segunda-feira, 30 de junho de 2025

Chat GPT pode impactar negativamente a aprendizagem, diz instituto

 











Conclusões estão em estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, alertam para os impactos negativos que a inteligência artificial (IA) pode ter sobre a capacidade de aprendizagem das pessoas, principalmente as mais jovens. As conclusões estão em paper divulgado este mês pelo MIT Media Lab.

O estudo investigou os impactos da utilização de LLM, sigla em inglês para grande modelo de linguagem. Trata-se de um tipo de inteligência artificial projetada para entender e gerar textos que se assemelham à linguagem humana. A LLM é usada em ferramentas como o Chat GPT e é o que possibilita verdadeiras conversas com a IA.

No paper, os pesquisadores mostram preocupação.

“Ao longo de quatro meses, os usuários do LLM apresentaram desempenho inferior consistentemente nos níveis neural, linguístico e comportamental. Esses resultados levantam preocupações sobre as implicações educacionais de longo prazo da dependência do LLM e ressaltam a necessidade de uma investigação mais aprofundada sobre o papel da IA ​​na aprendizagem”.

O estudo contou com a participação de 54 pessoas que tiveram que escrever uma redação. Elas foram divididas em três grupos. O primeiro deles utilizou apenas o Chat GPT na escrita. O segundo usou somente ferramentas de busca, como o Google. Já o terceiro não pôde consultar nenhuma dessas fontes, ficando restrito aos próprios cérebros.

Para analisar a atividade cerebral de cada participante foram feitas eletroencefalografias (exame que registra a atividade elétrica do cérebro por meio de eletrodos colocados no couro cabeludo) e os ensaios escritos foram analisados tanto por professores humanos quanto por IAs voltadas para o Processamento de Linguagem Natural (PLN), ramo que se dedica a fazer com que IAs compreendam e manipulem a linguagem humana.

Na fase seguinte, 18 participantes trocaram de grupo. Aqueles que usaram apenas o Chat GPT passaram para o grupo que poderia usar apenas o próprio cérebro e aqueles que estavam nesse grupo, por sua vez, passaram para a utilização do Chat GPT.

As conclusões mostram, de acordo com os pesquisadores “diferenças significativas na conectividade cerebral”, diz o estudo. Os participantes que usaram apenas as próprias capacidades cognitivas exibiram redes fortes e mais distribuídas de atividade cerebral. Aqueles que usaram apenas mecanismos de busca apresentaram atividade moderada. Já os usuários do Chat GPT registraram conectividades cerebrais mais fracas.

Quando trocaram de grupo, aqueles que saíram do grupo do Chat GPT e tiveram que escrever uma redação sem ajuda externa, apresentaram conectividades cerebrais reduzidas. Aqueles que fizeram o caminho inverso “exibiram maior recuperação de memória e ativação das áreas occipito-parietal e pré-frontal [do cérebro], semelhante aos usuários de mecanismos de busca”, diz a pesquisa.

O estudo mostra ainda que aqueles que usaram o Chat GPT para escrever a redação têm baixa reinvindicação de autoria, ou seja, não se sentem autores plenos dos textos. Aqueles que usaram apenas as ferramentas de busca já têm forte senso de autoria, ainda que seja menor que aqueles que usaram apenas as próprias capacidades cognitivas, que são os que mais se sentem autores plenos. O último grupo também registrou maior habilidade de citar trechos do texto que tinha escrito há minutos antes.

“Como o impacto educacional do uso do LLM está apenas começando a se consolidar na população em geral, nesse estudo demonstramos a questão premente de provável diminuição nas habilidades de aprendizagem”, diz a pesquisa, que acrescenta: “Esperamos que esse estudo sirva como guia preliminar para a compreensão dos impactos cognitivos e práticos da IA ​​em ambientes de aprendizagem”.
Fonte: Agência Brasil

domingo, 29 de junho de 2025

Receita retida: entenda como fica a venda de canetas emagrecedoras

 










Categoria inclui medicamentos como Ozempic, Mounjaro e Wegovy

Farmácias e drogarias de todo o país passaram a reter receitas de medicamentos agonistas GLP-1, popularmente conhecidos como canetas emagrecedoras. A categoria inclui medicamentos como Ozempic, Mounjaro e Wegovy.

A decisão por um controle mais rigoroso na prescrição e na dispensação desse tipo de medicamento foi tomada pela diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril e entrou em vigor 60 dias depois.

Com a mudança, a prescrição dos medicamentos passou a ser feita em duas vias e a venda só pode ocorrer com a retenção da receita nas farmácias e drogarias, assim como acontece com antibióticos.

A validade das receitas médicas de canetas emagrecedoras, segundo a Anvisa, é de até 90 dias a partir da data de emissão, período durante o qual o pedido pode ser utilizado pelo paciente.

Farmácias e drogarias, por sua vez, devem incluir, no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados, a escrituração da movimentação de compra e venda dos medicamentos.

Off label

Ainda de acordo com a Anvisa, a mudança não altera o direito do profissional médico de prescrever canetas emagrecedoras para finalidades diferentes das descritas na bula – prática conhecida como uso off label.

“É uma decisão tomada com responsabilidade pelo médico e sempre com o devido esclarecimento ao paciente, garantindo que ele esteja bem-informado sobre o procedimento”, informou a agência.

Uso indiscriminado

A retenção do receituário de canetas emagrecedoras já era defendida pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, pela Sociedade Brasileira de Diabetes e pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.

Em nota aberta, as entidades citam que o uso indiscriminado desse tipo desse tipo de medicamento gera preocupações quanto à saúde da população e ao acesso de pacientes que realmente necessitam desse tipo de tratamento.

“A venda de agonistas de GLP-1 sem receita médica, apesar de irregular, é frequente. A legislação vigente exige receita médica para a dispensação destes medicamentos, porém não a retenção da mesma pelas farmácias. Essa lacuna facilita o acesso indiscriminado e a automedicação, expondo indivíduos a riscos desnecessários”, destacou o documento.

Versões manipuladas

Em fevereiro, as entidades divulgaram outra nota na qual alertam sobre “graves riscos” associados ao uso de medicamentos injetáveis de origem alternativa ou manipulados para tratar obesidade e diabetes.

“Medicamentos biológicos, como a semaglutida e a tirzepatida, exigem processos rigorosos de fabricação para assegurar que o organismo utilize e metabolize a substância de forma eficaz e segura. Essas moléculas são administradas por injeções subcutâneas, o que demanda padrões rigorosos de esterilidade e estabilidade térmica.”

O uso de versões alternativas ou manipuladas, segundo a nota, figura como “prática crescente, preocupante e perigosa” e carece de bases científicas e regulatórias que garantam eficácia, segurança, pureza e estabilidade do produto, “expondo os usuários a sérios riscos à saúde, pois não passam pelos testes de bioequivalência necessários, tornando impossível prever seus efeitos no corpo humano”.

Dentre as recomendações que constam na nota está:

- que profissionais de saúde não prescrevam semaglutida ou tirzepatida alternativas ou manipuladas. “Apenas utilizem medicamentos aprovados por agências reguladoras, com fabricação industrial certificada e vendidos em farmácias”;

- que pacientes rejeitem tratamentos que incluam versões alternativas ou manipuladas dessas moléculas – incluindo vendas diretas em sites, aplicativos ou em consultórios – e busquem alternativas aprovadas pela Anvisa;

- que órgãos reguladores e fiscalizadores, em especial a Anvisa e os conselhos de medicina, intensifiquem ações de fiscalização sobre todas as empresas e pessoas envolvidas na prática.

Fonte: Agência Brasil

sábado, 28 de junho de 2025

Defesa Civil do Rio Grande do Sul emite novo alerta para chuvas fortes








Chuvas, ventos fortes e granizo deverão atingir o RS até domingo
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu, no fim da manhã desta sexta-feira (27), um novo alerta sobre o risco de chuvas fortes voltarem a atingir grande parte do estado a partir deste fim de semana.

A mudança no tempo se inicia neste sábado, quando chuvas intensas devem voltar a cair sobre a Região Metropolitana de Porto Alegre e outras partes do território gaúcho já afetadas pela precipitação das últimas semanas.

A preocupação maior é com as cidades e áreas de influência de rios que cortam o estado e cujos níveis já estão altos, como o Jacuí, que responde por cerca de 80% de toda a água que chega ao Lago Guaíba. Às 15h de hoje, o nível do lago estava em 3,29 metros próximo a Porto Alegre – apenas 31 centímetros abaixo da cota de inundação da área.

