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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Queijo parmesão e macarrão instantâneo são campeões de alto teor de sódio, diz Anvisa


A população brasileira consome duas vezes mais sal em relação à quantidade recomendada e grande parte vem de alimentos industrializados. Pesquisa divulgada hoje (16) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra que os campeões em alto teor de sódio são o queijo parmesão ralado, o macarrão instantâneo, os embutidos (mortadela) e o biscoito de polvilho.
O queijo parmesão ralado lidera o ranking, com teor médio de 1.981 miligramas de sódio por 100 gramas do produto. Nas colocações seguintes, aparecem o macarrão instantâneo e a mortadela.  O biscoito de polvilho tem quantidade média de 1.092 miligramas do ingrediente para cada 100 gramas.
O queijo ricota, muito consumido em dietas, também apresentou altas variações de sódio entre as marcas avaliadas. Ao todo, foram analisados 496 produtos de 26 categorias de alimentos.
Os alimentos industrializados representam 20% da dieta alimentar. O brasileiro consome, em média, 11,75 gramas de sal e 4,7 gramas de sódio, quando o recomendado é 5 gramas e 2 gramas, respectivamente. O sódio representa aproximadamente 40% da composição do sal.
“A Anvisa vai dizer que tudo que está além é muito e a indústria, que tudo que está abaixo do limite, é pouco. No meio, estão os consumidores, quem nos interessa”, diz o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano.
O governo e representantes da indústria e dos supermercados firmaram acordo, iniciado em 2011, pela diminuição progressiva do sódio nos alimentos. A partir de 2013, produtos com menos sódio já deverão estar disponíveis no mercado. “Existe a mentalidade de que tudo que é bom engorda ou faz mal. Uma mudança de hábito é complicada, mas pode ser feita gradualmente. E é esse o objetivo da Anvisa. O acordo vai ajudar a reduzir aos poucos a quantidade de sal nos produtos”, disse José Agenor Álvares, diretor de Monitoramento e Controle da Anvisa.
De acordo com o nutricionista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Rafael Claro, a população está mais preocupada com a perda da qualidade de vida do que riscos de sofrer doenças devido ao consumo de sal. O excesso de sódio na alimentação eleva o risco de doenças do coração, obesidade e diabetes, por exemplo. “Antigamente, as pessoas sofriam de hipertensão aos 70 anos. Hoje, há casos aos 25 anos.”
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), que responde por 70% do setor, informou que não “teve acesso aos resultados do monitoramento do conteúdo de sódio nos alimentos processados no período 2010-2011”.
“No que diz respeito especificamente à redução de sódio, foram estabelecidas pelo Ministério da Saúde e Abia, até o momento, metas de redução para nove categorias de alimentos, que devem resultar na retirada de mais de 20 mil toneladas de sódio dos produtos até 2020,” disse a associação.
Agência Brasil

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Brasil: o mercado internacional dos agrotóxicos. Entrevista com Victor Pelaez Alvarez

“Enquanto as vendas mundiais, entre 2000 e 2010, crescem em torno de 90%, as vendas brasileiras crescem 190%. Em termos de importações mundiais, o Brasil também está entre os seis maiores importadores mundiais de agrotóxicos e, nos anos 2000, o crescimento brasileiro foi o maior de todos”, informa o pesquisador. Confira a entrevista.


