sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Veja as dicas para proteger crianças e adolescentes nas redes sociais

 
Especialistas entrevistados orientam pais, mães e responsáveis

As denúncias feitas pelo influenciador Felca Bress,  colocaram em foco os riscos que as redes sociais representam para crianças e adolescentes e como não há uma regulação sobre o uso de imagens de menores de idade nesses espaços virtuais. As cenas expostas por Felca chocaram e provocaram a reação do Congresso Nacional, da Presidência da República e de diversos setores da sociedade.

Especialistas entrevistados pela Agência Brasil orientam pais, mães e responsáveis sobre como proteger crianças e adolescentes em ambientes virtuais. Além disso, ressaltam o papel das escolas, da assistência social de outros equipamentos públicos na defesa dos direitos dessa parcela da população.

CLASSIFIÇÃO INDICATIVA

Segundo a escritora, palestrante e ativista pela erradicação da violência sexual e online, Sheylli Caleffi, é necessário conhecer e respeitar a classificação indicativa das plataformas. O Instagram, por exemplo, não é recomendado para menores de 16 anos. O Tiktok e o WhatsApp não devem ser usados por menores de 13 anos.

Os responsáveis devem garantir que as idades informadas estão corretas, uma vez que as próprias plataformas não pedem nenhum tipo de verificação. Além disso, devem observar as configurações, para impedir que qualquer pessoa tenha acesso ao perfil dos menores de 18 anos e que eles recebam mensagens de pessoas desconhecidas.
“Quando você decide dar acesso aos seus filhos nos ambientes digitais, você precisa também olhar a configuração daquilo que você escolheu dar acesso”, diz.
“O ideal é uma conta privada se existe qualquer imagem de criança. E, obviamente, os adolescentes, quando tiverem a idade de começarem a ter as contas, têm que ter suas contas privadas, também, para que só acessem conteúdo as pessoas selecionadas por eles”.

De acordo com a pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 93% da população brasileira, de 9 a 17 anos, são usuárias de internet, o que representa 24,5 milhões de pessoas. A pesquisa TIC Kid Online mostra ainda que 83% desses adolescentes têm perfil próprio nas redes sociais. Além disso, 30% relataram que tiveram contato com alguém online que não conheciam pessoalmente.

CUIDADOS AO POSTAR FOTOS

Mesmo que as crianças não tenham contas em plataformas digitais, Caleffi alerta que os próprios familiares podem colocá-las em risco quando postam fotos ou vídeos delas nos próprios perfis.

“Não são redes sociais, são redes de comércio. Tudo que está lá é para vender. A gente tem que perder essa ideia ingênua de que a rede social é um álbum de foto”, diz.


“Algo que é bacana, até sagrado para muita gente, é erotizado por outras pessoas. Então você tem que imaginar que quando você coloca uma imagem em um local visitado por bilhões de pessoas e por muitos, muitos criminosos, aquilo pode ser tirado facilmente do contexto”, acrescentou.

Isso deve ser levado em consideração por qualquer pessoa que decida divulgar a imagem de uma criança. “Ao divulgar conteúdo com crianças e adolescentes, primeiro você tem que garantir que você é o responsável legal por essa criança. Se eu sou avó, eu não sou responsável legal por essa criança. Se eu sou tio, eu não sou responsável legal. Se eu sou o professor, eu também não sou”, orienta.

Para Caleffi, “ninguém, fora os responsáveis legais pela criança, pode decidir se essa criança terá qualquer imagem exposta nesses ambientes comerciais que são as plataformas digitais”, ressalta.

No entender da ativista, qualquer conta que tenha imagens de crianças ou adolescentes, mesmo que seja de um adulto divulgando as fotos do filho, deve ser fechada. Isso fará com que apenas pessoas autorizadas possam ter acesso aos conteúdos.

ADULTIZAÇÃO DENTRO E FORA DAS REDES

As denúncias de Felca evidenciaram também o papel das redes para a chamada adultização de crianças, ou seja, crianças e adolescentes colocados em contextos de adultos. Segundo Caleffi, isso ocorre nas redes e também fora delas e podem causar enormes danos psicológicos.

“Muitas coisas adultizam a criança e podem fazer parecer que a sexualização precoce é algo comum. Roupas muito ousadas para a idade, crianças usando maquiagem, usando elementos que são de adultos. Muitas crianças pequenas estão se maquiando, a gente tem problemas de crianças com 9, 10 anos fazendo dieta. Crianças de 4 anos insatisfeitas com o próprio corpo. Onde é que ela está vendo isso?”, indaga.

Para além da exposição na internet, a moderação dos responsáveis sobre o que é acessado é fundamental para que não se tenha contato a conteúdos que possam ser danosos à formação.

“Os pais podem também, além de ter uma conversa muito franca com as crianças sobre quais são os perigos, quais são os riscos, combinar que vai olhar o que está fazendo no grupo do WhatsApp, com quem está conversando. Pode também baixar um aplicativo de mediação parental”, recomenda.

Conforme Caleffi, esse tipo de aplicativo permite, por exemplo, que os responsáveis controlem o tempo que crianças e adolescentes passam diante da tela, permitem o rastreamento da localização deles e produzem relatórios do que estão acessando nos dispositivos eletrônicos.

ALÉM DAS FAMÍLIAS

A professora associada do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Vládia Jucá, destaca que além do papel das famílias, o cuidado das crianças e adolescentes cabe ao poder público e à sociedade em geral, como está previso em lei, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

“A gente tem um conjunto de setores e de equipamentos que, articulados, compõem a Rede de Assistência e de Proteção a Crianças e Adolescentes. Essa rede, tanto tem uma função protetiva e de atuação antes da criança e do adolescente se encontrar em uma situação de risco, como também pode ser acionada quando já está numa situação de risco”, ressalta Jucá, que é uma das autoras do Guia para a articulação entre as escolas e a Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente.

Essa rede envolve escolas – onde as crianças passam grande parte do tempo -, equipamentos de saúde, de assistência social, Justiça, Ministério Público, entre outros. Todos eles devem atuar em conjunto para garantir a proteção das crianças e adolescentes. Ou seja, caso a escola identifique a criança está passando por algum problema, a assistência social deve estar pronta para acompanhar o caso, assim como a Justiça, se for necessário.

Ela explica que as redes de assistência devem atuar onde as crianças e adolescentes estão, onde estudam, onde brincam, onde circulam e isso inclui a atuação na internet. “Inclusive ajudando as famílias, no sentido de fazer com que as famílias possam entender o que é esse espaço virtual, que muitas vezes é utilizado pelas famílias como um espaço de ‘olha como meu filho é lindo, né? Olha como meu filho é sábio’, como se fosse assim um álbum de retratos. Sem uma noção exata de que aquilo ali cai no domínio público e que essas imagens podem ser utilizadas das mais diversas formas”, diz.

