sábado, 6 de dezembro de 2025

Mapeamento inédito revela extensão de área livre de gelo na Antártica

 
Pesquisadores puderam observar saúde e densidade da vegetação

No extremo sul do planeta, o Continente Antártico tem menos de 1% de seu território com áreas livres de gelo. Ao todo são 2,4 milhões de hectares, dos quais apenas 107 mil hectares são cobertos por vegetação ao longo do verão austral, revela o estudo Mapbiomas Antártica.

Considerada uma reserva natural internacional dedicada a fins científicos, essa é primeira vez que as áreas livres de gelo e coberturas verdes da Antártica são mensuradas.

A pesquisa foi desenvolvida por uma iniciativa cientifica brasileira, a partir de imagens de satélites associadas ao uso de algoritmos de machine learning e processamento em nuvem, devido ao grande volume de dados.

Segundo a pesquisadora Eliana Fonseca, que coordenou o mapeamento, o interesse pela dinâmica natural do Continente Antártico se justifica tanto pela maior compreensão sobre os efeitos da mudança do clima no local, quanto pelos possíveis impactos globais.

“O mapa de áreas livres de gelo é essencial para o monitoramento da fauna do continente, pois os ninhos e o nascimento dos filhotes das espécies animais ocorrem nessas áreas durante o verão. O mapa de vegetação, por sua vez, fornece informações essenciais para avaliar a produtividade dos ecossistemas, permitindo monitorar as mudanças ambientais e regiões sensíveis”

Para estudar a flora do local, os pesquisadores puderam observar saúde e densidade da vegetação usando um indicador de sensoriamento remoto, calculado a partir das imagens de satélites.

“Durante o verão nas áreas livres de gelo crescem espécies de musgos, algas terrestres e gramíneas. Sobre as rochas ocorrem líquens, que podem ser observados não só nas áreas costeiras, mas também no interior do continente”, disse Eliana Fonseca.

A partir do estudo, algumas similaridades nas vegetações da Antártica e do Brasil também foram observadas. “Os liquens, musgos e algas terrestres, são classificados como crostas biológicas dos solos, e são encontrados nos biomas brasileiros, em áreas de vegetação esparsas tais como nos solos dos biomas Pampa e Caatinga, mantendo a cobertura dos solos nas áreas onde os recursos ambientais são escassos. As gramíneas fazem parte das plantas pioneiras e são encontradas em todos os biomas brasileiros”, explica a pesquisadora.



Com influência direta no clima de todo o Hemisfério Sul, a Antártica é considerada o berço das frentes frias, com forte influência nos regimes de chuvas. “O contraste de temperatura das massas de ar frias e secas que vêm da Antártica com a massa de ar quente e com a umidade que se forma sobre o Brasil influencia diretamente as chuvas, tanto em volume, quanto em frequência”, diz Eliana.

Assim como demais países localizados principalmente abaixo da Linha do Equador, o Brasil também tem o seu clima regulado pelo continente gelado.

“As frentes frias influenciam a temperatura do ar não só na Região Sul do Brasil, mas frentes frias muito intensas podem diminuir as temperaturas nos estados das regiões centro-oeste e Norte”, acrescentou a pesquisadora.
Estudo

De acordo com os pesquisadores, o estudo só foi viabilizado após o posicionamento dos satélites Sentinel-2 na órbita polar, com capacidade de capturar imagens de ampla cobertura e em alta resolução. Após a viabilização das ferramentas, as imagens geradas entre 2017 e 2025 só conseguem captar a área livre de gelo nos meses do verão austral, período em que o Hemisfério Sul recebe mais luz solar e que se estende entre dezembro a março.

“Nessa época ocorre também o fenômeno conhecido como "sol da meia-noite", que é quando o sol circunda o continente, causando a projeção de uma grande quantidade de sombras feitas pelas cadeias de montanhas existentes no interior.”

A limitação impediu que a dinâmica ao longo dos anos fosse registrada, mas, de acordo com a coordenadora científica do MapBiomas, Júlia Shimbo, com a continuidade dos estudos isso deverá ser superado.

“Esta é a primeira versão do mapeamento e esperamos que as próximas coleções envolvam mais cientistas e grupos de pesquisa da Antártica trazendo não só melhorias no mapeamento das áreas sem gelo e cobertas por vegetação, mas também agregando outras variáveis”, destacou.

