domingo, 5 de agosto de 2012

Proteína na saliva de carrapato pode reduzir tumores cancerígenos, aponta estudo


Estudo conduzido pelo Instituto Butantan indica que uma proteína presente na saliva do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) pode reduzir tumores cancerígenos – sobretudo dos tipos melanoma, de pâncreas e renal.
De acordo com a coordenadora do estudo, Ana Maria Tavassi, os pesquisadores buscavam, inicialmente, encontrar capacidade anticoagulante na saliva do animal, mas perceberam que a proteína também agia diretamente nas células.
“Fizemos estudos em células normais e tumorais. A proteína não exercia ação em células normais, mas tinha uma atividade capaz de matar as células tumorais”, explicou.
Após testes in vitro e em animais e com o depósito da patente, o próximo passo, segundo Ana Maria, são os testes pré-clínicos, que vão avaliar a segurança farmacológica da próteína. A previsão é que, em dois anos, a pesquisa tenha o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Para desenvolver um medicamento, normalmente, se leva dez anos – do início dos testes até a fase clínica”, disse. “A gente avançou o máximo que podia avançar até aqui. O Brasil é carente no desenvolvimento de medicamentos, não tem histórico. Há uma dificuldade”, completou.
A pesquisadora lembrou que, no caso específico do câncer de pâncreas, não há tratamento terapêutico para combater a doença. A única chance do paciente, atualmente, é passar por uma cirurgia para a retirada do tumor, desde que ele seja operável.
“Quando você anuncia uma molécula com essa natureza, as pessoas que estão precisando ficam com uma expectativa muito grande, mas é preciso entender que, obrigatoriamente, ela tem que passar por todas essas fases de teste”, concluiu.
Agência Brasil
Carrapatos não me mordam
Fernanda Marques
Muita gente não sabe, mas, depois dos mosquitos, os carrapatos são os principais vetores de doenças. Entre as doenças que podem ser transmitidas por carrapatos se destaca a febre maculosa, que em junho deste ano causou a morte de três pessoas na cidade de Mauá (SP). A doença foi descrita pela primeira vez em 1899, nos Estados Unidos. No Brasil, o primeiro caso foi identificado em 1929, em São Paulo. De lá para cá, a febre maculosa já foi registrada em outros estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e, mais recentemente, Santa Catarina.
 
Elba Lemos/Fiocruz

Em fosforescente, bactérias do gênero Rickettsia
A febre maculosa pertence ao grupo das rickettsioses, doenças causadas por rickettsias - pequenas bactérias que, obrigatoriamente, atuam como parasitas intracelulares e que são transmitidas por artrópodes como as pulgas, os piolhos e os ácaros, além, é claro, dos carrapatos. Esses artrópodes se nutrem de sangue e, para conseguir seu alimento, picam animais como cavalos, bois, cães e roedores. É no momento da picada, através da saliva, no caso dos carrapatos, ou das fezes infectadas, no caso das pulgas e piolhos, que transmitem as bactérias. "As rickettsioses são zoonoses, isto é, doenças que acometem animais e o homem. Mas este só entra no ciclo por acidente, ao ser picado por um artrópode infectado", explica a médica e pesquisadora Elba Sampaio de Lemos, coordenadora do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz.
Bactérias da espécie Rickettsia rickettsii são as causadoras da febre maculosa. A doença, em geral, provoca febre alta, dor de cabeça e lesões na pele semelhantes às do sarampo ou da meningite meningocócica. Mas ela pode se manifestar das mais diferentes formas, já que a R. rickettsii infecta células do endotélio (revestimento interno) de vasos sangüíneos. "Como há vasos por todo o corpo, praticamente qualquer órgão pode ser afetado", diz Elba. O paciente pode apresentar um quadro clínico que simula pneumonia, apendicite ou meningite, por exemplo.
Os primeiros sintomas da febre maculosa levam de dois a 14 dias para se manifestar. Depois que eles aparecem, o tratamento - que consiste basicamente no uso de antibióticos - deve ser iniciado dentro de no máximo uma semana. Caso contrário, é grande o risco de os remédios não surtirem o efeito desejado. O problema é que, como a febre maculosa costuma ser confundida com outras doenças, o diagnóstico correto e, conseqüentemente, o tratamento adequado, muitas vezes, demoram. "Se a doença não for devidamente tratada, a letalidade pode chegar a 80%", lamenta a médica.
Até existe uma vacina contra a febre maculosa. Porém, a febre maculosa não apresenta um perfil de doença imunoprevisível, isto é, de doença na qual se deva indicar a vacinação. E, além do mais, vacinar todo mundo é inviável, pelo menos por enquanto. O essencial, portanto, é apressar o diagnóstico, já que o tratamento é simples. "Antibióticos baratos reduzem significativamente a taxa de letalidade, desde que comecem a ser tomados a tempo", garante a pesquisadora.
 
Tatiana Rozental/Fiocruz

Fêmea do carrapato Amblyomma cajennense, um
dos possíveis transmissores da febre maculosa
No Brasil, a febre maculosa é transmitida por carrapatos do gênero Amblyomma, encontrados em praticamente todo o território nacional. No entanto, nem todas as pessoas picadas por esses insetos ficam doentes. "Só há risco de a doença se manifestar caso o carrapato esteja infectado pela R. rickettsii e fique fixado à pele da pessoa por no mínimo cerca de quatro horas", lembra Elba.
Cada fêmea de carrapato infectada pode gerar até 16 mil filhotes aptos a transmitir rickettsias. A febre maculosa é mais comum entre abril e outubro, porque nesse período predominam as formas jovens do carrapato. "Como elas são menores que os adultos, passam despercebidas, conseguem ficar fixadas à pele das pessoas por mais tempo e, portanto, têm mais chance de transmitir as bactérias", explica a médica.
Se não for possível evitar áreas infestadas por carrapatos, é importante usar calças compridas e blusas de manga, assim como verificar constantemente se algum deles grudou na pele. Afinal, o risco de se contrair febre maculosa diminui de forma acentuada se os artrópodes são imediatamente removidos. Mas é preciso cuidado na hora de removê-los. Tem gente que encosta a cabeça de um fósforo ainda quente no carrapato para forçá-lo a se soltar. "Isso não é aconselhável: o estresse sofrido pelo artrópode faz com ele libere grande quantidade de saliva, o que aumenta as chances de transmissão de rickettsias", alerta a pesquisadora.
Agência Fiocruz de Notícias

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