quinta-feira, 29 de maio de 2025

Cigarro: R$ 1 de lucro da indústria equivale a R$ 5 gastos com doenças

 











Estudo A Conta que a Indústria Não Conta, foi divulgado nesta quarta

Para cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, o Brasil gasta R$ 5 com doenças causadas pelo fumo. Os dados fazem parte do estudo A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta, divulgado nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e pelo Ministério da Saúde.

O documento mostra que cada R$ 156 mil de lucro de empresas de tabaco estabelecidas no Brasil com a venda de cigarros legais foi equivalente a uma morte por doenças cardíacas isquêmicas, acidente vascular cerebral (AVC), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou câncer de pulmão atribuível ao tabagismo.

O custo direto médio e o custo total médio (direto e indireto) equivalentes a uma morte pelas doenças selecionadas foram estimados em R$ 361 mil e R$ 796 mil, respectivamente.

“Ao combinar essas duas equivalências, obtém-se que, para cada R$ 1 lucro obtido pela indústria do tabaco, o Brasil gasta duas, três vezes esse valor com custo direto do tratamento de doenças relacionadas ao tabaco e 5,1 vezes esse valor com o custo total (direto e indireto) dessas doenças”, detalhou o ministério.

Custos com danos

Outro dado do Inca, não relacionado ao estudo, aponta que o Brasil gasta R$ 153,5 bilhões por ano com os danos provocados pelo tabagismo, somando custos com tratamento médico e perdas econômicas por morte prematura, incapacidades e cuidados informais. O valor equivale a 1,55% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Dados do ministério mostram que a arrecadação de impostos federais com o setor alcançou R$ 8 bilhões em 2022, o que cobre apenas 5,2% dos custos totais causados pelo tabagismo ao país.

Desse total, R$ 67,2 bilhões são gastos diretamente com tratamento de doenças relacionadas ao tabaco, como câncer, doenças cardíacas, respiratórias e AVC. Já os custos indiretos — como perda de produtividade e afastamentos do trabalho — somam R$ 86,3 bilhões@, destacou a pasta.

Mortes

Números do Inca indicam que o tabagismo é responsável por 477 mortes por dia no Brasil, o que representa 174 mil óbitos evitáveis por ano. Entre as principais causas estão a DPOC, doenças cardíacas, diversos tipos de câncer, AVC, diabetes tipo 2 e o fumo passivo que, sozinho, responde por cerca de 20 mil mortes todos os anos.

Cigarros eletrônicos

Apesar de proibidos no Brasil desde 2009, os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), popularmente conhecidos como cigarros eletrônicos ou vapes, seguem atraindo adolescentes e jovens por meio de estratégias de marketing e apelo tecnológico.

Dados da pesquisa Vigitel, inquérito telefônico realizado pelo Ministério da Saúde em todas as capitais brasileiras, revelam que 2,1% da população adulta usou cigarros eletrônicos em 2023. A maior prevalência está entre jovens de 18 a 24 anos, que respondem por 6,1% dos entrevistados.

Ajuda

No Brasil, 9,3% da população brasileira ou 19,6 milhões de pessoas se declararam fumantes, sendo a prevalência maior entre homens (11,7%) do que entre mulheres (7,2%), conforme dados da Pesquisa Vigitel 2023.

“Para mudar essa realidade, o SUS [Sistema Único de Saúde] disponibiliza tratamento gratuito para a dependência da nicotina em todo o país. O atendimento é realizado nas unidades básicas de saúde (UBS) e inclui acompanhamento profissional, orientação individual e em grupo, além da oferta de medicamentos”, destacou o ministério.

Entre os recursos disponíveis estão a terapia de reposição de nicotina, com adesivos transdérmicos e goma de mascar, e o cloridrato de bupropiona, medicamento que auxilia no processo de cessação do tabagismo.

Para iniciar o tratamento, basta procurar uma UBS ou entrar em contato com a secretaria de saúde do município ou estado. O serviço é aberto a todas as pessoas que desejam abandonar o cigarro e melhorar a qualidade de vida.

Fonte: Agência Brasil

quarta-feira, 28 de maio de 2025

SUS passa a oferecer tratamento integral para dermatite atópica

 







Novas pomadas beneficiam pacientes resistentes às drogas disponíveis

Três portarias publicadas nesta terça-feira (27) no Diário Oficial da União ampliam o tratamento para dermatite atópica pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os documentos oficializam a incorporação, na rede pública, de duas pomadas para a pele – tacrolimo e furoato de mometasona – além de um medicamento oral para o tratamento da doença – o metotrexato.

Em nota, o Ministério da Saúde destacou que o tacrolimo tópico e o furoato de mometasona poderão ser usados para tratar pessoas que não podem usar corticoides ou que tenham resistência aos tratamentos até então disponíveis.

“A ampliação de acesso ao tacrolimo tópico para os pacientes do SUS é um benefício relevante já que, por ser um medicamento de alto custo, seu acesso era mais restrito.”

Segundo a pasta, o metotrexato será indicado nos casos de dermatite atópica grave, sobretudo entre pacientes que não podem usar a ciclosporina, medicamento já disponibilizado na rede pública.

Entenda

Doença não contagiosa, a dermatite atópica é uma condição genética e crônica caracterizada principalmente por coceira intensa e pele ressecada, que afeta especialmente as áreas de dobras do corpo, como a parte frontal dos cotovelos, atrás dos joelhos e o pescoço.

“É uma das formas mais comuns de eczema, prevalente na infância, embora também possa surgir na adolescência ou na fase adulta”, detalhou o ministério

Em crianças pequenas, a face também é uma área frequentemente afetada pela dermatite atópica. “A doença pode variar muito de paciente para paciente, com diferentes intensidades e respostas aos tratamentos”, completou a pasta.

Fonte: Agência Brasil

terça-feira, 27 de maio de 2025

Edital do Enem 2025 é publicado; veja datas e regras do exame

 


Provas serão aplicadas nos dias 9 e 16 de novembro

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicou em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira (23), o edital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025.

O período de inscrições será de 26 de maio a 6 de junho. Os interessados deverão se inscrever na Página do Participante do exame, no site do Inep.

Conforme adiantado pelo ministro da Educação, Camilo Santana, participantes do Enem com mais de 18 anos, que ainda não concluíram a educação básica, voltarão a obter a certificação no ensino médio para quem conquistar pelo menos 450 pontos em cada uma das áreas de conhecimento das provas e nota acima de 500 pontos na redação.

Provas

O Enem 2025 será aplicado nos dias 9 e 16 de novembro, em todo o Brasil.

São quatro provas objetivas e uma redação em língua portuguesa. Cada prova objetiva terá 45 questões de múltipla escolha.

No primeiro dia do exame, serão aplicadas as provas de redação e as objetivas de língua portuguesa, língua estrangeira (inglês ou espanhol), história, geografia, filosofia e sociologia. A aplicação terá 5 horas e 30 minutos de duração.

No segundo dia do Exame, serão aplicadas as provas de matemática, Química, Física e Biologia. Nesta data, a aplicação terá 5 horas de duração.

Os portões de acesso aos locais de provas serão abertos às 12h e fechados às 13h (horário de Brasília). O início será às 13h30.

No primeiro dia, as provas irão terminar às 19h. No segundo dia, o término é às 18h30.

Cidades do Pará

Nas cidades de Belém, Ananindeua e Marituba, no Pará, as provas serão aplicadas em dias diferentes, por causa da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), entre 10 e 21 de novembro.

Desta forma, o exame será realizado nos dias 30 de novembro e 7 de dezembro nessas cidades.

"Excepcionalmente, considerando a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - COP 30, que será realizada em Belém-PA, a aplicação do Enem 2025 para o participante que indicar os municípios de Belém-PA, Ananindeua-PA ou Marituba-PA como município de aplicação no ato da inscrição será realizada em 30 de novembro de 2025 e 7 de dezembro de 2025", diz o edital.

Nome social

No ato de inscrição, os candidatos podem requerer o tratamento pelo nome social, que é destinado à pessoa que se identifica e quer ser reconhecida socialmente, conforme sua identidade de gênero.

Serão usados dados da Receita Federal, por isso o participante deverá cadastrar o nome social na Receita Federal. Travestis, transexuais ou transgêneros receberão esse tratamento automaticamente, de acordo com os dados cadastrados na Receita.

O candidato não precisa enviar documentos comprobatórios.

Acessibilidade

O participante que necessitar de atendimento especializado deverá, no ato da inscrição, solicitá-lo.

O candidato deve informar as condições que motivaram a solicitação, como baixa visão, cegueira, visão monocular, deficiência física, auditiva, intelectual e surdez, surdocegueira, dislexia, discalculia, déficit de atenção, Transtorno do Espectro Autista (TEA), gestantes, lactantes, diabéticos, idosos e estudantes em classe hospitalar ou com outra condição específica.

Os recursos de acessibilidade disponibilizados aos candidatos estão descritos no edital.

