quarta-feira, 31 de agosto de 2011

BAIRRO VILA POPULAR - GENERAL CÂMARA

Vila Popular, General Câmara. O bairro é também conhecido como Cidade Alta e Vila Jorge Barcelos, nome recebido pelo primeiro loteamento construído no local. É integrado à cidade em muitos sentidos, pois hoje é um espaço essencialmente residencial. As pessoas fazem compras no centro da cidade, vão à igreja, têm atividades de lazer em outros lugares também. Além disso, ali está a única escola de ensino médio do município, o Instituto Estadual de Educação Vasconcelos Jardim, recentemente premiado pela empresa Microsoft, e o Cras, ou Centro de Referência em Assistência Social, unidade de atendimento que recebe alunos encaminhados pelo IEE e oferece cursos às famílias beneficiárias dos programas sociais do governo federal (e àqueles que se encaixem no perfil).

A história
O bairro desenvolveu-se ao longo da Rua Visconde de Itaboraí, que corta General Câmara no sentido norte-sul e corre paralela ao antigo leito da via férrea. Ao percorrê-la a partir do cruzamento com a Av. Borges de Medeiros é possível perceber isso. A maioria das casas ao longo da rua foi construída através de convênios e programas de moradias populares. O primeiro conjunto delas, de 109 unidades habitacionais, recebeu o nome de Vila Jorge Barcelos e foi financiado pela Cohab, a extinta companhia de habitação do Estado. O projeto data de 1968 e foi seguido pelo processo de urbanização da área, como explica a arquiteta Janice Costa Guedes, funcionária da prefeitura da cidade. “Quando se investe em infraestrutura, calçamento, iluminação, as pessoas vêm morar aqui. É um processo natural.”
Após a Cohab veio a Vila da Seac, projeto aprovado em 1988 que levou para o bairro mais 44 casas construídas em regime de mutirão. Elas vizinham o IEE, que está localizado na esquina das ruas Visconde de Itaboraí e Mac Genity, e vão até a Orfelino Reichel. Logo depois vem a o núcleo de moradias Armando Schuwchow, projeto de 40 moradias desenhadas em projeto posterior ao da Seac e, na sequência, as casas da Vila João Gonçalves de Azevedo, que ficou conhecida como Mandinho. Esta última foi construída pela prefeitura em 2003 para abrigar 47 famílias oriundas de áreas de inundação das margens do rio Taquari – são 25 casas independentes e 22 geminadas (construídas em pares no mesmo bloco e simétricas).
Mesmo datando de épocas diferentes, as residências são bastante parecidas, mas distinguíveis, pelo olhar técnico da arquiteta, que vai explicando ao longo do caminho o visual de cada uma das vias do bairro. Janice mostra também o quanto as moradias recebem um tratamento diferente de cada morador, que as modificam ao longo do tempo. Ela se refere, neste ponto, à Vila Mandinho, traçado dela. “Casa não é como carro, que a gente não se importa que seja igual ao do outro. Casa tem que personalizar, pintar, deixar com a nossa cara, botar janela e portão novo.” A identidade do lugar vai se mostrando assim, aos poucos, mas inseparável da cidade, já que é opinião geral é a de que ela é totalmente integrada ao município.
Os moradores
Luiz Fernando, proprietário de restaurante e minimercado e morador antigo do bairro, mora com a família em uma das casas que era parte da vila da Cohab. Luiz diz gostar muito dali, local em que permanece quase o dia todo, todos os dias, pois abriga trabalho e moradia. Fala de dificuldades de emprego – o filho foi morar em Porto Alegre para trabalhar – enquanto lembra o hotel que o pai mantinha para abrigar viajantes, quando General Câmara era passagem obrigatória no caminho entre Porto Alegre e interior do estado, em direção à fronteira oeste. “Naquela época, a cidade era mais movimentada, tínhamos mais emprego e dinheiro”, diz. Ele ainda elogia a segurança e a tranquilidade do lugar.
Outro morador antigo da mesma área é o professor aposentado de geografia e história Raul Renner. Raul mora com a esposa Luci, servidora municipal aposentada. Em frente ao portão da residência do casal está a Praça Centenário, que fica em um declive. Na parte alta, uma pracinha infantil, que parece ter sido reformada recentemente, colore o espaço de convivência e, ao descer, à sombra de uma grande figueira, bancos quebrados completam o cenário contrastante. Raul fala que o local é bastante calmo, que não há violência, e reclama da falta de regularidade no serviço de coleta de lixo. “Os cachorros aproveitam”, completa Luci.
Quem também reclama do lixo é Mairis. Ela mora há dois anos em uma casa nas proximidades da Vila Mandinho, é casada há 16 anos, tem quatro filhas e duas netas. “Aqui, o lixeiro passa quando quer”, imagina ela, e conta que sente falta de emprego na cidade. “Falta uma indústria para os jovens trabalharem, minha filha foi para Lajeado e eu cuido da pequena”, e aponta a mão em direção à netinha, por quem é responsável durante o dia, quando a mãe está ausente. “A empresa dá o transporte para ela, mas o ônibus sai muito cedo, de madrugada, e volta tarde. Se ela trabalhasse aqui ia ser bem mais fácil”, relata. Muitas ruas da vila estão recebendo calçamento e tubulação subterrânea para escoamento da chuva, mas a de Mairis ainda não os têm.

