terça-feira, 28 de outubro de 2025

Cura de câncer de próstata pode chegar a até 98%

 
Estimativa é de especialista da Sociedade Brasileira de Urologia

A estimativa de cura para pacientes com câncer de próstata pode chegar a até 98%. A avaliação é do supervisor de robótica do Departamento de Terapia Minimamente Invasiva da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Gilberto Laurino Almeida.

Segundo o médico, o resultado depende do estágio da doença, do tipo de câncer e do momento em que o paciente foi tratado. “No início da doença, a chance de cura é alta. Se foi tratado com a doença em estágio mais avançado, a chance é menor”, afirmou o urologista.

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima para este ano 71.730 novos casos de câncer de próstata no Brasil. Depois do câncer não cutâneo, este tipo de câncer é o que apresenta maior frequência e impacto na população masculina. Dados do sistema de informações sobre mortalidade do Ministério da Saúde revelam que, em 2023, ocorreram 17.093 óbitos em decorrência da doença, o que significa 47 mortes por dia.

Campanha

Almeida destacou que os homens precisam se cuidar. Este é o mote da Campanha Novembro Azul 2025, que a instituição está prestes a lançar. “Não é só a próstata. Tem todo um conceito de saúde por trás disso tudo. É a saúde do homem que está em jogo; não só a saúde da próstata. Para viver mais, o homem precisa se cuidar mais”. Ele reforçou que, hoje, as pessoas vivem mais e melhor.

“E se o homem não estiver inserido nesse contexto, claramente ele vai perder anos de vida por algumas doenças que são evitáveis, como o câncer de próstata. A cura, como falei, chega a até 98% mas, para isso, tem que ser diagnosticado no estágio inicial”.

A Campanha Novembro Azul entra para fazer com que os homens se lembrem dessas informações e procurem um médico urologista. Uma das dificuldades apontadas pelo especialista da SBU é que o homem não tem o hábito de visitar o médico com frequência, como ocorre com as mulheres em relação ao ginecologista.

Inserido na Campanha Novembro Azul deste ano, a SBU fará um mutirão de atendimentos em Florianópolis (SC), no próximo dia 12, dentro do 40º Congresso Brasileiro de Urologia, que ocorrerá no período de 15 a 18 daquele mês. O mutirão vai alertar sobre o câncer de próstata e submeter muitos homens à avaliação sobre esse tipo de doença. Caso alguns tenham suspeita de câncer de próstata, serão encaminhados para biópsia. Caso a biópsia confirme o câncer, os homens serão direcionados para o melhor tratamento.

Segundo o médico, entre 85% e 90% dos casos de câncer de próstata são esporádicos, isto é, não têm origem familiar. O que se chama de preventivo do câncer de próstata é o homem consultar seu urologista, pelo menos uma vez por ano. “Ele está fazendo a prevenção de um diagnóstico tardio para obter cura. É uma doença extremamente curável, desde que seja tratada no momento certo, na fase inicial. A gente, pegando um tumor na fase inicial, cura a maioria deles”.

SUS

Atualmente, a cirurgia robótica é a mais adotada pelos urologistas para a retirada de tumores da próstata. Almeida celebrou a decisão do Ministério da Saúde de incorporar a prostatectomia radical assistida por robô para o tratamento de pacientes com câncer de próstata clinicamente avançado no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a portaria ministerial, as áreas técnicas terão o prazo máximo de 180 dias para efetivar a oferta no SUS.

Almeida afirmou, entretanto, que “embora todos nós tenhamos consciência de que essa tecnologia é excelente e que deva entrar no SUS para acesso dos pacientes e benefício deles, a gente entende claramente que o momento foi um pouco no atropelo para isso acontecer porque não existe robô no SUS para atender esses pacientes. Ou existem poucos”.

Segundo explicou, trata-se de uma tecnologia muito cara. “Até os hospitais poderem comprar (os equipamentos), instalar, treinar as equipes, isso demora muito. Então, hoje existe esse gap (lacuna) entre o que foi aprovado e o que, realmente, vai acontecer e que nós, de fato, não sabemos”.