Taxa de inscrição

A taxa de inscrição do Enem é no valor de R$ 85 e pode ser paga por boleto (gerado na Página do Participante), pix, cartão de crédito, débito em conta corrente ou poupança (a depender do banco). O prazo para fazer o pagamento vai até 11 de junho. Não haverá prorrogação do prazo para pagamento da taxa.

Para pagar por Pix, basta acessar o QR code que constará no boleto.

De acordo com o edital, não serão gerados boletos para participante que informar na inscrição que usará os resultados do Enem 2025 para pleitear o certificado de conclusão do ensino médio ou declaração parcial de proficiência e que esteja inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e concluinte do ensino médio (no ano de 2025), mesmo que ainda não tenha solicitado isenção da taxa.

Reaplicação

De acordo com o edital, as provas serão reaplicadas nos dias 16 e 17 de dezembro para os participantes que faltaram por problemas logísticos ou doenças infectocontagiosas.

Fonte: Agência Brasil

25 de Maio é o Internacional da Tireoide: distúrbios podem afetar fertilidade

 







Glândula é fundamental para regular órgãos como coração e cérebro

O dia 25 de maio marca o Dia Internacional da Tireoide, data importante para chamar a atenção para os problemas causados por distúrbios dessa glândula, que é fundamental para regular órgãos vitais como o coração, o cérebro, o fígado e os rins.

Tanto o hipotireoidismo (produção insuficiente dos hormônios T3 e T4) como o hipertireoidismo (produção excessiva de T3 e T4) podem afetar a fertilidade feminina comprometendo a maturação dos óvulos e, assim, interferindo diretamente no ciclo menstrual, desde a ovulação, alterações no feto e até causar aborto.

Segundo o diretor médico do Centro de Reprodução Humana da Clínica Fertipraxis, no Rio de Janeiro, Marcelo Marinho, a elevação do TSH (hormônio estimulante da tireoide) pode aumentar a secreção de outro hormônio chamado prolactina. Esse aumento pode provocar irregularidade menstrual e levar a períodos de amenorreia (ausência da menstruação) dificultando a gravidez.

“Dessa forma, mulheres com essas alterações hormonais podem ter mais dificuldade para ovular e, consequentemente, para engravidar. E, quando gestantes, precisam de acompanhamento, pois essas doenças, quando não tratadas, aumentam o risco de abortamento”, alerta o médico.

Tireoidite de Hashimoto

Um dos distúrbios mais conhecidos da tireoide é a Tireoidite de Hashimoto, uma doença autoimune e crônica que afeta entre 5% e 15% das mulheres em idade reprodutiva.

Essa condição reduz a produção de hormônios essenciais para a fertilidade feminina, podendo causar anovulação (ausência de ovulação) e comprometer a qualidade dos óvulos.

A doença no início pode apresentar sinais sutis que passam despercebidos, mas ao longo do seu desenvolvimento pode causar inchaço no pescoço e provocar alguns sintomas como:

fadiga;
ganho de peso;
pele seca;
sensibilidade ao frio; e
irregularidades menstruais.

Em mulheres gestantes, é fundamental o acompanhamento, pois o quadro pode provocar pré-eclâmpsia, parto prematuro, restrição de crescimento fetal, complicações neonatais e aumentar o risco de aborto espontâneo no primeiro trimestre da gravidez, fatores que impactam significativamente a gestação.

No entanto, o especialista ressalta que mulheres com Tireoidite de Hashimoto podem ter uma gravidez bem-sucedida e saudável, desde que recebam acompanhamento médico individualizado antes e após o parto.

O diagnóstico pode ser feito com exames de sangue, como o TSH, produzido pela hipófise para controlar a tireoide, e os hormônios T3 e T4, produzidos diretamente por ela, além da ultrassonografia para a detecção de possíveis nódulos e/ou cistos da glândula.

A tireoide é uma glândula que tem o formato parecido com o de uma borboleta, localizada na parte superior e frontal do pescoço, abraçando a traqueia. Os hormônios produzidos por ela (T3 e T4, triiodotironina e tiroxina) agem no corpo e no metabolismo desde a formação fetal até a velhice.

Hipotiroidismo e hipertiroidismo

Segundo a diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e especialista em tireoide, Carolina Ferraz, quando se tem uma baixa produção do T3 e do T4, tem-se o hipotiroidismo.


“A energia fica lá embaixo, o cabelo pode cair, a pele vai ficar mais ressecada, o intestino pode ficar preso, pode ter bastante esquecimento, sintomas de depressão. O oposto ocorre quando a gente tem muito hormônio, a gente chama de hipertiroidismo, e o metabolismo acelera. A pele fica mais oleosa, o paciente sua mais, fica mais agitado, tem insônia, taquicardia, pode ter diarreia”, diz a endocrinologista.

A médica destaca que se houver uma baixa produção do hormônio, poderá ser feita a reposição hormonal. Se o problema for um aumento da produção de hormônio, pode-se usar também medicação para diminuir a ação desses hormônios.

“Se a medicação não resolver, a gente faz o tratamento com iodo radioativo ou até cirurgia.”

Fonte: Agência Brasil

segunda-feira, 26 de maio de 2025

saiba como se formaram a Margem Equatorial e o petróleo da região

 

Costa norte do Brasil surge com fragmentação de supercontinente

A Margem Equatorial brasileira tem ocupado o noticiário nos últimos meses, por conta das divergências sobre a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas. Na verdade, esse trecho da costa brasileira, voltado para o norte e próximo da linha do Equador, já vem atraindo interesse da indústria petrolífera há alguns anos, por seu potencial petrolífero.

As recentes descobertas de reservas de petróleo no litoral das Guianas chamaram ainda mais a atenção para essa nova fronteira exploratória do país, especialmente para a região mais próxima desses países, a bacia da Foz do Amazonas.

A expectativa do Ministério de Minas e Energia é de que a Margem Equatorial se torne um novo pré-sal. As reservas estimadas são de pelo menos 30 bilhões de barris de petróleo, segundo a Petrobras, citando dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Além da Foz do Amazonas, há outras quatro bacias neste trecho da costa (Potiguar, Ceará, Barreirinhas e Pará-Maranhão).

Mas por que essa parte da costa brasileira é tão promissora para a existência de reservas de petróleo? Para entender, é preciso saber como essa região se originou e compreender como se formam os campos petrolíferos.

Hoje a costa equatorial brasileira é conhecida principalmente por suas belezas naturais, como as praias do Nordeste, os Lençóis Maranhenses e as florestas do Delta do Amazonas. Mas nem sempre foi assim. A conformação atual do litoral brasileiro, na verdade, é relativamente recente, se comparada com a idade do planeta Terra (estimada em 4,6 bilhões de anos).

Há 130 milhões de anos, essa parte do país não estava localizada em uma costa, mas em um interior desértico. Naquela época, a América do Sul nem existia como um continente separado. O que hoje se conhece como Brasil era parte de um outro continente, a Gondwana, uma gigantesca massa de terra que incluía também a África, a Antártida, a Austrália e o subcontinente indiano.

Atlântico Sul

A região não tinha contato com o Oceano Atlântico, até porque a parte sul do oceano simplesmente nem sequer existia nesse período. Por volta de 130 milhões de anos atrás, no entanto, movimentos do magma abaixo da crosta terrestre começaram a forçar a separação da América do Sul e da África.

Em toda a história geológica do planeta Terra, movimentos de placas tectônicas ocorreram e continuam ocorrendo, uma vez que a crosta terrestre flutua, como placas fragmentadas, sobre o magma, um fluido viscoso. Há mais de 200 milhões de anos, por exemplo, a Gondwana fazia parte de um outro supercontinente, a Pangeia, mas movimentos tectônicos ocorridos na passagem do período Triássico para o Jurássico forjaram o surgimento da América do Norte e a abertura do Atlântico Norte.

Esse evento deixou algumas marcas de vulcanismo inclusive no território brasileiro. Uma formação geológica chamada de gráben (depressão) de Calçoene mostra que nessa época formou-se um rift (uma fratura na crosta terrestre), na Foz do Amazonas, mas que não evoluiu a ponto de despedaçar a Gondwana.

Algumas dezenas de milhões de anos depois, foi a vez de a parte oriental da Gondwana se desprender do continente, originando o subcontinente indiano, a Antártida e a Austrália.

A Gondwana ocidental inicialmente manteve-se unida, mas logo suas duas partes constituintes, as placas da América do Sul e da África, também começaram a ser forçadas em direções opostas, no início do Cretáceo Inferior (período geológico que se estende de 145 milhões a 100,5 milhões de anos atrás).

Ao longo de uma falha tectônica com milhares de quilômetros, essas placas começaram a se distanciar e a criar o Atlântico Sul. A separação se deu em diferentes frentes, iniciando-se pelo sul do continente.

“O processo de abertura do Atlântico [Sul] se iniciou de 130 a 120 milhões de anos atrás. A última parte a desprender mesmo foi a porção ali da Margem Equatorial”, explica o pesquisador do Serviço Geológico Brasileiro (SGB) Eugenio Frazão.

