sábado, 7 de janeiro de 2012

NOSSO FUTURO

Michel Serres pergunta-nos se, quando o barco faz água, os marinheiros continuam brigando entre si? Motivo de séria reflexão esse questionamento. O autor, filósofo octogenário, transmite-nos em sua obra uma mensagem otimista em relação à sustentabilidade de nosso planeta. No "Contrato Natural", analisa a tendência da humanidade em perceber que o homem não é dono dos recursos naturais, podendo usá-los e desperdiçá-los livremente como insumos inesgotáveis de seu bem-estar. A ambiência, ciência que se consolida com o movimento ambiental surgido em meados do século XX, faz com que as novas gerações desenvolvam consciência de nossa fragilidade como espécie dependente do equilíbrio do ecossistema planetário. O modelo de consumo desenfreado surgido com a Revolução Industrial, e que atinge seu ápice nos dias atuais, vem mostrando claramente que nosso privilegiado planeta começa a apresentar sinais de esgotamento de alguns de seus recursos naturais. Simultaneamente, sua capacidade recicladora da gigantesca quantidade de lixo gerada pelo consumo irresponsável de bens mostra sinais de insuficiência.

Após a noite da Idade Média, tivemos o Renascimento das artes e das ciências que nos trouxe a Era das Luzes e gerou os filósofos iluministas. Essa plêiade de cérebros, conscientizando-se dos direitos dos homens, elaborou o Contrato Social, base da organização da sociedade, que, após 300 anos, ainda não foi universalizado, apesar das grandes revoluções havidas em seu nome. O Contrato Natural nos faz entender o direito das coisas e a necessidade de respeitá-las como condição fundamental de nossa sobrevivência. Certamente, não levará três séculos para consolidar-se e internalizar-se em nossa cultura.

Paradoxalmente, as guerras têm sido milenarmente o motor da história. Felizmente, percebe-se crescer o entendimento mundial sobre a insensatez de um conflito bélico. Aumenta entre os jovens a negação da belicosidade. A violência natural da espécie é dirigida para o esporte e para outras competições menos drásticas que a guerra. O movimento de massa, que pregou paz e amor após as duas guerras mundiais, botou raízes que começam a vicejar. Com horizonte de vida de cem anos, os jovens entusiasmam-se cada vez menos com o falso heroísmo de partir precocemente para o genocídio. Identificam com clareza as oportunidades da vida e a beleza de nosso magnífico planeta. Quando a nave faz água e a nossa é a mesma para todos, impõem-se a solidariedade, a razão e o amor.

Carlos Adílio Maia do Nascimento, Presidente do IBPS
Jornal Correio do Povo 07/01/2012

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