De acordo com o especialista, de modo geral, os hospitais não têm condições financeiras para adquirir uma plataforma robótica no momento. Ele acredita que a preparação da rede hospitalar do SUS vai demorar a se tornar realidade muito mais tempo do que os 180 dias estabelecidos pelo Ministério da Saúde para efetivação da oferta aos pacientes pelas áreas técnicas. “E nem todos vão ter acesso”, salientou.

Indagado se os pacientes com câncer de próstata poderiam fazer esse procedimento com robô nos hospitais privados conveniados do SUS, o médico informou que isso vai depender muito da dinâmica em que esse processo será implementado.


“Existem outras cirurgias que foram introduzidas no âmbito do SUS e até hoje não ocorreram porque essas cirurgias demandam equipamentos, demandam materiais que são descartáveis. Tudo isso ainda não foi normatizado, nem regularizado.”

Citou como exemplo a ureteroscopia, que é uma cirurgia endoscópica que serve para tirar pedras nos rins. “É um procedimento também de alto custo. Ele entrou no âmbito do SUS mas, até hoje, a gente não faz porque não estão regularizados todos os processos para se usar materiais descartáveis e tudo o mais”. No caso do câncer de próstata no SUS, reafirmou que não há robôs suficientes no Brasil para todos os hospitais, nem equipes treinadas. “Não estava tudo pronto”.

Robótica 

A cirurgia de câncer de próstata por robótica é como se fosse uma cirurgia laparoscópica. O procedimento inclui portais que são colocados no abdomen ou no tórax do paciente, dependendo de onde será a cirurgia, por onde entram equipamentos chamados pinças. As pinças são acopladas aos braços robóticos que são manipulados ou coordenados pelo cirurgião, que se encontra sentado fora do acesso ao paciente, em um local chamado console. Contudo, sempre junto ao paciente tem outro cirurgião que auxilia no procedimento. A cirurgia robótica permite que o cirurgião tenha uma visão 3D ampliada e um controle mais preciso dos movimentos.

A cirurgia laparoscópica difere da cirurgia endoscópica, em que o equipamento (pinça) entra no paciente pela uretra, para raspagem da próstata, quando não há câncer no local. Almeida reafirmou que os pacientes com câncer de próstata localizado submetidos à cirurgia têm estimativa de cura, em tumores sem metástese, que chega até a 98% da doença.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Boleto gigante cobra países ricos sobre dívida com o clima

 
Ação é parte de campanha da Aliança dos Povos pelo Clima

Para chamar a atenção sobre a dívida climática dos países mais ricos com os povos e territórios do Sul global, um boleto gigante foi instalado na manhã de ontem (26) em plena Avenida Paulista, em São Paulo. A ação é parte da campanha A Gente Cobra – Financiamento Climático Direto para Quem Cuida da Floresta, organizada pela Aliança dos Povos pelo Clima e que será lançada no próximo dia 28, terça-feira.

Além de São Paulo, a ação foi realizada em Brasília, no Recife, em Santarém e na região do Xingu e exibiu um boleto gigante, com até oito metros de largura, trazendo o valor simbólico de R$ 1,6 trilhão estampado.

Em entrevista neste domingo (26) à Agência Brasil, Jonaya de Castro, que integra o coletivo Unidos pelo Clima, destacou que esse boleto “já está vencido”, trazendo como data de vencimento o dia 21 de abril de 1500, data em que o país teria “sido descoberto”.

“O boletão é esse boleto vencido, porque o Sul Global precisa de financiamento para conseguir fazer adaptação, fazer mitigação e manter a floresta de pé. E quem tem que ser financiado são os projetos dos indígenas e das comunidades tradicionais que protegem as florestas e os biomas”, disse ela. “Esse boleto vence em novembro, na COP30, porém ele já está vencido desde 1.500, quando ocorreu a invasão do Brasil, então tem um processo histórico aí para entender que a colonização financeira continua existindo”, completou.

A iniciativa antecede a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes), que será realizada em Belém (PA), e cobra que os fundos internacionais de financiamento climático destinem 50% dos seus recursos diretamente para os povos e comunidades tradicionais.

