sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Balinhas contra o vício


Amandio encontrou uma maneira simples e divertida na luta contra o tabagismo
Viviane Bueno
Ele é conhecido nos lugares por onde passa por um hábito que seria comum: dar balas de presente. Mas não é qualquer bala. Elas têm um objetivo específico, que é o de ajudar as pessoas a largar o tabagismo. A embalagem branca com as inscrições, nas cores vermelha e preta, “PARE de Fumar Enquanto é Tempo”, fazem do vovô Amandio uma pessoa especial.
Aos noventa anos, completados no último dia sete, Amandio Almeida da Silveira, com a ajuda da esposa Diva Falleiro da Silva, e da filha, Neida Marina da Silveira Lima, relembra, em sua residência, em Charqueadas, os tempos em que o cigarro era seu companheiro. Nascido no interior de Taquari, o vício o acompanhou desde criança.
- O cigarro é um veneno- sentencia Amandio.
Além da úlcera, o tabagismo resultou em alguns lençóis e roupas queimadas. Mas foi o emprego no quartel, em General Câmara, que começou a mudar os rumos de sua vida.
- Eu era muito brabo. No quartel tomei jeito na vida – confessa.
Não era apenas a rigidez das regras, pois ele admite que não cumpria as tarefas, mas a leitura do livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas” de Dale Carnegie, em que mostra como melhorar a comunicação com as pessoas tanto no âmbito profissional como nas relações de amizade e amor, provocaram em Amandio as primeiras reações contra o vício.
- O emprego era muito interessante pra mim. Precisava para de fumar. O livro mudou minha maneira de ver o mundo – recorda.
Com a ajuda de um médico e com o apoio da família, Amandio deu os primeiros passos na luta contra o tabagismo.
- Para resistir, ele sempre carregava umas baganas de cigarro. Quando batia a vontade de fumar, ele as cheirava e logo ficava enjoado por causa do cheiro – conta a filha Neida.
Para ela, um dos principais motivos que auxiliaram seu pai a largar o cigarro, foi a própria maturidade.
Ele reconheceu que precisava mudar – avalia Neida.
Livre do vício há cerca de 40 anos, Amandio disse que todo o dinheiro que gastaria na compra do cigarro, guardaria para comprar balas e incentivar outras pessoas a também deixarem o vício.
- As balinhas eu entrego para fumantes e não fumantes. É uma maneira de contribuir a favor da saúde – diz Amandio.
Conhecido nos lugares que frequenta, como bancos, clínicas e supermercados como o vovô das balinhas, o senhor de voz tranquila, seu semblante pouco lembra os tempos de brabeza que ele mesmo relatara.
As guloseimas, que ele já distribuía para quem passasse em sua frente, tornaram-se personalizadas há cerca de um ano. A ideia foi da filha Neida, que durante uma viagem descobriu uma empresa em São Paulo que fazia o trabalho e logo encomendou uma embalagem exclusiva para seu pai.
Com os bolsos cheios de balas, Amandio, com um gesto aparentemente simples, mostra a grandeza de sua iniciativa. Não é apenas a entrega de uma balinha que o torna diferente, mas sim, a maneira como a faz, com carinho e mostrando através de sua própria experiência, que adquiriu qualidade de vida ao largar o cigarro.
Ele que não pode comer balas em virtude do diabetes, tenta deixar a vida das pessoas um pouco mais doce.
- Mas sei que ele come umas balas escondido – confessa a filha Neida.
A dica que ele deixa, não é apenas para quem deseja largar o vício, mas uma lição para a vida toda.
- Para viver de forma tranquila eu deixo três dicas. A primeira é saber quem vem adiante, para nos prevenirmos. A segunda é ter metro nos olhos, para medirmos as coisas e as consequências, e a terceira é saber calcular, com o cálculo se conquista muitas coisas. Com essas três dicas você terá uma vida feliz – aconselha.
Com suas balinhas, Amandio encontra forças para continuar sua batalha. Livrar-se do vício do cigarro não é tarefa fácil, mas ele foi forte o bastante para vencer. As balinhas, para muitos, além de adoçarem a vida por alguns minutos, podem ser a chave para a liberdade.
Fonte:Jornal Portal de Notícias 13/12/2011  www.portaldenoticias.com.br

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