Mostrando postagens com marcador FABIANE WINK PORTO. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador FABIANE WINK PORTO. Mostrar todas as postagens

sábado, 30 de abril de 2011

SABEMOS AMAR NOSSOS FILHOS?

Foi-se o tempo em que se acreditava que as mulheres tinham o instinto materno. Ele é construído socialmente, dia após dia. Naqueles momentos em que damos bonecas para as meninas serem “mamães” e brincar de casinha, estamos dando o recado de que mulher nasceu para o lar e para os filhos. O universo feminino atual não se vê mais assim. Pode decidir se deseja ser mãe e se está disposta a passar por essa experiência, muito rica, mas também muito complexa e desafiadora.
Hoje é possível prevenir uma gravidez indesejada, planejar a família e dizer não à maternidade e aos afazeres domésticos de forma mais tranquila. Mas mesmo assim, muitas mulheres ainda desejam o casamento de véu e grinalda e sonham com a primeira gestação. Somos fruto de nossas experiências, portanto, a maternidade será algo singular na vida de cada um e essa decisão, de ter ou não filhos, deve ser muito consciente.
Envolvidos na paixão de uma nova relação, os filhos vêm para completar a família, mas tenho certeza absoluta de que os pais não imaginam a responsabilidade que está por vir. Depois de feito, não há como voltar atrás, essa é única relação que não se acaba pelo nosso desejo, é um vínculo eterno (entendendo tudo de bom e tudo de não tão bom que isso possa significar). Ao contrário dos casamentos, não há ex-pai e nem ex-mãe, embora muitos se comportem como se essa condição existisse.
A responsabilidade de educar e amar é muito complexa. Poderemos transformar esse pequeno ser no que conseguirmos, sem muito esforço, apenas com o nosso exemplo e através da relação que construirmos com ele. Não é nada fácil educar de forma plena. Potencializar a criança não é tarefa para todos. Há que se ter uma sensibilidade infinita, uma capacidade incondicional de amar e muita dedicação e investimento afetivo nessa relação.
Embora sejamos animais tidos como racionais, o planejamento familiar nem sempre está presente, e filhos são concebidos a esmo e da mesma forma entregues à própria sorte, seja em uma lixeira, seja em um corredor na rua. Ainda não nos damos conta do outro, pois como olhá-lo se não percebo a mim mesmo? Sem qualquer tipo de julgamento diante de atitudes tão bárbaras (pois mesmo nesses casos sempre encontramos as razões para tal atrocidade, embora a atitude seja imperdoável), fica a reflexão: por que ter filhos? Para que ter filhos? O que realmente significa ser pai e mãe?
Com certeza, essas mulheres em um ato de desespero fizeram o que todo ser humano faz: livrar-se a qualquer custo do sofrimento. Há sempre uma história dolorosa por trás de atitudes duras e frias. Neste momento, cabe apenas refletirmos sobre o amor. Ser pai e mãe é, sobretudo, amar, amar incondicionalmente. Nossos pequenos não podem ser responsabilizados pelas nossas dores, angústias e frustrações. Quando uma mulher deixa seu filho em uma lixeira, ela não apaga essa história e não se esquece dessa criança, todos ficam marcados. São os paradoxos dos nossos tempos: de um lado mães se desfazendo de seus filhos, de outro, casais que não conseguem ter seus próprios filhos e desejam ardentemente serem pais.
Um filho deve ser uma escolha consciente, com base no desejo de realização. Quando a decisão está tomada, é preciso ter consciência de que a maternidade é uma missão de amor. Mas como dar aquilo que não temos? Saber amar é se doar e querer o bem. É fazer tudo o que está ao nosso alcance para que o outro cresça e possa ser feliz. Será que estamos prontos para isso? Será que realmente sabemos amar nossos filhos? Há de se considerar, por fim, que na rotina da correria e da indiferença, muitas vezes também colocamos nossos filhos na “lixeira” sem ao menos nos darmos conta...

Fabiane Wink Porto/Psicóloga, especialista em Gestão de Pessoas
fabiwinkporto@gmail.com
Fonte:Jornal Gazeta do Sul 30/04/2011