Considerado o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o mercado brasileiro corresponde “a quase 1/5 (um quinto) do mercado mundial no volume de vendas” de herbicidas, algo em torno de 19% do mercado internacional. De acordo com Victor Pelaez Alvarez, “entre 2001 e 2010, a produção agrícola das oito principais commodities consumidoras de agrotóxicos aumentou 97%, a área plantada aumentou 30% e a venda de agrotóxicos aumentou 200%”. Esses dados, ressalta, demonstram a intensificação do uso do produto nas lavouras brasileiras, que “estão usando mais agrotóxicos por hectare”.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line, Alvarez afirma que o ingresso do Brasil no mercado de agrotóxicos segue uma “lógica comercial”, considerando que treze empresas são responsáveis pela maior parte da produção de pesticidas no mundo. “Há uma troca entre unidades de produção de uma mesma empresa, na medida em que elas têm uma lógica de produzir em grande escala. Algumas plantas podem se especializar na produção de determinados agrotóxicos em nível mundial para reduzir o custo de produção”, esclarece. Segundo ele, no Brasil o comércio é mais “intenso no sentido de exportar agrotóxicos para os países da América Latina, principalmente para a Argentina, onde é destinado 50% das exportações”.
Diante do consumo consciente, que cresce nos países mais desenvolvidos, Alvarez questiona a posição brasileira de investir massivamente na expansão agrícola baseada no uso de agrotóxicos. “Por ser um grande exportador agrícola e exportador para alguns países que têm maior rigor no controle dos produtos, como a União Europeia e os Estados Unidos, o Brasil deveria ter um cuidado maior em termos de harmonização, visto que ele tem autorizado uma série de agrotóxicos que são proibidos nesses países”, aponta.
Victor Pelaez Alvarez é graduado em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, mestre em Política Científica e Tecnológica pela mesma universidade, e doutor em Sciences Economiques pela Université de Montpellier I. É professor associado da Universidade Federal do Paraná – UFPR.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – A partir das pesquisas do observatório, o que é possível apontar sobre o mercado internacional de agrotóxicos? Qual é a participação do Brasil nesse mercado?
Victor Pelaez Alvarez – Desde 2008, estima-se que o Brasil seja o maior mercado mundial de agrotóxicos, ultrapassando os Estados Unidos. Em 2010, o mercado brasileiro correspondia a quase 1/5 (um quinto) do mercado mundial no volume de vendas. Então, o Brasil tem 19% e os Estados Unidos tem 17% desse mercado. Outro aspecto importante é o desempenho. Enquanto as vendas mundiais, entre 2000 e 2010, crescem em torno de 90%, as vendas brasileiras crescem 190%. Em termos de importações mundiais, o Brasil também está entre os seis maiores importadores mundiais de agrotóxicos e, nos anos 2000, o crescimento brasileiro foi o maior de todos. O Brasil cresceu cerca de cinco vezes, algo em torno de 487% das importações brasileiras de agrotóxicos. Eu estou considerando somente os produtos formulados, utilizados na agricultura.
Depois do Brasil, o consumo de agrotóxicos é mais intenso na Alemanha e no Canadá. Esses dois países consomem cerca de 114% dos agrotóxicos.
IHU On-Line – Por que há interesse no mercado brasileiro? Por quais razões o uso de agrotóxicos triplicou na última década?
Victor Pelaez Alvarez – Entre 2001 e 2010, a produção agrícola das oito principais commodities consumidoras de agrotóxicos aumentou 97%, a área plantada aumentou 30% e a venda de agrotóxicos aumentou 200%. Então, houve uma intensificação do uso. Enquanto a área plantada aumenta 30%, as vendas de agrotóxicos aumentam 200%. É possível ver que há uma intensificação do uso de agrotóxicos e isso é muito preocupante, porque estão usando mais agrotóxicos por hectare. Isso acontece por vários motivos, entre eles está o fato de o agricultor estar mais capitalizado e, portanto, capaz de comprar e investir mais em insumos. O outro aspecto diz respeito ao uso continuado de agrotóxicos, principalmente de um único deles, que é o glifosato. O uso contínuo causa dependência, e é preciso usar uma quantidade sempre maior de agrotóxicos na lavoura. Além disso, é necessário utilizar agrotóxicos diferentes do glifosato, e agrotóxicos que são mais tóxicos.
Então, há uma inversão, ou seja, um retrocesso tecnológico, porque todo o discurso para vender a soja transgênica resistente ao glifosato é de que ela iria reduzir o consumo de agrotóxicos, iria proporcionar o uso mais racional de um agrotóxico menos tóxico, mas na medida em que aumenta a resistência, é necessário combinar o glifosato com outros herbicidas mais tóxicos. O Paraquat [1] é outro produto que está sendo utilizado no Rio Grande do Sul. É um produto classe 1, em termos de grau de toxicologia, pois é extremamente danoso.
IHU On-Line – De quais países o Brasil importa e para quais exporta agrotóxicos? O que suas pesquisas demonstram sobre a regularização desses produtos?
Victor Pelaez Alvarez – O Brasil foi um grande importador de agrotóxicos. É importante saber que treze empresas multinacionais controlam cerca de 90% do mercado mundial. Essas empresas estão subsidiadas no mundo inteiro, e as importações e exportações que acontecem estão ligadas a um comércio entre empresas e filiais de empresas multinacionais, localizadas em várias regiões do mundo. Não é necessariamente o Brasil como país que está importando ou exportando agrotóxicos. Ele está ligado a essa lógica de comércio entre empresas multinacionais.
O fato de o Brasil exportar agrotóxicos significa que algumas multinacionais aqui instaladas exportam para outras empresas. Por exemplo, a filial da Monsanto exporta para outra filial na Bélgica ou nos Estados Unidos. Há uma troca entre unidades de produção de uma mesma empresa, na medida em que elas têm uma lógica de produzir em grande escala. Algumas plantas podem se especializar na produção de determinados agrotóxicos em nível mundial para reduzir o custo de produção. No caso do Brasil, o comércio é mais intenso no sentido de exportar agrotóxicos para os países da América Latina, principalmente para a Argentina, onde são destinados 50% das exportações. Há um intenso comércio entre os países vizinhos. A Bélgica e os Estados Unidos são grandes países de destino das exportações brasileiras. Na realidade, esses são países de destino porque algumas multinacionais especificamente fazem esse comércio de matriz e filial. Da mesma forma, o Brasil também é um grande importador dos Estados Unidos. Essa é a lógica comercial.
IHU On-Line – Como compreender a posição do governo brasileiro, de aceitar o uso de agrotóxicos que são proibidos em outros países? O que isso demonstra sobre a política brasileira em relação à saúde e à agricultura? Nesse sentido, como vê a atuação da CTNBio e da Anvisa?
Victor Pelaez Alvarez – Essa é uma boa pergunta. Por ser um grande exportador agrícola e exportador para alguns países que têm maior rigor no controle dos produtos, como a União Europeia e os Estados Unidos, o Brasil deveria ter um cuidado maior em termos de harmonização, visto que ele tem autorizado uma série de agrotóxicos que são proibidos nesses países, inclusive alguns na China. A China é mais cuidadosa no sentido de harmonizar sua legislação com países da União Europeia, e o Brasil, nesse sentido, acaba ficando atrasado nesse processo. Por ser o maior mercado mundial em crescimento, o país também sofre a pressão das empresas que tentam vender produtos que já não podem ser vendidos em outros países. E aí, obviamente, a venda depende do grau de rigor da legislação brasileira.
Como a legislação brasileira diz que o registro de um produto agrotóxico tem um prazo indeterminado, diferentemente, por exemplo, de países pertencentes à União Europeia, que têm prazos de dez anos, o ônus da prova para retirar um produto do mercado é do órgão regulador. Diante desse esforço da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa de rever quatorze ingredientes ativos que hoje teriam um risco potencial à saúde humana, as empresas utilizam-se de artifícios legais e pedem a cassação do processo de revisão dos agrotóxicos na Justiça. Todos esses pedidos de liminares foram atendidos inicialmente pelos juízes e depois revertidos. Aí a estratégia é para ganhar tempo, mas isso gera um grande desgaste para uma agência reguladora, que tem pessoal, recursos humanos e financeiros escassos.
Na medida em que a regulação no Brasil é feita por três órgãos, o Ministério da Agricultura (que avalia a eficácia agronômica), o Ministério do Ambiente (que avalia os impactos ambientais) e a Anvisa, do Ministério da Saúde (que avalia o impacto à saúde humana), acaba prevalecendo uma lógica de mercado de curto prazo, que tem o efeito bumerangue, porque o Brasil acaba exportando alimentos com resíduos de agrotóxicos para mercados em que tais produtos são proibidos. O exemplo mais claro disso foi a exportação do suco de laranja para os Estados Unidos com o resíduo de um fungicida, o Carbendazim [2] que é proibido lá. Bom, isso fez com que os produtores de suco de laranja tivessem um prejuízo de milhões de dólares. Então, veja que, de um lado, a agricultura está ligada ao mercado e, de outro, à saúde, como se fossem variáveis distintas. Trata-se de um falso dilema.
Para os mercados exigentes, cada vez mais a variável saúde é uma variável de mercado, que garante acesso a ele e dá credibilidade àquele que toma cuidado com a qualidade de seus produtos. O Brasil, ao não ter esse cuidado, ao se submeter à lógica das empresas, se submete a uma minoria e entra em conflito com o próprio desinteresse da agricultura nacional. A maneira de se colocar o problema é totalmente equivocada, no sentido de que haveria uma dicotomia entre saúde e agricultura, ou saúde e mercado. Pelo contrário, os dois devem andar juntos e isso faz parte, ou deveria fazer parte, de um país com grande biodiversidade, preocupado em garantir padrões de qualidade em termos ambientais e à saúde humana. Enfim, essa preocupação com a qualidade dos alimentos faz parte de qualquer lógica de produção moderna, avançada etc. O Brasil é ainda bastante atrasado nessa discussão, na problematização dessas questões, na incorporação dessa temática na agenda de discussão das políticas públicas. O governo se submete à bancada ruralista, que está longe de perceber a realidade dos mercados consumidores dos países ricos.
IHU On-Line – Uma das justificativas para o aumento do uso de agrotóxico é a expansão da agricultura no país. Como vê essa justificativa? É possível produzir, na escala brasileira, sem o uso dos pesticidas?
Victor Pelaez Alvarez – Tudo isso é um processo. Veja que a chamada Revolução Verde, que começa depois da Segunda Guerra Mundial, expande um modelo de produção com o uso intensificado de produtos químicos, de sementes etc., levou algumas décadas para se consolidar. Da mesma forma, hoje é possível se produzir em grande escala, sim, com o uso racional dos insumos, principalmente dos agrotóxicos e fertilizantes químicos.
O fato é que os agrotóxicos são incentivados, são isentos de IPI, tem redução de até 60% do ICMS. Portanto, toda lógica econômica é voltada para a redução do preço no intuito de incentivar a produção e o consumo destes produtos. Durante muito tempo o sistema de créditos no Brasil só concedia créditos para o agricultor que usasse agrotóxicos, quer dizer, havia um incentivo ao consumo desses produtos. Falta ao Brasil uma política de racionalizar o uso desses artigos.
Se você produzir em pequenas propriedades, por exemplo, por sistemas agroecológicos ou que usam uma quantidade muito menor de agrotóxicos, a soma disso dará a escala em nível regional e nacional. Novamente, trata-se da forma como se coloca o problema, como se pensa uma política agrícola integrada e preocupada com as questões ambientais.
Nota
[1] É um composto quaternário do amônio utilizado como herbicida e altamente perigoso para os humanos se ingerido. O Paraquat foi produzido pela primeira vez, com propósitos comerciais pela Sinon Corporation, em 1961 pela Syngenta, e é hoje um dos herbicidas mais usados.
[2] Carbendazim é um fungicida benzimidazólico que é de amplo espectro e argamaente utilizado e um metabólito do benomil. O fungicida é usado para controlar doenças vegetais em cereais e frutas.
IHU On-Line/EcoAgência

sábado, 6 de outubro de 2012

Movimento Slow Food estimula alimentação saudável e ambientalmente responsável

O Slow Food trabalha com a perspectiva de que o alimento deve ser bom, limpo e justo. Ou seja, a comida deve ser saborosa, respeitar o meio ambiente, e ter preços justos tanto para produtores/as como para consumidores/as.


