Antigamente, as crianças eram consideradas adultas em miniatura, ou seja, não podiam ter um comportamento infantil e, não importando o fato de serem pequenas, elas deveriam possuir responsabilidades. Suas vestes eram idênticas aos dos adultos e, como tais, tinham vida social juntas a eles, participando de festas com homens e mulheres embriagados.
Como se não bastasse, tudo era permitido na frente das crianças e, por não fazer parte do costume da época, não as ensinavam sobre boas maneiras e nem hábitos de higiene.
Os pais decidiam o futuro das crianças e, se a família a que pertenciam possuía bens, elas eram educadas para o futuro, recebendo estudos, mas, se suas famílias eram pobres, sua educação era voltada para o trabalho.
Posteriormente, entendeu-se que a criança não é um adulto pequeno, ela tem necessidades e características próprias e vai se tornar um adulto quando passar as etapas do seu desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional.
A partir dos trabalhos de Comenios (1593), Rousseau (1712) e Pestalozzi (1746), surge um novo “sentimento da infância” que protege as crianças e que auxilia este grupo etário a conquistar um lugar enquanto categoria social.
Partindo desse conceito, a população, ou seja, a sociedade passa a analisar a criança de outra forma, classificando, assim, a categoria infantil.
A criança passa a ser educada em vários sentidos para que, conforme o seu crescimento, adquira conhecimento específico à sua idade, enquanto limites relativos à sua idade são aplicados perante familiares e sociedade.
Constata-se, também, que, devido à falta de instrumentos ou objetos adequados para o ensino, nessa época usava-se o que se tinha à mão para aplicar a aprendizagem, chegando, inclusive, a usar doces e guloseimas em geral com letras e números, transformando-os nos primeiros “materiais e jogos didáticos”.
O lúdico
O lúdico é a forma de desenvolver a criatividade, os conhecimentos e o raciocínio de uma criança por meio de jogos, música, dança e mímica.
O intuito é educar e ensinar, enquanto a criança se diverte e interage com os outros, tornando leve e descontraído qualquer aprendizado.
Por meio das brincadeiras, a criança ultrapassa seus limites, impondo desafios cada vez maiores ao lúdico.
Em suas brincadeiras de faz de conta, por exemplo, ela mesma cria situações que exijam mais de si. É por meio das brincadeiras que as crianças passam a entender as regras impostas, pois no próprio brincar elas se deparam com situações afins de seu dia a dia.
Como acontece em brincadeira de mamãe e filhinha, a criança se põe no papel de mãe e passa a tratar a boneca como sua filha e, ao impor suas regras, passa a compreender alguns limites e determinadas atitudes de adultos em relação a elas.
Para Oliveira (1990), “as atividades lúdicas são a essência da infância”. Considerando que estas atividades ajudam a construir o conhecimento e propiciam experiências prazerosas e benéficas para as crianças, alguns destes benefícios podem ser destacados:
- Desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento.
- Socialização.
- Assimilação de valores.
- Aprimoramento de habilidades.
Há várias atividades lúdicas existentes e, dentre elas, algumas se destacam:
- Brincadeiras tradicionais.
- Jogos.
- Danças.
- Brincar de faz de conta.
Segundo Almeida, M.T. P, 2000, o brincar é uma necessidade básica e um direito de todos. O brincar é uma experiência humana, rica e complexa.
A criança brinca naturalmente e quase tudo se transforma em objeto do brincar, ou seja, um pedaço de papel vira um avião, uma caixinha se transforma em cama, entre tantas outras possibilidades.
Tudo isso pode ser desconsiderado aos olhos dos adultos, mas brincar é um direito de todas as crianças e está garantido no Princípio VII da Declaração Universal dos Direitos das Crianças da UNICEF.
No caso, esse direito garante que... “A criança deve ter todas as possibilidades de se entregar aos jogos e às atividades recreativas, que devem ser orientadas para os fins visados pela educação; a sociedade e os poderes públicos devem esforçar-se por favorecer o gozo deste direito” (Declaração universal dos direitos da criança, 1959).
Partindo da teoria, sabemos que brincar é uma atividade fundamental para o desenvolvimento físico e mental e para o bem-estar das crianças, devendo ser incentivado pelas instituições escolares e pelos órgãos públicos na forma de espaços lúdicos apropriados.
A importância do brincar na educação infantil
Como já foi mencionado, é fundamental para a aprendizagem o fator lúdico para a criança, considerando que as atividades trabalhadas de maneira planejada são excelentes instrumentos do ensino-aprendizagem.
Encontramos na educação infantil um espaço lúdico apropriado para esse desenvolvimento, com conteúdos preparados de maneira criativa e realização prazerosa, visando que as crianças assimilem o conhecimento proposto.
Contudo, algumas escolas ainda trabalham apenas a mente na escolarização, deixando de fora o lúdico como instrumento do conhecimento.