FONTE: Agência Brasil

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Campanha denuncia agronegócio por contaminações com uso de agrotóxicos

 
Entre 2013 e 2022, mais de 124 mil intoxicações foram notificadas

Movimentos do campo e organizações de saúde e direitos humanos aproveitaram o Dia Mundial de Luta Contra os Agrotóxicos, lembrado na quarta-feira (3), para reforçar as críticas ao modelo químico que sustenta grande parte da produção agrícola brasileira.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 276 casos de contaminação foram registrados em 2024 — o maior número da década e um salto de 762% em relação ao ano anterior. Entre 2013 e 2022, mais de 124 mil intoxicações foram notificadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Jakeline Pivato, integrante da coordenação nacional da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, diz que o problema é inseparável do avanço do agronegócio no território brasileiro.

“O agronegócio brasileiro, comprovadamente a partir de dados, é o principal fator que afeta as contaminações ambientais. Isso, a partir não só das commodities, mas também do gás, do desmatamento e do contrabando da nossa biodiversidade”, diz Pivato.

“É uma pauta que eles não conseguem desconstruir, porque está muito clara para a sociedade essa responsabilidade: é aumento de câncer, mortalidade de abelhas, contaminação de diversos ecossistemas. O agrotóxico é a principal contradição do agronegócio”, complementa.

O dia 3 de dezembro marca os 41 anos da tragédia de Bhopal, na Índia, símbolo global dos riscos industriais. Em dezembro de 1984, ocorreu um vazamento de gás na fábrica de pesticidas Union Carbide India Limited. Estima-se que mais de 2 mil pessoas tenham morrido imediatamente e cerca de 500.000 tenham sido expostas ao gás isocianato de metila.

A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que reúne movimentos da Via Campesina, entidades da saúde coletiva e organizações da agroecologia, intensificou neste ano a articulação com grupos jurídicos e de direitos humanos para enfrentar os impactos do uso de venenos no país.

“A gente faz acompanhamento no âmbito das políticas públicas, do legislativo e todo esse cenário nos estados, nos municípios e em âmbito federal. A gente tem tentado avançar cada vez mais no processo formativo nos territórios. O que é agrotóxico e como ele afeta as vidas das pessoas”, disse Jakeline Pivato.

“Nós temos tentado buscar indenizações para as famílias, proteção de lutadores de direitos humanos, proteção das comunidades e construir junto aos mandatos projetos de lei mais restritivos”, complementou.

Organizações

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) publicou nota sobre o tema, em que destaca obstáculos para frear o uso de venenos no Brasil. A entidade cita “pressão política, flexibilização de normas e um ambiente regulatório permissivo” como fatores para aumento de registros de novas substâncias químicas e na manutenção de isenções fiscais para o setor.

A CUT também lembra do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), construído a partir de mais de uma década de mobilização social, e diz que ele avança lentamente. Falta de orçamento e de governança limitam a execução dele, segundo a entidade.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) também se manifestou sobre o tema. Disse que o Brasil se tornou o maior mercado consumidor do mundo de agrotóxicos. E que muitos dos produtos utilizados no país são proibidos em outros países por causarem câncer, alterações hormonais e danos ao sistema reprodutivo.

Trabalhadores e trabalhadoras do campo estão entre os mais expostos. A aplicação inadequada — em condições climáticas desfavoráveis ou por meio de pulverização aérea — amplia os riscos de intoxicação e contaminação. Estudos mostram que a deriva pode levar o veneno a até 32 km de distância do alvo”, diz um dos trechos.

O MPT destaca ainda que a legislação brasileira estabelece normas para proteger a saúde dos trabalhadores, como a Instrução Normativa Conjunta nº 2/2023 (MAPA-IBAMA-ANVISA). Ela exige que a pulverização aérea respeite o limite mínimo de 500 metros de distância de áreas habitadas e fontes de água.

FONTE: agência brasil

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Como é feita a vacina da dengue? Da indústria ao braço dos brasileiros, entenda o passo a passo da produção da Butantan-DV


A vacina da dengue do Butantan é liofilizada e possui validade estendida
 (Foto: José Felipe Batista)

Bancos de células e vírus: o alicerce da produção

“A lógica dessa vacina é simples: para se replicar, os vírus do imunizante precisam de uma célula. Por isso, a origem de tudo está nos chamados bancos mestre, semente e trabalho”, explica a gerente de Produção da Butantan-DV, Daniella Ventini. Como o produto é composto por quatro “tipos” diferentes de vírus – também conhecidos como cepas ou sorotipos –, para amplificação do material são utilizadas células Vero, uma linhagem proveniente do rim do macaco verde africano.