Você se alimenta bem? Sabe de onde vem e como é produzido o alimento que você consome? Na correria do cotidiano, muitas pessoas acabam pulando refeições ou recorrendo aos chamados fast foods (comida rápida). Para contrapor essa forma de se alimentar e alertar a população para a importância de ter uma alimentação saudável e que respeite a biodiversidade local, surgiu, em 1989, o Slow Food (comida lenta). O movimento, inicialmente organizado na Itália, cresceu e hoje já conta com mais de 100 mil adeptos/as em cerca de 150 países do mundo. A ideia é promover uma maneira de se alimentar saudável e saborosa, respeitando a oferta de produtos regionais e servindo como reflexão e oposição ao modo rápido de viver e de comer.
O Slow Food trabalha com a perspectiva de que o alimento deve ser bom, limpo e justo. Ou seja, a comida deve ser saborosa, respeitar o meio ambiente, e ter preços justos tanto para produtores/as como para consumidores/as. A busca é por alimentos orgânicos, sem agrotóxicos, e de preferência regionais e que estejam no período de colheita. O objetivo é ter uma alimentação saudável que respeite o meio ambiente e ainda promova hábitos e formas de se alimentar tradicionais, com a diversidade de sabores e de modo de preparo.

"Slow Food defende as diferenças culturais territoriais e regionais, intimamente ligadas a nossa herança alimentar, e revaloriza a história e a cultura de cada grupo social para que possam existir redes de troca recíprocas equilibradas”, destaca o guia Bem-Vindos a Nosso Mundo, que apresenta o movimento.

No Brasil, o Slow Food começou no ano 2000, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), e hoje já está presente nas cinco regiões do país através de 31 grupos locais (também chamados de convivias) que estimulam a produção e o consumo de alimentos regionais. Além de projetos e campanhas, o movimento elabora guias e livros com receitas e dicas para uma boa alimentação. Exemplo disso é o guia lançado em junho deste ano com dicas de restaurantes e bares do Rio de Janeiro (RJ) que levam em consideração os princípios do Slow Food. Além disso, apresenta projetos e feiras na cidade que também abraçam a filosofia do movimento.

Evento mundial
Neste mês, adeptos/as de várias partes do mundo se encontrarão na Itália para o encontro Salone del Gusto e Terra Madre. Considerado o "maior evento do Slow Food”, o encontro ocorrerá entre os dias 25 e 29 de outubro, em Turim, na Itália. Serão cinco dias de feiras, debates, oficinas, degustações e conferências com a participação de pesquisadores/as, produtores/as e chefs de cerca de 170 países do mundo. Com o lema "Alimentos que transformam o mundo”, o evento ainda pautará temas como: soberania alimentar, mudança climática, povos indígenas, lutas contra os transgênicos, relação entre produtor e consumidor, e biodiversidade.
Para mais informações, acesse: http://salonedelgustoterramadre.slowfood.com/

Adital/EcoAgência

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

LAVAGEM DE ALIMENTOS


Leitor da CH pergunta: “Colocar verduras e hortaliças de molho no vinagre é suficiente para matar microrganismos e retirar resquícios de agrotóxicos?” Frederico Peres, da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz, responde.

Por: Frederico Peres
Publicado em 17/09/2012 | Atualizado em 18/09/2012
Lavagem de alimentos
Lavar bem as folhas e cascas, ou mesmo descascar o alimento, ajuda a eliminar parte dos resíduos de agrotóxicos. O melhor, no entanto, é conhecer a origem dos alimentos e dar preferência aos orgânicos. (foto: Ezran Kamal/ Sxc.hu)
Pergunta enviada por Tânia Correia, via correio eletrônico
A lavagem de frutas, verduras e hortaliças em solução de vinagre e água é uma medida eficiente para o controle de vários microrganismos, como o vibrião que causa a cólera. Essa medida é indicada, principalmente, para aqueles produtos consumidos com casca e ao natural, ou seja, sem qualquer cozimento – como os tomates e a alface da salada.
Essa medida de higiene não é eficaz, entretanto, para eliminar resíduos de agrotóxicos nos alimentos. Grande parte dos agrotóxicos utilizados na lavoura é de uso tópico, concentrando-se, após a aplicação, na superfície do alimento. Lavar bem as folhas e cascas, ou mesmo descascar o alimento, ajuda a eliminar parte dos resíduos de agrotóxicos.
Deixar o alimento de molho em uma solução de 1 litro de água e uma colher de sopa de bicarbonato de sódio por 30 minutos também ajuda a eliminar parte dos resíduos de agrotóxicos
Alguns estudos mostram ainda que deixar o alimento de molho em uma solução de 1 litro de água e uma colher de sopa de bicarbonato de sódio (aquele vendido em saquinhos no supermercado, junto aos temperos) por 30 minutos também ajuda a eliminar parte desses resíduos.
Essas são dicas que podem ajudar o consumidor a ingerir alimentos com menos resquícios de agrotóxicos. Mas a melhor dica é conhecer a origem dos alimentos e, quando possível, dar preferência aos orgânicos, que não utilizam agrotóxicos – principalmente, se for ingeri-los sem cozimento.

Frederico PeresCentro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana
Escola Nacional de Saúde pública, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Texto originalmente publicado na CH 296 (setembro de 2012).
Este texto foi atualizado para incluir a seguinte alteração:O bicarbonato a ser usado para ajudar na eliminação de parte dos resíduos de agrotóxicos nos alimentos é o de sódio e não o de potássio, como havíamos informado anteriormente. (18/09/2012)
Revista Ciência Hoje 296

sábado, 29 de setembro de 2012

Orientações sobre hábitos saudáveis marcam o Dia Mundial do Coração


No Dia Mundial do Coração, comemorado neste sábado (29), várias ações estão programadas em todo o país para chamar a atenção quanto às doenças cardiovasculares e orientar a população sobre a importância de adquirir hábitos mais saudáveis. Em Brasília, Campo Grande e Natal, por exemplo, estão sendo realizados exames gratuitos para verificação da pressão arterial e da glicemia, além do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), palestras, caminhadas, corridas, concertos e eventos desportivos.
Segundo a Federação Mundial do Coração, as doenças cardiovasculares são responsáveis por 17,3 milhões de mortes anualmente, das quais 8,6 milhões são de mulheres. Os números continuam a subir e a estimativa é que, até 2030, as mortes cheguem a 23 milhões.
No Brasil, cerca de 320 mil brasileiros morrem anualmente devido às doenças cardiovasculares. O cardiologista Fausto Stauffer, da Associação Médica Brasileira (AMB), explica que a prevenção é o melhor tratamento para as doenças do coração. Manter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos e parar de fumar são pequenas mudanças nos hábitos de vida que podem reduzir o risco de doenças cardíacas e de acidentes vasculares cerebrais.
"Estes hábitos devem ser adquiridos desde a infância, porque as crianças também são vulneráveis a estas enfermidades", disse Stauffer. Dieta balanceada e exercícios físicos são capazes de prevenir quatro dos dez principais fatores de risco: a hipertensão, o diabetes, a dislipidemia (colesterol alto) e a obesidade. No Brasil, as doenças cardíacas que mais levam à morte são o infarto e a insuficiência cardíaca.
Agência Brasil

sábado, 30 de junho de 2012

O Brasil envenenado: alimentos para a vida ou para a morte?


1-Uso de agrotóxicos no Brasil

Brasil é Bicampeão Mundial no uso de Agrotóxicos. Tanto em 2008 quanto em 2009, o Brasil foi o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.

Na safra de 2008/2009, foram vendidos 7,125 bilhões de dólares em agrotóxicos. O uso dos agrotóxicos no Brasil é tão intenso que, fazendo uma distribuição da quantidade de veneno (920 milhões de toneladas) utilizado no ano de 2009 por habitante (192 milhões), chega-se à conclusão de que cada brasileiro consumiu uma média de 4,7 kg de agrotóxicos. Em 2010, mais de um milhão de toneladas (o equivalente a mais de 1 bilhão de litros) de venenos foram jogados nas lavouras, ou seja, cada brasileiro teria consumido estarrecedores 5,2kg/ano, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola (SINDAG, 2010). Vejamos abaixo como o Brasil chegou a esse título nada lisonjeador.

