terça-feira, 5 de julho de 2011

NO FIS12, LIXO ELETRÔNICO VIRA ROBÔ, CARRO E ATÉ OBRA DE ARTE

O francês Antoine Laurent de Lavoisier (1743 - 1794), considerado pai da química moderna, não devia entender nada de software, muito menos livre, mas foi autor de uma das frases mais utilizadas fora de contexto, e inclusive no fisl12: "nada se cria, tudo se transforma". Foi o que fizeram os alunos das oficinas de robótica do Colégio Marista Assunção, de Porto Alegre, e dos alunos da Escola Marista Santa Marta, em Santa Maria, também no Rio Grande do Sul e da mesma rede.
Lucas Simões, na 6ª série da instituição da capital gaúcha, apresentou a mão robótica exposta no estande do colégio. A MD2 é uma mão articulada que foi feita a partir de uma lâmpada que acende quando há movimento, um motor, e demais materiais encontrados no lixo, como elástico e fios. O desenvolvimento da mão, segundo o professor Marcos Aranda, acabou dando início a outra ação do grupo, de distribuir mudas de árvores no Fórum Internacional Software Livre. "O projeto chama 'Dando uma mãozinha para o meio ambiente'", afirmou.

Outra criação do grupo de alunos de Porto Alegre é um computador com mãos que faz uma representação do tema deste ano, a neutralidade na web. Feito de lixo eletrônico, o robô toca uma música indígena e é "impedido" de teclar pelo computador. Conforme explicou Aranda, os alunos resolveram fazer um paralelo com a situação dos índios, que perderam suas florestas e seu espaço na Amazônia, com a situação deles, do que seria perder a liberdade na internet. Todas as criações dos alunos são feitas extra-classe, ou seja, só participa o aluno que se interessar. Além de montar robôs e de customizá-los, as oficinas introduzem algumas noções de robótica e de programação a partir de programas específicos para crianças e adolescentes, como Easy C.

A Escola Marista Santa Marta, de Santa Maria, no interior do Estado, levou para a fisl12 um carro feito com lixo eletrônico que pode tanto ser dirigido da maneira "tradicional" - isto é, dentro dele com o auxílio de um notebook que serve como "direção" - como remotamente (por meio de um controle do videogame Nintendo Wii). O projeto, chamado CMID Car, foi feito pelos alunos do Centro Marista de Inclusão Digital (CMID).

De acordo com o coordenador do CMID, Algir Facco da Silva, o veículo foi finalizado em outubro de 2010 e levou apenas dois meses para ficar pronto. Participaram do projeto cerca de 20 alunos com idades entre 13 e 17 anos. O carro é feito de lixo eletrônico e faz parte dos projetos do CMID, que atende não só alunos da Escola Marista Santa Marta, como também de pessoas da comunidade.
"Em Santa Maria, a gente atende alunos e comunidade. As pessoas se inscrevem em programas que incluem cursos de informática, robótica e outros. Não basta deixar o espaço aberto, temos que oferecer cursos", disse. No projeto de robótica, "os alunos vão tendo noções básicas e depois são instigados a construir". O coordenador disse que frequentemente o centro é "solicitado a indicar jovens pelo mercado de trabalho", contou Facco.

Entre os materiais empregados no carro, está uma máquina fotocopiadora que se transformou no motor. A bateria, que já pertenceu a um carro, é capaz de suportar até quatro horas de atividade. De acordo com Facco, o CMID "desenvolve os projetos através de doações de produtos em desuso". Mesmo aquelas peças que não podem ser aproveitadas em projetos como o CMID Car, há a possibilidade de se tornarem obras de arte tecnológicas. Além do fisl12, o CMID esteve presente na Lationoware (PR), Campus Party (SP) e eventos locais no centro do Rio Grande do Sul. E as participações não param por aí. Segundo Facco, recentemente eles receberam um convite para participar de um evento no Rio de Janeiro.

Caça-níqueis
Outra tarefa dos alunos maristas interessados em robótica, computação e afins é restaurar computadores de caça-níqueis. A iniciativa chama-se Projeto Alquimia e tem apoio do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Máquinas caça-níqueis apreendidas em operações do MP-RS, da Brigada Militar, da Polícia Civil e da Receita Federal vão parar nas mãos dos alunos do Centro Social Marista (Cesmar), em Porto Alegre, e no CDMI, em Santa Maria. Além das peças que são utilizadas nas oficinas de robótica livre, também a carcaça dos caça-níqueis são utilizadas em oficinais de marcenaria e serralheria.

No caso de uma peça, componente eletrônico ou mesmo outro material não puder ser reutilizado em algo novo, como um robô, há ainda uma terceira opção. É o que André Dall'Agnol, que trabalha na Escola Marista Santa Marta, chamou de meta-arte. Com restos de computador, do tal lixo eletrônico, alunos do CDMI fazem esculturas e até utensílios para a casa, como fruteiras e porta-lápis, por exemplo. O "trombolhoscópio", feito pelos alunos com os mais diversificados materiais e muito fio de cobre era uma das obras de arte presentes no fisl12.
Fonte:Terra 02/07/2011

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