quarta-feira, 29 de abril de 2015

O VENENO ESTÁ NA MESA II

Após impactar o Brasil mostrando as perversas consequências do uso de agrotóxicos em O Veneno está na Mesa, o diretor Sílvio Tendler apresenta no segundo filme uma nova perspectiva. O Veneno Está Na Mesa 2 atualiza e avança na abordagem do modelo agrícola nacional atual e de suas consequências para a saúde pública. O filme apresenta experiências agroecológicas empreendidas em todo o Brasil, mostrando a existência de alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis, que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. 

Com este documentário, vem a certeza de que o país precisar tomar um posicionamento diante do dilema que se apresenta: Em qual mundo queremos viver? O mundo envenenado do agronegócio ou da liberdade e da diversidade agroecológica?

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After the impact of the first film, 'The Poison Is On The Table II' updates and goes deeper on the evil consequences for public health, caused by the use of chemicals in agriculture. This second feature focuses on the possible alternatives, respecting the environment, the country worker, and the consumer. With this documentary, comes a big question on which we must think: In which world do we want to live in? The poisoned world of the 'aggro-business' or the world of freedom and agricultural diversity? 

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Realização: Caliban Cinema e Conteúdo

Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida
Fiocruz
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
Bem Te Vi
Cineclube Crisantempo

NUVENS DE VENENO

A nuvem se espraia pelas plantações. Em vez de molhar, seca. Ela não traz a chuva, traz o veneno. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de soja, algodão, milho e também um dos maiores consumidores de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Nuvens de veneno expõe as preocupações com as consequências do uso desses agroquímicos no ambiente, especialmente, na saúde do trabalhador. Um documentário revelador que faz refletir sobre a forma que crescemos e sobre o tipo de desenvolvimento que queremos.

Realização: Secretaria de Saúde de Mato Grosso, Terra Firme e VideoSaúde

Direção: Beto Novaes

Distribuição: VideoSaúde -- Distribuidora da Fiocruz

Ano da produção: 2013

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Projeto da família de Gisele Bündchen recupera rio e nascentes no RS