2- Revolução Verde – A gênese do atual modelo predatório agrícola brasileiro

A ideia de uma produção capitalista em larga escala no campo surge no contexto da Revolução Verde, que teve origem após as grandes guerras mundiais, quando a indústria química fabricante de venenos então usados como armas químicas encontrou na agricultura um novo mercado para os seus produtos (LONDRES, 2011). A partir da década de 1950, tornou-se o paradigma dos países desenvolvidos e modelo de desenvolvimento a ser seguido pelos países periféricos como o Brasil.

A Revolução Verde foi um processo de mudança da política agrícola e tecnológica implementada a partir da Segunda Guerra Mundial. Com um falso discurso de modernização do campo, esse processo incentivou e impôs a prática de monocultivos, uso de sementes híbridas e geneticamente modificadas (os transgênicos[i]), uso de mecanização pesada no campo e uso de pacotes agroquímicos.



O final da década de 1970 e início da década de 1980 foi o auge do processo de subordinação da agricultura à indústria e com crédito fácil para expandir a industrialização da lavoura que, por sua vez, possibilitou uma maior implementação de máquinas e outros insumos químicos na agricultura. Este processo segue se desenvolvendo na agricultura brasileira, recebendo cada vez mais influência externa (econômica e ideológica) até chegar a ser o que denominamos hoje de agronegócio.

Goodman, Sorj e Wilkinson (1990) nos auxiliam a compreender o processo de adaptação da agricultura aos ditames do modo de produção capitalista, por se transformar num ramo cada vez mais articulado a tais práticas. No entanto, esses autores sinalizam que essa adaptação da agricultura à produção capitalista encontrou barreiras ao se defrontar com condições naturais de reprodução da natureza.

Com o intuito de explicar como este processo se desenvolveu, os autores indicam como os elementos naturais foram sendo, pouco a pouco, eliminados da produção agrícola e implementados pela atividade industrial. Para analisar as dimensões destas mudanças, os autores lançam mão de dois conceitos que se complementam no sentido de identificar o caminho seguido pela industrialização da agricultura: apropriacionismo e substitucionismo.

Assim, diferentes aspectos da produção agrícola foram transformados em setores específicos da atividade industrial. A este processo descontínuo, porém persistente, de eliminação de elementos discretos da produção agrícola, sua transformação em atividades agrícolas e sua reincorporação na agricultura sob a forma de insumos designamos apropriacionismo. Os produtos da agricultura igualmente apresentaram problemas singulares para a produção industrial. O destino deles como alimento impedia sua simples substituição por produtos industriais. Entretanto, o surgimento da indústria alimentícia, argumentamos, representa um processo igualmente descontínuo, mas permanente, de alcançar a produção industrial de alimentos, que denominamos de substitucionismo. Neste processo, a atividade industrial não apenas representa uma proporção crescente de valor agregado, mas o produto agrícola, depois de ser primeiramente reduzido a um insumo industrial, sofre cada vez mais a substituição por componentes não agrícolas. (GOODMAN, SORJ e WILKINSON, 1990, p.1-2)

Neste sentido, os conceitos de apropriacionismo e substitucionismo nos ajudam a compreender como se deu a integração do setor agrícola à lógica industrial, seja procurando diminuir a dependência desse setor aos fatores naturais, seja transformando os produtos agrícolas em meros insumos industriais e, assim, comprometendo a existência do setor agrícola e de sua principal característica que se encontra no ritmo de produção da natureza e não da indústria.

Para a que as transformações propostas pela Revolução Verde fossem rapidamente incorporadas, foi fundamental a atuação do Estado enquanto agente promotor e financiador do “pacote tecnológico” e, consequentemente, da subordinação da agricultura aos interesses urbano-industriais. Isto culminou na formação dos chamados complexos agroindustriais (e suas implicações para agropecuária ao estabelecer uma nova relação entre os setores da agricultura e indústria), sendo estes um verdadeiro reflexo das transformações citadas e desenhando estes os traços que marcaram a chamada “modernização conservadora” da agricultura brasileira.

De forma genérica, pode-se apontar, num sentido amplo, que o agronegócio ou agribusiness se refere a um tipo de produção agrícola em grande escala e em grandes propriedades. Porém, diante das intrínsecas relações com o comércio e a indústria, hoje compreende também toda cadeia de produção agropecuária, a comercialização desta produção e de todos os elementos necessários à sua viabilização, bem como a produção de insumos, maquinários, tecnologias (biotecnologia, transgênicos) e a industrialização da produção e sua distribuição.

No atual período de globalização neoliberal, o agronegócio cada vez mais vem sendo controlado por empresas e não pelos produtores. No caso do Brasil, há grandes corporações transnacionais como a Cargil, Bunge, Monsanto, Bayer, e outras, que determinam o preço das sementes, dos fertilizantes, dos defensivos agrícolas, dos maquinários, e também interferem na cotação final do produto quando de sua comercialização, que em grande parte é destinada para o mercado externo. Em 2007, 58,5% de toda produção de frango, 52% do etanol, 41% do açúcar e 36,3% da soja do Brasil foi exportada (ANUÁRIO EXAME, 2008).

A força do poder do agronegócio não se encontra apenas na economia. Através da análise das práticas institucionais de parlamentares brasileiros, pode-se constatar uma rede que tem como grande objetivo defender os mais diversos interesses do(s) (empresários do) agronegócio, em especial, a propriedade privada da terra. Essa rede do agronegócio formada por parlamentares é conhecida como a bancada ruralista (BRUNO, 1991; COSTA, 2008 e VIGNA, 2007). É possível afirmar que o poder e a força patronal no campo brasileiro são construídos pelo intenso e incessante movimento articulado de distintas escalas (em rede) de pressão e influência, encontrando na bancada ruralista sua expressão máxima de defesa e proteção das elites do agro no Brasil, reconhecendo sua forma de organização superior a qualquer critério político e democrático.

Segundo Porto-Gonçalves, (2008) o bloco de poder do chamado agronegócio é atualmente técnico-científico-agroindustrial-financeiro-midiático e parlamentar, garantia institucional que mantém e reproduz as atuais e assimétricas relações sociais e de poder inseridas no mundo rural brasileiro e que conserva a perversa estrutura fundiária brasileira. Sendo assim, o agronegócio é o resultado de uma aliança entre empresas transnacionais, o capital financeiro e grandes proprietários de terras, nacionais e estrangeiros.

Os agrotóxicos são uma das bases (de produção e comercialização) do agronegócio, pois grande parte das empresas que atuam no ramo da produção de sementes também atua no campo da produção e comercialização de agrotóxicos. Nos últimos anos, estas empresas passaram por processos fusões e aquisições que as levaram ao controle oligopolizado da agricultura brasileira.

3- O financiamento público para o agronegócio e o uso dos agrotóxicos

O Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário é a soma de todas as mercadorias agrícolas vendidas. Os dados disponíveis pelo IBGE apontam que o PIB agropecuário de 2009 esteja em torno de R$ 163 bilhões, cerca de 15% do PIB total do Brasil.

Desse montante, cerca de R$ 120 bilhões sejam do agronegócio. Para entender o que significam esses R$ 163 bilhões, é necessário conhecer o modelo que sustenta esse tipo de produção. Mais da metade do valor gerado – cerca de R$ 90 bilhões – é o volume de crédito oficial destinado aos “empresários” do agronegócio, ou seja, seis vezes mais do que a verba do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), destinada aos agricultores familiares para a safra 2009/2010, que foi de R$ 15 Bilhões[ii].

Para seguir o modelo da “moderna agricultura”, grande parte dos R$ 90 bilhões de crédito vai para o pacote máquinas-fertilizantes-agrotóxicos. E quem se beneficia com esse crédito? As grandes empresas transnacionais, que juntas somam lucros acima do total do PIB agrícola. Vejamos abaixo as principais produtoras de agrotóxicos no Brasil.


As principais empresas produtores de agrotóxicos no Brasil. Fonte: www.mst.org.br
Segundo o anuário do agronegócio referente a 2010, os ativos das 50 maiores empresas do setor de insumos químicos ficaram em R$ 189 bilhões. As dez maiores controlam 51% do já oligopolizado mercado. Deste valor, parte considerável vai para o mercado de agrotóxicos. As vendas mundiais de venenos chegaram a US$ 48 bilhões. No Brasil, o mercado tem crescido vertiginosamente, como podemos constatar pelo gráfico abaixo.