Fragmentações

Na Margem Equatorial, o processo de separação levou cerca de 20 milhões de anos, em pelo menos duas frentes, segundo o geólogo Adilson Viana Soares Júnior. Professor da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp) e presidente do núcleo paulista da Sociedade Brasileira de Geologia (SBGeo), Soares Júnior estudou a margem equatorial por vários anos.

“[A Margem Equatorial] começou a quebrar a partir do noroeste e foi seguindo para dentro do continente. Ou seja, veio das Guianas, do Amapá, entrou no Pará, Maranhão e depois seguiu para o Rio Grande do Norte. [A fragmentação] veio progredindo também de sudeste para noroeste, ali da Bacia de Potiguar em direção à Bacia da Foz do Amazonas”, explica o geólogo.

Segundo ele, essa fragmentação aconteceu no chamado Cretáceo Inferior, entre as idades geológicas do Barremiano (de 125,8 milhões a 121 milhões de anos atrás) e do Albiano (de 113 milhões a 100,5 milhões).

“No final do Aptiano [de 121 milhões a 113 milhões de anos atrás], já entrando para o Albiano, teve a junção desses dois sistemas, o sistema que vinha de Potiguar para a Foz do Amazonas se juntou com que vinha da Foz do Amazonas para Potiguar e viraram um só. Dois rasgos, dois rifts viraram um só, já no Albiano”, conta Soares Júnior.

Mares interiores

Nesse processo, mesmo antes da abertura total do Atlântico Sul, começaram a surgir mares interiores, imensos lagos, ricos em biota (conjunto de seres vivos). Ao mesmo tempo, toneladas de sedimentos, como silte, argila e matéria orgânica, eram despejados nesses sistemas aquáticos.

Estavam unidos ali os dois ingredientes básicos para a formação do petróleo e gás: sedimentos e biota. É nesse período de separação final da África e América do Sul que se deposita a maior parte dos sedimentos que gerarão o petróleo nesse trecho do litoral brasileiro.

“É nesse momento que os mares [na zona de fragmentação] estão surgindo, que você tem um boom de vida. Esses organismos vão morrendo e se depositando no fundo marinho, junto com o sedimento”, diz o geofísico Victor Lopes, do SGB.

Antes do início da fragmentação da Gondwana Ocidental, afirma Soares Júnior, não havia as condições para a formação dessas rochas geradoras. “Antes do rifteamento [fraturamento] não tinha o buraco em que formou a bacia. Era um grande deserto, só areia. Não tinha mar. E as rochas geradoras sempre se formam em ambiente marinho ou lacustre.”

Mas não basta somente uma colossal mistura de sedimentos com matéria orgânica morta para gerar o petróleo. É preciso contar com mais alguns eventos químicos e geológicos, não apenas para formar a o hidrocarboneto, como também para reservá-lo e impedir que ele se disperse no oceano.

Dinossauros?

Apesar de a formação dos campos petrolíferos da Margem Equatorial estar associada ao Cretáceo, quando os dinossauros ainda eram os principais representantes da megafauna terrestre, não é correto dizer que petróleo é “fóssil de dinossauro”.

A maior parte do petróleo tem origem em micro-organismos, como os fitoplânctons e zooplânctons, ou seja, protistas como algas e protozoários que vivem flutuando nas águas. Ao morrerem, esses organismos se depositam no fundo de lagos e oceanos, sendo soterrados pelos sedimentos.

“Essa história de petróleo vir dos dinossauros é totalmente mito. Ele vem sempre de micro-organismos. São fitoplânctons e zooplânctons que se proliferam e têm grande mortandade. Eles vão morrendo e se acumulando junto com o sedimento [no fundo do mar e dos lagos]”, destaca Soares Júnior.

Apesar de serem minúsculos, micro-organismos representam a maior parte da biomassa marinha do planeta. Ou seja, em conjunto, eles pesam mais do que os grandes animais, como baleias ou tubarões. Estudo publicado em 2019, por pesquisadores do Instituto de Ciências Weizmann, de Israel, estimou que organismos unicelulares (protistas e procariotos) contribuem aproximadamente com dois terços da biomassa marinha.

Coordenador do Instituto Tecnológico de Paleoceanografia e Mudanças Climáticas (ITT Oceaneons), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Gerson Fauth destaca que, no momento em que as placas da África e América do Sul começaram a se separar, apareceram, inicialmente, lagos entre essas duas massas continentais.

“Antes de chegar o mar [Oceano Atlântico], existiam lagos com deposição de matéria orgânica. Nesses lagos já tinham organismos chamados de ostracodes, microcrustáceos que viviam no fundo desses lagos”, explica Fauth.

Conforme os dois continentes vão se separando, começa a haver a entrada também de outros tipos de organismos, junto com a água dos oceanos. “O mar começou lentamente a entrar e trazer também uma fauna e uma flora de organismos muito pequenos. Destaco os foraminíferos [protozoários unicelulares com carapaças] e os dinoflagelados [algas unicelulares]”, ressalta o coordenador do ITT Oceaneons.

Uma vez soterrada pelos sedimentos, compostos por material fino como argila e silte, essa matéria orgânica precisa estar em um ambiente anóxico (ou seja, sem oxigênio ou com baixa concentração do gás) para evitar sua degradação por outros seres vivos.

Sistema petrolífero

Com o passar dos anos, novos sedimentos vão sendo depositados sobre essa camada sedimentar com a matéria orgânica, aumentando a temperatura e a pressão sobre ela. Nesse processo, forma-se a chamada rocha geradora.

O componente orgânico dessa rocha são os restos das moléculas que formavam a estrutura básica dos seres vivos: proteínas, açúcares, ácidos nucleicos e gorduras. O que todos esses compostos orgânicos têm em comum é a grande quantidade de átomos de carbono e hidrogênio.

Submetida às altas pressão e temperatura dos sedimentos depositados acima, lentamente, essa matéria orgânica se transforma em petróleo e gás, chamados de hidrocarbonetos porque são compostos formados principalmente por cadeias de carbono e hidrogênio. Esse processo, chamado de catagênese, pode levar dezenas de milhões de anos.

Essa é apenas a primeira peça de um sistema petrolífero. Uma vez formado, o petróleo começa a se infiltrar por fissuras na rocha geradora e a migrar. Sendo menos densos que a água, tanto o óleo quanto o gás tendem a buscar a superfície, como se fossem as bolhas de ar que soltamos quando estamos submersos.

Nesse processo, ele vai se infiltrando, no decorrer de um longo tempo, pelos poros da rocha até atingir um local onde fica preso. Esse local, chamado de rocha reservatório, é selado por uma camada rochosa impermeável, que impede a saída do óleo, chamada de capeadora (ou selante).

“O sistema petrolífero precisa ter a rocha geradora embaixo, a reservatório no meio e a selante em cima. Quando ele não consegue passar para a superfície, ele começa a se acumular em grandes bolsões dentro da rocha reservatório. Isso é algo que ocorre ao longo de um tempo grande, ao longo de milhões de anos”, explica Soares Júnior.

O reservatório precisa estar em uma trapa, isto é, um local que seja selado não apenas em cima, mas também nas laterais, para impedir que o petróleo escape pelos lados. Um outro elemento-chave do sistema petrolífero é o sincronismo.

Tudo precisa acontecer no momento certo para que o petróleo seja reservado. Se não houver uma trapa quando o petróleo formado iniciar sua migração, ele se perderá para sempre, espalhando-se na água.

Petróleo equatorial

Segundo a ANP informou à Agência Brasil, as principais formações geológicas com potencial para geração de petróleo na Margem Equatorial são folhelhos formados ao longo de mais de 30 milhões de anos ao longo do Cretáceo.

Folhelhos são rochas sedimentares formadas pela compactação de sedimentos de grãos finos, como argilas e siltes. É uma espécie de lama também conhecida na indústria petrolífera pelo nome em inglês, shale, que, com o passar de milhões de anos, se torna uma rocha.

Na Foz do Amazonas, por exemplo, os principais geradores potenciais de petróleo são das formações geológicas conhecidas como Codó e Limoeiro, que datam do Aptiano e do Cenomaniano-Turoniano (de 100,5 milhões a 89,8 milhões de anos atrás).

A formação mais antiga no entanto, é Pendência, na Bacia de Potiguar, que se formou com as primeiras movimentações tectônicas antes mesmo do início da abertura do Atlântico Sul, entre as idades do Berriasiano (de 145 milhões a 139,8 milhões de anos atrás) e do Barremiano.

“Essa formação foi a primeira a se depositar nesta bacia, em ambiente totalmente continental (lagos e rios). América do sul e África estavam ainda coladas nessa região. Ainda eram o mesmo continente e a bacia era apenas um lago na paisagem da época. O ambiente da formação é principalmente lacustre, com potencial pra depositar matéria orgânica e ser uma geradora, com sedimentos de rios nas bordas do lago”, explica Soares Júnior.