ESPAÇOS DE ESCUTA

Segundo a professora, além de regular a atuação das próprias plataformas digitais, empresas de tecnologia e redes sociais, o país precisa fortalecer as redes de assistência e os equipamentos públicos, que enfrentam, muitas vezes, falta de infraestrutura e carência de profissionais.

“A gente ainda precisa caminhar, e isso é para ontem, com essa regulação das redes, das big techs, das plataformas. Mas não desconsiderar, nem perder de vista, que a educação tem um lugar importante, que a saúde tem um lugar importante e todos esses equipamentos onde crianças e adolescentes circulam, são escutados, onde se fala com eles, todos esses espaços são espaços de construção dessa proteção integral”, diz.

>>Câmara vai pautar projeto contra ‘adultização’ de crianças nas redes

Ela ressalta ainda que, em todos esses ambientes, é preciso escutar atentamente as crianças e adolescentes, até mesmo para que se possa identificar se estão passando por algum problema, por alguma situação de violência.

“Eu trabalho muito com a adolescente. E uma coisa que os adolescentes falam muito é o quanto eles são pouco escutados”.

DENÚNCIAS

Para denunciar situações de abuso ou exploração de crianças e adolescentes, além de outras violações dos direitos humanos, ligue 100 de telefones fixos ou celulares. O Disque 100 é um serviço telefônico gratuito, disponível 24 horas por dia.

Fonte: Agência Brasil

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Plataformas devem remover propagandas de cigarros eletrônicos em 48h

 
Sites notificados têm dez dias úteis para relatar ações adotadas

Sites de comércio online e redes sociais têm 48 horas, desde a última terça-feira (19), para remover anúncios de venda e conteúdos sobre cigarros eletrônicos, como são popularmente conhecidos os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs). Estes produtos não podem ser comercializados e a legislação brasileira proíbe a publicidade desse tipo de produto.

A remoção dos conteúdos ilegais foi determinada pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e aos Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP).

As plataformas digitais YouTube, Facebook, Instagram, Mercado Livre e outros sites de e-commerce já foram notificados por este conselho nacional.

MEDIDAS

As empresas notificadas deverão apresentar, em até dez dias úteis, o relatório de providências adotadas. O documento deve registrar as remoções, bloqueios de contas, métricas de moderação e novos controles.

O CNCP também solicitou esclarecimentos formais ao YouTube sobre a alegação de que vídeos de promoção ou instrução de compra de dispositivos eletrônicos para fumar poderiam permanecer publicados para maiores de 18 anos.

Em nota, o MJ explicou que a idade declarada “não legaliza um produto proibido ou permite sua propaganda para o consumidor” no Brasil.

Em caso de descumprimento, poderão ser adotadas medidas administrativas cabíveis e feitos encaminhamentos às autoridades competentes.

]MONITORAMENTO FEDERAL


Esta não é a primeira vez que a secretaria tenta coibir o comércio ilegal e novas publicações irregulares destes produtos no ambiente digital.

Em abril, o MJSP notificou YouTube, Instagram, TikTok, Enjoei e Mercado Livre para remover, em 48 horas, conteúdos de promoção e venda de cigarros eletrônicos, com reforço de moderação e prevenção, entre outras medidas para coibir práticas ilícitas que colocam em risco a população que consome os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), também chamados de vape, pod, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar e heat not burn (tabaco aquecido).

Em nota, o titular da Senacon, Wadih Damous disse que o governo federal tem o compromisso de garantir que a legislação brasileira seja cumprida no ambiente online.

“Estamos atuando de forma contínua e firme para coibir a comercialização e a divulgação de produtos proibidos no Brasil.”

MEDIDAS PROIBITIVAS


A Senacon reforça que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) manteve proibidas, em abril do ano passado, a fabricação, a importação, a comercialização, a distribuição, o armazenamento, o transporte e a propaganda de todos os dispositivos eletrônicos para fumar no Brasil.

A Resolução da Diretoria Colegiada da agência reguladora também reforça a proibição de seu uso em recintos coletivos fechados, público ou privado.

Saiba mais sobre os cigarros eletrônicos e detalhes sobre as medidas adotadas no Brasil desde 2009, no site da Anvisa.

Fonte: Agência Brasil

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Vacinas da dengue, gripe aviária e influenza para idosos do Butantan são incluídas em programa federal de incentivo à inovação

 

Projetos aprovados no PDIL, do Ministério da Saúde, envolvem a fabricação com tecnologia e inovação nacional e contribuem para o fortalecimento da ciência brasileira

O Butantan teve três novos projetos para desenvolvimento de vacinas aprovadas no Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL), iniciativa do Ministério da Saúde que visa promover a inovação e o desenvolvimento de soluções tecnológicas e produtivas para o Sistema Único de Saúde (SUS). Os projetos contemplados envolvem o desenvolvimento e a produção das vacinas da dengue, gripe aviária e Influenza adjuvada. Essa é a primeira vez que o Governo Federal cria uma política nacional de apoio à pesquisa de inovação tecnológica, a fim de estimular o Complexo Econômico-Industrial da Saúde e de Inovação com impacto no SUS.

A partir do PDIL, esses imunizantes ganham apoio para serem desenvolvidos e fabricados com tecnologia e inovação nacional. “O programa reconhece a capacidade tecnológica do Butantan, que passa a ter estímulo e condições de desenvolver essas vacinas, criando competência interna e nacional em temas de desenvolvimento clínico, produção, escalonamento e inovação”, resume o diretor de Inovação e responsável pelo escritório de Inovação e Licenciamento de Tecnologia do Instituto Butantan (EILT), Cristiano Gonçalves.

Por meio do PDIL, o Butantan recebe apoio para a pesquisa de projetos de interesse da saúde pública e o desenvolvimento e a produção de imunobiológicos ainda inexistentes no mercado, mas que são de interesse do SUS. Dessa forma, a vocação do Butantan de desenvolver pesquisa e inovação de ponta como as vacinas, é fortalecida. Em contrapartida, as tecnologias que são desenvolvidas por meio desse programa são direcionadas para a criação de soluções inovadoras que serão ofertadas ao SUS.

Por meio do programa, o Butantan conseguirá aprimorar a vacina Influenza que é distribuída gratuitamente à população pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). A nova versão tem a mesma composição antigênica da Influenza sazonal, com os três tipos de vírus da gripe mais circulantes no ano anterior. A diferença é que ela ganha o acréscimo de um agente adjuvante, também desenvolvido pelo Instituto, que aumenta a resposta imune no organismo de pessoas com mais de 60 anos.