A crise hídrica registrada em São Paulo deu visibilidade para o debate sobre como estamos fazendo uso da água e cuidando dos nossos rios. No Rio Grande do Sul, uma das iniciativas que pode servir de exemplo na área foi idealizada pela família da modelo Gisele Bündchen, como mostra a reportagem do Teledomingo, da RBS TV (veja o vídeo).
Coordenado pelo sociólogo Valdir Bündchen, pai da modelo, o projeto Água Limpa é voltado para a preservação da qualidade da água em Horizontina, terra natal da família. Em poucos anos, a iniciativa recuperou o Rio dos Pratos e mais seis nascentes que compõem a bacia, na Região Noroeste do estado.
O pai da modelo conta que a iniciativa começou em 2004, com uma pesquisa para construir um projeto ambiental próprio. No estudo, constatou-se que os principais problemas das microbacias da região eram o assoreamento dos rios e afluentes, desmatamento em áreas de preservação e mau uso do solo pelos agricultores.
A situação era crítica. As margens estavam caindo para dentro do rio, por causa do assoreamento. E a cada ano, a quantidade de água disponível para abastecer a cidade de 19 mil habitantes era menor.
Valdir Bündchen água RS (Foto: Reprodução/RBS TV)Projeto de Valdir Bündchen melhorou qualidade da
água em Horizontina (Foto: Reprodução/RBS TV)
“O rio, assim como diversos cursos d’água da nossa região, se encontrava em uma situação de degradação bem acentuada, em alguns pontos havia inexistência da mata ciliar, muito pontos também com concentração alta de poluentes orgânicos e inorgânicos, e em outros nós tínhamos apenas uma área degradada”, lembra o engenheiro florestal Emerson Sichinel.
O jeito foi conscientizar os agricultores. E em parceria com eles, o projeto garantiu o reflorestamento para recuperação das margens. Foram plantadas quase 40 mil mudas nativas. Preservação das nascentes, combate à poluição e ações de educação ambiental em escolas também foram feitas. Com o envolvimento de toda comunidade, os resultados apareceram em sete anos. E a qualidade da água do rio melhorou.
“Os resultados já existem e a partir de agora sempre serão maiores. Quando você a situação em que esta reduzida a cidade de São Paulo, as nascentes do São Francisco e tanta coisa que você pode ver, você entende a importância de um projeto como esse que esta sendo feito aqui”, comemora Valdir Bündchen.
Incentivado pela filha Gisele Bündchen, conhecida por defender as causas ambientais, Valdir agora tem um objetivo ainda maior: expandir o projeto recuperar a água de outros rios do país, em parceria com um banco público.
“Como seria importante se eles chefiassem uma ideia simples: adote uma nascente. Vamos cuidar da nascente remunerando o agricultor que vai ter a maior alegria se ele tiver uma pequena remuneração. Quando a gente quer e se dedica tudo é possível”, afirma o sociólogo.
Estado sofre com falta de reservatórios
Essencial para a vida humana, a água, por enquanto, é o que não falta no Rio Grande do Sul. O estado tem rios e arroios espalhados por todas as regiões, em 25 bacias hidrográficas, uma situação privilegiada em relação a outras regiões do país. Mas o volume de chuvas tem um papel fundamental na disponibilidade dela para a população.
“Nós vivemos em uma fronteira climática, em uma transição do sistema tropical e subtropical. Então a gente está sujeito a certas oscilações, e principalmente quando ocorrem fenômenos como El Niño e La Niña, esse regime nosso é afetado, chuvas acima ou abaixo do normal”, explica o diretor de Recursos Hídricos do estado, Marco Mendonça.
É em épocas de estiagem que um dos maiores problemas do estado fica evidente: a falta de reservatórios para abastecer a população, principalmente em áreas críticas, como nas bacias dos rios do Sinos e Gravataí, onde moram 2,5 milhões de pessoas.
Reservatórios água RS (Foto: Reprodução/RBS TV)Maioria dos reservatórios de água do estado é
destinado à agricultura e geração de energia
(Foto: Reprodução/RBS TV)
“Esse problema que está acontecendo em São Paulo tem seu lado positivo, a gente só se lembra da água quando ela falta. No Brasil inteiro, a grande maioria dos reservatórios são para a geração de energia. Aqui no Rio Grande do Sul, na Metade Sul as estruturas são para garantir a lavoura de arroz e na Metade Norte são para a geração de energia”, diz Marco.
A questão é saber quanta água temos disponível, ao longo do tempo, para depois gerenciar o uso dela. Em busca desta informação, o Estado investe em uma rede de mapeamento dos recursos hídricos. Já estão funcionando 12 estações que medem a quantidade de chuva e o comportamento dos rios.
O regime de chuvas de todo o estado vem sendo monitorado de forma permanente pela Secretaria do Meio Ambiente. Os técnicos têm condições de saber a cada 15 minutos se a quantidade de chuvas em cada região do estado está acima ou abaixo da média e o impacto disso para o nível dos rios. Os dados gerados são acessados em tempo real pela Defesa Civil, que tem a responsabilidade de tomar medidas para proteger a população.
“No Sinos, nós instalamos três estações e duas delas tem um acordo do comitê que diz que, quando chegar no nível critico x, suspende o bombeamento para lavoura de arroz e garante o abastecimento para a cidade. A intenção é fornecer este tipo de informação para que a população  saiba quem pode e quem não pode utilizar água”, diz Marco.
Tecnologia como aliada
Mas não basta ter água em abundância. Ela precisa ter qualidade. Nesse sentido, o estado não tem muito do que se orgulhar. Só 18% dos municípios gaúchos tratam seu esgoto. E dos 10 rios mais poluídos do Brasil, três são gaúchos: Gravataí, Sinos e Caí, poluídos com esgoto, lixo e resíduos industriais.
Limpar esta água custa caro. E depende de tecnologia. Como a que vem sendo testada pela Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, em parceria com uma universidade do Canadá e com o Polo Petroquímico de Triunfo. A água que já foi utilizada e tratada pelas indústrias passa por um novo processo de filtragem.
O sistema utiliza membranas plásticas e é semelhante ao usado para retirar o sal da água do mar. Depois de dois dias, a água que sai no final do processo é pura e cristalina, pronta para ser reutilizada pela indústria ou até mesmo devolvida para o Rio Caí, mas desta vez sem causar nenhuma poluição.
“Pode ser tratado também água potável, pode ser tratado esgoto, pode ser tratado efluente de curtume, pode ser tratado efluente de galvanoplastia e outros tipos de indústrias”, diz Fabrício Celso, pesquisador do projeto. “O principal beneficio é a redução da captação de agua pelas indústrias do Polo Petroquímico. A ideia é reduzir em torno de 20%, 500 metros cúbicos  hora, o volume de agua captada dos rios”, acrescenta.
Fonte: G1 RS

