Porto Alegre – O calor de 35 graus Celsius e um temporal não desanimaram os ativistas que participaram hoje (24) da marcha de abertura do Fórum Social Temático (FST) pelas ruas de Porto Alegre. Com a chuva, o trânsito ficou caótico na capital gaúcha, desde as proximidades da Avenida Borges de Medeiros, na região central, até a Usina do Gasômetro, onde terminou a passeata por volta das 20h.
Com público eclético, a marcha refletiu a diversidade dos debates que vão acontecer ao longo da semana, focados principalmente na crise econômica internacional e na preparação para a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, marcada para junho.
Entre sindicalistas, estudantes, movimentos sociais, aposentados, feministas, um grupo de ativistas da comunidade alternativa Aldeia da Paz chamava a atenção com cartazes que traziam frases pacifistas e lemas como “Só o amor transforma”.
Logo na abertura do cortejo, ambientalistas declaravam a morte das florestas brasileiras por causa das mudanças no Código Florestal. Caixões com mudas de plantas foram levados pelo grupo durante o trajeto. O diretor de Políticas Públicas da organização não governamental SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, disse que, diante da aprovação do texto pelo Congresso Nacional, a sociedade civil não pode se calar e deve cobrar o veto da presidenta Dilma Rousseff.
“Cada vez agregamos mais segmentos nessa briga, outros movimentos sociais, inclusive os trabalhadores da agricultura familiar. Chega de hipocrisia, vamos denunciar toda essa chantagem que vem sendo feita pelos ruralistas contra o governo e contra a sociedade”, disse.
A marcha seguiu pelas ruas da capital gaúcha ao som de música tão eclética quanto o público. A seleção musical ia desde o fandango gaúcho a um samba-enredo dos trabalhadores puxado por uma central sindical. Na metade do percurso, um temporal surpreendeu os ativistas, mas a maioria manteve a mobilização e completou o percurso até as margens do Rio Guaíba.
Vestidas de lilás e com faixas pedindo a descriminalização do aborto, um grupo de militantes da Marcha Mundial das Mulheres se destacava na romaria. Além de causas tradicionais do movimento feminista, a ativista Cláudia Prates disse que é preciso levantar outras bandeiras de defesa das mulheres.
“Temos que estar presentes, porque a que a crise afeta primeiro as mulheres e não fomos nós que criamos a crise. Na Rio+20, por exemplo, queremos discutir o debate da terra, da crise climática que se estabelece e empobrece cada vez mais as mulheres. São as mulheres que mais passam sede, que passam fome no mundo, por isso estamos aqui”.
A marcha também foi espaço para a crítica e oposição ao governo, como o grupo do PSTU que levava uma grande bandeira com palavras de ordem contra o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e a presidenta Dilma Rousseff.
A desocupação, considerada pelos movimentos sociais violenta, da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), também foi lembrada pelos manifestantes na abertura do FST. O militante do PSTU, Manoel Fernandes, ajudava a carregar uma imensa faixa de solidariedade aos moradores expulsos. Adesivos com oslogan “Somos todos Pinheirinho” também fizeram sucesso entre os caminhantes. “A luta do Pinheirinho é uma luta da classe trabalhadora. É preciso ter repercussão nacional. Foram cometidos crimes contra o povo pobre que não tem onde morar. Queremos chamar a atenção para o quanto é difícil morar no Brasil”, argumentou.
Professores gaúchos caminharam vestidos de preto, em protesto contra a política salarial do governo do estado. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, que se juntou à passeata em alguns trechos, disse que a manifestação dos docentes é corporativista, mas que faz parte da democracia.
A marcha abriu oficialmente a programação do FST, que, até domingo (29), deve reunir cerca de 30 mil pessoas em quase mil atividades em Porto Alegre e em mais três cidades da região metropolitana da capital gaúcha.
Acompanhe a cobertura completa do FST no site multimídia da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
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