terça-feira, 14 de agosto de 2012

O ranking da educação


No ranking internacional do aprendizado dos estudantes, a posição do Brasil não combina com a de um país que é a sexta economia do mundo. A começar, a alfabetização não é eficiente, tanto é assim que 86% dos alunos não estão alfabetizados na 2 série do ensino fundamental. No ensino médio, a situação não é diferente - os resultados dos últimos exames do Enem mostram uma realidade preocupante. Além disso, um estudo recente demonstrou que 38% dos universitários são analfabetos funcionais.
Sabe-se que, entre os países submetidos a testes que medem o aprendizado de jovens de 15 anos, o Brasil tem ficado nos últimos lugares. Por exemplo, os resultados da prova do OCDE, levantamento produzido a cada três anos, indicam que o desempenho dos alunos brasileiros está abaixo da média mundial, atrás do Chile e da Colômbia. Dentre os 65 países analisados, o Brasil ocupa a 53 posição. Confirmando essa tendência, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) revela que nossos estudantes têm um nível médio de compreensão de leitura comparável ao dos europeus com quatro anos a menos de escolaridade.
Pronto: chegamos ao que interessa: a leitura. Entre todas as habilidades que se impõem aos estudantes, sem dúvida a leitura é a principal. Ela contribui para o desempenho dos alunos nas demais disciplinas, favorecendo a compreensão dos temas e das questões apresentadas em sala de aula. Daí porque o chamado analfabetismo funcional é uma questão pontual - quando o assunto é qualidade de ensino e aprendizado - e suscita recorrentes debates. Alguns são categóricos ao afirmar que o problema reside no modelo de alfabetização aplicado no país. De fato, as deficiências começam nas séries iniciais do ensino básico. Entretanto, a questão não se resume em decodificar as palavras, já que os alunos chegam ao ensino médio alfabetizados. Isso nos conduz a uma conclusão óbvia: a de que o problema não está na habilidade de ler e compreender mensagens simples, em linguagem coloquial, mas sim na incapacidade de ler e entender textos mais complexos.
A explicação é simples: a situação da leitura no Brasil é precária. Resulta daí a dificuldade de entender os escassos textos que são lidos. Sabemos, no entanto, que a leitura exercita a capacidade de compreensão por meio do aprendizado do idioma e do domínio vocabular. Outro aspecto diz respeito ao tipo de linguagem que os estudantes tendem a usar, bem distante da norma culta. Isso sem falar nas atividades on-line, em que eles costumam escrever muito mal. Na escola, as deficiências são evidentes no momento em que os estudantes são estimulados a interpretar textos. Questões do tipo "qual é o tema central do artigo?" podem se tornar um desafio para quem não tem domínio do próprio idioma e não consegue entender o conteúdo das mensagens. Em outras palavras, para compreender um texto, não basta apenas reconhecer o código linguístico, é necessário ir além, ter capacidade de atribuir significação relacionando o conteúdo com seus conhecimentos e cultura. Em suma, é preciso leitura. Na falta, colhem-se os resultados inevitáveis - ou, mais exatamente, os indicadores negativos que aí estão a nos impactar.

Maria Luiza Khaled
escritora, jornalista e mestre em Letras
Jornal Correio do Povo 14/08/2012

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