Entrada de ano é tempo de multiplicar sonhos. As festas organizadas na beira da praia, nos clubes ou ainda em casa com familiares e amigos têm o poder de potencializar os planos, regados a espumante e pratos especialmente preparados para acompanhar o brinde. O cenário é tão bom que fica na lembrança por meses a fio, mas basta começar a recolher pratos e copos depois da saída do último convidado para se dar conta do problema que vem a seguir. Sacos e mais sacos com embalagens mil se acumulam nas lixeiras de nossas casas na manhã do dia 1. As grandes comemorações, então, nem se fala. Deixam verdadeiras cenas de destruição. Copacabana, por exemplo, com seus milhões de espectadores dos fogos, acumulou uma "quantidade assustadora" de lixo, conforme publicou a imprensa de país todo. Foram recolhidas 370 toneladas, aumento de 25% em relação ao réveillon anterior, e as lixeiras não foram suficientes para manter o local em ordem. A manhã seguinte ao Ano-Novo mostra que nem é preciso um evento gigante, com luzes e shows. Algumas centenas de carros com faróis e rádios ligados em um pequeno balneário já servem para promover estragos na natureza e deixar um rastro de latas e garrafas.
O livro "Condição Pós-Moderna", de David Harvey, questiona que resultado nos trará a "era do descartável". Em última análise, um problema "monumental" quanto ao que fazer com o lixo e onde depositá-lo. Mais do que isso, Harvey assinala que hoje é comum as famílias não terem tempo para se reunir no almoço ou preparar uma refeição. Horários desencontrados de trabalho e escola fazem com que pais e filhos cheguem em casa em turnos diferentes e se obriguem a trazer da rua algo pronto para pôr no micro-ondas, comer e sair correndo outra vez. E as relações, assim como as embalagens, compara o autor, seguem para o descarte. Aproveitando o ano que começa, está na hora de pensar melhor sobre tudo isso: reconstruir convivências e hábitos. E se ficar impossível evitar o almoço na caixinha de isopor, a coleta seletiva, por exemplo, pode ser um caminho. O mais triste é que muita gente ainda não adota, apesar do serviço estar disponível em Porto Alegre. "De que adianta frente a uma Copacabana imunda?", perguntam alguns. A fábula sobre o pássaro que leva água no bico para apagar o incêndio na floresta já é um argumento. Enquanto outros animais dizem "que bobinho", ele responde: "Estou fazendo a minha parte".
Simone Schmidt Jornalista
Jornal Correio do Povo http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=117&Numero=97&Caderno=0&Editoria=108&Noticia=378436
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