Rios da Região Metropolitana do RS estão entre os mais poluídos do país



Rios do Sinos, Gravataí e Caí têm em comum água escura e muita sujeira.
Especialistas analisaram a água dos três rios na Região Metropolitana.

Os três rios da Região Metropolitana de Porto Alegre estão na quarta, quinta e oitava posições na lista dos mais poluídos do Brasil, segundo dados do Índice de Desenvolvimento Sustentável do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os rios dos Sinos, Gravataí e Caí, respectivamente, têm em comum a água escura e muita sujeira. Rios que nascem com água pura e cristalina, mas com o passar do tempo se transformam em lixões a céu aberto.

Por três meses, a reportagem da RBS TV esteve nos três rios para tentar descobrir por que eles estão tão poluídos. Mais de 2,8 mil quilômetros foram percorridos pelos municípios que fazem parte das três bacias. A equipe voou mais de 50 milhas para mostrar do alto os impactos do que acontece todos os dias.Os rios abastecem cerca de 2,8 milhões de pessoas em 82 municípios. Ao longo do caminho, são vistas imagens incríveis e flagrantes claros de desrespeito às leis. Enquanto isso, especialistas dizem que a burocracia não apenas atrasa as soluções, mas também desperdiça dinheiro público.

"O que nós estamos percebendo é que, a cada dia que passa, o processo de desenvolvimento urbano se aproxima mais das nascentes. Aqui deveria ser um local protegido, conservado, usado de forma sustentável para garantir que o rio cumpra essa função ambiental tão importante que ele possui", diz o biólogo Jackson Muller, ex-diretor técnico da Fepam.

Os especialistas analisaram a água desses rios e comprovaram o estado preocupante em que cada um deles se encontra.

"O Rio Grande do Sul e o próprio Brasil são áreas abençoadas pela enorme quantidade de recursos hídricos que temos disponíveis. O que está acontecendo neste momento é única e exclusivamente uma omissão, uma imperícia, uma negligência dos que estão à frente de tomar decisão com relação dos recursos hídricos", diz o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vice-presidente do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da universidade, Carlos André Bulhões Mendes.

As autoridades responsáveis por cuidar do meio-ambiente no estado admitem que a situação saiu do controle. "Este produto que mostrasse aqui pra gente é a falência da gestão ambiental", diz o chefe da Divisão de Fiscalização, Renato Zucchetti. "As atividades se multiplicaram, os empreendimentos se multiplicaram, as condicionantes das licenças se multiplicaram. Os licenciamentos cresceram de forma geométrica e o nosso atendimento de forma aritmética", completa.


Fonte:G1 RBSTV

Pulverização aérea de lavouras contribui para poluição de rios do RS

Agrotóxico provoca dano ambiental em Área de Preservação Permanente.
RS aparece 3 vezes na lista que mostra os dez rios mais poluídos do Brasil.

