sábado, 7 de julho de 2012

O lixo, o meio ambiente e a justiça social


Qual o seu nível de consciência sobre o lixo que você produz? Esse é o assunto que Renata Neder, que trabalha para a ONG internacional Action Aid fala nesse texto. 


Um barquinho se aproxima da margem da baía, parece carregado. O pescador amarra o barco e começa a desembarcar o resultado da pesca do dia. Só que não são peixes. São garrafas PET. Horas de pescaria, centenas de garrafas “pescadas”, agora amarradas e trazidas de volta à terra firme. O pescador não pesca mais peixe, pesca lixo. O pescador virou catador de lixo do mar.
Essa imagem é real, foi vista durante a visita do Rio + Tóxico Tour 2012 a Magé, no Estado do Rio de Janeiro, no fim de semana que antecedeu a Rio + 20. A imagem é emblemática dos tempos que vivemos. Aquele pescador teve sua fonte de alimentos, seu meio de vida e seu ambiente destruídos por um lixo que ele não produziu. Agora, restou a ele catar o lixo alheio para sobreviver.


Será que todo mundo que compra uma bebida qualquer que venha dentro de uma garrafa PET pensa por algum instante onde essa garrafa vai parar depois? Normalmente, esquecemos do lixo que produzimos no segundo depois que jogamos o saquinho fechado pelo tubo que vai dar na lixeira do prédio. Quando muito, separamos o lixo seco do lixo orgânico sem pensar muito se de fato existe uma coleta seletiva e se o que foi separado será reciclado. Quem produz a maior quantidade de lixo, não é quem tem que conviver com o lixo produzido ao seu lado.


E o lixo que a gente produz tem tudo a ver com o nosso padrão de consumo. Já falei sobre consumo aqui antes, e esse é um tema que eu acho central. Recentemente, tive que mudar minha alimentação e percebi como o lixo mudou por causa disso. Não podendo consumir mais quase nada industrializado, vi o lixo aqui de casa reduzir de maneira impressionante. Quase não tem mais embalagens, plásticos, caixas e garrafas PET.  Em vez de comprar o suco pronto, tem que fazer o suco da própria fruta. E aí, ao invés da caixinha de suco (que aliás não pode ser reciclada…), é casca de laranja que vai para o lixo. Nem precisa dizer que é muito mais fácil para o ambiente lidar com uma casca de laranja do que com a garrafa PET né?


Se o nosso padrão de vida inviabiliza uma vida digna para todos, não pode ser um padrão aceitável, né? Um padrão de vida aceitável é aquele que pode ser generalizado, que garante qualidade de vida para todos e é sustentável.
Mas nem todo mundo pensa assim. Muitos países transferiram suas empresas poluentes para países mais pobres seguindo a lógica de que o problema não é poluir, o problema é poluir o seu próprio quintal. No quintal alheio, pode. O Brasil mesmo recebeu indústrias de outros países que não queiram se adaptar às rigorosas leis ambientas e regulações de seus países de origem e vieram se instalar aqui.


E aí, eu pergunto: é justo isso? O pulmão de uma criança alemã vale mais do que o pulmão de uma criança de Santa Cruz? Ou ambas as crianças, assim como todas as outras do mundo, tem o direito a uma vida digna, o que inclui um ambiente saudável? O direito a uma vida digna é universal, é direito de todo ser humano, independente de nacionalidade, religião, cor, sexo… Mas na prática, a renda tem determinado quem tem mais direito a um ambiente saudável e quem sofre mais com as mudanças climáticas. Os mais pobres são os mais afetados, como já comentamos aqui.
Essa distância entre quem produz impacto ambiental, e quem vive as consequências dele tem muito a ver com o pouco que se decidiu na Rio + 20. 


Quem mais poluiu o planeta, quem consome a maior parte dos recursos, são justamente os países que sofrem menos as consequências da degradação ambiental e das mudanças climáticas. E são também aqueles que mais resistem a mudar.


Os olhos do mundo estavam voltados para o Rio de Janeiro onde chefes de Estado estavam reunidos para não chegar a nenhuma decisão que realmente vá promover justiça climática e a garantia de uma vida digna e um ambiente saudável para todos, sem exceção. Eles decidiram não decidir realmente. Mas nós podemos decidir agora e mudar as nossas vidas.


O que você estaria disposto a mudar na sua vida para garantir um ambiente saudável para todos?


Fonte: Época
Acessado: 30/06/2012
Pesquisado por: Isabella Lanna da Fonseca – Voluntária Online

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