Gráfico 1: Taxas de crescimento das vendas de agrotóxicos no Brasil e no mundo, com base no ano 2000.


Fonte: ANVISA, 2010
Para o período de 2000 a 2009, são apresentadas no gráfico 1 as taxas de crescimento das vendas de agrotóxicos no Brasil e no mundo, com base no ano 2000. Pode-se verificar que o crescimento das vendas no Brasil foi maior que no mundo, assumindo valores superiores a 100% a partir de 2007. Em 2008, o Brasil assumiu a posição de maior consumidor de agrotóxicos do mundo, posição antes ocupada pelos Estados Unidos. Para atingir tal patamar, as empresas produtoras de agrotóxicos, além das isenções federais, possuem isenções complementares determinadas por alguns estados como o Ceará, que isenta em 100% de ICMS, IPI, COFINS e PIS/PASEP as atividades que envolvem o agrotóxico.

Larissa Mies Bombardi, professora do Departamento de Geografia USP, aponta que:

Somando as receitas das principais empresas estrangeiras produtoras de agrotóxicos no Brasil, segundo o balanço de 2009, temos um total de R$ 14 bilhões. Este dado é muito significativo, já que revela que, do PIB agrícola como um todo, o setor de agrotóxicos abocanhou, sozinho, cerca de 10%, isso lembrando que não estão computados os dados da Monsanto. Isto significa que estamos, literalmente, comendo veneno, monopolizado pelo capital estrangeiro. (MST, 06/12/2010)

Com isso, é fácil constatar que, com fortalecimento do agronegócio no Brasil, haverá aumento do cultivo de monoculturas, que acarretará em maior uso de maquinário e veneno na agricultura (Gráfico 2), ocasionando um verdadeiro desequilíbrio socioambiental.

Gráfico 2 – Previsão de entrega (venda) de fertilizantes no Brasil


Fonte: ANDA, 2008.
De acordo com o geógrafo Paulo Alentejano (DGEO/FFP-UERJ e EPSJV/Fiocruz), o controle das grandes corporações sobre a agricultura no Brasil gera concentração de renda e empobrecimento dos agricultores. Neste sentido, acreditamos que o atual cenário do espaço agrário brasileiro indica que está em curso um intenso processo de monopolização da agricultura pelo capital estrangeiro (BOMBARDI, 2011).

4- Uso de agrotóxico e o aumento de doenças

A agricultura é praticada pela humanidade há mais de dez mil anos. Desde a sua gênese o homem se preocupou em produzir e consumir alimentos nutritivos e de boa qualidade. No entanto, com o forte processo de industrialização/ urbanização que foi se delineando no mundo ao longo do tempo, o sistema capitalista procurou padronizar os hábitos alimentares, fazendo com que a alimentação humana tenha se tornado mórbida, com poucos nutrientes e sobretudo envenenada, trazendo sérias consequências para a saúde humana.

Segundo relatam Peres e Moreira (2007, p.05):

A larga utilização de agrotóxicos no processo de produção agropecuária, entre outras aplicações, tem trazido uma série de transtornos e modificações para o ambiente, seja através da contaminação das comunidades de seres vivos que o compõem, seja através da sua acumulação nos segmentos bióticos e abióticos dos ecossistemas (biota, água, ar, solo, sedimentos etc.). Um dos efeitos ambientais indesejáveis dos agrotóxicos é a contaminação de espécies que não interferem no processo de produção que se tenta controlar (espécies não-alvos), dentre as quais se inclui a espécie humana.

Segundo a ANVISA, o aumento do uso de agroquímicos agrícolas tem efeitos graves no meio ambiente, na saúde de trabalhadores rurais e nos consumidores dos alimentos (Figura 1). Os agrotóxicos podem provocar três tipos de intoxicação: aguda, subaguda e crônica.

Na aguda, os sintomas surgem rapidamente. Na intoxicação subaguda, os sintomas aparecem aos poucos: dor de cabeça, dor de estômago e sonolência. Já a intoxicação crônica pode surgir meses ou anos após a exposição e pode levar a paralisias e doenças, como o câncer.

Os agrotóxicos podem ser classificados quanto ao seu grupo químico – organoclorados, organofosforados, carbamatos, etc, – quanto à sua toxicidade – extremamente tóxicos (Faixa vermelha), altamente tóxicos (Faixa Amarela), mediamente tóxicos (Faixa Azul) e pouco ou muito pouco tóxicos (Faixa Verde) – ou ainda quanto ao seu efeito – fungicidas, herbicidas, inseticidas etc. Essas classificações sinalizam que os agrotóxicos não agem só contra insetos, fungos e plantas, mas contra a vida dos seres humanos também.

Hoje já são comprovados os efeitos teratogênicos (nascimentos com malformações), mutagênicos (alterações genéticas gerando doenças) e carcinogênicos (surgimento de diferentes tipos de câncer na população exposta) dos agrotóxicos (INCA, 2005; TURCI, 2011). Em recente entrevista ao programa “De Frente com Gabi[iii]”, exibido pela emissora SBT – Sistema Brasileiro de Televisão -, a médica e especialista em câncer, Silvia Regina Brandalise, afirmou que o câncer é uma doença multifatorial, no entanto, “o aumento de casos de câncer entre a população com menos de 18 anos pode estar relacionado ao uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras”, pois os agentes químicos atacam as células do corpo humano, facilitando o desenvolvimento da doença. Com isso, Silvia Brandalise expôs que “os fatores de risco que estão sendo levantados são os poluentes ambientais, que são os pesticidas, infelizmente, a indústria chama de defensivo agrícola”, mas na verdade eles são venenos agrícolas que ocasionam a “quebra da Cromátide[iv], que é o primeiro passo para a carcinogênese[v].

Segundo Silvana Rubatto (ENSP/Fiocruz), em 2002 foram registrados 10 milhões de casos de câncer no mundo e para 2020 são projetados 15 milhões. O número de mortes, no entanto, deve subir mais: dos 6 milhões verificados em 2002, projetam-se 12 milhões para 2020, sendo a alimentação o maior fator de risco, seguido pelo tabaco, setor controlado também pelas corporações transnacionais.

No entanto, existe grande dificuldade em comprovar a maior incidência de câncer devido à contaminação por uso de agrotóxicos. De acordo com Wanderley Pignati, pesquisador da UFMT, para fazer a comprovação é preciso comparar dados epidemiológicos de doenças de regiões que usam muito agrotóxico com outras que usam pouco. Segundo pesquisas feitas pelo referido pesquisador em Mato Grosso, pode-se constatar, por exemplo, que nas três regiões do Mato Grosso onde mais se produz soja, milho e algodão há uma incidência três vezes maior de intoxicação aguda por agrotóxicos, comparando com outras 12 regiões que produzem menos e usam menos agrotóxicos. Além disso, essas regiões que produzem mais soja, milho e algodão apresentam incidência duas vezes maior de câncer em crianças e adultos e malformação em recém-nascidos do que nas outras regiões que produzem menos e usam menos agrotóxicos.

Em trabalho semelhante, a pesquisadora Silvana Rubatto (ENSP/Fiocruz) apontou que a Região Serrana do Rio de Janeiro apresenta alto índice de câncer, que é motivado por fatores ambientais. Nessa região o consumo de agrotóxicos é 1822% maior que a média do estado do Rio de Janeiro, sendo uma área importante de produção de hortifrutigranjeiros, que são vendidos, sobretudo, na Região Metropolitana. No entanto, a falta de dados mais precisos nos prontuários, como a profissão do paciente, impediu que a pesquisa realizada pudesse relacionar os casos diretamente ao manuseio de agrotóxicos. Entretanto, a verificação do alto índice de câncer na região que mais utiliza agrotóxicos no estado do Rio de Janeiro é um importante indicativo dos males que este produto causa em quem os aplica, assim como naqueles que consomem os alimentos produzidos com venenos dessa região.