O agrotóxico que cai do avião agrícola pulveriza as lavouras de arroz e protege as plantações e o futuro dos grãos, mas também provoca um dano ambiental gravíssimo em uma Área de Preservação Permanente. A cena se repete com frequência na Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande, entre Glorinha e Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço, da RBS TV

No local, animais e águas deveriam ser permanentemente protegidos. Também é ali que fica o principal rio da região: o Gravataí, que nasce no banhado, em Santo Antônio da Patrulha, e termina junto ao Delta do Jacuí, entre Canoas e Porto Alegre. No percurso, de quase 100 quilômetros, o rio praticamente desaparece no meio das lavouras.

“Nessas áreas, se for pega uma aplicação aérea, é aplicada uma multa para o rizicultor. Essa prática não é permitida. Em áreas de nascentes ou Áreas de Preservação Permanente não é permitido que se utilize as aeronaves na aplicação de defensivos, se ocorrer um vento pode levar muito desses defensivos para dentro d’água”, diz o pesquisador do Instituto Riograndense do Arroz, Hélio Marcolin.

O Rio Grande do Sul aparece três vezes na lista que mostra os dez rios mais poluídos do Brasil. Rio dos Sinos, Gravataí e Rio Caí estão em quarto, quinto e oitavo lugares no levantamento feito pelo IBGE. Por três meses, a reportagem da RBS TV esteve nos três rios para tentar descobrir por que eles estão tão poluídos. Mais de 2,8 mil quilômetros foram percorridos pelos municípios que fazem parte das três bacias. A equipe voou mais de 50 milhas para mostrar do alto os impactos do que acontece todos os dias.

Imagens feitas pela equipe da RBS TV mostram o agrotóxico sendo despejado pelo avião e atingindo o que restou da mata que protege o rio. O dano ambiental é visível: árvores secas, sem folhas e ninhos abandonados pelas aves. Nem voando os pássaros escapam do banho de veneno.

Os flagrantes foram feitos em janeiro deste ano, em uma propriedade que três meses antes foi notificada pelos danos à mata e pelo despejo irregular de agrotóxico na água. Um inquérito policial investiga o caso. Os produtores assinaram um termo com o Ministério Público se comprometendo a não causar mais poluição.

A notificação só aconteceu graças à análise feita pela Fundação do Meio Ambiente de Gravataí que revelou: as aplicações feitas na lavoura afetaram a qualidade das águas na região.

“O veneno automaticamente é dissolvido na massa da água e aí, em função dos princípios ativos, ele vai agir de formas diferente em organismos diferentes. Alguns venenos por suas características exterminam a biodiversidade. Animais e organismos que entram em contato com esse veneno não têm resistência para isso. Alguns assimilam esse veneno e acabam sendo comidos por outros e acumulam quantidade de veneno maior nos seus corpos”, explica o biólogo Jackson Müller.

Os estragos também são percebidos por quem conhece o rio há muito tempo. "Ninguém mais sobrevive da pesca, porque não tem condições. É muita poluição, e os granjeiros colocando produto químico na água, não é bom. Só de colocar o peixe na frigideira, no azeite, se sente o gosto diferente", diz o morador de Gravataí, Luís Fernando da Silva Rosa.

Além dos problemas com o uso de agrotóxicos, a retirada da água para as plantações também prejudica o Gravataí. Ao longo do rio, há canais e canos que puxam a água. Essa é uma preocupação constante do Comitê de Bacia do Gravataí, grupo formado por pessoas da comunidade e por especialistas, para proteger o rio.

“Dentro das ações que nós definimos no plano, está o uso racional da agricultura. Não podemos utilizar a agua como se usava há 20, 30 anos atrás. Isso é algo que nos precisamos compreender. Nós precisamos guardar”, diz o engenheiro civil Paulo Robinson da Silva Samuel, presidente do comitê.

Para o pesquisador Hélio Marcolin, do Instituto Riograndense do Arroz, alguns produtores cometem irregularidades pela falta de fiscalização, brechas na lei e pelo baixo valor das multas.

"Há um grande problema de conscientização nosso, do pessoal que faz isso aí, sabe que é proibido e a lei é pouco branda de mais e o pessoal acaba fazendo, porque o que eles ganham podem pagar multa e eles continuam fazendo", diz Marcolin.