“A gente já sabe o que tem que fazer, sabe o que pode evitar o colapso e fazer regredir a temperatura, mas isso vai depender de financiamento e de interesse político e internacional. Temos que conseguir direcionar os fundos de financiamento climático para quem exatamente está protegendo [esses biomas]”, disse Jonaya.

Além do direcionamento de recursos, o ato também pede que as comunidades e povos originários e tradicionais garantam sua participação nos conselhos deliberativos desses fundos. Outra reivindicação que aparece estampada no boleto gigante é a taxação das grandes fortunas, para que parte dessa verba seja destinada também para o financiamento climático.

Fonte: Agência Brasil

domingo, 26 de outubro de 2025

Outubro Rosa: como receber o auxílio-doença em tratamento de câncer

 
Inca estimou 73.610 novos casos este ano no país

No Outubro Rosa, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou 73.610 novos casos este ano no país. É o câncer que mais mata mulheres no Brasil. As mulheres em tratamento pela doença têm o direito de receber o auxílio-doença ou o benefício de prestação continuada.

A vice-presidente da Comissão de Previdência Social Pública da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ), Danielle Guimarães, destaca que o câncer de mama é uma das doenças que mais afetam mulheres no Brasil, impactando não apenas a saúde física e emocional, mas também a capacidade de trabalho e a segurança financeira das pacientes.

“Nesse contexto, conhecer os direitos previdenciários é essencial para garantir proteção social, dignidade e amparo durante o tratamento. A legislação brasileira oferece mecanismos específicos de amparo às mulheres acometidas pelo câncer de mama, entre eles o benefício por incapacidade temporária, aposentadoria por incapacidade permanente e o benefício de prestação continuada (BPC/LOAS)”, diz a advogada.

Auxílio-doença

A lei prevê que o auxílio-doença será devido ao segurado que ficar incapacitado para o seu trabalho por mais de 15 dias consecutivos

Segundo Danielle, o auxílio por incapacidade temporária, conhecido como auxílio-doença, destina-se a seguradas que ficam temporariamente incapacitadas para exercer suas atividades profissionais devido ao câncer de mama ou aos efeitos do tratamento (cirurgias, quimioterapia, radioterapia e seus efeitos físicos e emocionais).

Ela explica, que, nos casos de câncer, não há exigência de carência, conforme previsto no artigo 26, inciso II, combinado com o artigo 151 da Lei nº 8.213/91, que elenca as doenças graves.

Basta que a segurada mantenha a qualidade de segurada (empregada, contribuinte individual, doméstica, facultativa ou segurada especial);

Comprove a incapacidade para o trabalho, mediante laudos, atestados e relatórios médicos detalhados.

Aposentadoria por incapacidade permanente

Quando o câncer de mama é maligno e causa incapacidade total e definitiva para o trabalho, a segurada pode requerer a aposentadoria por incapacidade permanente (antiga aposentadoria por invalidez), prevista no artigo 42 da Lei nº 8.213/91.

Também neste caso, não há carência mínima, bastando comprovar a incapacidade total e a qualidade de segurada. A concessão depende de perícia médica do INSS, que avaliará se a segurada está incapaz de exercer qualquer atividade profissional de forma definitiva.


“Estes benefícios garantem dignidade humana e segurança financeira às mulheres que estejam em tratamento enquanto durar a incapacidade ou não podem mais retornar ao mercado de trabalho devido à gravidade da doença”, afirma a advogada previdenciária.

Benefício


De acordo com Danielle, quem não contribui para o INSS e tem câncer de mama pode ter direito ao Benefício de Prestação continuada (BPC/LOAS), previsto na Lei 8.742/93.

Para ter acesso, é preciso comprovar a vulnerabilidade social e a deficiência causada pela doença.
Requisitos para o BPC/LOAS

Impedimento de longo prazo: a doença deve causar tratamento temporário de longo prazo (com duração mínima de 2 anos) ou diagnóstico de doença grave ou deficiência definitiva.

Hipossuficiência econômica: a renda familiar per capita deve ser igual ou inferior a um quarto do salário-mínimo. Esse valor pode ser flexibilizado, levando em conta os gastos com a doença, como medicamentos e consultas.

Não ter outros benefícios previdenciários: Não é possível receber outro benefício previdenciário ao mesmo tempo.