Outro caso de grande repercussão referente à contaminação por agrotóxico[vi] foi exposto pela bióloga Danielly de Andrade Palma[vii], através da defesa de sua dissertação de mestrado em Saúde Coletiva, que foi apresentada no dia 15 de março de 2011 na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e apontou a presença de pelo menos um tipo de agrotóxico no leite materno[viii] nas 62 mulheres pesquisadas, e em 85% dos casos foram encontrados entre 2 e 6 tipos. Ainda mais estarrecedor é que a substância com maior incidência é conhecida como DDE, um derivado de outro agrotóxico, DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano), proibido pelo Governo Federal[ix] em 1998 por provocar infertilidade no homem e abortos espontâneos nas mulheres.

A pesquisa teve como recorte espacial o município de Lucas do Rio Verde (MT), um dos maiores produtores de soja do Brasil. Mesmo com todos esses indícios de que o veneno faz mal à saúde, o governo, por exemplo, autorizou em Novembro elevar em dez vezes o limite máximo de resíduo (LMR) no cultivo do milho.

Pela gravidade das consequências geradas pelo uso de agrotóxicos, é fundamental melhorar o sistema de catalogação dos dados sobre intoxicações. Neste sentido, hoje existe o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, o SINITOX, que é ligado à Fiocruz, do Rio de Janeiro. A função do SINITOX é orientar as famílias, os agentes de saúde na forma de lidar com intoxicações. Eles são organizados em centros, não estão em todos os estados, que remetem as informações para o Rio de Janeiro. Mas eles não têm função de fazer um banco de dados. Já o Sistema de Informação de Agravos de Notificação, SINAN, é vinculado diretamente ao Ministério da Saúde, com o intuito de cadastrar os dados de intoxicações.

A maior abrangência e catalogação dos dados é fundamental para relacionar/comprovar os danos que são causados pelo uso de agrotóxicos, e assim, possibilitar uma maior conscientização da população em relação à qualidade dos alimentos que temos ingerido, mas possibilitar também ao Estado promover políticas públicas, em especial, voltadas para a saúde pública e a alimentação saudável da população.

5- Agrotóxicos e suas consequências

Como vimos anteriormente, a produção e a comercialização dos agrotóxicos no Brasil se concentra na mão de seis grandes empresas transnacionais, que controlam mais de 80% do mercado dos agroquímicos.

Além de controlar a fabricação dos agrotóxicos, essas empresas também controlam a produção e comercialização de sementes e medicamentos, criando assim, um ciclo vicioso de consumo para gerar lucro, no qual a saúde da população não é o mais importante. Quanto mais veneno utilizado na agricultura, maior é a incidência de doenças e, consequentemente, maior será a utilização de remédios fabricados por essas mesmas grandes corporações do setor químico-farmacêutico, portanto mais lucro elas terão com a contaminação da população.

O modelo agrícola brasileiro revela uma grande contradição. Enquanto bate recordes seguidos de produtividade, contribuindo com cerca de 30% das exportações brasileiras, 40% da população brasileira sofre com a insegurança alimentar[x], segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A sociedade brasileira conta com 70 milhões de pessoas em estado de insegurança alimentar e com o consumo de apenas 1/3 de frutas, verduras e legumes necessárias a uma alimentação saudável, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Dados sobre Agrotóxicos no Brasil

O Brasil é o campeão mundial em consumo de agrotóxicos. Em 2008, foram utilizados 673.862 toneladas de agroquímicos e a indústria química movimentou US$ 7,125 bilhões.
Mais de 1,5 milhão das 5,2 milhões de propriedades rurais do país utiliza agrotóxicos.
1,396 milhão de estabelecimentos agrícolas utilizam herbicidas, fungicidas e inseticidas.
Cerca de 56% dos que recorrem a produtos químicos na agricultura não seguem orientação técnica.
70,7% usaram pulverizador costal para aplicação de agrotóxicos, equipamento que apresenta maior potencial de exposição aos trabalhadores.
Em cerca de 20% das propriedades que aplicaram agrotóxicos não se utilizava equipamento de proteção.
Houve ao menos 25.008 casos de intoxicação de agricultores.
O pimentão é o alimento que apresenta maior índice de agrotóxicos. 64% das amostras analisadas por pesquisa da ANVISA apresentaram problemas.
Morango, uva e cenoura aparecem na sequência, com mais de 30% de resíduos cada.
Substâncias proibidas em muitas partes do mundo foram encontradas em abacaxi, alface, arroz, batata, cebola, cenoura, laranja, mamão, morango, pimentão, repolho, tomate e uva.
Fontes: Sindicato Nacional da Indústria de Defesa Vegetal (Sindag), Censo Agropecuário (IBGE), 2006.

Levantamentos do IBGE e do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindag), ambos de 2009, apresentam o crescimento de 4,59% da área cultivada no Brasil no período entre 2004 e 2008. Por outro lado, as quantidades vendidas de agrotóxicos, no mesmo período, subiram aproximadamente 44,6%. Isso equivale a dizer que se venderam agrotóxicos num ritmo quase 10 vezes superior ao crescimento da área plantada no Brasil naquele período. Ao analisarmos a distribuição espacial do uso de agrotóxicos por estado fica evidenciada a relação entre agronegócio e agrotóxico. Vejamos o gráfico abaixo:

Gráfico 3: Uso de agrotóxicos por estado – Brasil 2009


Fonte: SINDAG, 2009.
Ao analisarmos o gráfico acima podemos constatar que os estados da federação com maior utilização de agrotóxicos (MT, SP, PR, RS e GO) são marcados pelo cultivo de monoculturas (por exemplo, a soja), transgênicos e dominados pelo agronegócio.

Segundo dados do Programa de Análise de Resíduo de Agrotóxico em Alimentos (PARA), da ANVISA, que analisou o índice de contaminação de alimentos em 26 estados brasileiros, chegou-se a dados alarmantes, vejamos os destaques abaixo:

Pimentão (80%)
Uva (56,4%)
Pepino (54,8%)
Morango (50,8%)
Couve (44,2%)
Abacaxi (44,1%)
Mamão (38,8%)
Alface (38,4%), além outras 12 culturas analisadas e registradas com resíduos de agrotóxicos.
O fato é ainda mais preocupante, pois das 819 amostras que apresentaram ingredientes ativos (IAs) não autorizados, 206 amostras (25,1%) apresentaram resíduos que se encontram em processo de reavaliação toxicológica no Brasil. Desse universo, 32 amostras contém ingredientes ativos banidos ou nunca sequer registrados no Brasil, como o heptacloro, clortiofós, dieldrina, mirex, parationa-etílica, monocrotofós e azinfósmetílico.

Todavia, é importante ressaltar que as culturas que mais utilizam agrotóxicos no país são justamente aquelas produzidas no modelo do agronegócio, cultivadas em grandes áreas de monocultivos e voltadas para a exportação (gráfico 2), como é o caso da soja, que é responsável por 47% do volume total de agrotóxicos comercializados no país.

Gráfico 4: Uso de agrotóxicos por cultura – Brasil 2009


Fonte: SINDAG, 2009.
Recentemente a senadora (ex-DEM e atualmente PSD) e presidenta da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu, que representa os interesses dos ruralistas e do agronegócio, defendeu em discurso na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, que “o agronegócio deve continuar a produzir alimentos com venenos para os pobres, pois são mais baratos”. Já os pequenos agricultores, que se dedicam a produzir alimentos orgânicos, ou seja, sem venenos, devem continuar a produzir para que a elite brasileira (inclui-se nesse seleto grupo a própria senadora do agronegócio) possa continuar se alimentando com produtos saudáveis, que acabam por ser mais caros e não acessíveis a grande parcela da população.

6- A agroecologia como alternativa?

Segundo dados do IBGE, hoje o Brasil tem um total de 1,767 milhão de hectares cultivados com orgânicos. No ano passado, o setor faturou R$ 500 milhões, um crescimento de 40% em relação a 2009. Para 2011, a estimativa é de R$ 700 milhões.