A escola
No centro geográfico da vila está o IEE Vasconcelos Jardim, que recebeu o nome em homenagem ao líder militar nascido na cidade. É para ali que vão os camarenses que terminam o ensino fundamental e querem continuar estudando. A escola foi notícia recentemente, quando teve iniciativa reconhecida pela empresa Microsoft. O prêmio Educador Inovador, desenvolvido para destacar os projetos educacionais que melhor fazem uso da tecnologia, foi conquistado pela instituição na categoria Inovação em Conteúdo e concedido a Ana Paula Krumel, professora que conquistou o direito de apresentar a realização em Washington, nos Estados Unidos. Ana Paula, que leciona filosofia e trabalha na biblioteca do colégio, desenvolveu a ideia em parceria com a instrutora de educação física, Carolina Silveira Carneiro, e alunas do Curso Normal.
O programa surgiu em comemoração à Semana do Folclore de 2010: um festival de vídeos sobre o assunto. A proposta era que cada grupo de alunos fizesse um vídeo sobre uma lenda popular. Aderiram 14 das 18 turmas e já no ato de inscrição elas sortearam o tema que deveriam explorar. Tiveram então 15 dias até a apresentação, quando os filmes foram avaliados pelo júri popular (composto pelos alunos) e o júri técnico (professores, monitores e funcionários). O primeiro escolhia melhor vídeo, enquanto o segundo tinha, também, a responsabilidade por eleger melhores ator, atriz, figurino e roteiro. Foram dois os vídeos eleitos – “O Negrinho do Pastoreio” (5ª a 7ª série) e “A Mula sem Cabeça” (8ª série a 3º ano). O resultado foi parar no YouTube e no blog da escola, cujo endereço é http://www.vasconcelosjardim.blogspot.com. “A Mula...” teve música própria, composta especialmente para o vídeo, o que estimulou a inclusão do prêmio técnico de trilha sonora para 2011.
Para estimular e divulgar o festival, professores, monitores e funcionários resolveram produzir, eles mesmos, uma das fábulas que ficaram para trás. Apresentaram a “Lenda do Lobisomem” na ocasião do lançamento da mostra deste ano. Nesta edição, o tópico escolhido brinca com os contos de fadas. “Histórias infantis, o que acontece depois do ‘felizes para sempre’?” é o que perguntam os educadores. A professora Carolina diverte-se ao lembrar as gravações e conta que, diferentemente do que aconteceu em 2010, os alunos estão agora produzindo comédias, estão mais livres. “O tema é uma brincadeira e pede que eles imaginem mais, sejam mais criativos. Se antes eles já tinham o argumento, agora não têm nem isso”, esclarece. As turmas já estão gravando e as produções concorrentes devem ser apresentadas em setembro.


Fernanda Schwengber Leal
Fonte:Jornal Portal de Notícias 30/08/2011

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