Um dos projetos aprovados é a vacina Influenza adjuvada para a população 60+

Em relação à vacina da dengue (Butantan-DV) – que está nas etapas finais de aprovação junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) –, o PDIL vai contribuir para que o Instituto aumente sua capacidade bioindustrial e vai apoiar a realização de ensaios clínicos que vão avaliar a extensão da faixa etária para o público acima de 60 anos, bem como a administração conjunta com a vacina Chikungunya.

Já a nova vacina Influenza pré-pandêmica, também aprovada dentro no PDIL e que está em desenvolvimento no Butantan desde março de 2024, surge da necessidade de manter um estoque estratégico nacional para o enfrentamento de uma possível pandemia de gripe aviária. A vacina será uma das primeiras no mundo a utilizar a cepa de vírus H5N8. “Vamos iniciar os estudos em humanos deixando todas as etapas de desenvolvimento de produto prontas. Com o produto desenvolvido e testado, conseguiremos produzir a vacina de maneira rápida e eficaz para a aplicação nas pessoas, em caso de um eventual surto”, destaca Cristiano.

De acordo com o diretor de inovação, nos últimos anos o Butantan tem direcionado esforços para se tornar referência na resposta rápida a emergências de saúde. São prova disso a vacina da dengue, que surgiu a partir do aumento de casos de dengue em 2015, e atuação do Instituto no combate à pandemia de Covid-19.

Além dos projetos da vacina da dengue, da influenza adjuvada e da influenza pré-pandêmica, o Butantan está em articulações para incluir no PDIL outras iniciativas, que também foram submetidas ao Ministério da Saúde.

Vacina da dengue, também contemplada no PDIL, está em reta final de aprovação pela Anvisa

Sobre o PDIL e a inovação no Butantan

Os objetivos do PDIL, que foi criado em 2024 pelo Ministério da Saúde, são promover a produção industrial voltada à saúde no Brasil; induzir e fomentar o desenvolvimento e a inovação nacional para ampliar o acesso à saúde e reduzir a vulnerabilidade tecnológica do SUS; promover a capacitação de instituições científicas e produtores públicos, entre outros agentes, e contribuir para a transformação digital e ecológica.

Os projetos a serem avaliados pelo programa devem estar alinhados à Matriz de Desafios Produtivos e Tecnológicos em Saúde do Ministério da Saúde.

Fonte: Instituto Butantan

domingo, 17 de agosto de 2025

Especialistas alertam que crianças não podem ser "produto" das redes

 


Eles defendem regulação das plataformas para proteger infância

O debate sobre o uso das redes sociais por crianças e a circulação de conteúdos que exploram a imagem de menores de idade ganharam enorme repercussão nos últimos dias após as denúncias feitas pelo influenciador Felca Bress. Para especialistas entrevistados pela Agência Brasil, é preciso determinar regras claras para as redes sociais e plataformas para combater a exploração de crianças e adolescentes online.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou que vai enviar ao Congresso Nacional, nesta quarta-feira (13), uma proposta para regulamentação das redes sociais.

Segundo especialistas, para gerar lucro, as redes sociais incentivam que as pessoas exponham as próprias vidas cada vez mais, sem se responsabilizar pelos riscos ou mesmo pelos crimes cometidos nos ambientes virtuais. É preciso, portanto, ter leis e dispositivos que regulamentem a atuação das empresas de tecnologia.

“As plataformas de redes sociais precisam ter limites do que é possível explorar comercialmente. Explorar a infância adultizada, sexualizada, exposta sem nenhum tipo de cuidado, não é, em lugar nenhum, aceitável como modelo de negócio”, defende o psicólogo e especialista em educação digital no Instituto Alana, Rodrigo Nejm.

“A gente não pode permitir usar a criança como um produto comercial”, acrescenta.

O influenciador Felca tem exposto perfis com milhões de seguidores nas redes sociais que divulgam imagens de menores de 18 anos com pouca roupa, dançando músicas sensuais ou falando de sexo em programas divulgados nas plataformas digitais. O influenciador mostra também como as próprias plataformas, por meio de algoritmos, incentivam a divulgação desses conteúdos.

Nejm ressalta que, ao impulsionar esse tipo de conteúdo, as plataformas fazem com que eles cheguem a mais pessoas e abrem a possibilidade para o ganho financeiro de quem os divulga. Dessa forma, a lógica do engajamento acaba fazendo com que famílias e as próprias crianças se exponham cada vez mais em busca dos likes, dos comentários e dos compartilhamentos.

“Há um convite constante para exposição desse tipo de comportamento e quanto mais esdrúxulo, quanto mais erotizado, quanto mais chocante é o conteúdo, mais atração esse tipo de conteúdo ganha nessas redes e, logo, mais dinheiro gera para as pessoas que expõem e para as empresas”, explica.

REGULAÇÃO

Para a coordenadora-geral de pesquisa do Netlab, laboratório de pesquisa da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Débora Salles, a regulação das plataformas é necessária não apenas para proteger crianças e adolescentes, mas toda a população, que está vulnerável a crimes nas redes sociais.

“A regulamentação ajuda a garantir que as plataformas vão ser responsabilizadas e vão agir. Elas têm capacidade técnica de moderar esse tipo de conteúdo, seja automaticamente, seja semi-automaticamente. Hoje em dia, como elas não são obrigadas, elas pouco fazem”, diz.
Projeto de lei

Diante da repercussão do assunto, o Colégio de Líderes da Câmara dos Deputados definiu, nesta terça-feira (12), que será criado um grupo de trabalho (GT), a partir da próxima semana, com o objetivo de elaborar um projeto de lei (PL) para combater a adultização de crianças e adolescentes nas redes sociais. O grupo terá até 30 dias para apresentar um texto sobre o tema.

Um dos textos sugeridos como base para o novo texto é o PL 2.628 de 2022, de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE). O projeto exige que as empresas criem mecanismos para evitar conteúdos com erotização de crianças, por exemplo. O texto prevê multas para as plataformas de até 10% do faturamento da companhia em caso de descumprir o que determina a legislação.

Nejm destaca a aprovação do PL 2.628/2022 como um mecanismo importante para regular e responsabilizar as plataformas. Ele ressalta que nem mesmo as famílias têm o direito de lucrar com a imagem de crianças e adolescentes. “Nem as famílias têm esse direito, porque o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe, tampouco as empresas de tecnologia têm o direito de fazer isso. Hoje já é considerado uma violação e a gente precisa de mais regulação. Por isso o PL é importante”, diz.

Nesta terça-feira (12), a Sociedade Brasileira de Pediatria solicitou à Câmara dos Deputados urgência na aprovação do PL. O texto já passou pelo Senado.