A célula Vero original, que serve como base para a fabricação do imunizante, veio da American Type Culture Collection (ATCC), uma organização internacional que atua como uma “biblioteca” de recursos biológicos. A partir dessa “célula mãe”, uma primeira amplificação do material foi feita para criar o banco mestre, algo como um “estoque próprio” de células Vero do Butantan. Essas mesmas células passaram por uma outra etapa de amplificação, dando origem ao banco trabalho: um volume de células que será capaz de abastecer a produção de IFA da dengue por aproximadamente dois anos.

Já as cepas (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) dos quatro vírus da doença que compõem o imunizante foram desenvolvidas e doadas ao Butantan pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH). Assim como as células Vero, esse material foi amplificado para gerar o banco semente; e, depois, ampliado novamente para dar origem ao banco trabalho, capaz de alimentar a produção da Butantan-DV por cerca de cinco anos.

Armazenados em ultrafreezers e monitorados continuamente, esses bancos são o ponto de partida de cada lote do imunizante.



A fábrica da vacina da dengue funciona 24 horas, sete dias por semana
 (Foto: José Felipe Batista)

Produção do IFA: o coração da vacina

A etapa central do processo de fabricação do imunizante acontece em quatro salas distintas, onde cada cepa é amplificada individualmente. São elas que darão origem aos monovalentes que compõem o produto. O processo ocorre da seguinte maneira:

1. Amplificação das células

Um criotubo de células Vero é retirado do banco trabalho para dar início à fase de
amplificação do material, que dura cerca de 20 dias. As células são multiplicadas em meio de cultura – líquido de coloração avermelhada, rico em nutrientes, que oferece condições ideais para o crescimento das partículas –, até que se atinja uma quantidade suficiente para a produção dos lotes de IFA.

Conforme se multiplicam, as células aderem ao fundo de um frasco até formar um fino “tapete”. Quando essa camada cobre 90% da superfície, ela é “descolada” e transferida para novos recipientes. O processo se repete até gerar quantidade suficiente para a produção dos lotes de IFA de um único monovalente.

2. Inoculação

A cultura de células Vero recebe uma quantidade exata de uma das quatro cepas da dengue, provenientes do banco de vírus trabalho. Esse volume varia de acordo com a capacidade de infecção de cada cepa.

3. Incubação

Os frascos infectados com o vírus são colocados em incubadoras a uma temperatura controlada. Os vírus infectam as células Vero, criando cópias de si mesmo e liberando milhares de novas partículas virais no meio de cultura.

4. Colheita

Após um período estabelecido, o líquido sobrenadante, rico em vírus, é coletado para dar continuidade ao processo de produção do monovalente.

Purificação: aumentando a potência

Como o líquido coletado na etapa anterior não contém apenas vírus, mas também restos de células e componentes do meio de cultura, um processo de purificação é realizado para isolar e concentrar o IFA. O procedimento é realizado com as quatro cepas do vírus da dengue que compõem o imunizante, deixando-as prontas para a formulação final.

Formulação: o encontro dos quatro monovalentes
Com os quatro IFAs preparados – um para cada sorotipo do vírus da dengue –, é hora de criar a receita final do imunizante. Nesta etapa, é necessário calcular o volume de cada IFA a ser utilizado, baseado na quantidade de partículas virais presente em cada um.

Os quatro monovalentes são combinados e diluídos no excipiente da vacina. Longe de ser algo aleatório, o volume final do imunizante formulado é ideal para aproveitar toda a capacidade do equipamento de liofilização.

Envase e liofilização

Aqui, o desafio é envasar o produto, garantindo sua eficiência e durabilidade. Em uma linha automatizada e totalmente estéril, a versão líquida da vacina é depositada em frascos com volume correspondente a uma dose do produto.

“A fase final exige um alto rigor técnico. Além de assegurar as rígidas condições de esterilidade, a máquina responsável pelo envasamento faz o controle de peso de 100% dos frascos, a fim de garantir o volume exato de envase. Já as tampas de borracha são posicionadas de maneira específica sobre as ampolas para garantir a retirada gradual da água durante o processo de liofilização. Toda essa tecnologia nos permite entregar um produto eficaz, seguro e estável”, explica Alexandre Gonçalves de Rezende, gerente de Produção da Vacina da Dengue.

