Foi-se o tempo em que se acreditava que as mulheres tinham o instinto materno. Ele é construído socialmente, dia após dia. Naqueles momentos em que damos bonecas para as meninas serem “mamães” e brincar de casinha, estamos dando o recado de que mulher nasceu para o lar e para os filhos. O universo feminino atual não se vê mais assim. Pode decidir se deseja ser mãe e se está disposta a passar por essa experiência, muito rica, mas também muito complexa e desafiadora.
Hoje é possível prevenir uma gravidez indesejada, planejar a família e dizer não à maternidade e aos afazeres domésticos de forma mais tranquila. Mas mesmo assim, muitas mulheres ainda desejam o casamento de véu e grinalda e sonham com a primeira gestação. Somos fruto de nossas experiências, portanto, a maternidade será algo singular na vida de cada um e essa decisão, de ter ou não filhos, deve ser muito consciente.
Envolvidos na paixão de uma nova relação, os filhos vêm para completar a família, mas tenho certeza absoluta de que os pais não imaginam a responsabilidade que está por vir. Depois de feito, não há como voltar atrás, essa é única relação que não se acaba pelo nosso desejo, é um vínculo eterno (entendendo tudo de bom e tudo de não tão bom que isso possa significar). Ao contrário dos casamentos, não há ex-pai e nem ex-mãe, embora muitos se comportem como se essa condição existisse.
A responsabilidade de educar e amar é muito complexa. Poderemos transformar esse pequeno ser no que conseguirmos, sem muito esforço, apenas com o nosso exemplo e através da relação que construirmos com ele. Não é nada fácil educar de forma plena. Potencializar a criança não é tarefa para todos. Há que se ter uma sensibilidade infinita, uma capacidade incondicional de amar e muita dedicação e investimento afetivo nessa relação.
Embora sejamos animais tidos como racionais, o planejamento familiar nem sempre está presente, e filhos são concebidos a esmo e da mesma forma entregues à própria sorte, seja em uma lixeira, seja em um corredor na rua. Ainda não nos damos conta do outro, pois como olhá-lo se não percebo a mim mesmo? Sem qualquer tipo de julgamento diante de atitudes tão bárbaras (pois mesmo nesses casos sempre encontramos as razões para tal atrocidade, embora a atitude seja imperdoável), fica a reflexão: por que ter filhos? Para que ter filhos? O que realmente significa ser pai e mãe?
Com certeza, essas mulheres em um ato de desespero fizeram o que todo ser humano faz: livrar-se a qualquer custo do sofrimento. Há sempre uma história dolorosa por trás de atitudes duras e frias. Neste momento, cabe apenas refletirmos sobre o amor. Ser pai e mãe é, sobretudo, amar, amar incondicionalmente. Nossos pequenos não podem ser responsabilizados pelas nossas dores, angústias e frustrações. Quando uma mulher deixa seu filho em uma lixeira, ela não apaga essa história e não se esquece dessa criança, todos ficam marcados. São os paradoxos dos nossos tempos: de um lado mães se desfazendo de seus filhos, de outro, casais que não conseguem ter seus próprios filhos e desejam ardentemente serem pais.
Um filho deve ser uma escolha consciente, com base no desejo de realização. Quando a decisão está tomada, é preciso ter consciência de que a maternidade é uma missão de amor. Mas como dar aquilo que não temos? Saber amar é se doar e querer o bem. É fazer tudo o que está ao nosso alcance para que o outro cresça e possa ser feliz. Será que estamos prontos para isso? Será que realmente sabemos amar nossos filhos? Há de se considerar, por fim, que na rotina da correria e da indiferença, muitas vezes também colocamos nossos filhos na “lixeira” sem ao menos nos darmos conta...
Fabiane Wink Porto/Psicóloga, especialista em Gestão de Pessoas
fabiwinkporto@gmail.com
Fonte:Jornal Gazeta do Sul 30/04/2011
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