GRANIZO E VENTOS FORTES

O volume de chuva pode variar entre 50 e 90 milímetros/dia nas regiões Metropolitana de Porto Alegre e Norte do estado, podendo chegar aos 100 mm/dia nas regiões dos Vales, Noroeste, Centro Norte, Serra e Litoral Norte, especialmente durante a noite. Também há risco de temporais com granizo e rajadas de vento acima dos 70 km/h no Noroeste e Norte do estado.

A formação de um ciclone extratropical próximo à costa favorece a ocorrência de chuvas intensas e persistentes, acompanhada de raios e temporais isolados, a partir do domingo (29). Os acumulados variam entre 50 e 80 mm/dia nas Missões, Noroeste, Centro-Norte, Serra e na Região Metropolitana de Porto Alegre, podendo chegar aos 100 mm/dia nos Vales e Litoral Norte.

Ainda devido à influência do ciclone extratropical, as rajadas de vento deverão se intensificar, variando entre 50 e 75 km/h em toda a metade sul do estado, bem como no litoral e nas regiões Nordeste e Metropolitana de Porto Alegre. Há risco de temporais com granizo e rajadas de vento acima dos 70 km/h nas regiões Noroeste e Norte e o mar deve ficar agitado.

Fonte: Agência Brasil

Dose de reforço de vacina contra meningite terá proteção maior

 







Bebês de 12 meses agora serão imunizados contra quatro sorotipos

A partir de 1º de julho, os bebês de 12 meses receberão a vacina meningocócica ACWY como dose de reforço para a meningocócica C. Isso significa que, além do meningococo C, eles ficarão protegidos contra outros três sorotipos da bactéria (A, W e Y), o que prevenirá casos de meningite bacteriana e infecção generalizada no sangue, a meningococcemia. Somente este ano, o Brasil já registrou 361 casos de meningite causada por meningococos, com 61 mortes.

"No Brasil, o sorogrupo que mais preocupa, além do C, é o W. A gente observou aumentos de incidência importantes, principalmente nos estados do Sul do país, recentemente. Então, essa mudança representa uma ampliação da proteção contra sorogrupos que são um risco, principalmente para as crianças", explica a diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo.

O Sistema Único de Saúde ja oferece o imunizante ACWY nas unidades básicas de saúde, mas atualmente a vacina é aplicada dos 11 aos 14 anos. Já os bebês recebem três doses da vacina meningocócica C: duas doses aos 3 e aos 6 meses de idade, e o reforço, aos 12 meses. Apenas a dose de reforço será modificada.

As crianças que já receberam três doses da meningo C não precisam receber a dose de reforço com a ACWY no momento. Mas aquelas não foram vacinadas aos 12 meses podem completar o esquema com a nova vacina, antes de completar 5 anos.

Na nota técnica que comunica a mudança na estratégia de vacinação, o Ministério da Saúde reforça "a efevidade e o impacto desses imunobiológicos no Brasil, com redução na incidência da doença meningocócica, em pessoas vacinadas e não vacinadas." No entanto, diz a nota, "a ocorrência das meningites bacterianas ainda é um fator de preocupação, especialmente as causadas pela Neisseria meningidis (meningococo)e pelo Streptococcus pneumoniae (pneumococo)"

A mudança, ainda de acordo com a pasta, dá continuidade ao enfrentamento das meningites, conforme as Diretrizes para Enfrentamento da doença, propostas pelo Brasil dentro do roteiro global da Organização Mundial da Saúde. O SUS também oferece vacinas contra outros dois agentes infecciosos que podem causar meningite, o pneumococo e o Haemophilus influenzae.

Fonte: Agência Brasil

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Saúde aumenta em 30% recursos para programa do teste do pezinho

 







Parceria com Correios vai agilizar entrega dos resultado

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou nesta quinta-feira (26) a ampliação de recursos e de medidas do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), que realiza o teste do pezinho.

De acordo com o ministro, os recursos para o programa passarão de R$ 100 milhões para R$ 130 milhões por ano. Metade dos recursos adicionais (R$ 15 milhões) vai para apoiar os programas estaduais de testagem e financiar a construção de um laboratório por região do país.

CORREIOS

Os outros R$ 15 milhões serão para uma parceria com os Correios, que levará as amostras coletadas nas unidades municipais de saúde para os laboratórios. Estima-se que o tempo médio de entrega dos diagnósticos cairá pela metade, que será de até cinco dias.

“Estamos estruturando toda a base necessária para viabilizar a ampliação do teste do pezinho de forma rápida e efetiva. A criação dos centros regionais vai permitir que estados com menor população, que enfrentam maior dificuldade de escala e logística, possam se associar a esses centros, garantindo acesso ao exame com mais qualidade e agilidade”, afirmou Padilha, durante o anúncio em São Paulo.

O QUE É O TESTE DO PEZINHO

O teste coleta sangue no calcanhar do bebê e permite rastrear e identificar doenças no recém-nascido, antes mesmo do aparecimento de sintomas.

Na maior parte dos estados, o exame é feito nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Está disponível também nas maternidades, casas de parto, comunidades indígenas e quilombolas.  

Fonte: Agência Brasil

Butantan obtém patentes de dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose que oferecem resultados em 25 minutos

Testes que detectam anticorpos no sangue e na urina identificam infecção em poucos minutos, enquanto exames tradicionais são menos sensíveis e têm resultados em dias

Uma equipe de pesquisadoras do Laboratório de Bacteriologia e do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan desenvolveu dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose, um de detecção pela urina e outro pelo sangue. Ambos os testes oferecem resultados em até 25 minutos, enquanto nos testes padrão o resultado confirmatório da doença pode demorar dias. As duas pesquisas já têm patentes concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão atrelado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Governo Federal.

Cada teste permite detectar a doença em momentos distintos – o primeiro, pela urina, no início da infecção; o segundo, pelo sangue, quando a bactéria já se espalhou. Isso pode ser determinante no acesso mais ágil ou em tempo hábil ao tratamento, levando em conta que a leptospirose pode causar a morte em até 40% dos casos graves, segundo o Ministério da Saúde.

Atualmente, o diagnóstico da doença é feito somente em laboratórios de referência e depende de cultura bacteriana, com resultado que pode demorar de 15 a 30 dias para ser conclusivo. A demora decorre da necessidade de análise de uma segunda amostra de sangue do paciente.

Os testes rápidos permitem obter um resultado entre 20 e 25 minutos. O feito com urina usa o método de quimioluminescência (emissão de luz durante uma reação química) e o com sangue é uma análise imunocromatográfica (identificação da doença por associação a anticorpos), semelhante ao teste rápido de Covid-19.



A pesquisadora Patricia Aniz atuou nos estudos de dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose, um de detecção pela urina e outro pelo sangue
“O diagnóstico da leptospirose é complexo do ponto de vista clínico porque os sintomas se confundem com doenças febris como malária, dengue e febre amarela, entre outras. Se tivermos um teste rápido, simples e eficiente, conseguimos tratar principalmente os que evoluem de forma grave”, afirma a pesquisadora científica, atualmente do Núcleo de Produção de Vacinas Bacterianas do Butantan, Patricia Aniz, que coordenou o desenvolvimento dos dois testes.

SOBRE A LEPTOSPIROSE

A leptospirose é uma infecção transmitida de forma direta ou indireta pelo contato com a urina de animais infectados pela bactéria Leptospira, que penetra na pele a partir de lesões ou quando se passa muito tempo imerso em água contaminada, como em enchentes. Os animais domésticos, como cães, e de criação, como bovinos, suínos e equinos, são os mais comumente acometidos. O período entre a transmissão e os sintomas ocorre geralmente entre sete a 14 dias após a exposição a situações de risco.

No mundo, estima-se que a incidência desta doença seja de mais de 500 mil de casos por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a leptospirose apresenta surtos epidêmicos em períodos de chuva e é encontrada com maior frequência nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Bahia e Pernambuco. Nos últimos três anos, foi observado um aumento da incidência, com aproximadamente 3.000 casos por ano, de acordo com o Ministério da Saúde. Houve um aumento significativo de registros na região Sul, provavelmente devido às enchentes que ocorreram nos últimos anos.

A leptospirose também causa perdas econômicas, por provocar alterações reprodutivas nos animais infectados, como infertilidade, mastites, abortos e natimortalidade. “Ficamos muito felizes por ter resolvido um problema de saúde pública e que também afeta a agropecuária, levando à diminuição na produção de leite e de carne”, afirma Patricia Aniz.



Patricia Aniz em frente ao prédio onde está localizado o Laboratório de Bacteriologia


Métodos tradicionais e a demora do diagnóstico

Atualmente o método mais utilizado para o diagnóstico de leptospirose é o Teste de Aglutinação Microscópica (MAT), considerado padrão ouro. Nele, o soro do paciente é incubado com diferentes leptospiras, e diluído em séries. Se apresentar uma aglutinação mínima de 50%, comparada à incubação das bactérias sem o contato com o soro, indica um resultado positivo.