Após o envase, os frascos são carregados automaticamente para dentro do liofilizador, que passa a funcionar de maneira ininterrupta por cerca de quatro dias. Nesta fase, o conteúdo líquido é congelado rapidamente e depois submetido à sublimação, o que transforma a água congelada em vapor, e faz com que o conteúdo da vacina se transforme em uma pastilha liofilizada. Essa característica permite à Butantan-DV ter uma validade estendida, e poder ser armazenada em temperatura de 2°C a 8°C.

Ao final do ciclo de liofilização, ainda dentro do ambiente estéril do equipamento, as prateleiras da máquina descem e pressionam as tampas de borracha, fechando hermeticamente todos os frascos de uma só vez. Após esse processo, as tampas são lacradas com um selo de alumínio. Essa é a última etapa da produção da vacina da dengue do Butantan que ocorre na planta do PVD. As demais fases são realizadas em outras instalações do Centro Bioindustrial do Instituto.

Inspeção, rotulagem e embalagem

Depois de finalizadas, as doses de imunizante ainda passam por uma série de verificações que ajudam a garantir sua qualidade e segurança. Uma dessas etapas é a inspeção visual de 100% dos frascos por colaboradores altamente treinados do prédio de Formulação, Envase e Acondicionamento do Butantan.

“Eles examinam cada frasco contra fundos claros e escuros em busca de qualquer defeito, como rachaduras no vidro, problemas na aparência da pastilha liofilizada ou a presença de partículas estranhas”, pontua o gerente de Produção da Vacina da Dengue.

Por fim, os frascos aprovados na inspeção são rotulados com as informações do lote, e acondicionados junto com o diluente usado para reconstituir o imunizante antes da aplicação – essa substância nada mais é do que água ultrapurificada, específica para ser utilizada com produtos injetáveis.

Após essa longa e meticulosa jornada, a vacina da dengue finalizada é estocada no Centro de Armazenamento Refrigerado do Butantan, e estará pronta para cumprir sua nobre missão de proteger a população brasileira da doença.

Parte da equipe responsável pela fabricação da vacina da
 Dengue em frente ao PVD (Foto: José Felipe Batista/Comunicação Butantan)






Da esquerda para a direita: Antonio Cesar Pereira, diretor técnico da 
Produção da Vacina da Dengue; Alexandre Gonçalves de Rezende, gerente de Produção
da Vacina da Dengue; Daniella Ventini, gerente de Produção da Butantan-DV;
e Ricardo das Neves Oliveira, diretor de produção do Centro Bioindustrial
(Foto: José Felipe Batista)























Butantan leva tecnologia brasileira para a China


A fim de escalonar ainda mais a capacidade produtiva da vacina da dengue e atender a uma demanda cada vez mais crescente – segundo a Organização das Nações Unidas, a doença ameaça 4 bilhões de pessoas no mundo –, o Instituto estabeleceu uma parceria estratégica com a WuXi Vaccines, empresa global de Pesquisa, Desenvolvimento e Fabricação por Contrato (CDMO), para a fabricação de outras dezenas de milhões de doses do produto.

Além da relevante expansão operacional, a iniciativa representa um marco institucional ao posicionar o Butantan como o detentor e fornecedor de uma tecnologia única, sendo também o responsável por ensinar e supervisionar um parque industrial internacional para produzir sua vacina.

“Trata-se de uma parceria robusta e estratégica, que aumenta nossa capacidade de entrega, acelera o acesso da população a um produto essencial e reafirma o papel do Instituto como protagonista global na produção de imunizantes”, pontua Daniella Ventini, uma das responsáveis técnicas pelo acordo.

Dentre as diversas empresas avaliadas, a WuXi foi a que demonstrou as melhores condições de replicar a fabricação do imunizante tal qual acontece no Butantan, atendendo aos quesitos de celeridade, qualidade e custo.

As primeiras conversas com a farmacêutica chinesa se iniciaram em meados de 2024. Com base nessas discussões, foram estruturados dois tipos de contrato: um para reproduzir o IFA de forma idêntica ao PVD, porém em uma planta industrial estruturada pela contratada; e outro que adiciona o desenvolvimento de uma apresentação pentadose – ou seja, quando um frasco do produto concentra cinco doses do imunizante.

O negócio foi consolidado por definitivo em 31 de dezembro do mesmo ano. Na sequência, uma equipe técnica de produção do Butantan viajou para a China a fim de iniciar os primeiros treinamentos para a estruturação da nova planta internacional, com outras viagens de alinhamento acontecendo ao longo de 2025. Atualmente, o PVD possui uma equipe de profissionais totalmente dedicada à transferência de tecnologia, a fim de consolidar os trâmites e acelerar os processos.