De acordo com a pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) , 93% da população brasileira de 9 a 17 anos é usuária de internet, o que representa 24,5 milhões de pessoas. A pesquisa TIC Kid Online mostra ainda que 83% desses adolescentes têm perfil próprio nas redes sociais.

Além disso, 30% relataram que tiveram contato com alguém online que não conheciam pessoalmente.

Sem moderação, crianças e adolescentes têm acesso a todo tipo de conteúdo presente nessas plataformas e estão expostas a abusos e exploração . A “adultização”, denunciada por Felca, é a exposição precoce de crianças a comportamentos, responsabilidades e expectativas que deveriam ser reservadas aos adultos.

“A adultização é um fenômeno que tem a ver com a exposição das crianças a situações que de alguma forma ameaçam a infância. É muitas vezes entendida como a questão da erotização, da sexualização, mas não só. A gente também pode listar influenciadores mirins que dão dicas de investimento em criptomoeda, por exemplo, ou fazem algum tipo de trabalho que de alguma forma afasta esses menores de idade do que a infância deveria ser”, enfatiza Débora.

Nessa lógica do engajamento, crianças têm acesso, desde muito cedo, a padrões estéticos e sociais inatingíveis. Passam a se comparar e a sentirem-se frustrados por não corresponderem às expectativas construídas nesses ambientes. Isso pode gerar impactos psicológicos e físicos, além de expô-los a criminosos.

“A forma como interpretamos o mundo vai sendo construída desde o início das nossas vidas. Desenvolvemos conceitos sobre nós mesmos, os outros e o mundo a partir da interação de aspectos genéticos, culturais, ambientais, físicos, familiares, de desenvolvimento e de personalidade”, explica o psicólogo Tiago Giacometti.

Na infância, enquanto deveria estar experimentando e descobrindo mais sobre sua própria personalidade, crianças e adolescentes estão sendo submetidos a verdadeiros tribunais online. “Isso pode impactar o desenvolvimento desse adulto, assim como a sua qualidade de vida e sua experiência em ambientes sociais, muitas vezes impactando outras pessoas”, acrescenta Giacometti.

REDES DE PEDOFILIA

Outro risco da exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais, sejam por publicações próprias ou feita por familiares, é que essas imagens e vídeos sejam usados por criminosos. Além da regulação das plataformas, os especialistas recomendam que as famílias redobrem o cuidado tanto do que é acessado, quanto do que é publicado.

Débora ressalta que as redes sociais não são um ambiente seguro. “O que a gente vê, muitas vezes, são famílias, pais, mães que acabam produzindo conteúdo, às vezes, de forma não intencional com essas crianças, que de alguma são ressignificados por redes de pedofilia. Então, se usa imagens, por exemplo, de crianças trocando fralda, crianças nadando, crianças brincando e isso acaba entrando em um buraco negro de crime”, diz a coordenadora-geral de pesquisa do Netlab.

“Os pais não têm noção de que tão colocando os seus filhos e seus familiares em risco, porque imaginam que aquilo ali é um ambiente seguro. Mas é importante reforçar que, hoje em dia, as redes sociais não são lugar seguro”, diz.

Débora recomenda que crianças e adolescentes não usem redes sociais ou mesmo a internet sem o monitoramento dos pais.

“Crianças precisam de um olhar atento e muito próximo para o que elas estão fazendo nas redes, porque elas acabam vítimas não só de pedofilia, mas às vezes envolvidas em redes de misoginia, de extremismo e de outros crimes. É importante que os pais entendam que assim como uma praça que você não deixa uma criança sozinha para fazer o que ela quer, nas redes sociais também é importante garantir que está de olho no que uma criança está fazendo”.

Fonte: Agência Brasil

sábado, 16 de agosto de 2025

Saiba como é o novo teste do SUS para detectar câncer de colo do útero

 
Tecnologia nacional permite rastrear a doença precocemente

A partir desta sexta-feira (15), o Ministério da Saúde passa a oferecer, via Sistema Único de Saúde (SUS), o teste de biologia molecular DNA-HPV, indicado para o rastreamento organizado do câncer de colo do útero.

A tecnologia detecta 14 genótipos do papilomavírus humano (HPV), identificando a presença do vírus no organismo antes da ocorrência de lesões ou de câncer em estágios iniciais, mesmo em mulheres assintomáticas.

Além de conferir maior sensibilidade diagnóstica, o teste reduz a necessidade de exames e intervenções desnecessárias, com intervalos maiores entre as coletas quando o resultado for negativo.

“Por ser mais eficaz, a nova tecnologia permite ampliar os intervalos de rastreamento para até cinco anos, aumentando a eficiência e reduzindo custos”, explica o Ministério da Saúde.

Outra vantagem do teste, de acordo com a pasta, é o rastreamento equitativo e de alta performance, que permite alcançar mulheres em áreas remotas ou onde há menor oferta de serviços em saúde.

COLETA

Produzida pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a tecnologia vai substituir o exame citopatológico popularmente conhecido como papanicolau, que passará a ser realizado apenas para confirmação de casos em que o teste molecular der positivo.

No teste de DNA, a coleta é similar à do papanicolau e envolve a secreção do colo do útero, portanto, a mulher ainda precisa passar por um exame ginecológico. No entanto, ao invés de colocar a secreção em uma lâmina, ela é colocada em um tubo com líquido conservante, que vai para o laboratório, onde é feita a pesquisa do DNA do vírus.

IMPLEMENTAÇÃO


A
incorporação do teste na rede pública, no início de 2024, passou pela avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que considerou a tecnologia mais precisa que a atualmente ofertada no SUS.

A tecnologia, 100% nacional, será ofertada inicialmente nos seguintes estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Bahia, Pará, Rondônia, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco e no Distrito Federal.

Essas localidades, segundo o ministério, foram contempladas por contarem com serviços de referência para colposcopia e biópsia, garantindo fluxo assistencial completo para mulheres que apresentarem resultados alterados no teste.

A implementação começa com um município em cada estado e será ampliada conforme a finalização da substituição do método. A meta é que, até dezembro de 2026, o rastreio esteja presente na rede pública em todo o território nacional, beneficiando 7 milhões de mulheres com idade entre 25 a 64 anos todos os anos.
HPV

De acordo com o ministério, o HPV é a principal causa do câncer do colo do útero, terceiro tipo de câncer mais incidente em mulheres, com 17 mil novos casos estimados por ano no triênio 2023-2025.

Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam 15 casos da doença para cada grupo de 100 mil mulheres no Brasil. “Por isso, a oferta do novo modelo de rastreamento é considerada um marco para a saúde da mulher”, destacou a pasta.

O câncer do colo do útero, segundo a pasta, segue como o que mais mata mulheres no Nordeste brasileiro. No Brasil, são 20 mortes por dia — até seis vezes mais que os casos de feminicídio em alguns estados.

