terça-feira, 23 de agosto de 2011

UMA DAS HIPOCRISIAS DA CULTURA BRASILEIRA: A QUESTÃO DA MENTIRA

Jorge da Cunha Dutra*
Nos últimos anos, tenho refletido bastante sobre um assunto que tem me incomodado. Incomodado porque, muitas vezes, agi do modo ao qual estou a criticar hoje. Sei que não é só culpa minha, visto que o que irei escrever aqui é sobre uma construção cultural, mas tenho parte da responsabilidade sobre meus atos neste aspecto. Venho falar sobre o ensinamento que a maioria dos pais e das mães dá aos seus filhos e às suas filhas, a fim de que sejam boas pessoas:
“Não minta!”
Que peso tem essa palavra, embora ela pareça insignificante.

Quando criança, a maioria das pessoas é educada para não mentir. Os educadores faziam até analogia com o “Pinóquio”, dizendo que se mentisse o nariz iria crescer. E a criança se desenvolve com este tipo de pensamento, até descobrir que, se ela “não mentir”, será um dos motivos de chacota da sociedade ou apanhará dos pais por ter feito algo errado; entre outras situações. A criança, ao se transformar em adolescente, descobre que na verdade a mentira não é algo ruim, mas uma aliada para as conquistas que objetiva. E assim nossa sociedade vai se constituindo; ao mesmo tempo em que vai construindo um grande engano.

É neste ponto que eu queria chegar! Como o brasileiro é hipócrita nesta questão. Nós pregamos que todos devem ser verdadeiros para que, no mínimo, exista a confiança entre os seres humanos. Mas quando as pessoas decidem ser verdadeiras, nós mesmos, os “pregadores da verdade”, somos os primeiros a incriminar a atitude sincera que o outro teve. E aí pergunto:
“Devemos, mesmo, ser verdadeiros?”.
Contribuindo para esta reflexão, trago aqui a minha resposta para esta pergunta. Espero que vocês não a vejam como a resposta correta, mas sim, como um posicionamento de alguém que está preocupado com esta problemática.

Particularmente, ainda acredito que devemos ser verdadeiros! Sei que é difícil, mas penso que seja algo necessário para o ser humano, pois se nos pautarmos pela mentira (por menor que seja), estaremos abalando uma das estruturas que une as pessoas (a “verdade”).
Paralelamente a isto, o que precisa mudar é a atitude das pessoas com relação ao que for “verdadeiro”. Que haja mais maturidade, responsabilidade e respeito por parte daquele que escuta uma verdade, mesmo que esta não seja a fala que gostaria de ouvir. Se não houver uma mudança de postura social, continuaremos incentivando para que se tenham pessoas traindo, roubando, matando, entre outras situações, pois se não existe espaço para que se fale a verdade, o caminho para a mentira estará de portas abertas.

Os brasileiros ainda têm muito o que aprender com as crianças, ao invés de só querer educá-las. Enquanto elas vivem a infância, conseguem ser verdadeiras. É uma pena que, quando crescem, aprendem o jeito que se vive no mundo adulto, atingem a “maturidade” e deixam de ser aquilo que os homens e as mulheres deveriam ser.
Espero que, neste pequeno texto, cada um consiga refletir sobre esta questão. Eu teria muito mais a escrever sobre o assunto, mas acredito que para o momento o que aqui se encontra registrado é suficiente para estimular a reflexão.
Pensem nisto!
*Mestre em Educação (UFPel), Licenciado em Pedagogia (Furg) e Filosofia (UFPel). Atualmente atua como professor substituto do Instituto de Educação da Furg e como professor pesquisador II (FPELE/UAB/UFPel).
Fonte:Jornal Agora 23/08/2011

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