As formações posteriores já se desenvolvem a partir do momento em que o oceano estava se abrindo: Paracuru e Mundaú (da Bacia do Ceará), que se desenvolveram no Aptiano; Alagamar (de Potiguar), que vai do Aptiano ao Albiano; o grupo Caju (da Bacia Pará-Maranhão), cuja formação se estende do Albiano ao Cenomaniano (de 100,5 milhões a 93,9 milhões de anos atrás); Preguiças (da Bacia de Barreirinhas), que data do Cenomaniano; e Travosas (do Pará-Maranhão e de Barreirinhas), que teria sido formada no Turoniano (de 93,9 milhões a 89,8 milhões de anos atrás).

A sedimentação da Margem Equatorial não parou no período Cretáceo Superior (de 100,5 milhões a 66 milhões de anos atrás), mas adentrou a nossa atual era Cenozoica, e continua até hoje. Essa sedimentação contínua permitiu a formação de rochas reservatórios (mais porosas que as geradoras, como os arenitos) e das selantes.

A deposição dos sedimentos que dariam origem aos reservatórios potenciais conhecidos vai do Cretáceo Inferior até pelo menos o Neógeno (de 23,03 milhões a 2,58 milhões de anos atrás), se considerarmos todas as bacias.

Ao contrário do que pode se pensar, o Rio Amazonas não tem qualquer relação com a formação de rochas geradoras de petróleo conhecidas na bacia batizada com o nome de sua foz, uma vez que ele foi formado muito mais recentemente. Apesar de não haver consenso na comunidade científica, acredita-se que o curso atual do rio tenha sido traçado entre 10 milhões e 2,5 milhões de anos atrás.

Apesar disso, o rio pode ter tido papel importante na transformação da matéria orgânica em petróleo nessas rochas geradoras, ao criar, com quilômetros de sedimentos, a temperatura e a pressão adequadas para a formação de hidrocarbonetos. Há regiões em que os sedimentos do Amazonas chegam a 9 quilômetros de profundidade.

Além disso, seus sedimentos também têm potencial para a formação de rochas reservatórios. “Ele não teve papel na formação [das rochas] do petróleo, mas pode ter influência na formação de reservatórios, porque a quantidade de sedimento que o rio trouxe tem potencial para ser reservatório. A formação de uma [rocha] geradora é um processo geológico que requer muito tempo, para chegar no ponto de maturação e temperatura para gerar o hidrocarboneto. É pouco provável que as rochas mais recentes, do Rio Amazonas, tenham potencial para serem geradoras”, conclui Soares Júnior.

Milhões de anos em décadas

O que fica claro ao entender como se formaram o petróleo e os reservatórios da Margem Equatorial é que processos geológicos levam uma quantidade de tempo gigantesca, se comparados com a escala de vida humana.

Acredita-se que a nossa espécie só tenha começado a existir há poucas centenas de milhares de anos, na idade do Chibaniano (entre 774 mil e 129 mil anos atrás). Uma pessoa centenária precisaria de 10 mil vidas para presenciar um processo geológico de 1 milhão de anos.

No decorrer dos milhões de anos em que estão se formando, as rochas geradoras acumulam milhões de toneladas de matéria orgânica, ou seja, de carbono. Enquanto está guardado sob metros ou quilômetros de rochas e sedimentos, esse elemento químico não é liberado na atmosfera.

“Houve um acúmulo de carbono no passado e a gente está liberando esse carbono. A gente está jogando na atmosfera tudo aquilo que o sistema sedimentou”, afirma o geólogo Gerson Fauth.

E essa retirada do carbono do subsolo e seu lançamento na atmosfera, principalmente na forma de dióxido de carbono (um gás que acumula calor), se dá em uma escala de tempo humana. Estima-se que todas as reservas conhecidas de óleo do mundo serão esgotadas em algumas décadas.

A Petrobras estimava, no fim de 2024, por exemplo, que suas reservas de petróleo e gás provadas na época, de 11,4 bilhões de barris, se esgotariam em apenas 13,2 anos com o ritmo atual de extração desses produtos. Ou seja, a idade de uma criança que acabou de chegar à adolescência.

“Existem estudos que dizem que, se a gente nada fizer neste exato momento para contornar essa situação, em 2100 a gente vai chegar ao clima que tinha há 40 milhões de anos, ou seja, quando não tinha calota polar. Se nada for feito, boa parte ou a totalidade dessas geleiras vão ser derretidas em 2100, se a gente continuar numa velocidade elevada do aumento da temperatura”, conclui Fauth.

Fonte: Agência Brasil


sexta-feira, 23 de maio de 2025

Veja como regularizar na Justiça o título eleitoral cancelado

 







Mais de 5 milhões de títulos foram cancelados, diz TSE

Quem teve o título cancelado pela Justiça Eleitoral ainda pode requerer a regularização do documento, evitando assim impedimentos como o de votar e ser votado.

Na segunda-feira (19), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou que mais de 5 milhões de títulos foram cancelados pois seus detentores faltaram às três últimas eleições de votação obrigatória e não justificaram a ausência ou pagaram a multa estipulada pela legislação.

Além de não poder participar do pleito, seja votando ou sendo votado, o cidadão com título cancelado fica sujeito a uma série de impedimentos, não podendo tomar posse em concursos públicos, renovar matrícula em instituições de ensino pública ou tirar passaporte.

Para regularizar, o eleitor deve primeiro checar a situação de seu título, presencialmente no cartório eleitoral de seu domicílio eleitoral ou no autoatendimento pela internet. Se for confirmado o cancelamento, o cidadão pode protocolar um requerimento para que o documento seja regularizado fora do prazo.

É necessário justificar, de preferência com provas documentais, a ausência nos pleitos de comparecimento obrigatório, ou pagar as multas correspondentes. Também não adianta somente cumprir as exigências, sendo imprevisível também preencher o requerimento específico, seja no próprio cartório ou no autoatendimento online, clicando na opção Título Eleitoral e, depois, em opção 6.

A verificação e o cancelamento de títulos irregulares ocorrem sempre em anos não eleitorais, como forma de manter atualizado o cadastro nacional de eleitores e conforme determina a legislação eleitoral.

Fonte: Agência Brasil

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Saiba o que muda com a nova política de ensino a distância do Brasil

 








Decreto determinou cursos que serão exclusivamente presenciais

O Ministério da Educação (MEC) revisou as regras para a oferta de educação a distância (EaD) nos cursos do ensino superior com o objetivo de garantir a qualidade dos serviços e o desenvolvimento da aprendizagem de todos os estudantes.

O governo federal, após meses de discussão com os setores envolvidos – como gestores da área educacional, especialistas, conselhos federais e representantes das instituições de educação superior – publicou nesta semana o decreto que trata do tema.

A Agência Brasil explica o que muda com a nova política de EaD.

Formatos dos cursos

A partir do novo marco regulatório da educação a distância, nenhum curso de bacharelado, licenciatura e tecnologia poderá ser 100% a distância.

Os cursos de graduação podem ser oferecidos em três formatos:Cursos presenciais: com pelo menos 70% da carga horária em atividades presenciais, com a presença física de estudantes e professor nas aulas; atividades em laboratórios físicos; frequência a estágios presenciais;
Cursos em EaD: oferta majoritária de carga horária a distância, composta por aulas gravadas e atividades em plataformas digitais de ensino. Porém, o decreto impõe o limite mínimo de 10% da carga horária do curso em atividades presenciais; e, no mínimo, 10% em atividades síncronas mediadas.
Cursos semipresenciais: criado pelo novo decreto, é composto obrigatoriamente por carga horária de 30% de atividades presenciais; e, no mínimo, 20% em atividades síncronas mediadas;atividades presenciais físicas (estágio, extensão, práticas laboratoriais);
atividades síncronas mediadas: devem ser realizadas com, no máximo, 70 estudantes por docente ou mediador pedagógico e controle de frequência dos estudantes;

Tipos de atividades

A nova política uniformiza as seguintes definições:

Atividades presenciais: realizada com a participação física do estudante e do docente em lugar e tempo coincidentes;

Atividades assíncronas: atividade de EaD na qual o estudante e o docente estejam em lugares e tempos diversos;

Atividades síncronas: atividade de EaD na qual o estudante e o docente estejam em lugares diversos e tempo coincidente;

Atividades síncronas mediadas: atividades interativas, com grupo reduzido de estudantes, apoio pedagógico e controle de frequência. Neste tipo de atividade, os estudantes e o docente estão em lugares diversos e tempo coincidente (ao vivo). O objetivo é garantir a efetiva interação no processo de ensino-aprendizagem.

Proibições em EaD

De acordo com o decreto, os cursos superiores de medicina, direito, odontologia, enfermagem e psicologia só poderão ser ofertados no formato presencial. O MEC justifica que a necessidade de realização de atividades práticas, laboratórios presenciais e estágios torna a formação nesses casos “incompatível com o formato da educação a distância”.