TESTAGEM

Recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a testagem de HPV é considerada padrão ouro para a detecção de casos de câncer de colo de útero e integra as estratégias propostas pela entidade para a eliminação da doença como problema de saúde pública até 2030.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Brasil tem 229 mil crianças não vacinadas contra difteria, tétano e coqueluche, aponta Unicef

 

País está em 17º lugar na lista de nações com menos crianças vacinadas; no mundo, 14 milhões de meninos e meninas não receberam a primeira dose da vacina DTP em 2024

O Brasil reapareceu na lista dos 20 países com maior número de crianças não vacinadas contra difteria, tétano e coqueluche (DTP) em 2024, segundo relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O país está em 17º lugar na lista, com 229 mil crianças que não receberam a primeira dose da DTP ou Tríplice Bacteriana em 2024. No calendário nacional de vacinação, a DTP é indicada em três doses e dois reforços, sendo a primeira aplicada aos 2 meses de idade.

Apesar da volta do Brasil à lista, da qual tinha saído em 2024, com dados de 2023, o relatório aponta que o país atingiu uma cobertura global da DTP1 de 91% - mais próxima da meta de 95%. Isso indica que o Brasil está entre os países com as maiores coberturas percentuais do imunizante do mundo.

“É uma lista que foca em números absolutos, não na cobertura vacinal. Apesar deste número corresponder a 2% da população de crianças que devem tomar essa vacina, 229 mil crianças é um número gigantesco, semelhante a populações inteiras de cidades e até de países, o que deve ser levado em conta”, afirma o infectologista e gestor médico do Butantan, Érique Miranda.

A vacina DTP na sua versão acelular é um dos imunizantes produzidos pelo Butantan. No ano passado, o Instituto forneceu ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) 4 milhões de doses, que foram encaminhadas aos estados e municípios pelo Ministério da Saúde para serem distribuídas gratuitamente à população nos postos de saúde.

Para a OMS, a primeira dose de DTP é um indicador para o acesso aos serviços de imunização. Quando ela não é administrada, a criança é considerada “zero dose”, ou seja, que não recebeu nenhuma vacina. No ano passado, o Brasil deixou de figurar na lista ao computar 103 mil crianças não vacinadas, uma queda acentuada comparada aos dados de 2022, quando foram registradas 418 mil crianças zero dose no país.

Segundo o Ministério da Saúde, no primeiro quadrimestre de 2025 o Brasil registrou um aumento na cobertura de 15 das 16 vacinas do calendário nacional na comparação ao mesmo período de 2024; entre os imunizantes que tiveram sua cobertura ampliada está o primeiro reforço da DTP, que foi de 74,49% para 81,97% - mas ainda fora da meta de 95%.

“Houve sim uma queda nas coberturas vacinais e essa variação desde a pandemia já foi suficiente para colocar o Brasil nesta lista. É um número macro e a tendência dele, de acordo com os dados recentes do governo, que demonstram uma curva de melhora, é o Brasil sair dessa lista novamente”, afirma Érique Miranda.

Durante a pandemia de Covid-19, houve uma queda significativa nas coberturas da primeira e terceira dose de DTP nas Américas. Em 2021, a região atingiu seu nível mais baixo em duas décadas, com coberturas de 87% para DTP1 e 81% para DTP3. No entanto, os dados de 2023 mostraram uma recuperação parcial, com 90% para DTP1 e 88% para DTP3, segundo a OPAS.

CAUSAS DA NÃO VACINAÇÃO

O relatório do Unicef aponta que 20 milhões de crianças permaneceram não vacinadas ou subvacinadas no mundo em 2024. Destas, 14,3 milhões não receberam nenhuma vacina (zero dose de DTP1), um aumento em relação aos 12,9 milhões de 2019. Entre as crianças que permanecem não vacinadas ou subvacinadas no mundo, aproximadamente 10,2 milhões (51%) vivem em países com fragilidade institucional e social ou afetados por conflitos.

Vinte e sete países apresentaram cobertura de DTP1 abaixo de 80%, sugerindo a necessidade de ampliar o acesso aos serviços de imunização locais. A maioria deles está localizada na África Ocidental e Central (7), África Oriental e Meridional (6) e América Latina e Caribe (6).

O relatório aponta que, globalmente, mais de 50% das crianças com zero dose estão concentradas em nove países altamente populosos e/ou que vivem em conflitos políticos e econômicos que impactam a vacinação.
São eles: Nigéria (228 milhões de habitantes e 15% de crianças zero dose), Índia (1,43 bilhão de habitantes e 6% de crianças zero dose), Sudão (50 milhões de habitantes e 6% de crianças zero dose), República Democrática do Congo (106 milhões de habitantes e 5% de crianças zero dose), Etiópia (129 milhões de habitantes e 5% de crianças zero dose), Indonésia (281 milhões de habitantes e 5% de crianças zero dose), Iêmen (39,4 milhões de habitantes e 4% de crianças zero dose), Afeganistão (41,5 milhões e 3% de crianças zero dose) e Angola (36,8 milhões e 3% de crianças zero dose).

O relatório pondera o grande número de habitantes de alguns países contribuem para os números globais, apesar das altas taxas de cobertura vacinal. Por exemplo, em 2024, a Índia contabilizou 909 mil crianças com zero dose, o que corresponde a 6% da população elegível, apesar de atingir 96% de cobertura para uma coorte de 22,7 milhões de bebês sobreviventes.

A lista de 20 países elaborada pela Unicef leva em conta o número absoluto de crianças não vacinadas, portanto destacam-se países muito populosos e com graves limitações do sistema de saúde pública. “A Nigéria, que está no topo da lista, com 2 milhões de crianças não vacinadas, é o sexto país mais populoso do mundo e ainda é uma área endêmica para poliomielite que enfrenta questões de segurança, socioeconômicas, de infraestrutura e sistêmicas que contribuem para o desafio geral de alcançar uma alta cobertura vacinal no país”, explica Érique Miranda.

Em segundo lugar vem a Índia, o segundo país mais populoso do mundo e seis vezes mais populoso que a Nigéria, porém com metade do número de crianças sem vacinar observado no país africano: quase 1 milhão. O Brasil, que tem uma população um pouco menor que a da Nigéria, tem 229 mil, e está em 17º na lista, ao lado da China.

COQUELUCHE PREOCUPA

O relatório detalhou também a cobertura global da terceira dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3) - frequentemente usada como um indicador de quão bem os países estão fornecendo serviços de imunização de rotina para crianças  e da vacina de sarampo, já que a doença é considerada um marcador de transmissão.