Segundo Sonia Stertz, presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Paraná, a vantagem do alimento orgânico é o fato de ele ser mais nutritivo, seu consumo reduz a ingestão de substâncias químicas nocivas à saúde humana, além de diminuir o impacto ambiental e a qualidade de vida do agricultor.

No entanto, é importante diferenciar agricultura agroecológica da agricultura orgânica; esta última se define como um sistema produtivo que evita o uso de agroquímicos e reguladores do crescimento. Segundo esta definição, diferentemente da agroecologia, um produto pode ser orgânico mesmo que não se levem a cabo práticas de conservação e não se minimizem a utilização de insumos externos. Portanto, pode-se dizer que se não existem sistemas agroecológicos que não sejam orgânicos, podem existir sistemas de produção orgânicos que não sejam agroecológicos.

Essa diferença nos faz ressaltar a maior adequação da agroecologia à agricultura familiar, ao passo que a produção orgânica pode sem grandes problemas adaptar-se a uma agricultura empresarial em larga escala, como mostram as experiências em curso de açúcar orgânico, café orgânico e, especialmente a criação do “boi verde” em grandes latifúndios.

Foi a partir do desdobramento de pesquisas realizadas na Europa e nos EUA que visavam a estudar os efeitos da agricultura convencional que surgem ainda na década de 1980 a agricultura regenerativa e a agroecologia, cuja preocupação geral estava em valorizar os aspectos socioculturais da produção agrícola (EHLERS, 1996). A agroecologia passou a se firmar como disciplina científica principalmente entre os pesquisadores norte-americanos e passou a ser fundamental na compreensão das complexas relações entre a agricultura e os ecossistemas.

Não por acaso, Miguel Altieri (Professor da Universidade da Califórnia em Berkley) é um dos maiores expoentes na constituição das bases cientificas da agroecologia, propondo que esta seja considerada como:

A ciência ou a disciplina científica que apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas, com o propósito de permitir a implantação e o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de sustentabilidade. A agroecologia proporciona então as bases científicas para apoiar o processo de transição para uma agricultura sustentável nas suas diversas manifestações e/ou denominações (ALTIERI, 2000, p. 56.).

Desse modo, Altieri (2000) aponta que os estudos agroecológicos davam conta de algo que a agronomia convencional não valorizava, a integração dos diferentes campos do conhecimento. Com isso, o crescimento da agroecologia foi de grande influência para o desenvolvimento do conceito de agricultura sustentável.

Numa aproximação maior com as Ciências Sociais e com enfoque no desenvolvimento rural, outra importante referência teórica para os estudos agroecológicos são os trabalhos de Eduardo Sevilla Guzmán[xi]. O referido pesquisador aponta que agroecologia constitui-se num campo de conhecimentos que promove o manejo ecológico dos recursos naturais, através de formas de ação social coletiva que apresentam alternativas à atual crise de modernidade, mediante propostas de desenvolvimento participativo desde os âmbitos da produção e da circulação alternativa de seus produtos, pretendendo estabelecer formas de produção e de consumo que contribuam para encarar a crise ecológica e social e, deste modo, restaurar o curso alterado da coevolução social e ecológica (GUZMÁN, 2002).

Com isso, podemos entender a agroecologia como uma ciência que nos permite compreender de forma mais profunda a natureza dos agroecossistemas e os princípios segundo os quais eles funcionam. Trata-se da integração de princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo (ALTIERI, 2000).

No entanto, mais do que um conjunto definido de práticas, a agricultura sustentável via agroecologia ainda hoje se constitui num anseio (apesar do crescimento de experiências agroecológicas pelo Brasil), num objetivo a ser alcançado e, portanto, para que se torne uma alternativa consistente ao modelo difundido pelo binômio Revolução Verde – Agronegócio, esta precisa trilhar um longo caminho no qual se devem aplicar esforços cada vez maiores no desenvolvimento de tecnologias apropriadas à valorização de ecossistemas complexos (EHLERS, 1996), para que não continuemos a constatar o agravamento dos danos socioecológicos, tais como o desflorestamento, a diminuição da biodiversidade, a perda de fertilidade dos solos e aumento da erosão, a contaminação dos alimentos, das águas e dos homens do campo e da cidade por agrotóxicos etc.

Nesse sentido, a agroecologia carrega uma concepção mais abrangente do que as demais propostas alternativas para a agricultura, como a orgânica. Ela carrega em seu interior, além da preocupação com o equilíbrio de agroecossistemas [xii], uma crítica social bastante abrangente, que abarca a responsabilidade de tentar servir de alternativa para a busca de um novo caminho de desenvolvimento socioeconômico e ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscamos no decorrer deste artigo demonstrar o quanto é importante fomentar o debate sobre o uso (intensivo) de agrotóxicos na agricultura brasileira. Esse tema deve ser mais publicizado por diferentes setores da sociedade para que a população possa ter conhecimento dos malefícios que esses agroquímicos podem causar ao meio ambiente e à saúde das pessoas, e assim, discutir se querem uma agricultura dita produtiva com base em agroquímicos e máquinas ou uma agricultura alternativa com produção de alimentos sem o uso de insumos químicos. Por conta disso, defendemos que este tema seja tratado como de utilidade pública.

Para que se construa uma agricultura alternativa ao atual padrão tecnológico agropecuário é vital que o poder público nas suas diferentes esferas desenvolva políticas públicas de ampla envergadura voltadas aos agricultores familiares que em geral são os principais produtores de alimentos (sem agroquímicos) consumidos na dieta alimentar básica do brasileiro. Para isso, será fundamental reorientar as pesquisas e o desenvolvimento de tecnologia, notadamente, a partir de instituições públicas como a EMBRAPA e as EMATER, visando a conciliar segurança alimentar com a manutenção dos recursos naturais. No entanto, ainda que estas mudanças estejam distantes na atual conjuntura, importantes ações políticas e práticas têm sido realizadas por diferentes movimentos organizados da sociedade civil – no caso da publicização dos malefícios do uso dos agrotóxicos, destacamos a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, que tem aglutinados pesquisadores, instituições públicas, sindicatos, movimentos sociais e outros segmentos sociais.


Artigo de Thiago Lucas Alves da Silva, Professor de Geografia da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro e de cursos preparatórios públicos e privados na mesma cidade. Licenciado em Geografia pela FFP-UERJ, Pós-graduado (Lato Sensu) em Políticas Territoriais no Estado do RJ (IGEO-UERJ) e Mestre em Ciências Sociais – Desenvolvimento, Sociedade e Agricultura pelo CPDA/UFRRJ.



sábado, 5 de maio de 2012

COMO AS FRUTAS VERMELHAS MANTÉM O CÉREBRO EM FORMA

Estudo indica que essas frutas podem adiar a perda de memória em mulheres

A alta ingestão de frutas vermelhas ricas em flavonoides pode, a longo prazo, adiar a perda de memória em mulheres por dois anos e meio na idade madura. O estudo é de pesquisadores do Brigham and Women’s Hospital e foi publicado hoje pelo Annals of Neurology, da American Neurological Association and Child Neurology Society.

— Entre as mulheres que consumiram duas ou mais porções de morangos ou mirtilo por semana houve diminuição de perda de memória — explicou a pesquisadora Elizabeth Devore, coordenadora do estudo.

Os pesquisadores usaram dados do Nurses’ Health Study, feito com um grupo de 121.700 mulheres entre 30 e 55 anos que preencheram questionários sobre saúde e estilo de vida desde 1976. A partir de 1980 as participantes foram monitoradas a cada quatro anos sobre a frequência de consumo e, entre 1995 e 2001, a memória foi medida em mulheres com mais de 70 anos em intervalos de dois anos.
Fonte: O Globo
Acessado em: 30/04/2012
Pesquisado por: Kely de Freitas Gomes – Voluntária Online

terça-feira, 24 de abril de 2012

Município de Erechim (RS) adquire de agricultores familiares 100% dos produtos da alimentação escolar

Erechim é caso modelo para o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), sendo o primeiro município brasileiro a utilizar 100% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na compra de gêneros alimentícios da agricultura familiar.
Os 160 alunos sentam-se animados à mesa para saborear um belo prato de arroz com feijão e carne, preferido da criançada. A cena parece a mesma que se vê em tantas escolas do país, mas na escola Luiz Badalott, assim como em todas as outras do município, a merenda escolar tem um gosto diferente. Gosto de sucesso.

