sábado, 28 de janeiro de 2012

O “bonde digital” quer fazer a revolução


ÀS 14 horas do dia 27 de janeiro, em frente à Usina do Gasômetro, o Bus Hacker se preparava para ir ao bairro Restinga de Porto Alegre, uma espécie de Cidade de Deus gaúcho célebre pela intensidade de seus movimentos sociais. O objetivo é levar para a comunidade da Restinga um pouco das ideias sobre o acesso e o empoderamento digital que vem sendo fervilhados em todo o mundo.


A edição 2012 do Fórum Social Temático (FST) dedicou-se com carinho a este tema. A Casa de Cultura Mario Quintana ofereceu diversas oficinas sobre Conexões Globais 2.0 cujos palestrantes denotavam uma marca comum: o entusiasmo pelas infinitas possibilidades que a tecnologia digital oferece para promover o exercício da cidadania e da organização de movimentos sociais, digitais e/ou presenciais. Na oficina Seja um repórter Multimídia com seu Smartphone, os jornalistas e ciberativistas Emerson Luis e Brunna Rosa ensinaram mais de 30 alunos – entre modernos e analógicos - a fazerem uso de ferramentas para transmissão on line em tempo real.


O ano de 2011 mostrou ao mundo que as redes sociais podem até mesmo derrubar governos, como na primavera árabe, espalhar no ventilador recônditos segredos de estado, como no Wikileaks, e estabelecer a conexão das várias tribos de indignados numa verdadeira aldeia global em busca de um novo modelo de organização social. Um modelo democrático real ou “para além da democracia”, conforme definiu o palestrante Pedro Markun durante a plenária da manhã Democracia Real Já.


Pedro é integrante do movimento Transparência Hacker e um dos passageiros do Ônibus Hacker. “Hacker do bem”, como eles preferem ser chamados para não serem confundidos com os malquistos vândalos da internet que atacam sites e roubam contas bancárias. Pedro dividiu a plenária com representantes das ocupações de ruas de Nova Yorque, Palestina, Chile, Espanha e Londres. Da platéia, representantes da Venezuela, Tunisia, Argentina e de indígenas brasileiros em uníssono passavam a mesma mensagem proclamada pelos Ocuppied de vários locais do mundo –“Juntos Podemos e Nada Será Como Antes".


Na mesma mesa estava o teólogo Leonardo Boff, que brindou o público com o seu característico “cântico” para que as criaturas do planeta exercitem o respeito por todos os seres vivos e cuidem da “Mãe Terra”.
– Terra a gente pode comprar e vender, mas mãe a gente precisa cuidar. Se queremos salvar a mãe Terra, temos que destruir o capitalismo e incorporar ao ser humano uma dimensão sócio-cósmico-ecológica ”, proclamou em sua forma mansa, mas não menos radical que os jovens.


Também no senso comum emana a convicção de que o “bonde “ dos indignados só tende a crescer em todo o mundo. Segundo relatos dos “indignados” presentes à plenária, o movimento ganhou forma especialmente por contar com o apoio de cerca de 70% a 80% da população de seus países. A indignação popular emerge da crise econômica e da falta de confiança nos governos. O povo cansou de assistir a “porta giratória” que mantém os políticos no poder - hoje à frente dos governos e amanhã dentro de empresas ligadas ao capital financeiro internacional. “Perdemos o medo, e isto está assustando o poder”, avisa a representante da Espanha.


O hacker Pedro Markun vai ainda mais além. O Transparência Hacker define como seus princípios a autonomia, a liberdade e o compartilhamento. São eles que movimentaram o ônibus Hacker até a Restinga.


Com estes princípios o grupo conseguiu comprar o ônibus através do Catarse – site de apoio coletivo a projetos – e viajou 1.200km para chegar ao FST. A bordo, 26 pessoas (três crianças, desenvolvedores, um engenheiro eletrônico, designers e a jornalista Lívia Ascava). Segundo ela, o grupo se organizou através de uma lista de emails e não há qualquer hierarquia. “Aqui tudo é experimental e coletivo. A marca do hacker é transformar dados fechados em dados abertos. O hacker subverte a forma como as coisas são feitas”, definiu ela já a caminho da Restinga, onde iriam conversar com moradores e difundir as ideias hackers.


Por Vera Damian, especial para a EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais
EcoAgência/Sintonia da Terra

Nenhum comentário:

Postar um comentário