Estudo conduzido pelo Instituto Butantan indica que uma proteína presente na saliva do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) pode reduzir tumores cancerígenos – sobretudo dos tipos melanoma, de pâncreas e renal.
De acordo com a coordenadora do estudo, Ana Maria Tavassi, os pesquisadores buscavam, inicialmente, encontrar capacidade anticoagulante na saliva do animal, mas perceberam que a proteína também agia diretamente nas células.
“Fizemos estudos em células normais e tumorais. A proteína não exercia ação em células normais, mas tinha uma atividade capaz de matar as células tumorais”, explicou.
Após testes in vitro e em animais e com o depósito da patente, o próximo passo, segundo Ana Maria, são os testes pré-clínicos, que vão avaliar a segurança farmacológica da próteína. A previsão é que, em dois anos, a pesquisa tenha o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Para desenvolver um medicamento, normalmente, se leva dez anos – do início dos testes até a fase clínica”, disse. “A gente avançou o máximo que podia avançar até aqui. O Brasil é carente no desenvolvimento de medicamentos, não tem histórico. Há uma dificuldade”, completou.
A pesquisadora lembrou que, no caso específico do câncer de pâncreas, não há tratamento terapêutico para combater a doença. A única chance do paciente, atualmente, é passar por uma cirurgia para a retirada do tumor, desde que ele seja operável.
“Quando você anuncia uma molécula com essa natureza, as pessoas que estão precisando ficam com uma expectativa muito grande, mas é preciso entender que, obrigatoriamente, ela tem que passar por todas essas fases de teste”, concluiu.
Agência Brasil
Carrapatos não me mordam
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Fernanda Marques | ||||
Muita gente não sabe, mas, depois dos mosquitos, os carrapatos são os principais vetores de doenças. Entre as doenças que podem ser transmitidas por carrapatos se destaca a febre maculosa, que em junho deste ano causou a morte de três pessoas na cidade de Mauá (SP). A doença foi descrita pela primeira vez em 1899, nos Estados Unidos. No Brasil, o primeiro caso foi identificado em 1929, em São Paulo. De lá para cá, a febre maculosa já foi registrada em outros estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e, mais recentemente, Santa Catarina.
A febre maculosa pertence ao grupo das rickettsioses, doenças causadas por rickettsias - pequenas bactérias que, obrigatoriamente, atuam como parasitas intracelulares e que são transmitidas por artrópodes como as pulgas, os piolhos e os ácaros, além, é claro, dos carrapatos. Esses artrópodes se nutrem de sangue e, para conseguir seu alimento, picam animais como cavalos, bois, cães e roedores. É no momento da picada, através da saliva, no caso dos carrapatos, ou das fezes infectadas, no caso das pulgas e piolhos, que transmitem as bactérias. "As rickettsioses são zoonoses, isto é, doenças que acometem animais e o homem. Mas este só entra no ciclo por acidente, ao ser picado por um artrópode infectado", explica a médica e pesquisadora Elba Sampaio de Lemos, coordenadora do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz.
Bactérias da espécie Rickettsia rickettsii são as causadoras da febre maculosa. A doença, em geral, provoca febre alta, dor de cabeça e lesões na pele semelhantes às do sarampo ou da meningite meningocócica. Mas ela pode se manifestar das mais diferentes formas, já que a R. rickettsii infecta células do endotélio (revestimento interno) de vasos sangüíneos. "Como há vasos por todo o corpo, praticamente qualquer órgão pode ser afetado", diz Elba. O paciente pode apresentar um quadro clínico que simula pneumonia, apendicite ou meningite, por exemplo.
Os primeiros sintomas da febre maculosa levam de dois a 14 dias para se manifestar. Depois que eles aparecem, o tratamento - que consiste basicamente no uso de antibióticos - deve ser iniciado dentro de no máximo uma semana. Caso contrário, é grande o risco de os remédios não surtirem o efeito desejado. O problema é que, como a febre maculosa costuma ser confundida com outras doenças, o diagnóstico correto e, conseqüentemente, o tratamento adequado, muitas vezes, demoram. "Se a doença não for devidamente tratada, a letalidade pode chegar a 80%", lamenta a médica.
Até existe uma vacina contra a febre maculosa. Porém, a febre maculosa não apresenta um perfil de doença imunoprevisível, isto é, de doença na qual se deva indicar a vacinação. E, além do mais, vacinar todo mundo é inviável, pelo menos por enquanto. O essencial, portanto, é apressar o diagnóstico, já que o tratamento é simples. "Antibióticos baratos reduzem significativamente a taxa de letalidade, desde que comecem a ser tomados a tempo", garante a pesquisadora.
No Brasil, a febre maculosa é transmitida por carrapatos do gênero Amblyomma, encontrados em praticamente todo o território nacional. No entanto, nem todas as pessoas picadas por esses insetos ficam doentes. "Só há risco de a doença se manifestar caso o carrapato esteja infectado pela R. rickettsii e fique fixado à pele da pessoa por no mínimo cerca de quatro horas", lembra Elba.
Cada fêmea de carrapato infectada pode gerar até 16 mil filhotes aptos a transmitir rickettsias. A febre maculosa é mais comum entre abril e outubro, porque nesse período predominam as formas jovens do carrapato. "Como elas são menores que os adultos, passam despercebidas, conseguem ficar fixadas à pele das pessoas por mais tempo e, portanto, têm mais chance de transmitir as bactérias", explica a médica.
Se não for possível evitar áreas infestadas por carrapatos, é importante usar calças compridas e blusas de manga, assim como verificar constantemente se algum deles grudou na pele. Afinal, o risco de se contrair febre maculosa diminui de forma acentuada se os artrópodes são imediatamente removidos. Mas é preciso cuidado na hora de removê-los. Tem gente que encosta a cabeça de um fósforo ainda quente no carrapato para forçá-lo a se soltar. "Isso não é aconselhável: o estresse sofrido pelo artrópode faz com ele libere grande quantidade de saliva, o que aumenta as chances de transmissão de rickettsias", alerta a pesquisadora.
Agência Fiocruz de Notícias
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