Em 2024, a cobertura global da terceira dose da DTP3 foi de 85%, de acordo com as estimativas mais recentes da OMS e do Unicef, pouco abaixo da meta global de 90% estabelecida pela Agenda de Imunização 2030.

Ao todo, 111 países (57%) alcançaram pelo menos 90% de cobertura da DTP3 em 2024. Esse número é menor do que em 2019, quando 125 países atingiram a meta.

A Europa, Ásia Central e o sul da Ásia apresentaram a maior cobertura da vacina DTP3, com 92%, enquanto a África Ocidental e Central apresentaram a menor, com 72%. A cobertura nos países da América Latina e Caribe foi de 82%.

No seu Alerta Epidemiológico de Aumento de Casos de Coqueluche na Região das Américas, a OPAS apresentou a evolução das coberturas de DTP3 entre 2020 e 2024 em sete países da região — Brasil, Colômbia, Equador, Estados Unidos, México, Paraguai e Peru —, que registram surtos de coqueluche em 2025.

Segundo o relatório, a cobertura de DTP3 no Brasil sofreu altos e baixos nos últimos quatro anos, com totais de 86% (2020), 68% (2021), 77% (2022), 90% (2023) e 91% (2024).

No Brasil, até meados de maio de 2025, foram notificados 1.819 casos confirmados de coqueluche, incluindo seis óbitos. Dos estados com casos confirmados de coqueluche, os que apresentaram maior número foram Minas Gerais (417 casos e um óbito), São Paulo (321 casos e dois óbitos), Rio Grande do Sul (249 casos e um óbito) e Paraná (247 casos). A faixa etária mais acometida é a de crianças menores de um ano (498 casos), representando 27,4%, seguida da faixa etária de 1 a 4 anos (462), representando 25,4%.

“A queda das coberturas durante a pandemia fez ressurgir surtos de coqueluche em adultos que estão infectando crianças porque, depois dos 7 anos, não se recebe mais reforço da coqueluche, só se recebe a vacina duplo adulto acelular (tétano e difteria). Os adultos sem imunidade contra coqueluche infectam principalmente bebês que ainda não receberam os três reforços. Por isso, é importante possibilitar reforços para adultos, para além das gestantes e profissionais de saúde”, explica Érique.

Causada pela bactéria Borderella pertussis, a coqueluche é repassada pelo contato com gotículas de pessoas doentes, sendo altamente transmissível. É justamente por esse motivo que a meta de vacinação é a mais alta - de 95%.

O QUE PRECISA SER FEITO PARA REVERTER O CENÁRIO

O documento da OMS e Unicef destaca que os desafios para aumentar a cobertura vacinal são numerosos e persistem em regiões frágeis e afetadas por conflitos. Em 2024, ao menos oito países apresentaram coberturas da DTP3 de 60% ou menos (Afeganistão, Azerbaijão, Bolívia, República Centro-Africana, Líbano, Papua-Nova Guiné, Sudão e Iêmen). Seis em cada oito desses países vivem em situação de fragilidade institucional e social, ou são afetados por conflitos.

O documento ressalta ainda que a cobertura também é afetada por investimentos inadequados em programas nacionais de imunização, escassez de vacinas e surtos de doenças.

“Para elevar os níveis globais de imunização, é essencial priorizar os esforços nos países com os maiores números absolutos de crianças não vacinadas. No entanto, é igualmente importante garantir que os países com baixas taxas de cobertura, onde as crianças têm maior probabilidade de não serem imunizadas, recebam a atenção necessária, especialmente em nações com coortes de nascimento menores”, pondera o Unicef.

Fonte: Instituto Butantan

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Planos de saúde terão de oferecer implante contraceptivo hormonal

 
Procedimento também estará disponível no SUS

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou que os planos particulares terão de oferecer implante contraceptivo hormonal na cobertura obrigatória. Ele é popularmente conhecido como implanon. O procedimento também foi aprovado recentemente para uso no Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com o Ministério da Saúde, a opção é considerada vantajosa em relação aos demais contraceptivos em razão da longa duração (age no organismo por até três anos) e eficácia alta.

A cobertura assistencial para todas as pessoas entre 18 e 49 anos na prevenção de gravidez não desejada passará a ter cobertura obrigatória a partir do dia primeiro de setembro.

A ANS também aprovou, em reunião do dia oito de agosto, a inclusão no rol de procedimentos da Radioterapia de intensidade modulada (IMRT) para tratamento de pacientes adultos com tumores do canal anal. A tecnologia passa a ter cobertura obrigatória nos planos de saúde a partir do dia primeiro de setembro.

Outro procedimento analisado foi o do transplante de membrana amniótica, procedimento para tratar pacientes com queimaduras de pele. Mas, nesse caso, a ANS decidiu adiar a inclusão por causa da necessidade de ajustes na estruturação do Sistema Nacional de Transplantes e no funcionamento dos bancos de tecidos, e para que haja atualização do regulamento técnico, do protocolo clínico e de diretrizes técnicas por parte do Ministério da Saúde.

FONTE: Agência Brasil

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Conheça dez cuidados para uma viagem de moto mais segura

 
Frota de motos do país aumentou em quase 5 milhões desde a pandemia

O crescimento do uso de motocicletas no Brasil veio para ficar e está relacionado à falta de opções mais eficientes de transporte público. A frota de motos do país aumentou em quase 5 milhões desde a pandemia de covid-19 e já passa de 29 milhões de veículos. Em seis estados do Norte e Nordeste brasileiros, elas já superaram os automóveis.

Com tantas motos nas ruas, as mortes em quedas, colisões e atropelamentos sobre duas rodas dispararam: já são uma em cada três entre todos os casos de vítimas do trânsito. Mas os óbitos são apenas parte do problema: segundo o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2023, 1,4 milhão de motociclistas foram internados após incidentes nas ruas brasileiras, o que corresponde a 57,2% de todas as internações associadas a lesões de trânsito no país.

Para encerrar a série Rota Perigosa: brasileiros se arriscam em motos por renda e mobilidade, a Agência Brasil separou cuidados apontados pela legislação, plataformas de aplicativo e especialistas em segurança viária que podem fazer as viagens de moto menos arriscadas.

USE CAPACETE

É obrigatório no Brasil utilizar capacetes adequados em viagens de moto – isso vale tanto para o condutor quanto para o carona. O equipamento de segurança deve estar em bom estado; possuir viseira ou óculos de proteção; ter adesivos retro refletivos na parte frontal, lateral e traseira; e exibir selo holográfico da certificação do Inmetro. A lei determina que o capacete deve estar afivelado e que a viseira deve estar sempre abaixada para a proteção dos olhos do condutor e do carona. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o uso correto de capacetes pode reduzir em 42% o risco de mortes e em 69% o risco de lesões graves.

