temporada 2025/2026.”, descreveu a EMA em nota.



OMS e as agências norte-americana e europeia aconselham os fabricantes que façam a transição das vacinas quadrivalentes para trivalentes

Vacinas tri e quadrivalente com mesma proteção

A recomendação das agências indica que as vacinas trivalentes são capazes de conferir a mesma proteção do que as quadrivalentes, já que a composição desta contém uma cepa que não circula e que, portanto, não faria diferença para os imunizados.

“Neste momento epidemiológico podemos dizer que a vacina trivalente protege tanto quanto a quadrivalente, pois a quarta cepa não circula neste momento no Brasil. Atualmente quem tomar a vacina trivalente ou a quadrivalente da gripe terá a mesma proteção porque as cepas circulantes são as mesmas”, afirma Carolina Barbieri.

A vacina trivalente da gripe do Butantan inclusive já é pré-qualificada pela OMS desde 2021, o que permitiu que o imunizante ganhasse um endosso internacional e pudesse ser fornecida às agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e a outros países por meio da OMS e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

“Essa pré-qualificação significa que a vacina da gripe do Butantan foi validada em todo o seu processo, dos estudos clínicos às Boas Práticas de Fabricação, produção, envase, farmacologia e qualidade, ressaltando a sua qualidade e eficiência”, explica a gestora médica de Desenvolvimento Clínico do Butantan.


A vacina da gripe do Butantan está disponível em unidades básicas de saúde de todo o país e na rede privada

Produção em larga escala

A vacina da gripe do Butantan está disponível em unidades básicas de saúde de todo o país e na rede privada. Ela é feita totalmente no Brasil, na fábrica do Instituto, o que permite uma produção em grande escala de vacinas sazonais ou mesmo outras, caso surjam novas cepas com força de se tornarem pandêmicas.

“A vacina trivalente da gripe do Butantan é uma vacina 100% produzida no Brasil, da cadeia produtiva até o produto final, o que incentiva a autossuficiência da indústria nacional e permite uma resposta mais rápida a qualquer evento de influenza, seja o surgimento de novas cepas sazonais ou até mesmo uma nova pandemia”, esclarece o gerente da Franquia Influenza do Butantan, Felipe Carvilhe.

Fonte: Instituto Butantan