Gostamos de ser ouvidos. Temos a necessidade intrínseca de ser notado, de ser percebido pelo outro. Por isso, falar para as paredes, como se diz coloquialmente, machuca tanto quanto um tapa, e provoca no orador uma sensação de desânimo quase intransponível. Superar a indiferença do outro exige-nos sabedoria, muita paciência e um controle emocional enorme. Não é por acaso que os livros de autoajuda costumam vender, como receita infalível para conquistar as pessoas, o ato de saber ouvi-las. Ouça atentamente uma pessoa e ela jamais o esquecerá. Por natureza, o homem tem uma propensão maior para o falar do que para o ouvir. Falando externamos as nossas inquietudes, as nossas preocupações e pomos para fora tudo aquilo que nos incomoda. A fala é uma válvula de escape, um alívio imediato, por isso optamos antes pelo falar do que pelo ouvir.
Mas a fala também é o instrumento maior do professor. Geralmente é por intermédio da fala que o professor externa o conteúdo da sua disciplina. A fala constitui assim um instrumento valioso para o repasse de conhecimento. Entretanto, falar apenas não basta. Ouvir, num processo de aprendizagem, também é importante, uma vez que a dúvida e a inquietude do aluno podem exigir um redirecionamento da argumentação, podem influenciar na mudança de uma técnica, enfim, podem significar a necessidade de uma transformação postural e didática completa.
Há poucos dias, um conflito em sala de aula entre um professor e uma aluna, numa cidade do norte gaúcho, acabou se transformando em manchete de jornal por ter virado caso de polícia em função de uma suposta agressão por parte do professor. A aluna – classificada pelo professor como uma líder negativa – perturbava a sua aula levantando-se constantemente, desconcentrando, assim, a turma e o próprio professor. Resultado, a implicância surgiu de ambos os lados. No clima do tu fala e eu não te escuto, tu mandas e eu não te obedeço, o desfecho foi o pior possível: a falta completa de comunicação. Um orador sem ouvinte, uma boca sem ouvidos é o fim da interlocução e o início da barbárie. A falta de um dos três elementos básicos da comunicação, o orador, o meio e o ouvinte, tem sido, em todos os tempos, a causa raiz das maiores guerras que assolaram a humanidade. É, também, dessa falta de comunicação bilateral na sala de aula que surgem o desrespeito e os principais bloqueios no binômio ensino-aprendizagem. O episódio de Passo Fundo é um exemplo clássico de falta de entendimento e compreensão de ambas as partes.
Sérgio Peixoto Mendes/Filósofo
sergio_tell@ig.com.br
Fonte:Jornal Gazeta do Sul 19/04/2011
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