Pela portaria 378, o curso de medicina terá de ser integralmente ofertado por meio de atividades presenciais, vedada qualquer carga horária a distância.

O mesmo documento detalha que os outros quatro cursos de graduação (direito, odontologia, enfermagem e psicologia) poderão ter, no máximo, 30% da carga-horária em atividades a distância.

Cursos semipresenciais

Para o formato semipresencial, também chamado híbrido, o MEC estipulou na portaria 378 que cursos de licenciaturas, que formam professores, e de áreas como as de saúde e bem-estar também não poderão ser ofertados 100% no remoto. Estes cursos deverão ser somente em dois formatos: presencial ou semipresencial.

Os cursos classificados nesta nova portaria que regulamenta o decreto são das seguintes áreas: educação, ciências naturais, matemática e estatística; saúde e bem-estar; engenharia, produção e construção; e agricultura, silvicultura, pesca e veterinária.

São exemplos de cursos nesta situação: fisioterapia, farmácia, educação física, medicina veterinária, biomedicina, fonoaudiologia e nutrição.

Posteriormente, a pasta poderá definir outras áreas de cursos vedados para EaD.

Infraestrutura física

Em relação ao local, as atividades presenciais dos cursos de ensino superior das modalidades semipresencial e à distância podem ser ofertadas tanto na sede física da instituição, como em seus campi (fora de sede e de seus polos EaD).

O polo EaD deve funcionar como um espaço acadêmico para o efetivo apoio ao estudante. Por este motivo, a infraestrutura física e tecnológica deve ser adequada às especificidades de cada curso ofertado.

Há também a exigência de infraestrutura mínima como: sala de coordenação; ambientes para estudos; laboratórios (quando aplicável); acesso à internet.

Além disso, não será permitido o compartilhamento de polos EaD entre instituições de ensino superior diferentes.

Prazo de adaptação

As instituições de educação superior terão prazo de até dois anos para adequar gradualmente os cursos às novas regras.

Nesta transição, devem ser garantidos os direitos dos estudantes. É responsabilidade da instituição de educação superior assegurar a continuidade da oferta do curso no formato EaD até a conclusão das turmas em andamento.

Estudantes do EaD

A partir da nova norma, todos os estudantes matriculados em cursos que não poderão mais ser ofertados 100% online terão assegurado seu direito de conclusão do curso no formato EaD, desde que seja o formato escolhido no ato de matrícula.
Provas presenciais

Cada disciplina dos cursos de graduação a distância deverá ter, pelo menos, uma avaliação presencial. No momento da avaliação, a instituição de ensino deve verificar a identidade dos estudantes para evitar fraudes.

Esta avaliação presencial deve ser a maior na composição da nota final do estudante para atestar se o aluno foi aprovado ou não naquela disciplina.

Segundo o MEC, o objetivo da exigência é incentivar o desenvolvimento de habilidades discursivas de análise e síntese ou que possuam natureza de atividade prática.

Mediador pedagógico

A nova política de EaD cria a figura do mediador pedagógico nos cursos de graduação a distância. O MEC esclarece que o mediador pedagógico não é um tutor, que desempenha função apenas administrativa e, por isso, não pode exercer funções pedagógicas.

Já o mediador pedagógico deve possuir formação acadêmica compatível com o curso. No exercício de suas atividades deverá ajudar a esclarecer dúvidas de aprendizagem dos estudantes e apoiar o processo de formação deles.

A quantidade de professores e mediadores deve ser compatível com o número de estudantes sob mediação deste profissional.

Os mediadores pedagógicos devem estar vinculados à instituição de educação superior e devem ser informados anualmente ao MEC e ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), por meio do Censo da Educação Superior.

Mais dúvidas podem ser tiradas no site do MEC.

Fonte: Agência Brasil

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Trópicos registram perda recorde de floresta primária

 











Levantamento mostra destruição de 18 campos de futebol por minuto

Em 2024, países dos trópicos, como o Brasil e a Bolívia, perderam 6,7 milhões de hectares de floresta primária. A área, que corresponde à do Panamá inteiro, é a maior já registrada pelo Laboratório de Análise e Descoberta de Terras Globais (Glad Lab), da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

Os dados, que podem ser vistos na plataforma Global Forest Watch (GFW), do World Resources Institute (WRI), confirmam a destruição de 18 campos de futebol por minuto. Os incêndios florestais são o principal fator para a perda vegetal - algo que os especialistas destacam, a fim de diferenciar de desmatamento, já que esse pressupõe ação humana e nem sempre é o contexto de todas as situações monitoradas. Eles acrescentam que, ainda que os incêndios sejam um fenômeno natural em certos ecossistemas, em florestas tropicais são quase sempre provocados pelo ser humano.

Os incêndios queimaram cinco vezes mais floresta tropical primária em 2024 do que em 2023. Um grupo de apenas dez países responderam por 87% da perda registrada no ano passado, estando no topo da lista o Brasil, onde 42% da perda nos trópicos ficaram concentrados. Também compõem a relação a Bolívia, que subiu para a segunda posição nesse último ano de análise, a República Democrática do Congo, Indonésia, o Peru, Laos, a Colômbia, Camarões, a Nicarágua e o México.

Em todo o mundo, houve também um recorde de perda de cobertura arbórea, ou seja, o agravamento do quadro não ficou limitado às florestas tropicais primárias. O monitoramento indicou aumento de 5% na perda total, na comparação com 2023, o que elevou a soma da área devastada para 30 milhões de hectares e fez com que, pela primeira vez, os pesquisadores constatassem grandes incêndios consumindo vegetação tanto nos trópicos quanto em florestas boreais.

O acadêmico e codiretor do Glad Lab, Peter Potapov, explicou que foram identificadas perdas significativas, inclusive em locais remotos, como o Alasca, em pontos do Canadá e também na Sibéria. Para Potapov, há preocupação com o fato de atingir florestas em pontos mais recuados porque "nos cenários intactos não há atividade industrial".

Brasil

Quanto ao caso específico do Brasil, Potapov apontou os fatores que contribuem para o avanço na devastação de florestas intactas.

"A agricultura industrial, a mineração e a exploração madeireira são os principais responsáveis por sua perda", afirmou, em resposta ao questionamento da Agência Brasil.

O resultado da generalização é atribuído também ao volume de gases de efeito estufa produzido pelos incêndios. Foram expelidas 4,1 Gt, quantidade quatro vezes maior do que em 2023.

"Isso tem que ser um chamado para todos os países, os negócios, porque, se continuar nesse caminho, vamos devastar tudo, não vamos frear a mudança climática e teremos grandes impactos", recomendou a codiretora da GFW.

Segundo o catedrático Matt Hansen, também codiretor do Glad Lab, o documento com as informações consolidadas completa uma década com indicativos críticos. "Estamos vendo esse relatório como más notícias", resumiu.

Biomas brasileiros

No relatório, constam mais detalhes sobre o período atravessado pelo Brasil, país com o maior número de florestas primárias tropicais do mundo. De acordo com a equipe do Glab Lab, as taxas de perda não relacionada a incêndios também subiram 13% em 2024, mas permaneceram abaixo dos picos do início dos anos 2000 e também dos alcançados durante o governo anterior.

No documento, os pesquisadores atribuem, principalmente, ao desmatamento de florestas para monocultivo de soja e para a pecuária a responsabilidade pela perda de floresta primária. Eles reconhecem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem buscado garantir a preservação dos biomas por meio de políticas socioambientais, com a revogação de leis, a demarcação de terras indígenas e ações que visam ao cumprimento da legislação em vigor, mas que essa evolução ainda está ameaçada pela expansão agropecuária.

A Amazônia teve a maior perda de vegetação desde o recorde em 2016, saltando 110% de 2023 a 2024, sendo os incêndios o elemento central no ano passado. O Pantanal, por sua vez, foi o bioma que apresentou o maior percentual de perda de cobertura arbórea.

Fonte: Agência Brasil

terça-feira, 20 de maio de 2025

Governo do Rio Grande do Sul tem controle rigoroso e segue protocolos internacionais contra gripe aviária

 

Diretora Rosane Collares e Ananda Kowalski, coordenadora do Programa de Sanidade Avícola da Seapi - Foto: Divulgação Seapi










Secretaria da Agricultura detalha ações sanitárias, de contenção, uso de tecnologia e protocolos ambientais adotados pelo RS

Nesta semana, Montenegro segue no foco das ações do governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), para conter o foco de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1). A diretora do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA/Seapi), Rosane Collares, esclarece nesta entrevista as medidas adotadas no município, que seguem protocolos nacionais e diretrizes da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Veja os principais pontos no formato de pergunta e resposta.

Quais são as ações previstas para Montenegro nesta semana?

