Em uma manhã despretensiosa de domingo em 2003, o pecuarista Antônio Carlos Trierweiler descobriu algo que mudaria sua vida. Ao ensaiar com seu violino na varanda de casa, no interior do município de General Câmara, percebeu que a canção Amazing Grace atraía a atenção dos búfalos. Dois animais que pastavam pelas redondezas, fascinados pela melodia, aproximaram-se do criador. Desde então o encantador de búfalos, como vem sendo chamado, usa a música para manejar os rebanhos da propriedade.
A história inusitada ganha o mundo e causa estranheza e fascinação. Para a família, no entanto, a relação dos bubalinos com a melodia já se tornou comum. O pecuarista toca seu violino para reunir os animais e trocá-los de campo no pastoreio rotativo. “Não uso cachorro ou cavalo. São apenas eu e meu violino.” A canção ecoa pelos campos quase diariamente e Trierweiler pode juntar o útil ao agradável. “Repito a música em diferentes tonalidades e eles parecem ficar hipnotizados.” A resposta ao som não acontece com outros animais, como bovinos e equinos.
O curioso, segundo explica, é que o comportamento se repete mesmo com os búfalos que nunca tiveram contato com a música. “Quando entra um lote novo na propriedade, basta que ouçam as notas e a resposta é imediata.” Para Trierweiler, que também é médico veterinário, não há uma explicação concreta sobre esse comportamento. Por outro lado, acredita que a peça musical cause uma sensação de bem-estar aos animais, que também são naturalmente curiosos. “Acho que é algo agradável para eles e talvez funcione como uma espécie de mantra.”
A canção
A música Amazing Grace, em português Graça Maravilhosa, é um conhecido hino protestante composto pelo inglês John Newton. A canção foi impressa pela primeira vez no Newton’s Olney Hymns, em 1779. A melodia já foi interpretada por vários artistas em diferentes épocas. Além disso, também ganhou muitas adaptações para outros idiomas. A versão em português é cantada há muito tempo em diversas igrejas com o nome Segura na Mão de Deus, uma composição de Nelson Monteiro da Mota.
No interior de General Câmara, Antônio Carlos Trierweiler usa os búfalos como montaria desde o ano 2000. “Em outros países a espécie é utilizada com essa finalidade e também como animal de tração”, explica. Em contato com os animais desde que se formou em medicina veterinária, na década de 80, destaca também que eles representam uma boa possibilidade de renda e sustentabilidade para as pequenas propriedades rurais. As fêmeas dão uma cria por ano e ainda fornecem um valoroso leite, que pode ser usado para a fabricação de queijo.
Segundo o pecuarista, é preciso desmitificar a ideia de que os bubalinos são ferozes. Na verdade, segundo explica, eles podem ser extremamente mansos, dependendo apenas do manejo empregado na criação. “Os búfalos têm uma memória muito boa. Quando são bem tratados, respondem da mesma maneira.” Atualmente a família tem quatro animais mansos de montaria, que também servem para lavrar a terra. “Um búfalo tem a mesma força de uma junta de bois.”
Tal pai, tal filho
Com apenas 7 anos, Carlos Augusto Trierweiler segue os passos do pai, o encantador de búfalos. Há alguns anos ele já tem aulas com seu próprio violino e o talento se desenvolve a cada dia. Segundo o pai, a sensibilidade musical do menino é incrível. “Ele tem muita facilidade para tocar o instrumento.” A canção Amazing Grace o pequeno aprendeu sozinho e também já toca para os animais da propriedade.
Fonte:Jornal Gazeta do Sul 19/10/2011
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