O diretor do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Fernando Meireles, responsável por liberar e controlar a retirada da água, admite que falta pessoal e tecnologia para fiscalizar.

"Tecnicamente se o DRH dá essa outorga, ele deveria fazer a fiscalização. Não tem temos uma estrutura de pessoal para isso. Atendemos denúncias. Hoje em todo o DRH trabalham 40 pessoas, sendo 34 técnicos e 6 administrativos. Só saem em caso de denúncia", explica o diretor.

Em nota a Federação das Associações de Arrozeiros do estado diz que possui o compromisso com a legalidade, sustentabilidade, boas práticas agrícolas e respeito ao meio ambiente. Mas que têm consciência que há casos que não cumprem com os conceitos de sustentabilidade defendidos pela entidade.

Fonte:G1 RBSTV

quarta-feira, 22 de abril de 2015

QUILOMBOLAS: UMA HISTÓRIA DE RESGATE

Município tem primeira área de remanescentes de escravos reconhecida na localidade de Potreiro


























Recentemente, a Vila do Sabugueiro, na localidade de Potreiro, em General Câmara, foi reconhecida como região de descendentes de africanos escravizados, ou seja, região quilombola. Um dos objetivos desse reconhecimento é o resgate da memória dos descendentes de escravos. O trabalho, capitaneado pela líder comunitária e agricultora Solange Rosa e pelo vereador camarense Norberto Azambuja, contou com o apoio da médica Rosangela Dornelles e do deputado federal Fernando Marroni.
A entrevista sobre a Vila do Sabugueiro aconteceu na casa da líder comunitária Solange, de 39 anos, e, além dela, estavam presentes João de Souza, 80 anos, e Celi da Rosa, 59 anos, ambos remanescentes de escravos. O vereador Noberto Azambuja e a médica Rosangela Dornelles também acompanharam a conversa. Solange é a mais falante entre todos, e enumera as conquistas e batalhas que o grupo busca com esse reconhecimento.
- A gente espera que, com esse reconhecimento, as coisas melhorem - justifica.
Todos os quilombolas moram próximos, em casas simples, e a maioria vive da agricultura, com a plantação de pequenas lavouras de subsistência. A esperança do grupo é a aquisição de implementos que possibilitem o fortalecimento da cadeia produtiva e a venda da produção agrícola.
- Queremos montar uma cooperativa aqui. Já conseguimos um Posto de Saúde (que deverá ser inaugurado em breve na localidade), mas a gente precisa de muito mais. Educação e atividades para nossas crianças e desenvolvimento da nossa região - afirma Solange.
João, que desde pequeno trabalhou na lavoura, “sempre na terra dos outros”, como gosta de salientar, é um homem brincalhão, mesmo com todas as intempéries da vida. Há cerca de 60 anos, ele passou a viver em um canto de uma propriedade, com a promessa de aquele espaço ser seu. Após a morte do dono, os herdeiros venderam as terras, e o novo proprietário tentou expulsar João de sua casa. O idoso contou com o apoio de advogados para conseguir provar que aquele pequeno lote de terra era seu.
- Agora aquilo é meu, tenho escritura e tudo - garante.
Avesso às letras, mas rico na oralidade, João vê no pedaço de papel com símbolos e carimbos a segurança para que nunca mais o ameacem de tirá-lo do seu canto.
O aposentado queixa-se da falta de médico, a esperança é a abertura do Posto de Saúde na localidade.
- Sempre que preciso medir a pressão, tenho de ir até a cidade (General Câmara). Antes, quando eu era novo, ia a pé. Agora, não posso ir mais - comenta.
Mesmo com as oito décadas de existência, João se lembra das dificuldades vividas em sua época. Entre as histórias contadas, estão as dos bailes realizados nas comunidades, onde o salão era dividido entre negros e brancos.
- Havia uma cerca no meio do salão. De um lado ficavam os negros e do outro os brancos, e a gente não podia passar para o outro lado - diz.
A prática de segregação racial não era exclusiva de General Câmara, diversas cidades da região mantinham esse comportamento, sob os olhares complacentes das autoridades da época. A prática só perdeu força no início da década de 1980.
Conforme relato do vereador camarense Norberto Azambuja, a busca pelo reconhecimento da região quilombola se iniciou através do conhecimento dessa realidade.
- Vimos que podíamos fazer algo aqui. E foram realizadas as entrevistas para comprovar a região como quilombola - afirma.
O vereador acredita que, com esse reconhecimento, novas políticas e investimentos federais sejam possíveis para o empoderamento da comunidade.
- Aqui há uma grande produção de mandioca, quem sabe a gente busque a criação de uma tafona para eles produzirem a farinha de mandioca - declara.
A médica Rosangela Dornelles descobriu em seu trabalho a importância de ouvir os mais necessitados. Como profissional da saúde básica, soube perceber as peculiaridades e codificar o que os pacientes precisam.
- O mais importante aqui é darmos condições a essa população, para que eles tenham empoderamento social - destaca.
O trabalho da médica e do vereador é ser uma ponte entre a comunidade e os atuais programas nos quais a Vila do Sabugueiro será inserida.
Celi da Rosa, 59 anos, é a mais quieta dos três remanescentes de quilombolas, mas talvez seja a com mais expressão em sua fala. Durante a entrevista, ela expressou a sua descrença no fim do preconceito racial.
- Isso nunca vai acabar, o preconceito contra a gente sempre vai existir - desabafa.
O racismo constitui, como se sabe, um mecanismo fundamental de poder utilizado historicamente para separar e dominar classes, raças, povos e etnias. Seu desenvolvimento moderno se deu com a colonização, com o genocídio colonizador. O racismo é, como disse Michel Foucault, “o meio de introduzir (...) um corte entre o que deve viver e o que deve morrer”. E a fala de Celi reflete uma realidade urgente que precisa ser enfrentada pela sociedade.
Ao final da entrevista, Solange lembra a localização onde ficava a senzala dos escravos. Da sua casa é possível ver a área.
- Nós temos muito orgulho do nosso passado, e queremos que nossos filhos conheçam essa história e lutem por condições melhores - finaliza.
Mesmo sem a história letrada, eles têm a oralidade preservada. E nela está a história de seus antepassados, que agora começou a ser documentada. A Vila do Sabugueiro é a primeira região quilombola de General Câmara. Com pouco tempo de reconhecimento, os agricultores, agora, buscam o reconhecimento dessa herança cultural e melhores condições de vida.

