Há alguns anos, tenho feito, com frequência, a seguinte pergunta aos meus alunos: “quem de vocês pensa em fazer o vestibular para o curso de Letras?” Em uma turma com cerca de 180 estudantes, uns três costumam erguer o braço, timidamente e sem muito entusiasmo. Aposto que mais uns dois vestibulandos gostariam de se manifestar, mas não o fazem por vergonha. Vergonha da desvalorização da profissão, do descaso de algumas lideranças políticas com o magistério.
É claro que há professores incompetentes, preguiçosos e que vivem reclamando dos baixos salários. Mas isso ocorre em qualquer área. Nada justifica o fato de um educador receber um contracheque insignificante. A maioria dos professores, no início da carreira, não tem dinheiro para comprar nem um livro. Dessa forma, como esses profissionais poderão se atualizar? Com que recursos investirão em conhecimento e informação? Nada se faz sem verbas.
Ser professor não é para qualquer pessoa. Lecionar não significa, simplesmente, despejar um monte de conteúdos. Dar uma boa aula requer talento, disposição, criatividade, conhecimento técnico e, claro, um salário justo. Ser professor não é “fazer bico”. Para ser um bom professor é preciso, ao mesmo tempo, respeitar e ser respeitado. É saber dizer as coisas na hora certa. É conseguir impor limites e estabelecer regras, sem ser autoritário. É tentar uma aproximação amigável com os alunos, mas sem esquecer que, dentro da sala, o professor é quem manda. Tudo isso só se aprende com o exercício da profissão, com a prática.
Os docentes necessitam, urgentemente, ganhar mais dinheiro. Por outro lado, uma remuneração interessante não pode, em hipótese alguma, levar os educadores à acomodação profissional. Existem professores que deveriam estar fazendo qualquer outra atividade, exceto ministrar aulas, já que não possuem didática para fazê-lo. E isso acontece inclusive nas universidades, onde os rendimentos financeiros são muito melhores do que nas escolas.
Daqui a alguns anos, não haverá mais professores capacitados e motivados. E, por conseguinte, não haverá educação de qualidade. E, assim, as escolas e universidades formarão criaturas ignorantes e patéticas. Não obstante, esse retrocesso poderá ser detido, contanto que haja mais investimentos em infraestrutura nas instituições de ensino; os professores tenham mais proteção em relação à indisciplina dos alunos; e o magistério receba uma valorização digna.
Fonte: Luciano Corrêa Iochins/Jornalista e professor de Língua Inglesa e Língua Espanhola
Jornal Gazeta do Sul/Opinião/10/02/2011
Ótimo texto! Retrata bem a situação atual do magistério.
ResponderExcluirEm um país de governo populista e monopolizador cultural professores, ou seja, formadores de opinião e fomentadores de cidadãos com senso crítico, não são bem-vindos. E olha que há quem reclame das condições do magistério durante os governos militares.
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