Erechim é caso modelo para o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), sendo o primeiro município brasileiro a utilizar 100% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na compra de gêneros alimentícios da agricultura familiar para a alimentação escolar. Ao todo, são mais de seis mil alunos atendidos, beneficiando cerca de 52 famílias de agricultores familiares da região. Isso garante às crianças uma merenda com produtos mais saudáveis e diversificados.
"Antes, de maneira geral, a alimentação escolar era feita com produtos processados e com pouca diversidade, possivelmente fracos em vitaminas e sais minerais, que são encontrados em abundância em frutas e verduras, oferecidas com a inclusão dos produtos da agricultura familiar", explica o coordenador das políticas de comercialização de produtos da agricultura familiar do MDA, Pedro Bavaresco.
Prefeitura, escolas e agricultores estão satisfeitos com a nova estrutura da alimentação escolar, que favorece a todos os setores. "A partir do momento em que os agricultores familiares passaram a ser responsáveis pelos produtos da alimentação escolar começamos a servir alimentos típicos da nossa região. Os alunos têm uma alimentação de melhor qualidade e a aplicação dos recursos fica na região, favorecendo a economia local e possibilitando que o agricultor permaneça no campo", explica a nutricionista e gestora da alimentação escolar no município, Mary Geisa Massaro.
O cardápio planejado para as escolas passou a incluir frutas e verduras frescas, principalmente. "As crianças passaram a receber uma alimentação mais completa e nutritiva. E o que surpreendeu é que eles realmente gostam e muitas vezes repetem a refeição", conta a vice-diretora da escola Luiz Badalott, Rafaela Manauar. Os professores também adoram a alimentação oferecida na rede de ensino e incentivam os alunos a cultivar hábitos saudáveis.
Mercado e qualificação
Segundo dados oficiais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, responsável pelo repasse de verba para alimentação escolar, 51% dos municípios brasileiros compraram alguma porcentagem da agricultura familiar em 2010. O Ministério do Desenvolvimento Agrário trabalha tentando aumentar este número, incentivando as prefeituras a adquirir produtos da agricultura familiar, de forma que cada município cumpra a meta mínima de 30% de fornecimento para a alimentação escolar estipulada em lei.
Para tanto, a Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) vem desenvolvendo estratégias de assistência técnica para organizações de agricultores para que eles se qualifiquem e possam alcançar este novo mercado. "Fornecer para a alimentação escolar exige, além da excelente qualidade dos alimentos, capacidade de logística e regularidade na entrega. Como até 2009 produzir para a alimentação escolar não fazia parte do mercado do agricultor familiar, ainda temos hoje agricultores despreparados para tanto. É aí que a SAF vem atuando, na organização e qualificação desses agricultores para que possam acessar a mais esse mercado", destaca o coordenador das políticas de comercialização de produtos da agricultura familiar do MDA, Pedro Bavaresco.
Em Erechim, como toda a alimentação escolar provém da agricultura familiar, os produtores estão se organizando cada vez mais para atender à demanda. A Cooperfamília foi criada em 2011 para auxiliar os agricultores da região do Alto Uruguai, que inclui o município de Erechim, a vender produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Hoje a cooperativa tem 845 associados e quase toda a renda da cooperativa vem da alimentação escolar.
"Historicamente o agricultor familiar sempre teve dificuldades em comercializar sua produção, competir com os grandes produtores. Na cooperativa nós os ajudamos a se organizar e se qualificar para manter a qualidade exigida para a alimentação escolar, que é uma forma de renda garantida para esses agricultores", conta a presidente da cooperativa, Juraci Zambom. Para isso, a Cooperfamília conta com ajuda do MDA e da Emater/RS-Ascar -- Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural - para prestação de serviços de assistência técnica para os cooperados.
Outro exemplo é a Cooperativa de Produção e Consumo Familiar Nossa Terra, que começou o fornecimento para alimentação escolar em Erechim e hoje vende para todo o Brasil, faturando mais de R$ 10 milhões por ano com esse mercado. "Com a participação no PNAE o nosso faturamento, no mínimo, triplicou", afirma o gerente comercial da cooperativa, Marcelo Cozer. Hoje a Nossa Terra tem 80 agroindústrias que estão operando em 99% da sua capacidade, trabalhando quase exclusivamente com alimentação escolar.
O mercado da merenda escolar trouxe vários benefícios aos agricultores da cooperativa. "Conseguimos melhores preços pelos nossos produtos e a concorrência é menor. Com a renda da venda para a alimentação escolar conseguimos bancar as melhorias na produção e a criação de novos produtos", conta Marcelo.
Os agricultores tiveram que melhorar a organização da produção e adaptar os produtos às necessidades das escolas. "Passamos a produzir em embalagens pequenas e individuais, de forma a facilitar a distribuição para os alunos, por exemplo", explica Marcelo. Para isso, a parceria com o MDA foi fundamental. A maior parte dos cooperados já teve acesso a alguma outra política pública do ministério, como linhas de crédito -- principalmente do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) -- e Assistência Técnica de Extensão Rural (Ater).
Programa Nacional de Alimentação Escolar
Desde junho de 2009, com a aprovação da Lei nº 11.947, a agricultura familiar passou a fornecer gêneros alimentícios a serem servidos nas escolas da rede pública de ensino. A lei prevê que, do total dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para a compra de alimentos, no mínimo 30% devem provir da agricultura familiar.
O destaque em vendas para o PNAE é a região Sul -- de seus 1.128 municípios, 874, o equivalente a 77% -- compraram dos agricultores familiares locais, em 2010. "Estamos tentando mostrar aos agricultores que há um grande espaço de mercado que eles podem conquistar e para profissionalizar cada vez mais suas organizações", explica o coordenador das políticas de comercialização de produtos da agricultura familiar do MDA, Pedro Bavaresco.
A iniciativa abriu para os agricultores familiares um vasto espaço de comercialização que não existia. Em nível nacional, o programa possibilita que seja gasto, no mínimo, R$ 1 bilhão por ano para compra de produtos da agricultura familiar. Por favorecer o comércio regional, o PNAE também é uma importante ferramenta para o crescimento econômico local e o combate à pobreza. Para quem adquire esses produtos, o resultado é mais qualidade na alimentação. A expectativa do ministério é ampliar ainda mais esse mercado aumentando, ainda em 2012, o limite de vendas anual por Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), que hoje é de R$ 9 mil.
Por Ludmila Duarte - Ministério do Desenvolvimento Agrário
MDA/EcoAgência


terça-feira, 10 de abril de 2012

Alimentos de origem animal têm índice de contaminantes baixo no Brasil, segundo pesquisa


Carnes, leite, ovos e pescados consumidos no Brasil estão quase em sua totalidade livres de contaminantes, de acordo com informação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O índice dos alimentos de origem animal livres de resíduos veterinários ou químicos chega a 99,78%. O resultado é semelhante ao registrado em 2010, 99,83%.
O principal problema encontrado foi o alto índice de detecção de arsênio em pescado de captura (cuja pescaria ocorre em alto mar), diagnosticado em 18 casos. Do total de 19.267 analises feitas em 2011, apenas 0,22% dos alimentos de origem animal apresentou resultados fora dos padrões recomendados pelo Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC/Animal).

Por meio de analises feitas pelos Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagro), o ministério monitora a quantidade de resíduos químicos, como antimicrobianos e vermífugos, em  alimentos de origem bovina, suína, equina, caprina e ovina. A mesma inspeção é realizada nas carnes de aves, nos ovos e nos pescados.
No total, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento conta com seis laboratórios – localizados no Rio Grande do Sul, em São Paulo, Minas Gerais, Goiás, no Pará e em Pernambuco – para realizar o trabalho.
Agência Brasil 09/04/2012