“Porém, este método tem como desvantagem a manutenção de culturas vivas de leptospira, com risco de contaminação para o operador e baixa sensibilidade quando considerado a fase inicial de infecção”, descreve Patricia.
Outra desvantagem apontada pela pesquisadora é que o resultado conclusivo pode demorar muitos dias, devido à necessidade de duas amostras para confirmar a infecção, pois o teste depende da detecção de um aumento nos títulos de anticorpos específicos. “Nesse tempo, a pessoa pode desenvolver sintomas graves”, ressalta Patricia Aniz.

O método sorológico ELISA-IgM [ensaio de imunoabsorção enzimática], bastante usado em ensaios para a detecção de anticorpos, também é utilizado para detectar a leptospirose. Sua principal vantagem é permitir o diagnóstico na fase aguda da doença. “Porém, como desvantagem, este método possui baixa especificidade, menor sensibilidade comparada ao MAT e alto índice de reações cruzadas para outras doenças”, esclarece a pesquisadora.



Patricia avalia o teste imunocromatográfico no Laboratorio de Bacteriologia

Vantagens dos testes rápidos

Diante das dificuldades em se obter resultados laboratoriais precisos e da apresentação clínica inespecífica da leptospirose, as equipes do Laboratório de Bacteriologia e do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan entenderam ser cada vez mais necessário trabalhar no desenvolvimento de métodos mais simples e eficientes.

“O objetivo das pesquisas foi resolver os problemas constantes que envolvem o diagnóstico de leptospirose a partir do desenvolvimento de dois testes mais rápidos, sensíveis e específicos que possibilitem um resultado confirmatório e definitivo, contribuindo na escolha correta do tratamento da leptospirose”, afirma Patricia.



O Teste por quimioluminescência foi criado para detecção de leptospiras na urina


 Teste imunocromatográfico

A análise imunocromatográfica é uma velha conhecida dos cientistas, já que a tecnologia é usada em testes de detecção de anticorpos de Covid-19, entre outras doenças. O teste desenvolvido no Butantan parte da pesquisa de doutorado da estudante Tatiana Barrinuevo Gotti, desenvolvida no Laboratório de Bacteriologia em colaboração com a pesquisadora Roxane Maria Fontes Piazza, coordenadora do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Instituto Butantan e com a pesquisadora Letícia Barboza Rocha. A patente do teste foi solicitada em 6 de setembro de 2016 e concedida em 17 de dezembro de 2024.

“Para o desenvolvimento do método foram selecionadas 11 proteínas da membrana externa da leptospira como candidatos a antígenos, com uma apresentando reatividade. Estas proteínas foram clonadas, expressas e purificadas, sendo testadas em ensaios do tipo Elisa e western-blot [teste de identificação de proteínas específicas]. Depois essa proteína reativa foi ligada ao ouro coloidal [que é o que deixa a cor da linha avermelhada] e também inoculada em animais para a produção de anticorpos específicos”, esclarece Patricia.

No teste desenvolvido pelo Butantan, a amostra de soro obtida do sangue do paciente é adicionada a uma fita de membranas de nitrocelulose e papel absorvente, que entra em contato com reagentes e com os anticorpos contra a leptospira. A detecção da ligação do anticorpo com a proteína da leptospira (antígeno) oferece um resultado em até 20 minutos. Se duas linhas (linha teste e linha controle) aparecerem avermelhadas, o resultado é positivo; se aparecer só uma linha (controle) vermelha, o resultado é negativo.

O trabalho de Tatiana, Letícia, Roxane e Patrícia foi vencedor do Prêmio de Inovação (Butantan – IPLYMPICS) na 17a Reunião Científica Anual do Instituto, realizada em dezembro de 2015.

Segundo Patricia, o método traz uma série de vantagens, sendo a principal a rapidez no resultado e a facilidade de execução. “O resultado está disponível em poucos minutos, permitindo uma resposta rápida e um manejo mais eficaz da doença. Além disso, a simplicidade de aplicação contribui para uma maior acessibilidade, além do fato de o teste ter uma sensibilidade adequada e um baixo custo”, finaliza.




Estudos foram realizados em conjunto com pesquisadoras do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan


Teste por quimioluminescência

Anos antes da pesquisa de Tatiana e Letícia, a então doutoranda Larissa do Rêgo Barros Mato, com colaboração do pesquisador Luiz Bezerra de Carvalho Júnior, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e sob orientação de Patrícia, desenvolveu outro teste diagnóstico para a leptospirose no Laboratório de Bacteriologia, complementar ao teste imunocromatográfico.

O método desenvolvido para o diagnóstico da leptospirose é baseado em um anticorpo ligado a um composto quimioluminescente para detecção de leptospiras na urina. A reação entre o anticorpo e o antígeno (a leptospira) é detectada pela emissão de luz. A patente foi solicitada em 14 de maio de 2014 e concedida em 3 de novembro de 2021.

O método já é utilizado no diagnóstico de doenças infecciosas, dosagens hormonais (como teste de gravidez) e detecção de biomarcadores devido a sua alta sensibilidade e rapidez, o que permite a detecção de substâncias em concentrações muito baixas.

Ele funciona da seguinte forma: a amostra de urina é colocada em contato com o anticorpo ligado a um composto quimioluminescente por 15 minutos em temperatura ambiente; depois é centrifugada por 5 minutos e o sedimento é ressuspendido em solução salina, à qual são adicionados dois reagentes (A e B). A emissão de luz, que é avaliada por um aparelho chamado luminômetro, capaz de medir as unidades relativas de luz (RLU), ocorre em segundos. A amostra é considerada positiva para a presença de leptospiras se o valor de RLUs for maior que o limite de detecção.

“A principal vantagem deste método é permitir o diagnóstico precoce e rápido da leptospirose, uma vez que detecta a bactéria na fase inicial da doença, antes da produção de anticorpos”, conta Patricia. “Além disso, é um procedimento simples e de baixo custo, de execução em até 25 minutos, sem reatividade com outras bactérias presentes na urina ou que causam infecções em pessoas e animais”, ressalta a pesquisadora.

O Butantan mantém outras pesquisas ligadas à criação de novos métodos diagnósticos para leptospirose. Uma delas, realizada pelo Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas, desenvolveu uma proteína quimérica para o diagnóstico da leptospirose que se mostrou superior ao teste padrão atualmente recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fonte: Instituto Butantan

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Inverno aumenta preocupação com vírus respiratórios

 











Vacinação anual é eficaz na redução de riscos, diz infectologista

Os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) registrados nas primeiras 24 semanas epidemiológicas de 2025 foram 30% superiores aos notificados no mesmo período do ano passado. Isso aumenta o alerta para o inverno, que começou oficialmente nesta sexta-feira (20), já que muitos vírus respiratórios circulam mais nesse período, aumentando a quantidade de infecções e de casos graves.

"No inverno as pessoas ficam mais dentro de casa, nos escritórios, andam no transporte público com as janelas fechadas. Isso aumenta a proximidade das pessoas, e a maioria das infecções respiratórias se transmite por gotículas. Quando a gente tosse, fala, espirra, essas gotículas podem cair perto do olho, do nariz e da boca de outras pessoas e contaminá-las. Ou também podem cair na superfície, aí a pessoa toca e leva para o rosto sem perceber", explica a infectologista e professora do Instituto de Educação Médica, Silvia Fonseca.

Dois fatores que também contribuem para este quadro são a irritação das vias respiratórias, por causa do frio e do tempo seco, que assim ficam mais vulneráveis à infecções, e uma característica do vírus Influenza, causador da gripe, que o torna mais transmissível e mais replicável no organismo humano em baixas temperaturas.

Dados do Boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vêm mostrando o aumento de infecções por influenza. Considerando todos os mais de 103 mil casos graves de síndrome respiratória já contabilizados este ano pelo boletim, quase 53 mil tiveram resultado laboratorial positivo para algum vírus. Desses, cerca de 27% foram causados por algum tipo de influenza A ou B. Mas de meados de maio a meados de junho, a incidência de influenza subiu para mais de 40%.

Entre os dados de mortalidade, a influenza se destaca nas duas análises. Metade das quase 3 mil mortes causadas por SRAG, após infecção por algum vírus, ocorreu após uma infecção por gripe. Essa proporção sobe para 74,6% quando são consideradas apenas os óbitos com diagnóstico positivo para vírus respiratório registrados nas últimas quadro semanas.