NÃO USE CELULAR DURANTE A VIAGEM

O uso de celular gera distração e pode prejudicar o equilíbrio sobre a moto. Os condutores devem segurar as duas mãos no guidão, e os caronas também devem estar atentos e se segurar com as duas mãos durante as viagens de moto. A Opas alerta que os condutores que usam celulares enquanto dirigem têm cerca de quatro vezes mais chances de estarem envolvidos em um acidente.

RESPEITE OS LIMITES DE VELOCIDADE

Conduzir em alta velocidade torna manobras e frenagem mais arriscadas, reduz a capacidade de se antecipar às surpresas do trânsito e também pode dificultar a reação de outros condutores, motoristas e pedestres. Além disso, aumenta a força do impacto que os corpos do motociclista e do carona vão sofrer em caso de colisão. Segundo a Opas, cada acréscimo de 1% na velocidade média produz um aumento de 4% no risco de ter um sinistro fatal no trânsito. Isso significa que, caso haja um sinistro, há 132% mais riscos de morrer a 80 km/h do que a 60 km/h.

VIAGE SÓBRIO

Conduzir um veículo sob efeito de álcool e outras substâncias que prejudicam a lucidez e o equilíbrio é um crime previsto no Artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro. Da mesma maneira, embarcar na garupa de uma moto sob o efeito de substâncias aumenta os riscos para condutor e passageiro, que pode atrapalhar o motociclista no controle da direção. Os aplicativos de transporte, por exemplo, recomendam os usuários a escolher uma viagem de automóvel caso tenham bebido e orientam os motociclistas a não transportarem passageiros embriagados.

USE ROUPAS ADEQUADAS

A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) e outras entidades que produzem materiais sobre segurança viária recomendam o uso de jaquetas, calças e luvas de material resistente e cores claras, calçados fechados. Além disso, calce sapatos fechados ou botas que protejam seus pés e tornozelos e evite tecidos longos, chinelos e outras roupas ou acessórios que podem se prender à moto. Lembre-se que, em caso de queda, a roupa pode proteger ou expor o corpo ao contato com o asfalto.

TENHA CUIDADO NO CORREDOR ENTRE VEÍCULOS

Não é proibido circular no corredor entre os demais veículos nas cidades brasileiras, mas isso aumenta o risco de acidentes. Motoristas de carros maiores podem trocar de faixa sem ligar a seta, passageiros podem abrir as portas dos veículos, e pedestres podem atravessar entre os carros, fora da faixa. Quando for necessário trafegar no corredor, vá em baixa velocidade e não faça ultrapassagens pela direita.

CRIANÇAS, SÓ APÓS OS DEZ ANOS

A legislação brasileira só permite transportar crianças em motocicletas a partir dos 10 anos. Para tal, é necessário uso de capacete adequado para o tamanho da criança. A idade mínima para ser condutor de moto no Brasil é 18 anos – não é possível conduzir ou tirar CNH categoria A (moto) antes disso nem com consentimento do responsável.

USE FAROL BAIXO MESMO SENDO DE DIA

O uso do farol baixo ajuda o veículo a chamar mais atenção de outros condutores no trânsito. Segundo a Opas, um trânsito com motocicletas de farol baixo ligado tem risco até 20% menor de colisões.

LEVE APENAS UM PASSAGEIRO

Os condutores de motocicleta só podem transportar um passageiro na garupa da moto. Transportar passageiro fora do assento suplementar colocado atrás do condutor ou em carro lateral é infração gravíssima prevista no Artigo 244, Inciso II, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), penalizada com multa e suspensão do direito de dirigir.

SEGURE FIRME E MANTENHA O EQUILÍBRIO

Se você vai na garupa em uma viagem de moto, deve segurar com as duas mãos nas alças traseiras da motocicleta ou no motociclista e manter os pés nos pedais de apoio durante toda a viagem. É importante não segurar em outras partes laterais da moto e se manter afastado do escapamento. Durante a viagem, é necessário alinhar seu corpo com o do condutor e acompanhar o movimento do corpo dele suavemente, principalmente nas curvas. O carona pode atrapalhar o equilíbrio do condutor durante a viagem e até causar quedas e colisões.

Confira mais dicas de segurança:


Fonte: Agência Brasil

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Pesquisa brasileira detecta plástico em placentas e cordões umbilicais

 

Estudo inédito analisou amostras de grávidas em Alagoas

Uma pesquisa pioneira realizada em Maceió (AL) encontrou microplásticos em placentas e cordões umbilicais de bebês nascidos na capital alagoana. Este é o primeiro estudo do tipo realizado na América Latina e o segundo no mundo que conseguiu comprovar a presença dessas partículas em cordões. Os resultados foram publicados  na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências.

"A placenta é um grande filtro, veja a quantidade de coisas que existem no mundo e são prejudiciais, mas pouquíssimas passam a placenta. Então, quando os primeiros estudos encontraram os microplásticos na placenta, a gente achou que ela estivesse agindo como uma barreira, só que entre as participantes do nosso estudo, 8 em 10 tinham mais partículas no cordão umbilical do que na placenta, então eles passam em uma quantidade grande e estão indo para os bebês antes mesmo de nascerem. E esse é um retrato do fim da gestação. Durante os nove meses, quanto passou?", destaca Alexandre Urban Borbely, líder do grupo de pesquisa em Saúde da Mulher e da Gestação na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e um dos autores da pesquisa.

A equipe analisou amostras de dez gestantes do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes e do Hospital da Mulher Dra. Nise da Silveira, em Maceió. Elas foram submetidas à técnica de espectroscopia Micro-Raman, capaz de identificar a composição química de moléculas com grande precisão.

As amostras de placenta apresentaram 110 partículas de microplásticos, e 119 foram encontradas nos cordões umbilicais. Os compostos mais presentes foram o polietileno, usado na fabricação de embalagens plásticas descartáveis e a poliamida, que faz parte da composição de tecidos sintéticos.

Borbely investiga a contaminação por microplásticos durante a gestação desde 2021. Em 2023, um estudo conjunto com pesquisadores da Universidade do Hawaí em Manoa já havia comprovado a presença das partículas em amostras de placentas de mulheres havaianas. A pesquisa também mostrou que essa contaminação aumentou ao longo do tempo, já que os microplásticos foram encontrados em 60% das amostras colhidas em 2006, 90% em 2013 e 100% em 2021.

A parceria foi mantida para a investigação em Maceió, que também recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Apesar de todas as amostras brasileiras estarem contaminadas, elas apresentaram menos aditivos químicos associados aos polímeros plásticos do que as amostras norte-americanas.

"A gente buscou mulheres que foram atendidas pelo SUS, com uma condição socioeconômica mais vulnerável, porque a grande maioria dos estudos é feita em países desenvolvidas. Então, a gente quis trazer a nossa realidade da nossa população. E os plásticos são formados de polímeros diferentes que mudam conforme o local", complementa Borbely.