As ações seguem o Programa Nacional de Controle de Influenza Aviária e Doença de Newcastle, alinhadas às diretrizes da OMSA. Estamos atuando em duas frentes principais. A primeira são as barreiras sanitárias, com desinfecção de veículos que transportam material orgânico, como animais, ração, ovos, leite e camas de aviário — veículos que entram e saem de várias propriedades rurais. Isso reduz o risco de circulação do vírus. A segunda frente é a vigilância nas propriedades dentro do raio de três a sete quilômetros do foco. Nessas visitas, os médicos veterinários fazem a inspeção clínica dos animais e, na ausência de sinais clínicos, preenchem um formulário com dados de interesse e realizam a vistoria do local.

Essas ações fazem parte de protocolos nacionais e internacionais?

Sim. Tudo está bem detalhado no Plano Nacional de Controle e Erradicação da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) e da Doença de Newcastle. As diretrizes seguem recomendações da OMSA.

Como a Plataforma de Defesa Sanitária Animal (PDSA-RS) ajuda no monitoramento das ações?

A PDSA é uma ferramenta de geolocalização com um módulo específico para atuação em focos. Ela agiliza a organização das equipes, permitindo dividir as propriedades em setores de atuação. Atualmente, temos dois fiscais médicos-veterinários em campo usando essa tecnologia: eles recebem seu roteiro, fazem as visitas e inserem as informações no sistema, permitindo à equipe de gestão acompanhar tudo em tempo real. Assim, podemos tomar decisões rápidas, como reforçar o número de profissionais em uma área, se necessário.

O Rio Grande do Sul trabalha com o conceito de tolerância zero para casos de Influenza. O que isso significa e quantas amostras já foram coletadas?

Desde 2022, com a chegada da Influenza Aviária na América do Sul, adotamos o conceito de tolerância zero. Isso significa que qualquer alteração comportamental ou sintoma respiratório ou neurológico em aves gera a coleta imediata de amostras. Desde então, o RS é o segundo estado com maior número de coletas, com 147 amostras enviadas para diagnóstico laboratorial.

Como funciona o processo de detecção do vírus e em quanto tempo sai o resultado?

As amostras são enviadas ao laboratório de referência do Ministério da Agricultura, localizado em Campinas (SP), por meio de um convênio com a Fundesa. Em casos negativos, o resultado sai entre 24 e 48 horas. Se houver suspeita, outras análises são feitas até a confirmação final.

Como é feito o descarte dos animais em caso de foco? Esse procedimento também segue normas ambientais?

Sim. As valas sanitárias são abertas com avaliação de órgãos ambientais para evitar contaminação do solo e da água. O método de descarte varia conforme o porte do animal e pode envolver quebra cervical ou uso de CO₂, sempre priorizando segurança ambiental e bem-estar animal.

Qual a orientação para a população quanto ao consumo de ovos e carnes?

Não existe risco zero, mas o risco é considerado insignificante, já que a cultura alimentar brasileira envolve o consumo desses alimentos cozidos. A recomendação é consumir sempre produtos de procedência conhecida, com inspeção federal, estadual ou municipal.

Quanto tempo leva para que o Estado retome a condição sanitária anterior e volte a exportar normalmente?

Se todas as etapas dos protocolos forem cumpridas, o prazo mínimo é de 28 dias — dois ciclos de incubação do vírus, que é de 14 dias. Já a retomada das exportações depende dos acordos comerciais com cada país, e geralmente é tratada caso a caso.

Fonte:Texto: Ascom Seapi
Edição: Secom

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Internações por inflamações intestinais cresceram 61% em dez anos










Sociedade de Coloproctologia faz campanha para alertar sobre doenças

As doenças inflamatórias intestinais são enfermidades que afetam o trato gastrointestinal e que resultaram, nos últimos dez anos, em 170 mil internações no Sistema Único de Saúde (SUS).

Os dados são de um levantamento da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), com base no Sistema de Informações Hospitalares do SUS, do Ministério da Saúde.

Esses dados mostram ainda um crescimento de 61% nas internações em 2024 (23.825), na comparação com 2015 (14.782).

As principais formas de doenças inflamatórias intestinais são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. São condições crônicas para as quais ainda não há uma cura definitiva, segundo a SBCP.

“O número de internações aumentou exponencialmente nos últimos anos não só pela severidade dos casos, mas também pelo aumento da incidência, isto é, aparecimento de novos pacientes sem tratamento”, destaca a diretora de comunicação da SBCP, a coloproctologista Ana Sarah Portilho.

Ana ressalta que há um número maior de casos em capitais e em regiões com maior industrialização e urbanização.

As doenças inflamatórias intestinais, também conhecidas como DIIs, são o alvo de uma campanha de conscientização realizada pela SBCP neste mês, apelidado de Maio Roxo. O dia 19 de maio, aliás, é o Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais.

De acordo com a SBCP, é importante ter um diagnóstico correto e iniciar um tratamento o mais cedo possível.


“Nosso objetivo é alertar para a importância do diagnóstico precoce e em seguida do tratamento adequado, a fim de proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente e até mesmo remissão dos sintomas”, afirma o presidente da SBCP, Sergio Alonso Araújo.

Doenças

Segundo a coloproctologista Mariane Savio, as DIIs “podem acometer pessoas de todas as idades, mas são muito comuns em adultos jovens, que estão em uma fase produtiva da vida. Então, são doenças que, se não forem tratadas adequadamente e controladas, podem tirar a qualidade de vida do paciente, causar faltas ao trabalho e prejudicar muito esses pacientes e a família deles. São doenças que exigem um diagnóstico e um acompanhamento médico contínuos.”

Entre os principais sintomas das DIIs estão diarreia crônica (podendo haver sangue, muco ou pus), dor abdominal, urgência de evacuar, falta de apetite, cansaço e perda de peso.

Em casos mais graves, as doenças podem provocar anemia, febre e distensão abdominal, além de afetar outras partes do corpo, como as articulações (artrite), a pele (dermatite e piodermas) e oftalmológicas (uveítes).

A retocolite atinge a mucosa do intestino grosso. Já a doença de Crohn pode atingir todo o trato gastrointestinal, ou seja, da boca até o ânus, mas é mais comum no intestino, onde afeta todas as camadas desse órgão: os revestimentos interno (mucosa) e externo (serosa), além dos tecidos internos (submucosa e músculo).

Os mecanismos que levam ao surgimento dessas doenças ainda não foram esclarecidos, mas sabe-se que elas são resultado de uma conjunção de fatores genéticos, ambientais e imunológicos.

O fumo, por exemplo, é um fator que agrava essas enfermidades.

O diagnóstico é feito através da análise do histórico clínico da pessoa e de exames como endoscopia, colonoscopia, tomografia e ressonância magnética.


“O tratamento precoce da doença, ou seja, nos primeiros dois anos de sintomas, reduz muito o risco de o paciente vir a precisar de cirurgias, por exemplo, e melhora a resposta dele aos tratamentos. Os estudos mostram que os tratamentos, quando são instituídos mais precocemente, têm uma resposta muito melhor do que quando tardiamente”, afirma Mariane.

Como ainda não há cura para essas condições, o tratamento envolve controlar os sintomas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, através de medidas como adotar uma alimentação saudável, parar de fumar e praticar exercícios físicos.

Medicamentos como aminossalicilatos, imunossupressores e imunobiológicos podem ser usados, dependendo do caso.

Mariane destaca que, nos últimos, anos houve muitos avanços no tratamento dessas doenças e que a aprovação de novas terapias amplia as opções para os pacientes. A campanha da SBCP envolverá publicações e vídeos em suas redes sociais [LINK: https://www.instagram.com/portaldacoloproctologia], que esclarecem sobre as principais dúvidas relacionadas às DIIs.

Fonte: Agência Brasil

domingo, 18 de maio de 2025

EUGÊNIO ALVES MARTINS














É no auge de seus 90 anos, , que Eugênio Alves Martins, morador de General Câmara, em meio a suas medalhas e seus quadros de homenagens emoldurados na sala de casa, volta no tempo e recorda de quando serviu ao Exército no Rio de Janeiro e São Paulo. Relembra os dias difíceis em que lutou na Força Expedicionária Brasileira (FEB), defendendo o país na Segunda Guerra Mundial, e fala dos bons tempos em que trabalhou com o então presidente João Goulart. Natural de Jaguari, no oeste do Estado, quando menino, Eugênio foi morar em Bossoroca, local em que seu pai tinha herdado algumas terras.

- Eu trabalhava com agricultura, plantei muito arroz em sociedade com um amigo meu. Plantei na fazenda dele. Por lá nos desentendemos e acabamos brigando. A briga acabou na justiça e resultou em uma indenização. Parte foi pago em gado e a outra, em dinheiro. Meu pai me aconselhou a não gastar o dinheiro, mas eu não dei ouvidos e fui embora. Fui para Santiago com o meu avô. Parei na casa de um primo, que era sargento, o Calistrado. Disse para ele que queria servir e ele prontamente me levou ao quartel. Fui apresentado ao coronel e já fiquei por lá mesmo. Servi quase três anos no Exército, lá em Santiago do Boqueirão. Eu tinha 16 anos – conta ele.
Após dois anos, Eugênio alçou voos mais altos. Foi como voluntário para o Rio de Janeiro, para o Esquadrão Metralhadora.
- Tempos depois, fui servir no Batalhão de Gala do Rio e fiz alguns cursos. Também trabalhei no QG do Getúlio Vargas, da Força Expedicionária Brasileira. Nesse tempo, fiquei quase três anos no Rio. Depois, fui transferido para São Paulo – completa.