Nos tempos atuais, as propostas de educação infantil dividem-se entre as que reproduzem a escola elementar com ênfase na alfabetização e números (escolarização) e as que introduzem a brincadeira, valorizando a socialização e a recriação de experiências. No Brasil, grande parte dos sistemas pré-escolares tende para o ensino de letras e números, excluindo elementos folclóricos da cultura brasileira como conteúdo de seu projeto pedagógico. As raras propostas de socialização que surgem desde a implantação dos primeiros jardins da infância acabam incorporando ideologias hegemônicas presentes no contexto histórico-cultural. (Oliveira, 2000)
As instituições escolares deveriam propiciar condições para a construção do conhecimento por meio da investigação e realização, fatores importantíssimos para a criança no processo de aprendizagem.
Brincadeiras e brinquedo
A brincadeira é uma situação importante vivenciada pelas crianças e este exercício lúdico proporciona descobertas de novos conhecimentos e desenvolvimento de muitas habilidades de forma natural e agradável.
Ao brincarem, as crianças estão mais aptas a desenvolverem bons sentimentos, partilharem, sociabilizarem-se, respeitarem-se mutuamente e obedecerem a regras.
A brincadeira oferece a elas a oportunidade de se prepararem para o futuro e experimentarem o mundo que as rodeia.
“Todos nós conhecemos o grande papel dos jogos para a criança, pois ela desempenha a imitação. Com muita frequência, estes jogos são apenas um eco do que as crianças viram e escutaram dos adultos, isso não obstante a estes elementos da sua experiência anterior nunca se reproduzirem no jogo de forma absolutamente igual e como acontecem na realidade. O jogo da criança não é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora das impressões para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações da própria criança.” (Vygotsky, 1999:12)
Brinquedo
Para a autora Kishimoto (1994), o brinquedo é considerado um “objeto de suporte da brincadeira”.
O brinquedo é na verdade o objeto usado como metodologia para a criança por meio de representações, ou seja, a imaginação passa a representar o momento vivido ou impõe à criança o adentrar no mundo real
É o que ocorre nas brincadeiras em que são representados o médico, o dentista, o cozinheiro, o papai e mamãe, a professora, o circo, o piloto de avião, o carrinho, o caminhão, a fazendinha, o cowboy etc.
Podemos citar, entre outros, os jogos de quebra-cabeça que desenvolvem o raciocínio lógico da criança, assim como os de tabuleiros que desenvolvem a compreensão de números e operações matemáticas.
Constata-se, também, a tradicionalidade e universalidade das brincadeiras que podem ser vistas nos povos antigos e distintos como os da Grécia e do Oriente, os quais utilizavam brincadeiras como a amarelinha, empinar papagaios e jogar pedrinhas.
Observa-se que até hoje as crianças se utilizam desses jogos para se divertirem por meio de conhecimentos empíricos.
A criança de 2 a 4 anos começa a desenvolver a brincadeira do faz de conta quando, no brincar, ela altera os significados dos objetos, expressando os seus sonhos e o seu faz de conta.
O faz de conta, inclusive, vem de alguma situação ou experiência anterior vivida pela criança.
Ao longo do tempo, o brinquedo ganhou posição importante como instrumento facilitador da aprendizagem e muitas práticas pedagógicas se beneficiaram deste fato.
O professor
Os educadores passam a observar que as crianças usam as brincadeiras como uma forma de aprendizagem, demonstrando por elas o que o adulto faz no seu dia a dia.
O professor tem um papel muito importante na educação, pois ele é o mediador entre o aluno e o conhecimento, proporcionando situações de aprendizagem para desenvolver as capacidades afetivas, cognitivas, emocionais e sociais.
Ele deve oferecer à criança um ensino de qualidade, bem como um ambiente saudável e de igualdade, que seja interessante e seguro.
É de extrema importância que o professor interaja com os alunos, que dialogue com eles e respeite as suas formas de manifestação. Numa sala de aula, há diversas crianças, sendo muitas dentro da normalidade e algumas distantes dela e, assim, cabe ao professor saber trabalhar com a diferença e buscar estímulos para os alunos que demostram dificuldades.
Para que isso ocorra, os profissionais da educação devem buscar uma formação continuada e empenhar-se sempre no aperfeiçoamento da prática, pois trabalham com conteúdos diversos e abrangentes, devendo estar comprometidos com a formação de seus alunos.
"O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas." (Jean Piaget).
Conclusão
No decorrer deste artigo, houve acompanhamento das trajetórias da criança e da educação e conclui-se que, apesar de muitos progressos terem ocorridos no tratamento às crianças no que se referente a cuidados, proteção, educação, cultura, lazer etc., há ainda muito a ser feito.
As escolas devem voltar o olhar para esses pequenos que estão sempre dispostos a aprender e necessitam de educação de qualidade. Unidas, família e escola, têm o dever de cuidar e educar.
Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=2113
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