Um ato em defesa do parto natural e contra o elevado número de cesarianas no Brasil reuniu hoje, na capital paulista, cerca de 500 pessoas. A estimativa dos organizadores da marcha era de um público três vezes maior que o calculado pela Polícia Militar: 1.500 pessoas. A Marcha do Parto em Casa foi programada para 16 localidades.
Em São Paulo, os manifestantes concentraram-se no Parque Mário Covas, próximo ao Parque do Trianon, na Avenida Paulista, de onde seguiu até a porta do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), na Rua da Consolação.
Um dos destaques da manifestação foi o obstetra Jorge Kuhn, da Universidade Federal de São Paulo, defensor da tese de que o Brasil poderia reduzir o número de cesarianas e de que muitos partos não precisam, necessariamente, ocorrer um hospital. “Talvez eu tenha sido o estopim de um movimento que existe há bastante tempo em São Paulo e no Brasil, e o que faltava era dar maior visibilidade”, disse o médico.
Sobre o fato de o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro ter pedido de que ele fosse punido por defender tal posição, Jorge Kuhn disse que tudo não passa “de desconhecimento, o que faz com que as pessoas rejeitem as coisas”. Ele lembrou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que apenas entre 10% e 15% dos bebês nasçam por meio de cesariana.
Muitas jovens mães, com bebês no colo, manifestaram solidariedade ao médico e, ao longo da marcha, entoaram palavras de ordem favoráveis ao parto domiciliar, como: “no hospital, eu sou mãezinha, na minha casa, eu sou rainha“.
A doula (acompanhante de parto treinada para tal para oferecer suporte físico e mental) e educadora pré-natal Mariana de Mesquita criticou o número de cesarianas feitas no país. “O Brasil tem a maior taxa do mundo, 52%, é vergonhoso. E não é possível que todo esse universo de mulheres precise de uma cirurgia de resgate para salvar a vida delas e dos bebês, enquanto em alguns países da Europa, a taxa chega a 6%”. Para Mariana, trata-se de uma "violência institucional que as mulheres vêm sendo submetidas”.
Uma das organizadoras do movimento, Ana Cristina Duarte, disse que o objetivo da marcha foi dar maior visibilidade à defesa do parto natural, “para que as mulheres possam ter direito de escolha”.
Para ter um parto natural, a cozinheira Carolina Helena, de 32 anos, disse que buscou informações e a ajuda de profissionais e fez preparação física. “Assim como todos no movimento, eu considero o parto um ato natural da mulher. E uma gravidez de baixo risco não deve ter a intervenção médica."
Ao lado do marido, a professora de história Michele Gonçalves da Cruz disse que ambos decidiram pelo parto em casa. “Para nós, foi a melhor escolha. Seja em casa ou em um hospital, o importante é ter o poder de escolher,sem se deixar levar por alguém nessa decisão”, ressaltou Michele. Segundo ela, as orientações foram buscadas no Grupo de Apoio à Maternidade Ativa.
Agência Brasil
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