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Gina Gotthilf, diretora do Duolingo, maior aplicativo gratuito de educação do mundo. (Foto: Divulgação/Duolingo) |
O melhor aplicativo de educação do mundo começa a ser usado por professores dentro da sala de aula, e a responsável por isso é uma brasileira. Antes de liderar a comunicação e expansão internacional do Duolingo, plataforma de ensino de idiomas que aposta na transformação das aulas em jogos, Gina Gotthilf, de 28 anos, trouxe o Tumblr para o Brasil. Ajudou ainda expoentes da tecnologia como Instagram e Yelp a entender o funcionamento do país e da América Latina. De passagem pelo Brasil, para participar da Campus Party, que ocorre entre os dias 3 e 8 de fevereiro, ela conversou com o G1 sobre os planos da empresa. No horizonte, está o lançamento de um teste para avaliar o domínio do inglês que fornecerá certificados aceitos por algumas das maiores universidades dos Estados Unidos como Harvard e Massachusetts Instituto of Technology (MIT).
Ao longo de quatro anos, o Duolingo atraiu em todo o mundo 70 milhões de usuários, que aprendem idiomas como se estivessem jogando. “Acho que as pessoas subestimam a função da diversão na educação hoje em dia”, afirma. Apple e Google não subestimaram e o apontaram como um dos melhores do mundo, entre 2013 e 2014. A mistura entre games e ensino agradou o brasileiro, que compõe a terceira maior população no app, com 3 milhões de usuários, atrás somente dos norte-americanos (Disponível
aqui para Android e
aqui para iOS)
Gina conta que falar a língua de um dos países mais entusiasmados com o app atraiu o olhar do Duolingo. Ela dava consultoria à empresa até ser convidada a assumir o posto. Ajudava a entender as peculiaridades do ambiente de negócio do Brasil e dos países latinos. O trabalho foi o mesmo realizado para Instagram e Yelp, em 2013, logo depois que deixou o Tumblr, empresa trazida ao país por ela em 2012.
Aplicativo de educação, Duolingo dá aulas de
idiomas em forma de jogos. (Foto: Divulgação/
Duolingo)
Duolingo x sala de aula
É pela América Latina, especialidade da executiva, que o aplicativo começa a entrar no dia a dia das escolas. No fim do ano passado, escolas da Cidade da Guatemala, capital da Guatemala, e de San José, capital da Costa Rica, adotaram a plataforma em um projeto piloto.
A convite dos governos dos dois países, o Duolingo realiza assim os frequentes pedidos de professores. “Tinha um que instalava o Duolingo em iPads, dava aos alunos, passava uma lição e anotava depois o nível de cada um.” Outro abandonou seu plano de aula para adotar o do aplicativo – um estudo da Universidade de Nova York atestou que 34 horas de aulas no sistema equivalem a um semestre estudando em uma escola top dos EUA.
Como foi criado para funcionar em contato direto com os estudantes, o Duolingo não previa o monitoramento por um docente até virar política pública nacional. A partir daí, a empresa criou uma plataforma especial voltada a escolas, lançada no começo de janeiro (
Veja aqui). Mesmo quando utilizado em classe, o sistema permanece gratuito e sem propagandas.
Aula particular
Com ela, os mestres têm nas mãos a capacidade de analisar o andamento de todos os estudantes. A partir da análise do desempenho individual, o sistema do Duolingo oferece as próximas lições que os alunos devem fazer. “É muito difícil ensinar para todo mundo de uma forma que cada pessoa possa aprender do mesmo jeito”, explica Gina.
Plataforma do Duolingo em que professores monitoram o desempenho dos alunos. (Foto: Divulgação/Duolingo)
Entender necessidades a partir de tarefas e elaborar o próximo passo para cada aluno só é possível porque a companhia vem apostando na criação de tecnologia de inteligência artificial, processo reforçado há seis meses. “A gente consegue ver se um usuário acertou uma pergunta, mas demorou para responder, o que quer dizer que ele não tinha certeza.” O objetivo é que no futuro o app possa dar uma experiência diferente e única a cada usuário. “A gente vai ter dados muito específicos sobre como cada pessoa aprende.”
Não quero ser ONG
A mescla de educação e games fez investidores como o ator Ashton Kutcher apostarem dinheiro no app, que já recebeu US$ 38 milhões. Sem cobrar dos usuários ou veicular anúncios, o Duolingo possui fontes de receita criativas. “A gente não tem intenção de ter ONG”, brinca Gina.
Uma delas é uma rede de tradutores formada por alunos do app. Colocando em prática o que aprenderam de graça, eles traduzem expressões que compõem textos a serem entregues a clientes. Retribuem assim o serviço prestado pelo Duolingo. Apesar de rentável, essa fonte de receita, diz Gina, faria a tradução dividir espaço com o foco na educação. Por isso, funciona em “stand by”.
Luis von Ahn, um dos criadores do aplicativo de
educação Duolingo, que mescla a lógica dos
games com o ensino de idiomas. (Foto:
Divulgação/Duolingo)
Para melhorar de vida
O Duolingo aposta mesmo é no lançamento de certificados para atestar a proficiência de inglês, à exemplo de Toefl e Ielts. Doze universidades dos EUA já toparam aceitar a prova do app na seleção de seus alunos. Em fase de teste e por enquanto gratuito, o teste será lançado oficialmente até o fim do primeiro trimestre de 2014. Custará US$ 20 e poderá ser feito a cada 48 horas. A título de comparação, cada prova do Toefl custa até US$ 250.
Para evitar fraudes, o app usará câmera, microfone e tela do celular para monitorar as ações do aluno. “Dá para ver se está procurando resposta no Google, se está recebendo resposta por um fone de ouvido, se tem um amigo falando com você, se você não é quem você diz que você é. Dá para ver se as pessoas estão trapaceando", explica a executiva.
“Tem tudo a ver com a nossa missão, de tirar as barreiras da frente das pessoas que estão tentando melhorar a vida através do aprendizado de idiomas”, diz Gina. A nova empreitada do Duolingo ecoa as dificuldades vividas por um de seus fundadores. Hoje professor da Universidade Carnegie Mellon, o guatemalteco Luís von Ahn teve de viajar a outro país para realizar o Toefl. Ele é o inventor do Captcha e do ReCaptcha, aquelas caixas de texto em que se tem de escrever letras ou números para acessar alguns sites.
“A razão para criar o Duolingo é porque educação é vista como algo que faz as pessoas melhorarem suas vidas”, diz Gina. “Ironicamente, as pessoas que mais precisam de uma segunda língua para melhorar suas vidas são justamente as que não têm acesso a esse tipo de educação.”
Fonte: G1 02/02/2015