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segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Maruins: os menores dípteros hematófagos, negligenciados mas importantes

 


O recente relato de casos de infecção por vírus Oropouche em Salvador e proximidades vem chamar a atenção para os pequenos maruins. O estudo destes dípteros, os menores que sugam sangue, têm sido negligenciado, por serem pequenos (1-2 mm, às vezes até 4 mm) e parecerem apenas irritar por suas picadas.

Realmente, eles são irritantes, especialmente quando atacam em grande número, podendo desvalorizar imóveis e regiões, devido à alergenicidade de sua saliva. O turismo pode ser muito afetado, pois a tolerância é muito menor quando se está a passeio num local que quando se está morando ou trabalhando. Além do incômodo causado aos humanos, podem causar uma dermatite (“sweet itch”) em equinos. Como disse um especialista australiano, “um maruim é uma maravilha entomológica, mil são o inferno”.

Eles têm também sido incriminados na transmissão de pelo menos 50 arbovírus. Os vírus Bluetongue e Schmallenberg têm sido reportados em vários ruminantes. O primeiro ocorre em vários continentes, com numerosos sorotipos, havendo vários relatos de ocorrência em quase todos os países da América do Sul; causa grande dano à criação de carneiros e é pouco estudado no Brasil. O segundo tem sido relatado amplamente na Europa, e também causa grandes prejuízos ao gado. Os europeus estão muito preocupados com a African Horse Sickness, também causada por vírus transmitido pelos maruins, que causa sérios prejuízos ao atingir cavalos, principalmente relacionados com esportes; epidemias já causaram a morte de 70.000 cavalos (40% do rebanho) na província do Cabo (África do Sul) e 300.000 numa área do Chipre ao Afeganistão, em 1959. Vários outros vírus (orthobunyavirus, orbivírus e rhabdovírus) ocorrem em bovinos no Japão. Com a importância da pecuária no Brasil, é preciso, portanto ter muita atenção com estes arbovírus.

Os humanos têm sido afetados pelo vírus Oropouche, que causa sintomas parecidos com os de dengue, podendo ocorrer em epidemias atingindo grande proporção das populações, como ocorreu em Serra Pelada. Antes aparentemente restrito à Amazônia e países ao norte da América do Sul, tem ocorrido em outras áreas. Mesmo não causando (ainda) óbitos, pode causar grande sofrimento e incapacidade temporária.

A mansonelose está em geral relacionada aos maruins, sendo uma doença negligenciada, de ampla distribuição no continente americano e na África. Não só ela causa problemas per se, mas também ocasiona complicações para o diagnóstico e tratamento de outras filarioses.

Há indicações de envolvimento de maruins na transmissão de várias leishmanias do grupo enrietti, principalmente na Austrália. Estes mal conhecidos tripanosomatídeos ocorrem na África (Gana), causam leishmaniose visceral e cutânea no sudeste asiático, na Austrália, onde atingem cangurus, e no Brasil, com L. enrietti e L. forattini, aparentemente restritas a roedores. Em estudos na Austrália, nenhum de 1.818 flebotomíneos de Sergentomyia examinados estava positivo, mas até formas aparentemente infectantes (semelhantes a promastigostas metacíclicos) foram encontrados em maruins; só está faltando a transmissão experimental por estes dípteros. Além disso, mesmo não sendo possível ainda incriminá-los na transmissão de L. braziliensis e L. amazonensis, eles foram encontrados com DNA destes protozoários no Maranhão.

Os maruins têm biologia muito variada, sendo suas formas imaturas encontradas em vários tipos de ambientes, incluindo frutas podres, água parada de vários tipos no solo, internódios de bambus, água com estrume etc. Os adultos podem voar centenas de metros e ser transportados por grandes distâncias pelo vento, e picam com mais frequência ao anoitecer, mas há espécies que picam em vários horários. Apesar de se associar maruins com mangue, há espécies cujas larvas se desenvolvem em vegetais em decomposição (cacau e bananeiras); algumas áreas de bananais em Santa Catarina (e.g., Corupá) têm uma quantidade irritante de maruins. Em Salvador, um estudo de 1964 já descrevia os problemas dermatológicos causados por maruins na cidade, com grande predominância de Culicoides paraensis, envolvida na transmissão de vírus Oropouche no Pará e outras áreas.

O controle é muito difícil, principalmente com pouco conhecimento da fauna e da biologia. A aplicação de telas em domicílios e estábulos é ineficiente, pois elas precisariam ser tão fechadas que prejudicariam a ventilação; mesmo quando elas são impregnadas com inseticidas não impedem totalmente a passagens destes insetos diminutos, o que é imprescindível se houver intenção de evitar arboviroses. Os inseticidas são pouco eficientes, tanto aplicados em instalações quanto nos animais, e os repelentes têm várias limitações, especialmente para cavalos. O custo da nebulização de inseticidas é muito alto para uso frequente.

