sexta-feira, 14 de julho de 2017

Ex-morador de rua recebe medalha na Assembleia Legislativa



























Richard de Campos reside em um albergues da prefeitura e é um dos principais ativistas na luta pelos direitos das pessoas em situação de rua na Região Metropolitana

Natural de Guaíba, Richard de Campos, 25 anos, saiu de casa quando era criança, para fugir das agressões que sofria do pai. Morou em um abrigo até os 18 anos e, depois, em situação de rua, passou a ser uma das principais vozes em defesa dos direitos daqueles que, como ele, também não têm onde viver na Região Metropolitana. Os anos de luta renderam ao jovem a Medalha da 54ª Legislatura da Assembleia Legislativa do Estado, entregue na tarde desta sexta-feira. 
Campos é um dos líderes do Movimento Nacional da População de Rua do Rio Grande do Sul. A medalha da AL, recebida em uma cerimônia no Salão Júlio de Castilhos, foi a primeira homenagem que recebeu. “Eu acho que essa medalha é bastante simbólica neste momento em que a gente vive uma crise de representatividade tão grande. Alguém do parlamento homenagear uma pessoa em situação de rua é, sem dúvida, uma esperança. Me faz ser ainda mais responsável pela pessoas em situação de rua, essa medalha é de todos”, afirmou Campos.  
A homenagem foi uma proposta do deputado Pedro Ruas (PSOL), que acompanha há anos a atuação de Campos. “Conheci ele fazendo esse trabalho para ajudar as pessoas em situação de rua, ele é um líder. Uma frase que ele sempre diz é que não pode mudar o passado dele, mas tem que lutar para que outras pessoas não passem pelo que ele passou”, afirma Ruas.
Com a distinção, Ruas espera também dar mais visibilidade à causa das pessoas que vivem em situação de rua na Capital. “Nosso atendimento à essa população é péssimo, principalmente no inverno, quando eles mais precisam. Essas pessoas necessitam de cuidado, acesso à saúde e de um abrigamento mais humano, com menos exigências e com horários mais flexíveis”, critica o deputado. “Também precisam de segurança, mas são tratados como criminosos, discriminados”, completa.  
Segundo Campos, é preciso que a prefeitura retome com urgência o diálogo com as pessoas em situação de rua, que até o ano passado era feito em reuniões do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para a População em Situação de Rua (Comitê POPRUA). “No início do ano, infelizmente, essas reuniões foram encerradas unilateralmente pela prefeitura. Acho que a retomada seria o mais importante agora, pois é preciso fazer política com essas pessoas e não para essas pessoas”, afirma Campos.
Entre 2007 e 2016, o número de pessoas em situação de rua quase dobrou na Capital, passando de 1.203 para 2.115 pessoas. Os dados foram divulgados no último censo sobre o perfil dessa população, apresentado pela prefeitura e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), contratada para fazer a pesquisa, em dezembro do ano passado. O Correio do Povo questionou a assessoria de imprensa da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) da Prefeitura de Porto Alegre sobre a continuidade do Comitê POPRUA, mas não obteve retorno até o horário de publicação da reportagem. 
Correio do Povo 14/07/2017

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