Para a infectologista Silvia Fonseca, a percepção de que a gripe é uma doença leve ainda compromete a principal forma de prevenção dessas mortes. “O vírus influenza pode evoluir rapidamente para quadros de insuficiência respiratória, infecções pulmonares e internações prolongadas, especialmente em idosos e pacientes com doenças crônicas. A vacinação anual é a forma mais eficaz de reduzir esse risco”, afirma a professora de medicina.

VACINAÇÃO

De acordo com o painel da vacinação do Ministério da Saúde, até esta sexta-feira (20), menos de 40% do público-alvo tinha se vacinado contra a influenza este ano. A campanha começou na maior parte do país em abril, justamente para imunizar as pessoas mais vulneráveis antes do período de maior circulação da doença. O imunizante protege contra os subtipos A H1N1 e A H3N2 e B e tem grande eficácia contra casos graves e óbitos.


Outra infecção mortal que pode ser prevenida com vacina é a da covid-19. Apesar da incidência entre os óbitos causados por vírus ter caído, ela ainda foi de 30,9% nas 24 semanas epidemiológicas contabilizadas este ano. E nas últimas quatro semanas, enquanto os testes positivos para covid-19 foram apenas 1,6% de todos os casos graves causados por vírus, a proporção entre as mortes ficou em 4,2%, o que comprova a letalidade do coronavírus, especialmente em idosos.

Entre as crianças, permanece a preocupação com o vírus sincicial respiratório (VSR), principal causador da bronquiolite, uma inflamação que atinge as estruturas mais finas dos pulmões e que pode causar a morte, especialmente entre menores de 2 anos. Há vacina contra o VSR para idosos e grávidas – que transmitem anticorpos para o recém-nascido – mas apenas em clínicas particulares. O Ministério da Saúde já anunciou a incorporação da vacina para as gestantes no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir do segundo semestre.

O período de maior circulação do VSR começa no outono e já dá sinais de queda, conforme o boletim Infogripe, mas os casos ainda são numerosos. Considerando todo o ano de 2025, ele foi o patógeno mais prevalente, diagnosticado em 45,3% dos casos graves causados por vírus. O VSR também foi responsável por 13% das mortes com diagnostico positivo registradas nas últimas quatro semanas.

A professora de Enfermagem da Faculdade Estácio Andréia Neves de Sant'Anna lembra que as normas de etiqueta respiratória ainda são válidas e ajudam a diminuir a propagação dos vírus: evitar aglomerações e ambientes fechados; lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool em gel; usar lenço descartável para higiene nasal; cobrir o nariz e boca ao espirrar ou tossir; evitar tocar olhos, nariz e boca; não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas; manter os ambientes bem ventilados e evitar contato próximo com pessoas com sintomas gripais.

Além disso, Andréia reforça que repouso, alimentação equilibrada, e bastante hidratação, podem ajudar o organismo a se recuperar mais facilmente.
Fonte: Agência Brasil

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Governo do Rio Grande do Sul implementa Programa de Telemedicina Pediátrica neste inverno

Médicos com especialização em medicina intensiva pediátrica orientam sobre atendimento e auxílio às equipes hospitalares

O Programa de Telemedicina Pediátrica e Neonatal, desenvolvido pelo governo do Estado, por meio do Departamento de Regulação da Secretaria da Saúde (SES), entrou em funcionamento nesta terça-feira (24/6). O objetivo é realizar uma avaliação dos cadastros inseridos no sistema de regulação de acesso a internações hospitalares (Gerint) sobre o melhor encaminhamento dos casos neste inverno.

Médicos com especialização em medicina intensiva pediátrica orientam sobre atendimento e auxílio às equipes hospitalares de UTI Neonatal, UTI Pediátrica e Enfermaria Pediátrica de hospitais que solicitarem, bem como de forma ativa abordando unidades onde se encontram os pacientes para auxiliar nas condutas possíveis para melhorar a evolução dos pacientes pediátricos e neonatais.

“Considerando o cenário epidemiológico da síndrome respiratória aguda grave (Srag) no Estado, especialmente durante o pico sazonal nos meses de inverno, foi considerada indispensável a estruturação de estratégias e ações que consolidem a assistência qualificada aos pacientes”, afirma a diretora de Regulação da SES, Suelen Arduin.

A diretora assinala a importância do programa, já desenvolvido nos invernos de 2023 e 2024, por orientar as equipes locais sobre a melhor conduta em cada situação, haja vista que nem todos os municípios contam com pediatras com experiência no tratamento de crianças com as manifestações mais graves das doenças respiratórias.

"O manejo adequado é fundamental para uma melhor evolução individual e coletiva, diminuindo a necessidade de transferências e de internação em leitos de terapia intensiva pediátrica. Trata-se de uma iniciativa fundamental para mantermos a qualidade de atendimento e evitarmos o incremento desnecessário da mortalidade na faixa etária pediátrica", conclui.

Expansão nos atendimentos

O programa de telemedicina pediátrica registrou uma expansão nos atendimentos em 2024, com um acréscimo nos encaminhamentos de transferência de terapia intensiva neonatal e enfermaria pediátrica, além da UTI pediátrica, em comparação ao ano de 2023.

Ao todo, foram realizadas 1.440 horas de atendimento especializado a 1.438 pacientes efetivamente atendidos via telemedicina pelo período de 120 dias, com monitoramento contínuo das ações e dos desfechos clínicos por parte da equipe da Central de Regulação Hospitalar.

Fluxo de atendimento da UTI Pediátrica

Diariamente, o telefonista auxiliar de regulação médica lista no sistema de telemedicina todos os pacientes que aguardam uma transferência inter-hospitalar e estão cadastrados no sistema de regulação Gerint, com solicitação de UTI neonatal, UTI pediátrica e enfermaria pediátrica.

Diante dessa informação, o médico pediatra teleconsultor realizará contato mediante agendamento com a equipe médica das unidades solicitantes, realizando troca de informações médicas, auxiliando no diagnóstico ou no processo terapêutico, sugerindo condutas pertinentes. A partir desse atendimento, o médico teleconsultor avalia a prioridade no processo regulatório, realiza o registro do atendimento no sistema Gerint e sistema de telemedicina e comunica ao médico regulador da Central de Regulação Hospitalar (CRH).

Texto: Ascom SES
Edição: Anderson Machado/Secom

Novos projetos na área de semicondutores atraem investimentos de R$ 1 bilhão e mais de mil empregos para o Rio Grande do Sul

O governador Eduardo Leite participou da formalização das parcerias na inauguração do escritório da Invest RS em São Paulo


Dois novos projetos na área de semicondutores, que contribuirão para os desenvolvimentos tecnológico e econômico do Estado, foram assinados na tarde de segunda-feira (23/6), no novo escritório da Invest RS em São Paulo. As formalizações foram realizadas com as empresas Tellescom Semicondutores e Chipus Microeletrônica e resultarão em investimentos de mais de R$ 1 bilhão e na geração de mil novos empregos.

O protocolo de intenções com a Tellescom envolve a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict), a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) e a Invest RS e formaliza a destinação de parte de um terreno localizado no município de Cachoeirinha, para comercialização à empresa via incentivos do Programa Estadual de Desenvolvimento Industrial (Proedi). O espaço será utilizado para a instalação de unidades de encapsulamento e teste de semicondutores.

Com um investimento de cerca de R$ 1 bilhão, o objetivo é construir uma fábrica focada na produção de componentes eletrônicos para as áreas de comunicações, automotivas e de computação avançada. O empreendimento busca fortalecer o setor de semicondutores na região e gerar mais de mil empregos qualificados diretos.

"Essas assinaturas marcam o avanço e a consolidação do programa Semicondutores RS, que tem três principais pilares: produção de conhecimento, atração de investimentos e formação de talentos. Portanto, podemos comemorar muito este momento, que é um símbolo da trajetória que estamos desenvolvendo", afirmou a titular da Sict, Simone Stülp.

O presidente da Invest RS, Rafael Prikladnicki, ressaltou que os novos empreendimentos representam um salto estratégico para o posicionamento do Rio Grande do Sul no cenário tecnológico: “É um movimento que consolida o Estado como protagonista na área de semicondutores e reforça nossa capacidade de atrair projetos estruturantes para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.”

Já o acordo de cooperação assinado com a Chipus refere-se ao apoio da Sict e da Invest RS na implantação no RS de um centro de pesquisa e desenvolvimento focado em microeletrônica. O local servirá para estruturar internamente a área de desenvolvimento de produtos semicondutores para computação escalável, que vem sendo amplamente utilizada para as aplicações de inteligência artificial e de computação quântica, com foco em design de chip e encapsulamento avançado.