Os tempos de Guerra

Ciente que poderia ir para a Guerra, Eugênio não se amedrontou diante da convocação. A Segunda Guerra Mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945, e envolveu a maioria das nações do planeta. O número de mortes superou os 50 milhões, havendo ainda 28 milhões de mutilados.
A viagem para Itália, feita de navio em 1942, durou 12 dias e 12 noites.
- Éramos quatro mil soldados e fomos todos em um navio. Eu peguei coisas boas no trajeto. Eu era especialista da Companhia de Guarda, ficamos separados do resto do grupo. Ganhamos cama para dormir no convés. Os outros soldados ficaram em lonas. Mas passamos muito trabalho. Quando terminava o almoço, já entrava na fila da janta, de tanta gente que tinha – lembra.

No Pelotão de Reconhecimento

Na Itália, Eugênio fazia parte do Pelotão de Reconhecimento.
- O grupo reconhecia a posição para as tropas poderem avançar. Se fôssemos atacados, seríamos sempre os primeiros. Nosso distintivo era uma cobra fumando. Quando a coisa ficava feia, diziam “A cobra está fumando” – afirma, aos risos.

Tudo pela vida do amigo

Durante uma operação de alto risco, Eugênio não mediu esforços para salvar a vida de um amigo de infância e companheiro na guerra.
- Em uma diligência, nos deparamos com duas patrulhas inimigas. Junto comigo, tinha esse meu amigo; nos criamos em Bossoroca, era filho de um fazendeiro. Ele ficou atrás de mim, em uma trincheira. Eu me desloquei e pedi para ele ficar na trincheira onde eu estava. Quando se mexeu, veio uma bomba e o impacto levantou seu corpo. Ele foi atingido por tiros de metralhadora. Começou a gritar e a chorar. Peguei ele e o carreguei nas minhas costas. Caminhei uns 300 metros, em uma montanha, até encontrar ajuda. Ele foi levado para os Estado Unidos, ficou dois anos lá. Voltou com perna mecânica e com outras próteses no corpo. Eu o visitei depois disso. Ficou muito agradecido por eu ter ajudado ele durante a guerra. Até presente a família dele me mandou – diz.

“Em uma guerra, soldado não tem medo”



Depois que deixou o amigo a salvo, Eugênio voltou para o combate e acabou matando um tenente alemão.
- Quando voltei, prendemos uns 50 soldados. E tinha um tenente alemão, que não queria levantar as mãos. Eu gritava para ele: levanta as mãos, levanta as mãos! Ele estava armado. E quando fez um gesto, achei que fosse pegar a arma e acabei atirando nele. Matei-o. Caminhamos 100 metros e voltei. Lembrei que o alemão tinha um anel muito bonito no dedo. Pensei: vou lá ver aquele anel. Ele estava trancado no dedo, mas o tirei.
Era de ouro com brilhante. Anos depois, empenhei o anel em General Câmara – recorda.
Eugênio tinha o sobrenome da avó como seu nome de guerra. O Machado, como todos o conheciam, não passou ileso em um dos combates mais sangrentos da história.
- Fui atingido por uma granada, em 30 de março de 1945. Atirei-me em um valo e não consegui proteger as pernas. Tive muitas queimaduras. Fiquei quatro dias no hospital de campanha. Mas eu não tinha medo. Em uma guerra, soldado não tem medo. Quando a gente saia para o front, nos davam um chiclete amarelo americano, e tu ficava com uma coragem medonha. Nem fome a gente tinha. Fiquei na Itália uns três anos. Participei de quatro batalhas. Saíamos camuflados do mato, tínhamos estratégia de guerra. A turma de reconhecimento vai junto com a infantaria para fazer um croqui da tropa inimiga para entregar ao comandante. Só faz a defesa - destaca.
O casamento durante a guerra
Em meio ao caos, Eugênio casou-se com uma italiana, em Pisa, na Itália.
- Foi em 1944. Ela era professora. Eu tinha que carregar ela disfarçada de homem, pois não podia fazer transporte de mulher. Ela veio embora comigo para Porto Alegre depois da guerra. Eu mandei buscar minha sogra e meu cunhado. Eles moravam comigo, no Partenon. Mas tive muito atrito com minha sogra. Tivemos dois filhos, um homem e uma mulher, mas a menina morreu. O casamento não durou muito, nos separamos aqui no Brasil – lembra.
“Saía para o front e não sabia se voltava”
As lembranças da guerra ainda comovem Eugênio. Assume que em certos momentos tem vontade de chorar ao lembrar-se de alguns episódios, mas não se arrepende de ter representado seu país em um momento difícil da história mundial.
- Uma guerra não é brincadeira. Não é fácil ir para um lugar onde a gente não conhecia nada. Andávamos com água pelo pescoço durante a noite. Vi muita gente morrendo do meu lado. Vi até um soldado caminhando sem cabeça. Ele levou muitos tiros e seguiu caminhado por alguns segundos. As pessoas mortas pareciam um gado abatido. Eu ficava muito abalado. Saia para o front e não sabia se voltava. Mas eu estava preparado para isso. Fui como voluntário. O medo lá era constante. Estive de norte a sul da Itália.
– pontua.
Eugênio ficou na Europa até o final da guerra. Tinha planos de ficar no Pelotão de Sepultamento, no cemitério dos Pracinhas, na Itália.
- Decidi voltar para o Brasil com minha esposa. Levei 30 noites para voltar, de navio.

No Brasil

De volta ao Brasil e com as queimaduras da guerra estampadas em suas pernas, Eugênio trabalhou com o presidente João Goulart, que governou o país de 1961 a 1964.
- Eu trabalhei sete anos como milico do Jango. Fazia a sua guarda. Ele era como um irmão pra mim. Eu me dava com a família dele, que morava em São Borja. Quem me levou para trabalhar com ele foi um primo do João, que me falou: “o João Goulart precisa de dois sargentos para trabalhar para ele. Eu me lembrei de vocês”. Fiquei também seis meses em Fernando de Noronha. Quando vim embora, trabalhei com o João. Foi um tempo bom. Nunca me faltou nada. Sempre estávamos de prontidão para defendê-lo. Ele ia seguido para a fazenda em São Borja – afirma.
Em Porto Alegre
Com a vinda para Porto Alegre, Eugênio não demorou muito para chegar a General Câmara.
-Eu vim para cá com o coronel que era meu amigo na Itália. Era meu comandante lá. Veio comandar o 3º Exército aqui. Com a o Movimento pela Legalidade, liderado pelo Brizola, esse coronel botou o Exército a favor do Brizola. Nesse tempo, o comandante do regimento me deu um ofício e disse que tinha arrumado uma vaga para mim, aqui no Arsenal, em General Câmara. Apresentei-me e fiquei por aqui. Fiquei um tempo em um hotel e depois me deram uma casa – fala.
Em General Câmara, Eugênio conheceu a atual esposa, Vivalda da Costa Pacheco, com quem já está casado há mais de 50 anos.
- Tenho quatro filhos. O filho com a italiana tem 60 e poucos anos. Com a minha segunda esposa, o filho mais novo faleceu – ressalta.
Aposentado há 30 anos, Eugênio não cansa de mostrar as medalhas que ganhou. Os quadros emoldurados na parede são a memória viva de tempos de dificuldade e de vitórias. O mapa da guerra, as medalhas de sangue, fazem parte da sua vida.
- Pena que eu já não lembre mais de algumas coisas. Mas essa é a minha história – finaliza.

Fonte:
Viviane Bueno
Jornal Portal de Notícias 11/09/2012

Gripe aviária: tire suas dúvidas sobre doença que afeta aves

 







Brasil confirma primeiro caso da infecção no Rio Grande do Sul

O Brasil confirmou esta semana o primeiro caso de vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em um matrizeiro de aves comerciais no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, trata-se do primeiro foco de IAAP detectado em sistema de avicultura comercial do país.

Em nota, a pasta destacou que a doença não é transmitida pelo consumo de carne nem de ovos.

“A população brasileira e mundial pode se manter tranquila em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer restrição ao seu consumo. O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas (vivas ou mortas)”.

Desde o anúncio do primeiro caso de IAAP no país, China, União Europeia e Argentina suspenderam as importações de carne de frango brasileira, inicialmente por um prazo de 60 dias. Apesar do foco ser regional, as restrições comerciais, no caso da China e do bloco europeu, abrangem todo o território nacional, por exigências previstas em acordos comerciais com o Brasil.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, desde 2006, casos de IAAP vêm sendo registrados em diversas partes do mundo, sobretudo na Ásia, na África e no norte da Europa.