Como os microplásticos estão presentes até mesmo no ar, não é possível determinar com precisão a fonte da contaminação, mas o pesquisador acredita que a poluição marinha tenha grande contribuição, já que a população alagoana consome muitos peixes e frutos do mar, inclusive moluscos filtradores. Outro ponto de origem importante é a água mineral envasada, que adquire as partículas de forma ainda mais acelerada quando o galões recebem luz solar.

A pesquisa agora vai ampliar a quantidade de amostras colhidas para 100 gestantes e buscar correlações entre a contaminação por microplásticos e complicações durante a gestação ou problemas de saúde identificados logo após o nascimento dos bebês. Para isso, está implementando o Centro de Excelência em Pesquisa de Microplástico, com verbas da Financiadora de Estudos e Projetos - Finep, do Ministério da Ciência e Tecnologia. A expectativa, de acordo com o pesquisador é que esses resultados sejam publicados em 2027:

"A preocupação de todo mundo que trabalha nessa área hoje é tentar entender o que essa contaminação está causando, porque isso é muito sério. Toda essa geração que está vindo já nasce exposta a esses plásticos dentro do útero. E o plástico está compondo de alguma maneira o organismo desses indivíduos desde a formação"

"Um artigo americano que saiu esse ano mostrou relação entre um polímero específico encontrado na placenta e casos de prematuridade. A gente publicou um estudo com células e tecidos humanos mostrando que os plásticos de poliestireno passam com facilidade pela barreira placentária e causam alterações no metabolismo dessa placenta e na produção de radicais livres, o que também é um indício de que vai afetar o desenvolvimento do bebê", complementa Borbely.

Para o pesquisador, essas descobertas acendem um alerta coletivo e político, já que ações individuais são pouco efetivas para evitar a contaminação: "O Brasil não tem uma regulamentação para plástico. E o mais importante aqui é a ação que vem de cima, do governo, de regular quem está produzindo o plástico: como deve ser essa produção, o descarte de plásticos, a implantação de filtros nessas indústrias. Se a gente conseguir reduzir no ambiente, consequentemente vamos reduzir o que fica na gente", explica.
Fonte: Agência Brasil

sábado, 9 de agosto de 2025

Uso de anabolizantes altera colesterol e aumenta risco de infarto

 
Alerta é da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

No Dia Mundial de Combate ao Colesterol, lembrado nesta sexta-feira (8), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) alerta que o uso indiscriminado de anabolizantes figura, cada vez mais, como fator silencioso de risco cardiovascular – sobretudo entre jovens.
A entidade define anabolizantes como substâncias cuja estrutura básica se assemelha ao hormônio sexual masculino, a testosterona, e geralmente são utilizados para promover hipertrofia muscular com a finalidade de melhorar o desempenho esportivo ou por questões estéticas.
“Em contrapartida, elas reduzem significativamente o HDL, conhecido como colesterol bom, e aumentam o LDL, o colesterol ruim. Além disso, promovem resistência à insulina, acúmulo de gordura visceral e outros fatores associados à chamada síndrome metabólica, condição clínica que aumenta o risco cardiovascular de maneira marcante.”

De acordo com a SBEM, estudo recente publicado pela revista Sports Medicine Open avaliou os efeitos metabólicos do uso de esteroides anabolizantes, insulina e hormônio do crescimento entre fisiculturistas amadores.

A pesquisa analisou 92 praticantes de musculação e revelou alta prevalência de uso combinado das substâncias.

“Entre os usuários, foram observadas alterações significativas no perfil lipídico e hepático, como queda expressiva no colesterol HDL, aumento nas enzimas hepáticas ALT e AST e alterações em enzimas ligadas ao metabolismo de ácidos graxos”, destacou a entidade.

Os achados, segundo a SBEM, sugerem impactos relevantes na saúde metabólica, com elevação do risco cardiovascular mesmo em indivíduos jovens e aparentemente saudáveis.

Outro levantamento, publicado pela revista Reviews in Endocrine and Metabolic Disorders, revisou evidências sobre efeitos crônicos de esteroides anabolizantes na saúde metabólica e cardiovascular.

O estudo corrobora que o uso prolongado das substâncias está associado à redução do colesterol HDL, elevação do LDL, resistência à insulina e maior acúmulo de gordura visceral.

“O conjunto desses fatores configura a síndrome metabólica, fortemente associada a infarto e acidente vascular cerebral (AVC). O estudo ainda destaca que, mesmo após a interrupção do uso, o organismo pode manter alterações hormonais e inflamatórias que perpetuam esses riscos”, destacou a SBEM.

NÚMEROS

Dados apresentados pela entidade mostram que cerca de 6,4% dos homens já utilizaram anabolizantes e que a taxa pode ser ainda mais alta entre frequentadores de academias.

Em muitos casos, o uso não se limita a esteroides e envolve também insulina e hormônio do crescimento, o que, segundo a SBEM, potencializa os efeitos adversos.

“Há relatos de infarto precoce em pessoas com menos de 40 anos, sem histórico familiar, mas com uso frequente dessas substâncias”, alertou.

CAMPANHA

Em 2025, a campanha encabeçada pela entidade para o Dia Mundial de Combate ao Colesterol reforça a importância de escolhas conscientes quando o assunto é saúde cardiovascular, classificando como fundamental buscar informação de qualidade e acompanhamento médico antes de qualquer intervenção que afete o metabolismo.

PRESCRIÇÃO MÉDICA

Em 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) vetou a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA) com finalidade estética, para ganho de massa muscular e/ou melhora do desempenho esportivo, seja para atletas amadores ou profissionais, por inexistência de comprovação científica suficiente que sustente seu benefício e a segurança do paciente.

A norma destaca a inexistência de estudos clínicos randomizados de boa qualidade metodológica que demonstrem a magnitude dos riscos associados à terapia hormonal androgênica em níveis acima dos fisiológicos, tanto em homens quanto em mulheres, além da ausência de comprovação científica de condição clínico-patológica na mulher decorrente de baixos níveis de testosterona ou androgênios.

Dentre os efeitos adversos citados pela entidade estão hipertrofia cardíaca, hipertensão arterial sistêmica e infarto agudo do miocárdio, aterosclerose, estado de hipercoagulabilidade, aumento da trombogênese e vasoespasmo, doenças hepáticas como hepatite medicamentosa, insuficiência hepática aguda e carcinoma hepatocelular, transtornos mentais e de comportamento, incluindo depressão e dependência, além de distúrbios endócrinos como infertilidade, disfunção erétil e diminuição de libido.

Fonte: Agência Brasil