A Chipus planeja lançar o centro em 2026, com um investimento estimado entre R$ 200 e 300 milhões ao longo de cinco anos, e irá submeter o projeto para edital conjunto da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que visa fomentar a expansão e a implantação de centros como esse em áreas estratégicas no Brasil. O centro também buscará obter diferentes fontes de receita para garantir sua sustentabilidade durante o período de investimento. Haverá a contratação mínima de 50 funcionários, sendo dez com mestrado ou doutorado. O prazo de execução é de até 36 meses.

A partir do Semicondutores RS, o Rio Grande do Sul é o único Estado brasileiro com programa de estímulo ao desenvolvimento do setor, o que irá acelerar os projetos já instalados e estimular novos investimentos. O programa busca atrair investimentos, fomentar a inovação e o desenvolvimento tecnológico e criar novas oportunidades de emprego e renda na área.

Texto: Ascom Invest RS
Edição: Secom

Um em cada 9 adolescentes usa cigarro eletrônico no Brasil

 







Pesquisa da Unifesp aponta tendência de aumento entre jovens

Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgada esta semana apontou que um em cada nove adolescentes brasileiros afirma que usa cigarro eletrônico. O estudo ouviu cerca de 16 mil pessoas de 14 anos ou mais, de todas as regiões do país.

Segundo o levantamento, a quantidade de usuários jovens que usam cigarro eletrônico já é cinco vezes o total daqueles que fumam o cigarro tradicional. A pesquisa utilizou dados de 2022 a 2024 do Terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad 3). É a primeira vez que cigarros eletrônicos entram no levantamento.

Apesar de o produto ser proibido no Brasil, a coordenadora da pesquisa e professora de psiquiatria da Unifesp, Clarice Madruga, ressalta que é muito fácil comprar o aparelho pela internet, o que amplia o acesso.

Outro problema, aponta a pesquisadora, é o risco à saúde, já que a inalação de substâncias altamente tóxicas, como a nicotina, é muito maior no cigarro eletrônico, se comparado ao cigarro tradicional. Clarice lamenta o retorno do crescimento do uso de cigarro, após o sucesso de políticas antitabagistas, iniciadas na década de 1990, que tinham freado o consumo.

"A gente teve uma história gigantesca de sucesso de políticas que geraram uma queda vertiginosa no tabagismo, mas que um novo desafio quebrou completamente essa trajetória. E a gente hoje tem um índice de consumo, principalmente entre adolescentes, muito superior e que está totalmente invisível”, afirma.

Os participantes ouvidos no estudo receberam a opção de serem encaminhados para tratamento no Hospital São Paulo e no Centro de Atenção Integral em Saúde Mental da Unifesp.

Fonte: Agência Brasil

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Receitas de canetas emagrecedoras serão retidas a partir desta segunda

 










Medida visa proteger a saúde da população brasileira

A partir desta segunda-feira (23), farmácias e drogarias começam a reter receitas de medicamentos agonistas GLP-1, popularmente conhecidos como canetas emagrecedoras.

A categoria inclui a semaglutida, a liraglutida, a dulaglutida, a exenatida, a tirzepatida e a lixisenatida.

A decisão por um controle mais rigoroso na prescrição e na dispensação desse tipo de medicamento foi tomada pela diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril e entrou em vigor 60 dias após a publicação no Diário Oficial da União.

Em nota, a agência informou que a medida tem como objetivo proteger a saúde da população brasileira, “especialmente porque foi observado um número elevado de eventos adversos relacionados ao uso desses medicamentos fora das indicações aprovadas pela Anvisa”.

A análise, segundo a agência, se baseou em dados de notificação do VigiMed, sistema disponibilizado pela Anvisa para que cidadãos, profissionais de saúde, detentores de registro de medicamentos e patrocinadores de estudos possam reportar suspeitas de eventos adversos relacionados a medicamentos e vacinas.

Em uma análise comparativa, o sistema de farmacovigilância, de acordo com a agência, sinalizou “muito mais eventos adversos relacionados ao uso fora das indicações aprovadas pela Anvisa no Brasil do que os dados globais”.

Ao apresentar seu voto, em abril, o diretor-presidente substituto da Anvisa, Rômison Rodrigues Mota, destacou que o incentivo ao uso de canetas emagrecedoras apenas com finalidade estética, acompanhado de promessas e depoimentos de rápida perda de peso e sem o devido acompanhamento médico, coloca em risco a saúde dos usuários:

“Estamos falando de medicamentos novos, cujo perfil de segurança a longo prazo ainda não é totalmente conhecido. Por isso, é fundamental o monitoramento e a vigilância. O uso sem avaliação, prescrição e acompanhamento por profissionais habilitados, de acordo com as indicações autorizadas, pode aumentar os riscos e os potenciais danos à saúde.”

ENTENDA

Com a decisão da diretoria colegiada da Anvisa, a prescrição de medicamentos agonistas GLP-1, incluindo Ozempic, Mounjaro e Wegovy, deve ser feita em duas vias, e a venda só pode ocorrer com a retenção da receita nas farmácias e drogarias, assim como acontece com antibióticos.

A validade das receitas será de até 90 dias a partir da data de emissão, período durante o qual poderão ser utilizadas pelo paciente.

Farmácias e drogarias, por sua vez, devem incluir, no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), a escrituração da movimentação de compra e venda dos medicamentos.

Segundo a agência, a decisão não altera o direito do profissional médico de prescrever os medicamentos para finalidades diferentes das descritas na bula.

A prática, conhecida como uso off label, ocorre quando o médico entende que, para determinado paciente, os benefícios do tratamento superam os riscos.

“É uma decisão tomada com responsabilidade pelo médico e sempre com o devido esclarecimento ao paciente, garantindo que ele esteja bem-informado sobre o procedimento”, destacou a Anvisa.

USO INDISCRIMINADO

A retenção do receituário de canetas emagrecedoras já era defendida por entidades da área da saúde, incluindo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Sociedade Brasileira de Diabetes e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.

Em nota aberta, as entidades citam que o uso indiscriminado desse tipo de medicamento gera preocupações quanto à saúde da população e ao acesso de pacientes que realmente necessitam desse tipo de tratamento.

“A venda de agonistas de GLP-1 sem receita médica, apesar de irregular, é frequente. A legislação vigente exige receita médica para a dispensação destes medicamentos, porém não a retenção da mesma pelas farmácias. Essa lacuna facilita o acesso indiscriminado e a automedicação, expondo indivíduos a riscos desnecessários”, destacou o documento.

Fonte: Agência Brasil

domingo, 22 de junho de 2025

Inchaço nas pernas pode ser lipedema: veja outros sintomas








Doença crônica pode ser controlada com hábitos saudáveis   

Como muitas pessoas, a professora Kallyne Cafuri Alves acabou ganhando alguns quilos durante o isolamento social da pandemia de covid-19. Ela voltou a se alimentar melhor e a fazer exercícios depois que as medidas sanitárias afrouxaram, mas o peso extra não ia embora, especialmente nas pernas.

"Elas ficavam sempre muito inchadas, com um aspecto feio, e eu sentia muita dor. É como se eu estivesse vestindo uma calça jeans grossa, bem molhada", lembra Kallyne, que mora em Vitória, no Espírito Santo.

Um dia, a professora pegou carona com uma aluna que, casualmente, comentou que precisava ser muito cuidadosa com os exercícios e a alimentação, porque tinha lipedema, uma doença que causa excesso de gordura nas pernas, dor, inchaço e outros sintomas. "Ela falou tudo que eu sentia!", recorda Kallyne. Foi quando sua ficha caiu.

Depois de receber o diagnóstico de um especialista, ela reavaliou sua vida, e percebeu que sempre sentiu dores estranhas nas pernas. Além disso, finalmente entendeu porque elas passaram a ter um aspecto diferente, "como uma casca de laranja", conforme Kallyne crescia. A professora também se deu conta de que não estava sozinha:

"Minha mãe e minha avó, que já faleceu, sempre se queixaram da aparência das pernas delas e, analisando hoje, claramente elas tinham um edema".

ORIGEM GENÉTICA

De acordo com o médico especialista em Cirurgia Vascular e Endovascular, Vitor Gornati, o lipedema foi descrito pela primeira vez na década de 1940, mas só passou a receber mais atenção de pesquisadores e especialistas há cerca de 10 anos. Estima-se que de 10% a 12% das mulheres brasileiras tenham a doença em algum nível, complementa Gornati, que também é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

"Em 99% das vezes, o lipedema acomete mulheres, porque é uma doença que está, de certa forma, relacionada ao estrogênio, que é um hormônio feminino. Então, ela acomete lugares onde a pessoa tem mais esse receptor específico de estrogênio, o que faz a gordura crescer. E é uma doença de origem genética. Na grande maioria das vezes, a gente identifica que alguém na família também tem ou tinha lipedema", explica Gornati.

