As aulas vão começar de fato? a vez de os professores do ensino fundamental e médio retomarem o trabalho estafante, heroico e de baixa remuneração que executam todos os dias com amor, na maioria esmagadora, afinco e criatividade. O professor de escola tem todos os méritos. Falar em meritocracia em relação a eles é redundância. Ou covardia. Um novo regime de mérito, pois cada professor deveria receber medalha todo ano por mérito e sacrifício, só deverá ser implantado depois que for aplicado a políticos, secretários de Estado e outros espertos que ficam soltando esse tipo de maldade. Universidade privada de qualidade, como a PUCRS, paga o mesmo salário para todos os seus professores de acordo com a titulação e a carga horária. Não somos jogadores de futebol para ganhar conforme o número de gols marcados.
A vez é professores. Mas precisa ser também a hora deles. O então ministro da Educação, Tarso Genro, homem fino, culto e elegante, teve uma ideia maravilhosa: a lei federal do piso do magistério, cuja constitucionalidade foi contestada por cinco estados, entre os quais o Rio Grande do Sul. O STF vai se pronunciar em breve. Tarso Genro manifestou ao Supremo Tribunal Federal a desistência do Rio Grande na questão. Foi uma atitude digna. Aconteceu, depois de alguma hesitação, o primeiro encontro do governador com o Cpers, que está determinado a não enfraquecer a luta por simpatia com o governo. Tarso confirmou que está disposto a começar a pagar o piso. Uma proposta será apresentada em breve. Atrevo-me a dizer que o governador deve fazer mais: pagar imediatamente a integralidade do piso. Basta seguir o Brasil. A maioria dos estados já faz isso.
Tarso não pode viver com essa contradição, ter concebido uma lei que muitos aplicam e o seu Estado não. Não há dinheiro? A bela ideia do ministro Tarso já previa ajuda federal para que os estados pudessem cumpri-la. A linha agora, além de tudo, é direta com Brasília. Ligue, governador, ligue para a "mineirucha" Dilma Rousseff, que ela não deixará de atendê-lo, nos dois sentidos da palavra. Tenho o número dela aqui, mas não creio que o senhor precise dele, pois deve ter outros atualizados. Governador, ouça o que estou lhe dizendo humildemente, o magistério não pode esperar mais; é um povo sofrido, dedicado, maltratado, de baixíssimo poder aquisitivo. Por favor, governador, dê condições para que os professores possam comprar livros e ir ao cinema ver "Cisne Negro".
Governador, o senhor que não é homem de meias medidas, não submeta o magistério a uma agonia lenta nem a uma recuperação em doses homeopáticas. Faça o grande esforço, com ajuda federal, e pague os professores, que educam, apesar de limitações e falta de recursos, nossos filhos, netos, sobrinhos e irmãos, dando-lhes a consciência de cidadania sem a qual inexiste comprometimento e humanismo. Desculpe, governador, se fui pomposo. A penúria do magistério - permita-me o clichê, o senhor que conhece alta literatura e abomina lugares-comuns - me corta o coração. Ouse, governador, ouse.
Juremir Machado da Silva
juremir@correiodopovo.com.br
Fonte:Jornal Correio do Povo 10/03/2011
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