Confira, a seguir, as principais perguntas e respostas sobre a infecção, conforme avaliação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

O que é a influenza aviária?

A influenza aviária, comumente conhecida como gripe aviária, é uma doença causada por vírus influenza originários de aves. Esses vírus pertencem à família Orthomyxoviridae e incluem o A(H5N1). Eles afetam principalmente aves, mas também foram detectados em mamíferos, incluindo bovinos. A gripe aviária raramente afeta humanos, mas a orientação é que as pessoas se mantenham informadas e tomem as medidas preventivas recomendadas.

Como acontece a transmissão?

A forma mais comum de entrada do vírus em um território é por meio de aves selvagens migratórias. O principal fator de risco para a transmissão do vírus de aves para humanos é o contato direto ou indireto com animais infectados ou com ambientes e superfícies contaminados por fezes ou outros fluidos animais. Depenar, manusear carcaças de aves infectadas e preparar aves para consumo, especialmente em ambientes domésticos, também podem ser fatores de risco.

Quais são os sintomas em humanos?

Os sintomas variam de leves – com alguns pacientes até mesmo assintomáticos – a graves. As principais manifestações relatadas incluem febre, tosse, resfriado, conjuntivite, sintomas gastrointestinais e problemas respiratórios.

Qual é o tratamento para a gripe aviária?

Medicamentos antivirais são recomendados para pessoas com quadros graves ou em risco de desenvolver quadros graves devido a condições pré-existentes ou subjacentes, como no caso de idosos ou indivíduos com problemas de saúde crônicos. A orientação é que pessoas que apresentarem sintomas de gripe aviária entrem em contato com um profissional de saúde para receber o tratamento adequado.

Pessoas podem morrer de gripe aviária?

Os seres humanos não têm imunidade prévia à gripe aviária, portanto, o vírus pode causar quadros graves da doença. Entretanto, a OMS diz ser difícil generalizar a análise com base em dados históricos, já que o vírus tem evoluído. Desde 2003, cerca de 900 casos humanos de infecção por A(H5N1) foram relatados, com uma taxa de mortalidade superior a 50%.

Existe uma vacina para gripe aviária?

A OMS atualiza regularmente vacinas em potencial no intuito de se preparar para eventuais pandemias, o que ajuda a garantir que as doses possam ser produzidas rapidamente, se necessário. No caso do vírus H5N1 encontrado em vacas leiteiras, a entidade já tem vacinas em potencial prontas por meio de seu Sistema Global de Vigilância e Resposta à Influenza. Em relação a vacinas para humanos, a OMS tem acordos com 15 fabricantes de imunizantes para acessar cerca de 10% da produção em tempo real de uma futura dose contra a influenza em caso de pandemia. Essas vacinas, segundo a entidade, serão distribuídas aos países com base no risco e na necessidade para a saúde pública.

A vacina contra a gripe sazonal protege contra a gripe aviária?

As vacinas atuais contra a influenza sazonal ou gripe comum não protegem contra a infecção humana pelo vírus da gripe animal, incluindo os vírus H5N1.

Quem corre risco de contrair a gripe aviária?

De acordo com a Opas, sempre que houver qualquer tipo de exposição a animais infectados (como aves domésticas, aves selvagens ou mamíferos) ou a ambientes contaminados, onde circulam os vírus da gripe aviária, existe risco de infecção humana esporádica. Casos humanos de gripe aviária associada ao vírus A(H5N1), segundo a entidade, são isolados. Ao longo dos últimos anos, cerca de 70 infecções humanas foram relatadas na região das Américas, sendo 67 nos Estados Unidos (até abril de 2022), uma no Equador (janeiro de 2023), uma no Chile (março de 2023) e uma no Canadá (novembro de 2024), com uma morte associada à infecção nos Estados Unidos. A maioria dos casos está ligada ao contato com a criação de gado (40 casos, todos nos Estados Unidos) ou aves. A transmissão entre humanos não foi identificada em nenhum desses cenários.

É seguro consumir ovos e frango originários de áreas com surto em animais?

Carnes e ovos podem ser consumidos com segurança, desde que preparados adequadamente. O consumo de carne e ovos crus ou mal cozidos de áreas com surtos de gripe aviária é de alto risco e deve ser evitado. Da mesma forma, animais doentes ou que morreram inesperadamente não devem ser consumidos.

Como preparar carne e ovos com segurança?

A OMS recomenda seguir cinco orientações específicas: mantenha o ambiente limpo;
separe alimentos crus dos cozidos;
longo tempo de cozimento;
manter alimentos em temperaturas seguras;
utilizar água e matérias-primas seguras.

É seguro beber leite de vacas infectadas?

Altas quantidades do vírus A(H5N1) foram encontradas no leite cru de rebanhos infectados. O consumo e manuseio do leite em meio à transmissão da doença está sendo investigado pela OMS. Produtos lácteos produzidos com leite seguindo rigorosos padrões de higiene devem ser considerados seguros para consumo. A OMS e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) recomendam fortemente o consumo de leite pasteurizado, já que a pasteurização é um sistema eficaz contra o vírus e outros patógenos. Estudos da Food and Drug Administration (FDA) sobre pasteurização também mostraram resultados promissores. A OMS alerta, entretanto, que algumas amostras comerciais de leite pasteurizado nos Estados Unidos continham fragmentos de vírus. Desde que o leite contenha apenas fragmentos de vírus e não o vírus vivo ou em sua forma infecciosa, ele é considerado seguro para consumo. Para trabalhadores da indústria leiteira, atividades que envolvem o manuseio do leite de rebanhos infectados, como ordenhar vacas ou limpar a sala de ordenha, podem aumentar a chance de infecção. Portanto, esses profissionais devem seguir medidas preventivas recomendadas.

E quanto ao queijo e outros laticínios?

Laticínios feitos com leite pasteurizado e que seguem rigorosos padrões de higiene são considerados seguros para consumo. No caso do queijo de leite cru, a sobrevivência do vírus durante a produção está sendo investigada. Como precaução, a produção de queijo de leite cru em áreas com surtos não é recomendada.

A carne bovina foi afetada? É seguro consumir carne de animais afetados?

Não foram relatados casos de detecção em rebanhos de gado de corte. A OMS recomenda o cozimento completo da carne para reduzir a exposição a patógenos.

O que tem sido recomendado para prevenir ou controlar surtos de gripe aviária em animais?

Os países precisam ter um plano de contingência completo e atualizado para surtos. Recomendações específicas para esses planos podem ser obtidas de organizações como a Food and Drug Administration (FAO) e a Organização Mundial da Saúde Animal (WOAH). Equipes envolvidas na vigilância e na resposta à gripe animal devem ser treinadas para implementar esses planos em caso de emergência, além de receber recursos necessários para isso. Também é considerado fundamental que produtores de aves reforcem a biossegurança em suas instalações, evitando o contato entre aves domésticas e aves selvagens, inclusive por meio de água e ração. Ainda segundo a OMS, os produtores desempenham papel fundamental na detecção precoce da doença e precisam ser capazes de reconhecê-la e notificá-la às autoridades veterinárias, para que a gripe aviária possa ser descartada ou confirmada e medidas apropriadas sejam tomadas. A detecção precoce facilita uma resposta oportuna, ajudando assim a reduzir a propagação do vírus. Indivíduos ou famílias que criam aves para consumo pessoal também devem estar bem informados sobre como reconhecer uma ave infectada, quais medidas tomar e como se proteger adequadamente.

Gatos são afetados pela gripe aviária? Existe risco para humanos que criam gatos?

Os gatos são suscetíveis ao H5N1, incluindo os de estimação e também felinos selvagens, como tigres, leões e leopardos. Os fatores de risco para gatos incluem exposição a aves doentes ou mortas, o consumo de aves cruas infectadas ou a ingestão de leite cru. Gatos infectados podem desenvolver sintomas graves e morrer em razão da doença. Estudos sugerem que as pessoas podem transmitir o vírus da gripe sazonal aos gatos, mas o risco da transmissão, para humanos, através de gatos infectados é classificado como baixo. A OMS, entretanto, recomenda evitar o contato com animais doentes ou mortos e a prática de hábitos de higiene ao manusear animais de estimação.

Por que a vigilância animal e a detecção precoce de casos são importantes?

A vigilância adequada da presença de influenza aviária em animais, incluindo aves e mamíferos, fornece informações sobre quais subtipos de influenza estão em circulação. O processo também permite detectar a presença do vírus com caráter zoonótico mais acentuado, ou seja, possivelmente apresentando alterações genéticas que podem resultar em maior adaptabilidade à transmissão de humano para humano, o que é importante para a saúde pública. A detecção precoce torna possível ainda que os países implementem ações de resposta rápida para mitigar o risco de transmissão do vírus para humanos.

Fonte: Agência Brasil