O especialista também confirma a percepção de Kallyne e diz que o lipedema costuma dar alguns sinais já na adolescência, mas eles, geralmente, passam despercebidos.

"O lipedema é uma doença inflamatória crônica e progressiva. Então, às vezes, na adolescência, a pessoa já percebe que tem a perna uma pouco mais grossinha, com um aspecto um pouco diferente. Ao longo da da vida, passa uma gestação, tem um ciclo de ganho de peso ou de perda de peso, e a doença aparece. Geralmente, é como se você tivesse um corpo em cima e outro corpo embaixo. E, quando você emagrece, perde gordura no rosto, na cintura... mas as pernas, coxa, glúteo e, muitas vezes, a parte superior no braço não emagrecem na mesma proporção"

Gornati acrescenta que a pessoa com lipedema também têm mais facilidade de sofrer lesões vasculares, ou seja, desenvolver hematomas à menor pressão. Uma pesquisa recente conduzida pelo Centro Médico da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, com mais de 900 pessoas, mostrou que as mulheres com lipedema têm 11 vezes mais prevalência de varizes.

"É uma doença que acomete tudo o que a gente chama de tecido conjuntivo frouxo. Isso inclui a gordura, mas também os vasos e as articulações. E a pessoa com lipedema tem 30% mais dificuldade de ganhar massa muscular, que é o que ajuda a proteger essas articulações. Então, ela também tende a ter hipermobilidade, frouxidão ligamental, e, quando ganha peso, acaba sobrecarregando o joelho, o quadril. Com o tempo, pode desenvolver artrose ", complementa o médico.

Por enquanto, não há medicamento para o lipedema, e o tratamento costuma envolver dieta, exercícios físicos, massagens de drenagem linfática e liberação miofacial. Em casos extremos, é possível lipoaspiração das partes mais afetadas. Kallyne destaca a diferença que essas mudanças podem fazer:

"O meu desconforto só diminuiu por causa do tratamento que eu estou fazendo, mas, quando eu não faço exercício ou saio da minha dieta, a minha perna incha ao ponto de eu engordar 2 kg de um dia para o outro".

ESTIGMA

Após a melhora proporcionada pelo tratamento, Kallyne deseja fazer uma cirurgia plástica para retirar a pele excessiva que ficou após a perda de peso e a desinflamação do tecido adiposo. Ela torce para que novas pesquisas encontrem alternativas medicamentosas para tratar a doença.

"Eu acho que o desinteresse em pesquisas sobre a doença nas décadas passadas tem a ver com o machismo e a gordofobia. Inclusive, até hoje, muitas pessoas não procuram ajuda, porque ainda existe essa ideia na sociedade de que a pessoa está assim porque não se esforça o suficiente, não faz dieta, não faz exercício... Ainda mais sendo uma doença de mulheres".

O médico Vitor Gornati, concorda: "Eu tenho inúmeras pacientes que falam: 'Nossa, eu sofro com essa perna há 20 anos e ninguém nunca me disse que isso tinha um nome'. Tem paciente que chega a chorar no consultório, de alívio, porque, antes, elas realmente achavam que estavam daquele jeito por culpa delas, por estarem fazendo alguma coisa de errado. Ainda mais sendo uma condição relacionada à gordura, que tem todo um estigma".

Fonte: Agência Brasil

sábado, 21 de junho de 2025

Quatro em cada 10 brasileiros já foram alvo de fraudes pela internet

 











Dados são de pesquisa de empresa de dados e tecnologia

Um levantamento feito para o relatório semestral Global de Tendências de Fraude Omnichannel da TransUnion mostrou que 40% dos brasileiros já foram alvo de fraudes por e-mail, internet, telefone ou mensagens de texto e 10% dos pesquisados disseram ter caído nos golpes. As perdas atingiram uma média de R$ 6.311.

Os dados mostram ainda que 53% dos entrevistados globalmente foram alvo de esquemas fraudulentos por canais como e-mail, internet, telefone e mensagens de texto entre agosto e dezembro de 2024. E ao menos 47% dos entrevistados disseram não reconhecer que foram alvos desses golpes.

Segundo o levantamento, o golpe mais relatado é o vishing, quando os criminosos realizam ligações telefônicas simulando representar empresas legítimas, como operadoras de celular, planos de saúde ou instituições financeiras, para induzir a vítima a fornecer dados confidenciais, como senhas bancárias, números de cartão de crédito, CPF, entre outras informações pessoais.

Pelo menos 29% dos entrevistados (13.387 adultos em 18 países e regiões) relataram prejuízos financeiros em decorrência de golpes no último ano, com uma perda média de US$ 1.747, o que equivale a R$ 10.683, na cotação do dia da pesquisa.

A Geração Z, os nascidos entre 1997 e 2010, foi a que mais relatou perdas (38%), enquanto os Baby Boomers,os nascidos entre 1946 e 1964, foram os que menos relataram (11%) perdas.

"A evolução das fraudes exige que as empresas estejam sempre um passo à frente, inclusive ajudando a conscientizar sobre golpes como o vishing. É importante destacar que, assim como em outros golpes de engenharia social, o objetivo final dos fraudadores é obter informações ou acessos privilegiados para cometer fraudes financeiras", explicou o gerente de Soluções de Prevenção à Fraude da TransUnion Brasil, Wallace Massola.

O estudo também revelou que houve o aumento de 11% nas transações financeiras suspeitas de tentativa de fraude digital em 2024, na comparação com 2023. Entre os tipos de fraude digital com crescimento mais acelerado a invasão de conta foi o mais relatado, com aumento de 20% ante o ano anterior.

Segundo Massola, com os modelos de prevenção a fraudes transacionais se tornando cada vez mais eficazes após anos de aprimoramento, os fraudadores têm mudado seu foco para processos de invasão de contas.

“Esse tipo de fraude representa um desafio crescente para as empresas. Para enfrentar essa ameaça, é essencial investir em tecnologias avançadas de monitoramento e autenticação, além de considerar soluções robustas de avaliação de risco de dispositivos e behaviour analytics", disse.

O índice de fraude digital do Brasil foi de 5,4% em 2024, acima da média global, ficando ao lado de países como Canadá, Colômbia, República Dominicana, Hong Kong, Índia e Filipinas.

A taxa média de tentativas suspeitas de fraude em transações realizadas por consumidores dentro do Brasil foi de 6,1% em 2024, a sexta mais alta entre os quase 20 mercados analisados.

De acordo com o documento, 59% dos consumidores entrevistados afirmaram que trocariam de empresa em busca de uma experiência digital melhor, incluindo segurança de dados. Para 77% dos entrevistados, ter confiança de que seus dados pessoais não serão comprometidos é um fator muito importante na hora de escolher com quem fazer negócios ou comprar online.

O relatório aponta ainda que 34% dos entrevistados no mercado global realizaram mais da metade de suas transações pela internet (mesmo percentual de 2023). Outros 62% afirmaram que preocupações com fraudes são o principal motivo para não voltarem a usar um site. Quase metade (48%) relatou ter abandonado um carrinho de compras online por suspeita de fraude ou preocupações com segurança.

No caso de aplicações para obter produtos financeiros ou de seguros feitas online, a maioria (51%) das pessoas disse ter desistido por razões que envolvem tanto segurança quanto experiência na jornada de compra, com 46% desistindo após excesso de informações solicitadas, 41% por não confiarem na segurança dos dados pessoais e 38% por acharem o processo frustrante.

No Brasil, 40% das pessoas disseram que não confiaram na segurança dos dados ou consideraram excessivo o volume de informações exigidas e, por isso, deixaram de comprar ou contratar um serviço online.

“Proteger os dados dos consumidores é inegociável. Com o aumento dos riscos em todos os canais, o investimento em prevenção à fraude é estratégico e se torna um dos grandes diferenciais competitivos. Tanto para reduzir atritos desnecessários com o consumidor quanto para evitar impactos reputacionais para as organizações”, ressaltou o vice-presidente de Soluções da TransUnion Brasil, Claudio Pasqualin.

Segundo a pesquisa, ambientes de comunidades, como sites de relacionamento e fóruns virtuais, registraram a maior taxa global de tentativas suspeitas de fraude digital em 2024, com quase 12%, o que significa um aumento de 9% no volume em relação a 2023. Em seguida, aparecem os jogos eletrônicos (11%), jogos online como apostas e pôquer (8%) e o varejo (8%), completando o ranking dos segmentos mais afetados. No Brasil, as comunidades também foram o segmento com a maior taxa de suspeita de fraude digital, com 15,2%.

Massola explicou que os fraudadores aproveitam a confiança inerente às plataformas de interação social, como aplicativos de relacionamento, para enganar os usuários, criando perfis falsos e construindo um relacionamento aparentemente genuíno, manipulando emocionalmente as vítimas.