Ainda que tenham sido mantidos todos os equipamentos e etapas industriais, a fábrica chinesa precisou passar pelas mesmas fases de validação que ocorreram na fábrica de São Paulo. “Mais uma vez, o objetivo foi garantir que o imunizante será fabricado de forma consistente, eficaz e robusta, assim como acontece aqui”, reforça Antonio Cesar Pereira.

Com a validação do processo já finalizada e avaliações sendo conduzidas nos lotes de IFA produzidos na planta internacional, a expectativa é que a validação do produto final seja concluída ainda no primeiro semestre de 2026.

Da bancada à produção em larga escala: os bastidores da saga científica e industrial da vacina da dengue do Instituto Butantan


Fonte: Instituto Butantan

Começa a distribuição da vacina contra vírus sincicial respiratório

Vacina contra bronquiolite - Foto: João Risi/MS

 Vacinação de gestantes protege recém-nascidos e reduz internações

O Ministério da Saúde começa a distribuir nacionalmente, nesta terça-feira (2), o primeiro lote da vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR). O primeiro lote, com 673 mil doses, será enviado a todas as unidades da federação para imunização gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O grupo prioritário é o das gestantes a partir da 28ª semana de gravidez. O ministério informa que não há restrição de idade para a mãe. A recomendação é tomar dose única a cada nova gestação.

Em nota, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destaca a proteção de gestantes e bebês. “A chegada dessa vacina é uma novidade e reforça o compromisso do SUS com a prevenção e com o cuidado integral das famílias brasileiras”, afirmou.

Objetivo

O foco é a proteção dos bebês, com a redução dos casos de bronquiolite em recém-nascidos. Nesse período, os bebês são mais vulneráveis a desenvolver as formas mais graves da infecção, que levam à hospitalização.

Em 2025, até 22 de novembro, o Brasil registrou 43,2 mil casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) causados pelo VSR.

Os resultados do estudo Matisse (sigla em inglês para Maternal Immunization Study for Safety and Efficacy) confirmam o benefício da vacinação.

Onde se vacinar

A gestão dos estoques das vacinas recebidas é de responsabilidade das secretarias de Saúde dos estados e dos municípios, que poderão iniciar imediatamente a vacinação nos postos de saúde nas unidades básicas de saúde (UBSs).

O Ministério da Saúde promete garantir o abastecimento necessário para a execução das estratégias locais de vacinação.

Nas UBSs, a orientação para as equipes é verificar e atualizar a situação vacinal das gestantes, incluindo as imunizações contra a influenza e covid-19, uma vez que a vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR) pode ser administrada simultaneamente com esses imunizantes.

Doses

O Ministério da Saúde comprou 1,8 milhão de doses do imunizante, incluindo as entregas do início de dezembro. As demais seguirão o calendário firmado pela pasta com estados e municípios. Confira aqui a quantidade de doses que serão distribuídas aos estados inicialmente.

O Distrito Federal é a primeira unidade da federação a receber as doses. As demais recebem até quarta-feira (3).


Fabricação nacional

Na rede privada, a vacina pode custar até R$ 1,5 mil.

A incorporação da vacina no SUS foi possível após acordo entre o Instituto Butantan e o laboratório produtor do imunizante, que assegurou a transferência de tecnologia ao Brasil.

Com isso, o país poderá fabricar o imunizante, ampliando a autonomia e o acesso da população a essa proteção contra o vírus.

Bronquiolite

A bronquiolite é uma doença respiratória aguda que se manifesta de forma grave, principalmente, em crianças de até 2 anos e também em idosos, causando dificuldade respiratória e podendo levar à morte.

A doença é caracterizada pela inflamação dos bronquíolos, que são finas ramificações que levam o oxigênio até os alvéolos dos pulmões.

Os sintomas geralmente aparecem gradualmente, até seis dias após o contágio. Entre os principais estão: obstrução nasal; coriza clara; dificuldade para respirar; tosse; respiração rápida e chiado no peito, e febre. Em situações mais graves, podem ocorrer cianose (arroxeamento dos lábios e extremidades) e pausas respiratórias.

Não existe um medicamento que cure diretamente a infecção viral, ou seja, que mate o vírus ou que desinfle o pulmão de forma imediata. Geralmente, o tratamento dos sintomas tem o objetivo de dar suporte às funções vitais das crianças, para mantê-las respirando bem, confortáveis e hidratadas.

Fonte: Agência Brasil