
A marca dos mil mortos chegou mais cedo em 2010 – no ano passado, foi atingida em novembro. Se persistir o atual ritmo da carnificina, este ano deverá superar os 1,2 mil óbitos registrados em 2009. Apuração da Rádio Gaúcha e de zerohora.com alerta que a maioria das vítimas se enquadra no perfil do professor André: homens entre 18 e 24 anos, eliminados dentro das cidades.
Os alunos da Escola Especial Dr. João Alfredo de Azevedo ficaram sem o bolo que seria confeitado para festejar o primeiro ano de trabalho do professor André na instituição. O mestre não apareceu. Seu corpo ficou estendido no asfalto, parcialmente esmagado pelas rodas de um ônibus.
André Lucas Silveira da Rosa, 23 anos, tornou-se às 7h30min de ontem a milésima vítima da guerra no trânsito este ano, segundo a contagem da zerohora.com e Rádio Gaúcha feita desde 1º de janeiro em todo o Estado. Ao atravessar o corredor de ônibus da Avenida Bento Gonçalves, no bairro Partenon, sobre a faixa de segurança, foi atropelado por um ônibus da empresa Sudeste, conduzido por José Luiz Prestes Matos, 53 anos. Matos deixou o veículo em estado de choque e se esquivou de entrevistas. No Palácio da Polícia, também preferiu ficar calado ao prestar depoimento.

Estacionada a 200 metros do local do atropelamento, Maslova viu a tranqueira na avenida, os policiais chegando, a sirene da ambulância abrindo caminho. Mas não imaginou que fosse de André o cadáver encoberto por mantas. Às 7h45min, preocupada com o atraso, telefonou para o celular do amigo. Quem atendeu foi o sargento Ronaldo Penha, do 19º Batalhão de Polícia Militar.
– O que a senhora é do André?
– Sou colega dele...
– Infelizmente, ele está em óbito – avisou o sargento.
Maslova não entendeu o desfecho trágico da linguagem policial. Aturdida, telefonou para a escola contando que André se envolvera num acidente de trânsito. Em torno das 8h, quando a notícia era confirmada pelas rádios, a diretora da Dr. João Alfredo, Vanessa Kulczynski, tentava encontrar meios de comunicar a morte aos 80 alunos e aos educadores. Chegou a convocar médicos, prevendo reações de desespero.
Professor também ajudava os pais
Pais foram buscar seus filhos, que choravam pela morte do “professorzinho”, apelido carinhoso devido à juventude de André. Professoras estavam em lágrimas pelo “mascote”, o caçula que se dedicava ao ensino de deficientes por ideal. Ele se formou em Pedagogia na PUCRS, em 2008, optando pela educação especial.
– Ele viveu para isso, estava sempre querendo melhorar – ressaltou a diretora Vanessa.
Nascido em Rosário do Sul, na Fronteira, André se mudou para Porto Alegre ainda pequeno, acompanhando os pais e o irmão, Cristiano, 29 anos. Aficionado por videogame e futebol, comparecia ao Estádio Olímpico para torcer pelo Grêmio, sempre com o mano mais velho. E não perdia o noticiário esportivo da Rádio Gaúcha.
– Ele era fã do Pedro Ernesto e do Sala de Redação. Como trabalhava no horário do programa, escutava pela internet, à noite – disse o irmão.
André se desdobrava, também ajudava os pais, o zelador Cleber Pinto da Rosa e Nara Miraci, que cuida de uma senhora doente. Quando terminava a jornada na escola especial, embarcava no carro de Maslova já abrindo a marmita que ele mesmo cozinhara. Até a parada do ônibus, almoçava às pressas o arroz de carreteiro ou bife com arroz, dentro do Corsa. Às 13h30min, já estava a postos em outro colégio.
Na Escola Dr. João Alfredo, ontem, a mesa de André, enfeitada com revistas de quadrinhos do Superboy e da família do Pato Donald, permaneceu vazia. No quadro-negro da sala de aula, uma equação matemática – quanto é 12 + 7 – deverá ser respondida pelo próximo mestre. A milésima vítima do trânsito será sepultada hoje, no cemitério Jardim da Paz.
nilson.mariano@zerohora.com.br
NILSON MARIANO
Veja no endereço abaixo gráfico estatístico das morte no transito Gaúcho.
http://www.4shared.com/document/l9D3wDuq/RADIOGRAFIADACARNIFICINA.html
http://www.4shared.com/document/l9D3wDuq/RADIOGRAFIADACARNIFICINA.html
Fonte:Jornal ZERO HORA 13/08/2010
Triste, triste, triste....
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