Informativo distribuído pela Igreja de Santo Amaro |
Entre o Sagrado e o Profano:
O Patrimônio Imaterial da Festa de Santo Amaro(RS)
Na pequena localidade de Santo Amaro, no centro da Vila, está a imponente igreja inaugurada em 1787, a qual faz parte do maior conjunto arquitetônico luso-açoriano tombado pelo IPHAN no RS, cujo nome do padroeiro batiza a comunidade.
Em 1814, surge a Irmandade do Santíssimo Sacramento e Santo Amaro, que promove a fé (o sagrado) e as festividades (o profano), sendo uma tradição repleta de ritos e significados.
Objetiva-se, portanto, estudar e inventariar o patrimônio imaterial dos festejos, juntamente com seu povo, sua história, suas procissões, entre outros, pois se percebe que as manifestações simbólicas misturam aspectos míticos com identidade cultural.
1. A Vila de Santo Amaro: um rápido histórico
O povoamento português do RS está intimamente ligado às relações de disputas com a Espanha, em especial pós-tratado de Madrid, de 1750. Assim, passam a existir pontos estratégicos de defesa e ocupação no Brasil Meridional.
Nessa fase surgem vários povoamentos e fortificações para a proteção das terras em litígio, sendo o caso de Rio Grande, Rio Pardo, Taquari, Triunfo e Viamão, entre outros.
No estudo em questão, ou seja, Santo Amaro, a Vila surge em torno de um fortim, fundado em 1752.
À beira do Rio Jacuí, Santo Amaro foi, ao longo do século XVIII e XIX, uma
comunidade construída em torno das relações sociais, políticas, econômicas e religiosas que permearam a ocupação do Rio Grande do Sul. Crescendo em torno de sua Igreja, teve em sua povoação pessoas que fizeram da localidade uma das primeiras do estado, recebendo influências de várias etnias, em especial luso-açorianos, que deixaram suas características na arquitetura da atual Vila e nos traços de identidade cultural da comunidade.
Na localidade foram destinadas sesmarias para militares, a partir de 1754, entre os quais estão Francisco Xavier de Azambuja (genro de Jerônimo de Ornellas), Antonio de Brito Leme, Lourenço Bicudo, José Raimundo Dornelles entre outros. Além destes, ocorre o envio de casais advindos do Arquipélago dos Açores, cerca de um ano depois. Através de uma
provedoria, assinada por Antonio José de Moura, se verifica a vinda de casais açorianostambém para o Porto de Ornellas e Rio Pardo, sendo que em 1758, estes casais foram registrados pelo então Padre da Paróquia de Viamão, Tomás Clarque, sendo que os nomes destes casais estão no rol de confessados da paróquia de Triunfo.
Com a distribuição das terras, sob forma de sesmarias e datas, iniciou-se a construção de casas, começando assim a formação de um meio urbano. Para organizar a Vila, foi solicitado ao então engenheiro Alexandre José Montanha que demarcasse ruas, casas, praça e também o lugar da Igreja.
A Capela da Vila, primeiramente foi subordinada a paróquia de Triunfo até o ano de 1763, quando é elevada à Capela Curada. Em 1773 é criada a Paróquia e quatorze anos depois, em 1787, é inaugurada a Igreja Matriz de Santo Amaro. (RODRIGUES, 1994:63)
O templo é construído em torno da projeção de demarcação da Vila, encomendada ao então engenheiro Montanha como é declarado na seguinte provisão: “Delimitará a praça e ruas e assim mesmo demarcará a Igreja e o lugar dela, com o concurso daquele Reverendo Vigário. (...). Porto Alegre, 19 de setembro de 1774”.
A Igreja está localizada em uma colina na sede da Vila, ao lado dela se encontra uma construção denominada Império do Divino Espírito Santo. Tem-se nisso a presença cultural luso-açoriana, pois este tipo de construção aparece, com freqüência, em locais com influências portuguesas. Segundo Cletison: “Os Impérios do Divino, são os edifícios onde está exposto à visitação e veneração, a coroa imperial e outro símbolo do culto ao Divino Espírito Santo”.(CLETISON, 2006:3)
No século XIX, mais precisamente em 1814, é fundada a Irmandade do
Santíssimo Sacramento e Santo Amaro, através do trabalho desta organização que a Igreja foi mantida ao longo dos anos, alimentando a fé em torno do padroeiro.
Percebe-se que se aproximando da Irmandade, a comunidade consegue uma
participação mais efetiva junto à Igreja, e vice-versa, pois a partir desta instituição as leis da
Igreja teriam maior alcance na população local.
A festa em celebração ao padroeiro acontece, historicamente, sempre no dia 15 de
Janeiro. Segundo RODRIGUES (1994:87), na Vila também aconteciam procissões em torno
de Nossa Senhora do Rosário, Divino Espírito Santo e Santo Amaro, validando ainda mais a
presença do Império, até os dias de hoje ao lado da Igreja Matriz.
Assim, é notória a grande representatividade da Igreja na vida do povoado de
Santo Amaro, desde o século XVIII, pois os rituais religiosos como o batismo, casamento e
óbito eram realizados pela via religiosa até o início da República. Portanto, a única forma de
registro das pessoas ficava a cargo da Igreja.
Segundo Rodrigues, em 1881, é instalado o município de Santo Amaro. Mas, no
entanto, essa história não obteve o sucesso desejado.
Em meados do século XX, mais precisamente em 1939, o governo federal cria o
Arsenal de Guerra no distrito de Margem, que passa à categoria de município com o nome de
General Câmara. Com isso, Santo Amaro é rebaixado à Vila e torna-se parte do território do