No início do livro Las preguntas de la vida (há uma edição brasileira pela Martins Fontes, mas está esgotada), o filósofo espanhol Fernando Savater lembra o questionamento que muitos fazem ao se deparar com o ensino da filosofia: que informação podemos tirar dela? A resposta é óbvia: nenhuma. Quem nos dá informação são os noticiários. Mas depois que recebemos a informação (um número x de pessoas morrem de fome no mundo, por exemplo), ela basta para entendermos a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor? A informação por si só não, mas depois as pessoas passam a opinar sobre a notícia, procurando justificativas, causas, relacionam os fatos com o seu conhecimento de mundo. Por isso, uns invocam as análises psicológicas, outros levantam teses sociológicas, outros apelam para as explicações religiosas. Até que alguém exclama: “em que mundo vivemos!”. Essa exclamação gera uma pergunta que não encontra uma resposta satisfatória, como a óbvia “vivemos no planeta Terra!”, pois ela transcende qualquer explicação científica. Passa-se pelo degrau da informação, depois pelo degrau do conhecimento e agora se quer chegar à sabedoria.
Para se chegar a esse degrau, eu afirmo: precisamos da filosofia. Filosofamos porque queremos respostas que vão gerar, por sua vez, novas perguntas e assim por diante. No momento em que achamos que já encontramos a resposta, deixamos de filosofar. As religiões dizem que têm a verdade, basta ter fé e não questionar. Alguns cientistas afirmam também categoricamente suas descobertas em revistas e saímos repercutindo como verdades absolutas. Ainda bem que há os que questionam os dogmas religiosos e os que questionam os dogmas científicos. Graças a essas pessoas, não deixamos de evoluir.
Pense, caro leitor, em um objeto importantíssimo do seu dia a dia. Pensou no celular, no computador, na televisão ou outra coisa? Pois você deve isso a um filósofo ou, na menor das hipóteses, a uma pessoa que filosofou. Ela deve ter refletido “está certo, esse objeto facilitou minha vida, mas não pode facilitar ainda mais?”. Ou seja, o cara não se conformou com o que tinha e quis algo mais. São as mentes inconformadas que movem o mundo e elas são alimentadas pela busca do conhecimento e a aplicação desse conhecimento para os seres humanos. Se elas param, paramos também e nossa vida se torna monótona.
Para os que dizem que a filosofia é uma disciplina inútil, respondo que ela é inútil para aqueles que só se conformam em viver e deixam que outras pessoas reflitam no seu lugar. Mas lembre-se: refletir é também olhar-se no espelho. Portanto, vá ao banheiro ou ao seu quarto, olhe-se no espelho e me diga se é a sua imagem que está sendo refletida.
Cassionei Niches Petry/Professor e mestrando em Letras, bolsista do CNPq
cassio.nei@hotmail.com
Fonte:Jornal Gazeta do Sul 06/04/2011
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