“Faz parte da humanidade de um mestre advertir seus alunos contra ele mesmo”, escreveu o filósofo Nietzsche (1844-1900) em sua obra Aurora. Pode parecer absurdo esse aforismo, mas são provocações como essa que despertam em nós, professores, reflexões sobre o que já fizemos e sobre o que podemos fazer agora na volta às aulas.
O título da obra nietzschiana vem a calhar para essa reflexão, se nos utilizarmos de algumas imagens bem desgastadas, mas válidas ainda. Aurora é aquele momento de claridade no horizonte, anunciando o nascer do sol. Pode simbolizar a passagem da ignorância (a escuridão) para a luz (o conhecimento). Não por acaso durante muito tempo foi usado, de uma forma equivocada, o significado da palavra “aluno” como “aquele que não tem luz”, “que vive nas trevas”. No entanto, é certo que a criança chega à escola já sabendo uma porção de coisas, ainda mais com o crescimento das novas – já nem tão novas assim – tecnologias. Segundo os linguistas, na verdade, aluno significa “criança de peito, lactente”, ou seja, é aquele indivíduo que precisa ainda receber os cuidados necessários como a nutrição e a proteção. Nesse caso, a escola deve fornecer a ele o alimento diferenciado, o qual não recebe em casa, que é o saber acumulado pela humanidade. E também deve protegê-lo num ambiente acolhedor para que ele se sinta como se estivesse no seio da sua própria família.
A aurora também representa um novo dia, por conseguinte, a renovação. Cada ano letivo é um ano diferente. A escola é uma das poucas instituições da sociedade que lutam contra o “mais do mesmo”. Como o deus Jano – porteiro do céu na mitologia romana, que tinha duas cabeças, uma olhando para a frente e outra para trás – planejamos os próximos meses, através de novas ideias e teorias que serão postas em prática, mas não esquecemos o passado, que nos ensina com os erros e os acertos.
Mas o que, afinal, o filósofo quis dizer com seu aforismo? Que devemos orientar o aluno a ir contra nós, professores? Minha interpretação bem pessoal e otimista é de que devemos orientar o aluno a não se deixar ser um adulto como os que temos hoje, que estão destruindo o mundo. A humanidade do mestre estaria em nutrir o aluno para que ele siga um caminho diferente, sendo criativo e questionador das verdades estabelecidas, contribuindo, assim, para um mundo melhor, atitude que nós, adultos, não estamos conseguindo fazer. O discípulo deve, para tanto, superar o mestre. Já numa interpretação pessimista... bem, deixemos o pessimismo pra lá.
Fonte: Cassionei Niches Petry/Professor
Jornal Gazeta do Sul 22/02/2011
cassio.nei@hotmail.com
Obrigado pela divulgação do meu texto. Abraço a todos da cidade.
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