terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Concentração na área de insumos mais do que dobra em 20 anos


Segundo um estudo publicado em dezembro de 2012 na Amber Waves, publicação técnica do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), a concentração do mercado mundial de insumos agrícolas mais que duplicou desde o início dos anos 1990. A concentração mais rápida foi observada na indústria de sementes: entre 1994 e 2009, a participação das quatro maiores empresas do ramo no mercado passou de 21% para 54%.

Em 2009, as quatro maiores empresas nos ramos das sementes/biotecnologia, agrotóxicos, medicamentos veterinários, melhoramento genético animal e maquinaria agrícola controlavam pelo menos 50% das vendas globais. Considerando as oito maiores empresas desses cinco setores, o controle do mercado em 2009 variou entre 61% e 75%.

Segundo os autores do estudo, as empresas aumentaram sua participação no mercado através de duas vias: expandindo suas vendas mais rápido do que suas concorrentes ou (e principalmente) realizando aquisições e fusões com outras empresas do ramo. Conforme foi apurado, em 2010 as maiores empresas de insumos tiveram o crescimento nas vendas mais acelerado do que média das indústrias, mas uma parte significativa desse crescimento veio da aquisição de outras empresas.

O estudo também aponta que cinco das sete maiores empresas de sementes (cujo faturamento em 2009 foi de mais de US$ 600 milhões, cada) são também líderes do mercado de agrotóxicos. São elas: Syngenta, Bayer, Dow, Dupont e Monsanto. Uma sexta empresa, a Basf, é também uma das líderes no mercado de agrotóxicos e, embora ainda não tenha uma participação importante no setor de sementes, está investindo significativamente em biotecnologia e já comercializa algumas variedades transgênicas. Segundo os autores da pesquisa, estas companhias atualmente constituem o grupo “Big 6” da pesquisa em sementes, biotecnologia e agrotóxicos.

Embora os autores apresentem ponto de vista favorável ao modelo da agricultura convencional e transgênica – atribuem o aumento da produtividade agrícola à adoção do pacote tecnológico, consideram que a proteção dos direitos de propriedade intelectual é necessária para que as empresas invistam em inovação e que os agricultores “estão dispostos” a pagar pelas novas tecnologias – eles ressaltam que “o maior poder de mercado resultante das mudanças estruturais na indústria de insumos agrícolas leva os agricultores a pagarem preços mais altos para comprar os insumos. Com maior proteção legal sobre suas patentes e com menos empresas competindo no mercado, as empresas podem cobrar preços mais altos por suas inovações”. E, mais importante ainda, reconhecem que: “nas últimas duas décadas, os preços dos insumos aumentaram mais rápido do que os preços que os agricultores norte-americanos recebem por suas lavouras e criações”.

Esse fenômeno também se manifestou de forma mais acentuada no caso das sementes: segundo os dados apresentados, entre 1990 e 2012 os preços das sementes mais que dobraram em relação aos preços recebidos pelas commodities agrícolas (grifo nosso). Esta desproporção é atribuída, ao menos em parte, às sementes transgênicas (ou, nas palavras dos autores, “ao valor das novas características das sementes resultantes do investimento em pesquisa feito por empresas de sementes/biotecnologia”).

Todas essas constatações do estudo são claramente visíveis no campo, também aqui no Brasil. Falando de forma objetiva, o cenário atual é o seguinte: a meia dúzia de empresas que controla o mercado de insumos dita as tecnologias a serem adotadas, eliminam do mercado as chamadas “antigas tecnologias”, e cobram o que querem por seus produtos. Os agricultores, por sua vez, não têm escolha senão aderir ao pacote imposto, a preços cada vez mais altos, e têm suas margens de lucro cada vez mais achatadas.

O caso das sementes transgênicas é emblemático. Com o mercado sementeiro extremamente oligopolizado, as sementes convencionais de milho e soja sumiram da praça. Os agricultores acabam quase que forçosamente aderindo às sementes transgênicas, a um custo bem mais alto do que pagariam pelas similares convencionais. São cada vez mais recorrentes as notícias de que a tecnologia transgênica não cumpre suas promessas e já não funciona como nas primeiras safras – diversas espécies de mato já desenvolveram resistência ao glifosato utilizado nas lavouras tolerantes ao herbicida, em vários lugares as lagartas já não morrem quando comem as plantas do tipo Bt e, mais ainda, milho transgênico está virando praga em lavoura de soja.

Mesmo assim, as empresas e os defensores dos transgênicos seguem alegando que a adoção generalizada da transgenia é dado que comprova seus benefícios. Segundo esse argumento, se essas sementes não fossem mesmo melhores, os agricultores não as escolheriam. Será mesmo?
 
AS-PTA Boletim Número 614 - 18 de janeiro de 2013 - EcoAgência

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