Como requerer os benefícios

O requerimento deve ser feito exclusivamente pelos canais oficiais do INSS:

Site ou aplicativo Meu INSS

Telefone do INSS 135

A segurada deve reunir os seguintes documentos:

Identidade e CPF;

Comprovante de vínculo previdenciário (CTPS, carnês de contribuição, CNIS);

Laudos, exames e relatórios médicos que comprovem a doença e a incapacidade;

Relatório médico indicando o tempo estimado de afastamento (no caso do auxílio-doença).

No caso de negativa do INSS, a segurada pode interpor recursos pelas vias administrativa ou judicial.


“Os benefícios de incapacidade temporária e incapacidade permanente representam mais do que uma compensação financeira. São instrumentos de proteção social, dignidade e cuidado com a saúde, permitindo que a mulher se dedique ao tratamento sem preocupações econômicas”, completa a advogada previdenciária.

A presidente da Comissão de Direito Médico da OAB-RJ, Carolina Mynssen, lembra que o paciente de câncer tem direito ao tratamento em até 60 dias.

“Se ela tem o diagnóstico, ela em até 60 dias tem o direito de iniciar o tratamento. Se isso não acontecer, tem que entrar com ação judicial. A pessoa também tem o direito de fazer o tratamento fora do seu município, caso não tenha especialista na sua cidade. O paciente com doença grave tem também tem o direito de acesso a medicamentos”, disse a advogada.

O portador de doença grave como tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose múltipla, hepatopatia grave, neoplasia maligna (câncer), cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da deficiência imunológica adquirida (aids) ou contaminação por radiação tem o direito de sacar o Fundo do Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

A advogada da área médica também destaca que os portadores de doenças graves têm direito à isenção do imposto de renda no salário ou na aposentadoria.

“São muitos meses ou anos de tratamento, a pessoa, muitas vezes, não consegue retornar à atividade laboral. Assim, com a isenção do imposto de renda, ela passa a ter menos cortes no rendimento que obviamente vai ser impactado pela necessidade do tratamento”, disse Carolina.

Fonte: Agência Brasil

sábado, 25 de outubro de 2025

“Não existe Planeta B”, alerta astrofísico às vésperas da COP30

 
Ogando exclui a crença futurística de colonização de outros planetas

A menos de três semanas do início da COP30, em Belém (PA), lideranças mundiais engajadas em discutir as mudanças do clima afinam o discurso com cientistas que estão preocupados com o futuro da Terra e com a resistência das espécies do planeta, entre elas, a espécie humana.

Para o astrofísico Ricardo Ogando, do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (MCTI), a Terra é “a nossa única opção”. Ele está alinhado com o movimento global de astrônomos e voluntários Astronomers for Planet Earth (Astrônomos pelo Planeta Terra, em livre tradução), que defende soluções práticas em prol da regeneração do planeta.

Em entrevista exclusiva, Ogando reforçou a importância do planeta Terra e de investimentos em políticas públicas a favor do meio ambiente. Ele exclui, por uma série de fatores científicos, a crença futurística de habitarmos um “Planeta B”, em um futuro próximo ou remoto.

“São vários fatores que você tem que conjugar para chegar a um planeta que seja habitável. Mas, ainda tem a questão de conseguir chegar lá. Ou seja, nosso planeta é algo muito extraordinário mesmo”, explica Ogando.

Para Ogando, nem mesmo Marte, nosso planeta vizinho, e com missões programadas para as próximas décadas seria habitável. Além de questões de infraestrutura e de habitação, o astrofísico pondera a questão dos investimentos. “É muito mais barato ficar na Terra e cuidar dela. Essa é uma conta fácil de fazer”, diz.

Acompanhe trechos da entrevista para o podcast S.O.S! Terra Chamando!, uma parceria da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e da Fundação Oswaldo Cruz e que estreia no dia 3 de novembro, na Rádio MEC.

Agência Brasil: Do ponto de vista da ciência e da astronomia estamos diante de um momento antagônico. De um lado, conquistas espaciais e astronômicas que apontam até para a possibilidade de encontrarmos vida em outros planetas e luas. Por outro lado, nosso planeta corre sérios riscos. Por que a humanidade precisa entender que a Terra é um planeta especial?