“Uma vez conquistada a confiança, os criminosos solicitam informações confidenciais ou dinheiro, alegando emergências ou situações pessoais difíceis. Esse método de exploração não apenas compromete dados privilegiados, mas também pode resultar em perdas financeiras significativas para aqueles que acreditam estar seguros nas comunidades online", alerta Massola.

Fonte : Agência Brasil

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Vacinação melhora, mas ainda enfrenta desafios no Brasil

 







Curvas de imunização indicam queda das taxas de cobertura desde 2015

Apesar das coberturas vacinais no Brasil estarem em rota de recuperação, as diferenças entre estados e municípios e os esquemas incompletos ainda são desafios que ameaçam a saúde pública brasileira. Essas são as principais conclusões do Anuário VacinaBR, produzido pelo Instituto Questão de Ciência (IQC), em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

A publicação mostra que, em 2023, nenhuma vacina infantil do calendário nacional atingiu a meta de cobertura em todos os estados. O destaque negativo ficou com os imunizantes que protegem contra a poliomielite, meningococo C, varicela e Haemophilus influenzae tipo B – nesses casos, nenhum estado vacinou 95% do público-alvo, porcentagem necessária para evitar a transmissão dessas doenças.

Além disso, apenas 1.784 municípios, ou menos de 32% dos mais de 5.570 existentes no Brasil, conseguiram cumprir a meta de cobertura para quatro vacinas considerados prioritárias: pentavalente, poliomioliete, pneumo-10 e tríplice viral. O melhor desempenho foi o do Ceará, onde 59% das cidades imunizaram o público-alvo. No Acre, porém, apenas 5% dos municípios alcançaram a marca.

"Saúde é competência concorrente da União, dos estados e dos municípios. O problema da imunização não pode ser atacado de maneira uniforme, porque a gente vive em um país de dimensões continentais que tem desafios muito específicos. E a gente viu, no Anuário, que às vezes tem municípios adjacentes, com condições muito parecidas, mas com taxas de imunização muito diferentes", alerta o diretor executivo do IQC e organizador do Anuário VacinaBR, Paulo Almeida.

Mesmo a vacina BCG, que protege contra formas graves de tuberculose e deve ser tomada logo após o nascimento – por isso, muitas vezes, é aplicada ainda na maternidade – só alcançou a meta de cobertura em oito unidades federativas. Em 11 estados, a taxa de imunização ficou abaixo de 80%, alcançando menos de 58% dos bebês no Espírito Santo. Dentro de todos os estados, há cidades que vacinaram 100% do público-alvo e outras que não imunizaram nem a metade.

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabela Balallai, também destaca o protagonismo dos gestores municipais para aplicar as recomendações do Ministério da Saúde e a necessidade de seguir o planejamento estadual, conforme as realidades locais. Isabela lembra que o maior combustível para a hesitação vacinal é a baixa percepção de risco, quando as pessoas não sabem, ou não dão valor para o perigo das doenças preveníveis por vacina.

"O acesso também é um grande problema no Brasil. Temos 38 mil salas de vacinação, país nenhum tem isso. Mas se a pessoa vai ao posto e recebe uma informação errada, ela não volta. Se só funciona em horário comercial, e ela trabalha, ela não consegue levar os filhos. Se ela vai num dia, e a vacina acabou, ela não vai consegui voltar em outro dia. A falta de informação, somada à baixa percepção de risco é igual à não vacinação", acrescenta a diretora da Sbim.


Abandono

De maneira geral, as curvas de vacinação no Brasil indicam diminuição das taxas de cobertura desde 2015, com queda mais brusca em 2021 e movimento de recuperação em 2022 e 2023. Já as porcentagens de abandono, quando a pessoa recebe a primeira dose, mas não completa o esquema vacinal, mantêm-se estáveis desde 2018.

Um exemplo é a vacina tríplice viral. Em 2023, a maior parte do país vacinou entre 80 e 85% do público-alvo e apenas quatro estados atingiram a cobertura ideal na primeira dose: Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia. O índice de aplicação da segunda dose não chegou a 50% em 14 estados, e a meta não foi atingida em nenhuma unidade federativa.

A tríplice viral previne contra o sarampo, a caxumba e a rubéola e deve ser tomada aos 12 e aos 15 meses de idade (sob a forma da vacina tetraviral, que também protege contra a varicela). Todas essas doenças podem desenvolver quadros graves e até provocar a morte, especialmente em crianças pequenas.

Atualmente, há surtos de sarampo em diversos países, e cinco casos isolados foram registrados no Brasil este ano. "As pessoas precisam saber que quem não completa o esquema vacinal continua desprotegido contra aquela doença", adverte Isabela Ballalai.

O diretor executivo do IQC e organizador do Anuário VacinaBR, Paulo Almeida, afirma que é preciso reconhecer que estratégias que deram certo no passado não são suficientes para enfrentar os desafios atuais: "A campanha hoje, por exemplo, não tem o mesmo peso por muitos motivos. Um deles é que as vozes são muito difusas. Antes, havia canais oficiais de comunicação com a população. Hoje, com a internet, temos infinitos canais de comunicação; então, é mais difícil acessar pela via direta da campanha."

Almeida ressalta, porém, que há novas ferramentas disponíveis. "Lembretes por SMS, por exemplo, conseguem melhorar muito a taxa de cobertura, porque a pessoa é cutucada para ir lá no posto. Porque ela sabe que é necessário, ela até quer até fazer, mas eventualmente o ritmo de vida interfere, e ela não consegue. Ou também a conveniência, que é superimportante: ter pontos de vacinação abertos em horários em que o cuidador pode levar a criança pra se imunizar.

Isabela Ballalai também defende o uso constante das escolas como ponto de vacinação e de educação sobre vacinas.

"A escola é capaz de combater os principais pontos da hesitação vacinal. Primeiro ponto: acesso. Os responsáveis não têm que levar ninguém a lugar nenhum, a criança, ou adolescente, já está ali. Segundo: informação. Explicar para a comunidade escolar porque é importante vacinar e que está tendo campanha, porque, às vezes, as pessoas não estão nem sabendo. Terceiro: a escola pode ser o caminho para as autoridades de saúde chegarem e se comunicarem com as famílias, e saberem qual a situação vacinal delas."

Fonte:Agência Brasil

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Gripe aviária pode ser transmitida entre humanos? Pode afetar carne de frango? Pode virar pandemia? Pesquisador do Butantan responde

 











Não há até o momento notificação de caso de transmissão entre pessoas, mas mutações constantes do vírus aumentam chance de isso ocorrer; veja essa e outras respostas
Apesar de a gripe aviária não ser transmitida de humano para humano atualmente, a circulação contínua dos vírus e sua transmissão entre aves, mamíferos e alguns casos em humanos, juntamente com o seu potencial de mutação, são fatos preocupantes que requerem medidas preventivas e uma preparação em caso de disseminação do vírus entre pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O que é a gripe aviária e o significa potencial pandêmico

A gripe A (H5N1) é causada por um vírus aviário da influenza que está se espalhando rapidamente no mundo, causando a morte de milhões de animais e sintomas graves, que podem levar à morte de humanos. No momento, não há transmissão confirmada deste vírus em pessoas. Porém, se alguma linhagem se modificar a ponto de tornar possível a transmissão entre humanos, há um risco real de pandemia.

“O vírus de influenza A(H5N1) está sendo transmitido de aves para aves, de aves para mamíferos, de mamíferos para mamíferos, de aves para humanos e mamíferos para humanos. Só não vimos ainda a transmissão de pessoa para pessoa, mas existe um potencial do vírus adquirir essa capacidade, o que é muito perigoso porque aumenta o risco de uma pandemia”, afirma o pesquisador científico e gerente de Desenvolvimento e Inovação de Produtos do Butantan, Paulo Lee Ho.

A OMS ainda considera baixo o risco de uma pandemia em humanos, sobretudo pelo número de casos notificados nos últimos 20 anos no mundo e pela avaliação de risco de sua ferramenta conhecida como TIPRA (Tool for Influenza Pandemic Risk Assessment - Ferramenta para Avaliação de Risco de Pandemia de Influenza).

De 2003, quando o vírus foi detectado pela primeira vez, até 27 de maio de 2025, a OMS registrou 976 casos de infecção humana em 25 países; destes, 13 casos e cinco mortes ocorreram em 2025. Do total de 976 casos, 470 foram fatais, o que confere uma taxa de letalidade de 48,2%.

“Apesar de a OMS considerar o risco baixo, nós nunca sabemos quando a transmissão entre humanos pode começar. Por isso, temos que nos preparar caso aconteça”, ressalta Paulo Lee Ho.

