sexta-feira, 8 de abril de 2011

A GLOBALIZAÇÃO DO PIOR

Era de se esperar. O pior da violência contra as escolas chegaria ao Brasil. Não escaparíamos de importar uma obsessão nascida nos Estados Unidos da América. Dizer isso não significa culpar os norte-americanos por algo que desejam superar, mas reconhecer que tudo se dissemina nestes tempos de comunicação total, especialmente o pior. O homem que disparou contra os estudantes em Realengo, no Rio de Janeiro, produziu o nosso "massacre de Columbine". Nunca mais seremos os mesmos depois disso, embora, concretamente, pouco vá mudar. Saltamos um patamar. Entramos na era da violência desenfreada contra inocentes por razões que, embora seja cedo para conhecê-las, vão do ressentimento ao delírio mesclando política e religião. A irmã do serial killer falou em vínculo com o islamismo.

É hora de cautela em meio ao desespero. O Brasil é um país de tolerância religiosa e a ação de um homem não pode servir para amparar conclusões precipitadas ou preconceituosas. Na maior parte das vezes, nesses casos, as motivações são de ordem muito particular. Não raro, são respostas ao que hoje se chama de bullying. Como, no entanto, deixar de pensar que a vida se tornou muito perigosa e que o perigo agora invade os lugares antes considerados sagrados ou inocentes? O medo anda junto com cada um de nós. Quem tem carro vive com medo de chegar em casa. A hora de abrir o portão da garagem é temida. Há um novo imaginário, um novo ar do tempo, uma nova atmosfera, o imaginário do medo, a convivência permanente com o temor, a certeza de que o perigo está sempre rondando.
O que mudou nos últimos anos para justificar esse acerto de contas pessoal e definitivo que costuma terminar em suicídio depois de um massacre? A disseminação mundial das imagens, como já está acontecendo com as do "massacre de Realengo", terá o poder de contaminar e influenciar mentes desequilibradas? O Brasil acaba de entrar para um clube muito triste, o clube dos países em que escolas se tornam alvo de personagens determinados a chamar a atenção uma única vez na vida. Ao custo da própria morte. Mas também ao custo da morte de crianças e jovens que pensavam estar no lugar certo para melhorar a vida, a escola, e acabaram no lugar errado, o caminho de um homem solitário em queda livre. Nesses momentos, seja qual for a explicação, a perplexidade nos domina. O que estamos fazendo? O que podemos fazer? Como estancar essa violência vertiginosa?
Não, a solução não está no autoritarismo ou no retorno à ditadura. Esse é um mal que assola a maior democracia mundial, os Estados Unidos, nação internamente refratária a um regime ditatorial. Será a expressão de um desejo perverso de igualdade? Será uma cobrança sem limites em relação ao que a sociedade pode ou deve dar a todos? Estou falando daquilo que, para além da explicação do caso de Realengo, possa explicar essa modalidade contemporânea de extermínio de inocentes. Dito em outras palavras: qual é a mensagem? No ano do centenário do nascimento de um visionário, Marshall McLuhan, surge uma nova maneira de perguntar: o meio é a mensagem? Se a inocência existiu, estamos cada vez mais longe dela.

Juremir Machado da Silva
juremir@correiodopovo.com.br
Fonte:Jornal Correio do Povo 08/04-2011

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