Ricardo Ogando: A Terra é especial porque é o único planeta em que há vida, segundo a conhecemos. Pelo menos, até o momento, é o que sabemos. Nesse momento específico, em que se fala muito em emergência climática, é possível fazer um paralelo com a saúde - e o planeta Terra está febril. Pode-se dizer que está num processo de inflamação. E para tratar é preciso realmente parar com a fonte desse problema, para que a humanidade e outras espécies continuem vivendo aqui. Não há outra alternativa. Temos várias razões para o planeta estar nessa situação de emergência climática, passando por aquecimento global, aumento da temperatura média do planeta, ao longo dos anos, especialmente após o início da atividade industrial. A humanidade precisa entender que será afetada, principalmente as comunidades mais vulneráveis, que serão os primeiros a serem impactados. Vimos recentemente episódios extremos de chuvas no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, em Duque de Caxias. Esse é um fenômeno que vai cada vez mais afetar vários aspectos da vida, da sociedade humana, e a gente precisa olhar para isso com cuidado, porque o prejuízo vai ser dividido entre todos nós.

Agência Brasil: O senhor faz parte do grupo de cerca de 2,3 mil astrônomos e voluntários que integram o Astronomers for Planet Earth (Astrônomos pelo Planeta Terra, em livre tradução), que defende pragmatismo e urgência para lidarmos com a situação do planeta. Como frear a degradação da Terra, na sua avaliação?

Ricardo Ogando: Essa é uma pergunta muito interessante. De um lado temos a importância das atitudes individuais. Sem dúvida são muito importantes para os cidadãos se engajarem, entenderem o lugar onde estão para que tomem atitudes ambientalmente conscientes. Mas, a gente precisa também de medidas públicas, de políticas efetivas que tocam nesse assunto. Vamos pegar, por exemplo, o consumo de canudos de plástico, objetos maléficos à fauna marinha. Esse já foi um assunto bastante polêmico. Até é possível oferecer outras opções em restaurantes, bares, lanchonetes e quiosques, mas se ainda há fornecedores fabricando canudos, o problema continua acontecendo. Então, você tem que atacar o problema na raiz com políticas públicas, com regulação.

Agência Brasil: O astrofísico Marcelo Gleiser em seu último livro “O Despertar do Universo Consciente” cita a Terra como um oásis no Universo, onde a vida evoluiu de forma complexa. Então, lhe pergunto se há esperança de encontrarmos uma outra Terra, um planeta B?

Ricardo Ogando: Primeiro, concordo com esse olhar do Marcelo Gleiser de falar que a Terra é, sim, um oásis para a vida complexa. E sobre essa visão futurista de “Planeta B” ou planeta alternativo à Terra, obviamente que a ciência almeja descobertas astronômicas que cheguem a esse grau de surpresa. Mas, por outro lado, está muito longe ainda. Não existe nada palpável. Essa grande pergunta - “estamos sozinhos no Universo?” - é irmã de outra pergunta “existem outros lugares onde a gente poderia expandir o alcance da humanidade?”. E ainda estamos muito longe de respondê-las.

Agência Brasil: Quais seriam os principais desafios para respondermos a essas perguntas?

Ricardo Ogando: Eles passam por vários aspectos científicos, uma vez, por exemplo, que a Terra orbita uma estrela do tipo solar. Então, os grandes esforços para responder a essa pergunta passam no início por procurar estrelas do tipo solar, a chamada GMS Solares, que são estrelas muito, muito parecidas com o Sol, em que você espera conseguir reproduzir as condições para a vida. Agora, essa é só uma parte da história. Você também precisa encontrar um sistema parecido com o nosso Sistema Solar, com o planeta rochoso, a uma distância do Sol ou da estrela, em que permita ter água líquida. Mais uma vez, do nosso ponto de vista, da humanidade, o que permite você ter a formação da vida é a água. Agora, não basta ter só água líquida. São vários fatores que você tem que conjugar para chegar a um planeta que seja habitável. Mas, ainda tem a questão de conseguir chegar até um possível planeta habitável. Esse já é outro problema de logística! Ou seja, nosso planeta é algo muito extraordinário mesmo. Não existe esse plano B ou Planeta B. O planeta Terra é o videogame da vida no modo fácil, e sem direito a continuar. Você não tem mais “fichas no fliperama”. Então, a gente está aqui no modo fácil, e esse modo fácil ainda tem um monte de desafios, como se observa na história da geologia do planeta Terra. Se a gente ainda adicionar mais uma camada de dificuldade, que é emergência climática, a gente no fundo está complicando a nossa situação.

