Luciano Goldani admite que o vírus H1N1 está se despedindo do Estado, mas não descarta mutações
A gripe A, que já matou 33 pessoas no Estado, tende a se estagnar. Para Luciano Goldani, chefe da unidade de Infectologia do Hospital de Clínicas, o que está se vendo agora são os últimos suspiros do vírus H1N1:
— O acúmulo das doses dos últimos anos ajuda a fazer com que o hospedeiro para esse vírus se esgote. Isso não impede que haja mutações do H1N1. Pode aparecer outro vírus tão agressivo quanto este.
Médico desde 1984, Goldani é infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 2009, trabalhou na linha de frente de combate à doença no Rio Grande do Sul, em barracas erguidas em frente ao Clínicas.
Ele tem experiência no assunto. Entre 2003 e 2006, montou ao lado de dois colegas americanos o setor de infectologia do Cape Code Hospital, nos Estados Unidos, onde viveu por dois anos.
— Lá, há uma população idosa muito grande. Precisei enfrentar muitos casos de gripes, o que é comum nesta faixa etária — contou.
Assim que soube da chegada da pandemia ao Brasil, em 2009, viveu dias tensos e de insegurança generalizada.
— Começamos a ver os casos graves em pessoas saudáveis, de fora do grupo de risco. Sabia que era um vírus agressivo e com capacidade para se disseminar rapidamente e causar danos, principalmente, pela pouca infraestrutura disponível — disse.
Confira abaixo o que Goldani pensa sobre a doença:
Em 2009
Acertos
— Hospitais e postos de saúde fizeram mutirão e muitos profissionais fizeram horas extras para atender à demanda. Também foram montados esquemas especiais de atendimento, com barracas e contêineres diante de hospitais;
— A Secretaria da Saúde teve autocrítica para dialogar com os médicos e melhorar a estratégia de combate;
— Suspensão das aulas, pelo surto que foi à época.
Erros
— A melhor prevenção é a imunização. Com toda a tecnologia já existente em produção de vacinas, é inconcebível que tenha demorado tanto tempo para a produção e distribuição das doses;
— O Ministério da Saúde deveria ter capacitado adequadamente as instituições para lidar com a doença;
— A infraestrutura em emergências e UTIs para atendimento a pacientes graves é precária. Não mudou nada de lá para cá.
Em 2012
Acertos
— Disponibilização gratuita de Tamiflu na rede pública e também a liberação para venda nas farmácias privadas;
— Investigação dos casos, com diagnóstico mais rápido através de exame laboratorial;
— O treinamento dos profissionais de saúde foi aprimorado e os médicos passaram a internar os casos mais graves e tratar imediatamente mediante à suspeita.
Erros
— Ter o foco da vacina apenas para grupos de risco. Muitas vezes nem mesmo quem está contemplado nos grupos de risco sabe que está incluído, o que dificulta a cobertura;
— O início da vacinação foi tardio, já que começa a fazer efeito em cerca de duas semanas;
— A doença foi subestimada. A melhoria na situação em 2011 pode ter gerado um relaxamento geral.
O futuro
Em 2012
— Se ainda der tempo de tomar a vacina, é preciso aproveitar. A Secretaria Estadual da Saúde anunciou que um novo lote de 200 mil doses vão chegar ao Estado;
— Evitar contato, a menos de dois metros, com quem tenha apresentado os sintomas e incentivar que essas pessoas se mantenham reclusas ao menos por cinco dias.
Em 2013
— Prestar atenção no que vai ocorrer no inverno do Hemisfério Norte para ter a noção exata da produção necessária de antiviral e de vacinas;
— Deve-se montar um calendário de vacinação, como no passado;
— Melhorar as unidades de tratamento intensivo para atender adequadamente às complicações em decorrência do vírus.
Principais sintomas da gripe A:
- Tosse e espirros
- Fortes dores no corpo, na cabeça e na garganta
- Febre alta,acima de 38°C
- Pode haver náuseas, vômitos e diarreia
- Falta de ar
Para prevenir a contaminação, é aconselhado:
- Higienizar as mãos com frequência, principalmente após tossir ou espirrar
- Utilizar lenço descartável para higiene nasal
- Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir
- Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca
- Não partilhar alimentos, copos, toalhas e objetos de uso pessoal
- Evitar aperto de mãos, abraços e beijo social
- Reduzir contatos sociais desnecessários e evitar, dentro do possível, ambientes com aglomeração
- Ventilar os ambientes
Jornal Zero Hora 19/07/2012
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