terça-feira, 26 de abril de 2011

BRIGADIANOS

 Brigadianos são humanos (acreditem se quiser!), como o resto da população. Eles vêm em ambos os gêneros. Eles também vêm em vários tamanhos, cores e sonhos. Na realidade, depende se você estiver à procura de um deles ou tentando esconder algo. Em sua maioria eles são grandes - principalmente de coração - e completamente diferentes das imagens estereotipadas.

Encontram-se brigadianos em todos os lugares: na terra, no mar, no ar, a cavalo, em viaturas e até na sua cabeça. Independentemente do propalado mito de “nunca se encontrar algum quando se quer um”, eles sempre estão por perto quando mais se precisa deles. Não é por nada que, diante das cotidianas tragédias e problemas, independentemente das proporções - crimes, contravenções, trânsito, tumultos, barulho, vizinhos, animais, acidentes de toda a ordem -, as duas primeiras frases são: “Ai, meu Deus! Chama a Brigada!”.
Brigadianos estudam, treinam, dão palestras, fazem partos e entregam más notícias. Exige-se que eles tenham a sabedoria de Salomão, a disposição de um cavalo corredor e músculos de aço - muitas vezes são até acusados de ter o coração fundido no mesmo metal. O brigadiano é aquele que engole a saliva a grandes penas, anuncia o falecimento de um ente querido e passa o resto do dia se perguntando, por que, oh, Deus, foi escolher esse trabalho.
Nas novelas, ele é um bobão que não conseguiria encontrar um elefante num campo de futebol. Mas, na vida real, se espera dele que encontre um menininho loiro “mais ou menos desta altura”, numa multidão de milhares de pessoas. Na ficção, ele recebe ajuda de detetives particulares, repórteres e testemunhas “eu sei quem foi”. Na vida real, quase tudo que ele recebe do povo é “eu não vi absolutamente nada”.
Quando ele dá uma ordem dura, é grosso, porém, sua gentileza quase sempre é confundida com fraqueza. Para as crianças, às vezes é um amigo, outras, um monstro, dependendo da opinião que têm seus pais a respeito da polícia. Ele “vira a noite”, dobra escalas, trabalhando aos sábados, domingos e feriados; sempre o chateia muito quando um engraçadinho vem lhe dizer: “Este fim de semana é Carnaval, estou à toa, vamos à praia”. Essa é uma das várias épocas do ano em que eles trabalham 20 horas por dia.
O brigadiano é como aquela criança que, quando é boa, é muito, muito boa, mas quando é má, é abominável. Quando um brigadiano é bom, ele “é pago para isso”; quando comete um erro, “ele é um corrupto, e isso vale para todos os outros da raça dele”. Quando ele atira num assaltante, ele é um herói, exceto quando o assaltante é “apenas um garoto e qualquer um podia ver”.
Muitos têm casas, algumas cobertas de plantas, e quase todas cobertas de dívidas. Se ele dirigir um carro de luxo, é um ladrão. Se for um carro popular, “quem ele pensa que está enganando?”. O crédito dele, geralmente, é bom, o que ajuda bastante, porque o salário não é. Brigadianos educam muitos filhos, muitas vezes os filhos dos outros.
Um brigadiano vê mais sofrimento, sangue, problemas e alvoradas gélidas que uma pessoa comum. Como os carteiros, os policiais militares estão sempre trabalhando, independentemente das condições do tempo. Seu uniforme muda de acordo com o clima, mas sua maneira de ver a vida permanece a mesma; na maioria das vezes, é entristecida, mas no fundo, sempre esperando um mundo melhor.
Os brigadianos gostam de música, churrasco e chimarrão. Eles não gostam de buzinas, brigas familiares e, principalmente, de autores de cartas anônimas. Não podem se sindicalizar nem fazer greves. Têm que ser imparciais, educados e sempre devem lembrar o slogan “para servir e proteger”. Às vezes é difícil, especialmente quando um indivíduo lhes fala, geralmente em tom irônico, “eu pago impostos, portanto, pago seu salário”.
Mas então, por que alguém quer ser brigadiano? Ninguém está interessado em dar conselhos a uma família com problemas às três da madrugada de um domingo ou entrar às escuras num edifício que foi assaltado ou ainda presenciar, dia após dia, a pobreza, os desequilíbrios e as tragédias humanas. O que faz um brigadiano suportar o desrespeito, as restrições legais, as longas horas de serviço com baixo salário, a exposição de sua família, o risco de ser ferido ou assassinado?
A resposta: o sincero sentimento de satisfação por ter contribuído com algo relevante para a nossa comunidade!
Os brigadianos recebem elogios e medalhas por salvar vidas, evitar distúrbios e prender bandidos - de vez em quando, suas viúvas recebem a medalha! Mas, realmente, o momento mais recompensador é quando, após prestar o devido auxílio a um cidadão, eles sentem o caloroso aperto de mão, olham nos olhos cheios de gratidão e ouvem, honrosamente: “Obrigado, e que Deus te abençoe!”.
No último dia 21, comemorou-se o Dia do Policial. Por isso, e por dever de justiça, gostaria de enaltecer e homenagear o trabalho de nossos valorosos homens e mulheres que, mesmo diante de tantas dificuldades, zelam dia e noite pela nossa segurança: parabéns aos nossos dedicados brigadianos que, diuturnamente, labutam de forma incansável para preservar a ordem pública, zelando por nossa vida em comunidade e por tudo que nos é caro. Boa semana.

Hélio Miguel Schauren Júnior, oficial da BM, professor de Direito - chaurenbrasil@gmail.com

Fonte:Jornal O Informativo do Vale 26/04/2011

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