Agência Brasil: E sobre as missões para a exploração de Marte, especialmente da Agência Espacial Norte-Americana (NASA)? Qual é a viabilidade do planeta vermelho ser uma nova casa para a humanidade?

Ricardo Ogando: Marte é um planeta bem menor do que a Terra. E não tem uma atmosfera como a Terra tem. A atmosfera dele é muito, muito tênue. Mas, quando se olha também para a geologia dele, para as formações rochosas, a gente vê que houve um passado ali muito rico, potencialmente com rios caudalosos, lagos e tudo mais. Muito potencialmente, por conta dessa baixa massa do planeta Marte, esse material atmosférico, além da água, desapareceu. A gravidade do planeta é importante para manter esse material coeso, preso ao planeta. Então, Marte, se por um lado tem temperaturas mais parecidas com a Terra, se você estiver olhando para a Sibéria, que vai -70º Celsius até a 40º no verão, teria temperaturas que estão nessa faixa. Mas, na média, não é um ambiente propício. Você conseguir manter a vida em um planeta sem ter uma atmosfera e sem água líquida facilmente acessível é altamente improvável. E do ponto de vista da sustentabilidade também, da viabilidade financeira, não seria muito mais interessante.

Agência Brasil: Por falar em recursos financeiros, essas pesquisas e missões para Marte envolvem bilhões de dólares. Há inclusive questionamentos sobre a efetividade de investimentos altos neste tipo de ciência e não em tentar regenerar a Terra, por exemplo. Qual é a sua opinião sobre isso?

Ricardo Ogando: É claro que a gente sempre pode atacar vários problemas em paralelo, se a gente tem os recursos para tal. Uma questão é quando se usa a justificativa de que a Terra já não pode mais ser salva e deve-se procurar outro planeta. Essa justificativa já começa errada. Se estamos acabando aqui, vamos acabar em outro planeta também. No caso de Marte, por exemplo, seria um estilo de vida totalmente artificial para respiração, alimentação e sobrevivência. E tudo que é artificial, custa mais. A humanidade precisaria de energia, de infraestrutura, de um monte de recursos para manter a vida lá. Então, é muito mais barato ficar na Terra e cuidar dela. Essa é uma conta fácil de fazer. O que não impede que a gente continue pesquisando planetas do Sistema Solar, entendendo como eles funcionam até porque isso nos ajuda a entender como o nosso próprio planeta funciona. Ao entender o efeito estufa em Vênus, a gente entendeu o efeito estufa aqui no planeta Terra, por exemplo. Ao entender o que aconteceu em termos geológicos em Marte, a gente pode tentar entender o que aconteceu no planeta Terra e tentar até se preparar para o futuro. Se preparar para o futuro como, fugindo da Terra? Não! Aproveitando que a Terra nos dá condições ideais de sobrevivência e utilizar dessa vantagem competitiva da melhor forma possível. Ao invés de desperdiçá-la.

Agência Brasil: E a às vésperas da estreia do podcast, S.O.S! Terra Chamando!, que fala sobre a saúde da Terra, pergunto por que o nosso planeta pede socorro?

Ricardo Ogando: A Terra está gritando muito. A Terra está pedindo muito socorro. E quem tem o poder de resolver isso precisa escutar. A gente está vivendo uma emergência climática que tem razões baseadas no nosso estilo de vida, de consumo e que arranca do planeta mais do que ele pode dar. A gente precisa refletir muito bem sobre essas coisas, como a gente falou da política pública. A gente precisa regular certas atividades, não quer dizer proibir, não quer dizer censurar, quer dizer regular. Para que não seja uma destruição desmedida do planeta é preciso cuidar dele agora.

Fonte: Agência Brasil