Saiba Mais

A questão quilombola foi inserida no debate brasileiro com a inserção do artigo 68 no ato das disposições transitórias da Constituição de 1988: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”. Apesar da inserção do artigo em 1988, a titulação das terras quilombolas só foi regulamentada em 2003, com o decreto 4.887 do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No Brasil, não há um levantamento do número exato de comunidades remanescentes de quilombos. Segundo o Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica da Universidade de Brasília (UnB), hoje, existem registros de 2.842 comunidades quilombolas espalhadas por todas as regiões do país. Já a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) estima que haja cerca de cinco mil por todo o território nacional.
De acordo com a Fundação Cultural Palmares, responsável pelo mapeamento dos grupos, quilombolas são descendentes de africanos escravizados que mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas ao longo dos séculos. E entre as garantias de ser reconhecido com o tal estão a formalização da existência dessas comunidades, o assessoramento jurídico e o desenvolvimento de projetos, programas e políticas públicas de acesso à cidadania.
O Programa Brasil Quilombola (PBQ) reúne ações do Governo Federal para as comunidades remanescentes de quilombos. Para fins de aplicação do PBQ, considera-se o levantamento da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura. As metas e recursos do PBQ envolvem 23 ministérios e órgãos federais e têm como principais objetivos a garantia do acesso à terra, ações de saúde e educação, construção de moradias, eletrificação, recuperação ambiental, incentivo ao desenvolvimento local, pleno atendimento das famílias quilombolas pelos programas sociais, como o Bolsa Família, e medidas de preservação e promoção das manifestações culturais quilombolas.

Fonte:André Liziardi - Jornal Portal de Notícias