quarta-feira, 20 de abril de 2011

EDUCAÇÃO: O TIGRE ÁGIL E O GATO LERDO

 Na década de 1960, Cingapura estava, em termos de educação, no nível africano. Com vontade política, o governo começou a implementar políticas públicas de valorização dos professores. Mentalidades tacanhas começaram a ser mudadas. Intelectos míopes começaram a enxergar o óbvio. Hoje em dia seu sistema educacional está entre os melhores do mundo. O Instituto Nacional de Educação serve de referência como escola de formação de professores. Só são admitidos nessa faculdade estudantes que, no Ensino Médio, aparecem entre os 30% melhores da turma, aos quais são ensinadas apenas técnicas pedagógicas cuja eficácia já foi comprovada cientificamente em seus dois laboratórios. Ainda no Ensino Fundamental, os estudantes são incentivados a fazer pesquisas; os que se destacam são chamados a trabalhar com pesquisadores de renome dentro das universidades. As boas ideias da iniciativa privada são aplicadas na educação. Há vários anos, as escolas públicas determinam as metas a serem alcançadas e são cobradas pelo governo, que instituiu uma política de bonificação pelo desempenho. Professores que alcançam as metas exigidas chegam a receber dois salários a mais por ano. O salário inicial de um educador é idêntico ao de um engenheiro ou médico. Os mais destacados na profissão são idolatrados e ganham prêmios em dinheiro, fato que explica a grande procura pela carreira. No dia dos professores, o presidente recebe os educadores que contribuíram de forma significativa às suas escolas. O prestígio dos mestres é inconteste. Em Cingapura, o futuro chegou na forma de um tigre asiático ágil.
Em terra brasilis, onde a Suprema Corte estabeleceu recentemente um piso salarial para os professores, diga-se, en passant, com valor imoral, continua a prosperar a crença de que o Brasil é o país do futuro, cuja chegada, no entanto, é postergada diariamente, sob diversas formas, razão de este país continuar sendo um esplendoroso “deserto cultural” (Osvaldo Aranha). Aqui o futuro é sempre o passado redivivo. O ensaio do filósofo Paulo Arantes (A Fratura Brasileira do Mundo, do livro Zero à Esquerda) vai direto ao ponto: “Na hora histórica em que o país do futuro parece não ter mais futuro algum, somos apontados, para o mal ou para o bem, como futuro do mundo”. O gato tupiniquim, que lembra o desenvolvimento do país, continua igual a gato de hotel: lerdo.

João Roberto A. Neves, advogado - jran.neves@gmail.com
Fonte:Jornal O Informativo do Vale 20/04/2011

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