A linhagem de gripe A(H5N1) surgiu pela primeira vez em 1996 e tem causado surtos em aves desde então. Desde 2020, uma variante desses vírus levou a um número sem precedentes de mortes em aves selvagens e aves domésticas em muitos países. Depois de afetar a África, Ásia e Europa, em 2021, o vírus se espalhou para a América do Norte e, em 2022, para a América Central e do Sul.

De 2021 a 2022, a Europa e a América do Norte observaram a maior e mais extensa epidemia de gripe aviária com persistência incomum do vírus em populações de aves selvagens. Desde 2022 há relatos crescentes de surtos mortais entre mamíferos, também causados por vírus influenza A/H5 – incluindo influenza A (H5N1).

No Brasil, até o momento, não foi registrado nenhum caso da doença em humanos, embora o país já tenha registrado e controlado alguns focos em aves silvestres e em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).

Dentro deste contexto, o pesquisador Paulo Lee Ho esclarece dúvidas sobre o vírus e o que o Butantan vem estudando para preparar uma vacina contra a doença.

1- O que é a gripe aviária?

A influenza aviária, conhecida mundialmente como Influenza A Viruses ou pela sigla IAV, é um tipo de gripe zoonótica (ou animal) que afeta sobretudo aves selvagens e domésticas, e que tem como agente responsável um ortomixovírus.

Todos os vírus influenza de aves e de muitos mamíferos são do tipo A. Eles são classificados em subtipos com base em diferenças antigênicas de duas proteínas de superfície: hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA). Existem pelo menos 16 subtipos de HA e 9 de NA reconhecidos como de origem aviária, que dão origem aos subtipos da influenza A H5N1, H9N2, H3N8, entre outros.

Os IAVs podem ser classificados pela categoria e subtipo de patogenicidade. Os vírus de alta patogenicidade (HPAI – Highly Pathogenic Avian Influenza, na sigla em inglês) H5 ou H7 são assim classificados a partir de um teste de virulência realizado em galinhas, conforme a capacidade do vírus de causar lesões severas e alta mortalidade. Os de subtipo H3N2 são considerados de baixa patogenicidade.

O A (H5N1) é um dos vários vírus da gripe que podem causar uma doença respiratória altamente infecciosa em aves. Infecções em mamíferos, incluindo humanos, também foram documentadas. A infecção pelo vírus da gripe A(H5N1) pode causar uma série de doenças em humanos, de leves a graves e, em alguns casos, pode até ser fatal.

2- O que causa uma pandemia de gripe?

Pandemias de gripe acontecem de tempos em tempos, justamente pelos vírus influenza serem altamente recombináveis, mutáveis e circularem nos hemisférios norte e sul do planeta. A OMS os monitora continuamente, e essas informações são utilizadas pelos produtores de vacina para atualizar os imunizantes de influenza sazonal todos os anos.

Como o vírus influenza aviário A/H5 está em constante evolução, ele tem potencial de se tornar transmissível de pessoa para pessoa, após cruzar a barreira de transmissão ave-humanos. Não se sabe se isso vai acontecer e nem quando.

Mas se ocorrer, pode dar início a uma nova pandemia de influenza – como foi o caso da gripe espanhola de 1918 e da gripe A(H1N1) de 2009, segundo a OMS – que pode ser avassaladora, devido à alta taxa de mortalidade do vírus.

3- Já vivemos outras pandemias de gripe?

Sim. Um milhão de pessoas em todo o mundo morreram em um surto de gripe em 1957, que começou na China, mas se espalhou globalmente. Em 1968, outro surto ceifou de 1 a 3 milhões de vidas no mundo. Em 2003, o ressurgimento da gripe A(H5N1) evidenciou como o vírus podia ser transmitido de animais para pessoas, mas não atingiu o estágio pandêmico: o vírus não conseguiu se transmitir de forma sustentável de pessoa para pessoa – o que ainda se mantém.

A última pandemia foi a de gripe A(H1N1) em 2009, debelada graças às vacinas, embora milhares de pessoas tenham morrido. A doença que não foi de origem aviária, ficou conhecida como “gripe suína”, começou no México e se espalhou rapidamente para mais de 214 países, territórios e comunidades ultramarinas. Estima-se que entre 105 mil a 395 mil pessoas tenham morrido.

Mas a pior pandemia de influenza da história foi a gripe espanhola, que infectou meio bilhão de pessoas no mundo em 1918 e matou mais de 50 milhões. A gripe ganhou este nome porque surgiu na Espanha, embora tenha se espalhado para outros países. Globalmente, o número de mortos superou o da Primeira Guerra Mundial, que foi de cerca de 17 milhões, em dados da OMS.

As pandemias mais recentes não foram tão mortais, devido aos avanços científicos referentes ao acesso a antivirais, vacinas, testes diagnósticos e técnicas modernas de vigilância. Mas, assim como acontece com muitas outras doenças, as pandemias de gripe afetam mais duramente as comunidades pobres e socialmente marginalizadas. Um estudo publicado na revista The Lancet, que analisou o impacto potencial de uma pandemia semelhante à de 1918 no mundo moderno, concluiu que "os países e regiões que menos podem se preparar para uma pandemia serão os mais afetados".

4- Há risco de a infecção ser passada de humano para humano?

As evidências disponíveis sugerem que os vírus da influenza A(H5) em circulação não adquiriram a capacidade de se transmitir eficientemente entre pessoas. Portanto, neste momento, a transmissão sustentada de pessoa para pessoa é considerada improvável.

Ainda que a ameaça zoonótica permaneça elevada devido à disseminação dos vírus entre aves, considera-se que o risco geral de pandemia associado à influenza aviária A(H5) não mudou significativamente em comparação com anos anteriores. A OMS recomenda aos países que permaneçam vigilantes e considerem medidas de mitigação para reduzir a exposição humana a aves e outros mamíferos potencialmente infectados, a fim de reduzir o risco de infecção zoonótica adicional.

5- Com os focos em aves no Brasil, há perigo em consumir carne de frango?

Não há perigo porque frango é um alimento que não se consome cru. O vírus não consegue sobreviver às altas temperaturas de cozimento. No entanto, recomenda-se evitar tocar em aves mortas ou se aproximar de aves e galinhas que pareçam doentes, ou seja, que estejam caídas ou espirrando. Nestes casos, é indicado chamar a autoridade sanitária local para fazer a remoção. Para pessoas que convivem ou trabalham em granjas, frigoríficos ou áreas rurais, é importante o uso de equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras no manuseio dos animais.
Como o vírus está atingindo outros animais, como mamíferos, inclusive vacas leiteiras, não se recomenda a ingestão de leite cru. O leite deve ser consumido fervido ou pasteurizado.

6- Como está o processo da vacina do Butantan?

O Butantan tem um estoque reserva de uma candidata vacinal contra gripe aviária A (H5N8) desenvolvida com cepas fornecidas pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.
Na prova de conceito, o antígeno e o adjuvante usados na candidata vacinal se mostraram eficazes para combater a doença. Estes resultados foram enviados à análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para um possível uso em pesquisa clínica.

O Butantan tem capacidade e expertise para fabricar o imunizante pelo fato de ele ser desenvolvido com a mesma plataforma da vacina da influenza sazonal, de vírus fragmentado e inativado, que o Instituto produz anualmente para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.

Apesar da vacina do Butantan conter o vírus influenza A(H5N8), ela protege também contra o vírus A (H5N1), devido ao fato de ambos apresentarem o componente H5 (Hemaglutinina 5) semelhante ou idêntico. Além disso, o Instituto desenvolveu e produziu em escala piloto o adjuvante IB160 que foi combinado com sucesso com o antígeno H5N8 na prova de conceito da vacina realizada em modelo animal, mostrando a necessidade do uso do adjuvante e protocolo de imunização de duas doses da formulação vacinal.

A produção em escala industrial do adjuvante está prevista para ser iniciada no final do ano e começo de 2026. Com isso, em caso de pandemia do vírus H5N1 circulante, o Instituto terá capacidade de produção do antígeno e do adjuvante para a formulação da vacina, representando uma possível autonomia do país na produção dos componentes vacinais.

Em 2018, o Instituto chegou a fazer estudo de fase 1 com uma outra vacina pandêmica de gripe aviária A (H7N9), em parceria com Organização Mundial de Saúde (OMS), com a Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (BARDA) e com o Instituto de Pesquisa em Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (IDRI), quando houve a transferência de tecnologia de produção do adjuvante IB160 ao Butantan.

Em virtude dos riscos da gripe A (H5N1), os estudos com as novas cepas de gripe A/H5 estão sendo realizados como forma de preparação para uma potencial pandemia envolvendo a cepa em circulação.

Fonte: Instituto Butantan