Pelo seu tamanho diminuto, sendo necessário dissecá-los para a identificação, e por não haver (ainda) indicações de grande importância médica e veterinária no país, seu estudo não tem tido a popularidade e o financiamento dedicado a outros dípteros, como os mosquitos e os flebotomíneos.

A fauna de maruins do Brasil, já incluindo quase 500 espécies descritas, precisa da dedicação de uma quantidade muito maior de pesquisadores, que atualmente são algumas dezenas, certamente subfinanciados. É um grupo de grande importância, e não se pode esperar que surjam problemas mais sérios com arbovírus, para que se vá formar pessoal e desenvolver pesquisas. Não se treina bombeiros após o incêndio começar, mas sim antes.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**
4/10/2017

Carlos Brisola Marcondes

Professor Titular do Departamento Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Fonte: SBMT Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

Febre do Oropouche: entenda o que é a doença que preocupa o Brasil




O Ministério da Saúde define a febre do Oropouche como doença causada por um arbovírus do gênero Orthobunyavirus, identificado pela primeira vez no Brasil, em 1960, a partir da amostra de sangue de um bicho-preguiça capturado durante a construção da rodovia Belém-Brasília.

Desde então, casos isolados e surtos foram relatados no país, sobretudo na região amazônica, considerada endêmica. Em 2024, entretanto, a doença passou a preocupar autoridades sanitárias brasileiras. Até o início de julho, mais de 7 mil casos haviam sido confirmados no país, com transmissão autóctone em pelo menos 16 unidades federativas. Esta semana, São Paulo confirmou os primeiros casos no interior do estado.

A transmissão acontece principalmente por meio do vetor Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora. No ciclo silvestre, bichos-preguiça e primatas não humanos (e possivelmente aves silvestres e roedores) atuam como hospedeiros. Há registros de isolamento do vírus em outras espécies de insetos, como Coquillettidia venezuelensis e Aedes serratus.

Já no ciclo urbano, os humanos são os principais hospedeiros. Nesse cenário, o mosquito Culex quinquefasciatus, popularmente conhecido como pernilongo e comumente encontrado em ambientes urbanos, também pode transmitir o vírus.

Sintomas

Os sintomas da febre do Oropouche, de acordo com o ministério, são parecidos com os da dengue e incluem dor de cabeça intensa, dor muscular, náusea e diarreia. “Nesse sentido, é importante que profissionais da área de vigilância em saúde sejam capazes de diferenciar essas doenças por meio de aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais e orientar as ações de prevenção e controle”, alerta a pasta.

O quadro clínico agudo, segundo a pasta, evolui com febre de início súbito, cefaleia (dor de cabeça), mialgia (dor muscular) e artralgia (dor articular). Outros sintomas como tontura, dor retro-ocular, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados. Casos com acometimento do sistema nervoso central (como meningite asséptica e meningoencefalite), especialmente em pacientes imunocomprometidos, e com manifestações hemorrágicas (petéquias, epistaxe, gengivorragia) podem ocorrer.

Ainda de acordo com o ministério, parte dos pacientes (estudos relatam até 60%) pode apresentar recidiva, com manifestação dos mesmos sintomas ou apenas febre, cefaleia e mialgia após uma ou duas semanas a partir das manifestações iniciais. “Os sintomas duram de dois a sete dias, com evolução benigna e sem sequelas, mesmo nos casos mais graves”.

Mortes inéditas


No último dia 25, entretanto, a Bahia confirmou duas mortes por febre do Oropouche no estado. Até então, não havia nenhum registro de óbito associado à infecção em todo o mundo.

De acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia, as mortes foram registradas em pacientes sem comorbidades e não gestantes. A primeira morte, uma mulher de 24 anos que residia no município de Valença, ocorreu no dia 27 de março. O segundo óbito, uma mulher de 21 anos que residia em Camamu, foi registrado no dia 10 de maio.

Técnicos de vigilância em saúde baianos informaram que as pacientes apresentaram início abrupto de febre, dor de cabeça, dor retro orbital e mialgia, que rapidamente evoluíram para sintomas graves, incluindo dor abdominal intensa, sangramento e hipotensão.

Diagnóstico

O diagnóstico da febre do Oropouche é clínico, epidemiológico e laboratorial e todos os casos positivos devem ser notificados. Além de ser de notificação compulsória, a doença também é classificada pelo ministério como de notificação imediata, “em função do potencial epidêmico e da alta capacidade de mutação, podendo se tornar uma ameaça à saúde pública”.

Tratamento

Não há tratamento específico para a febre do Oropouche. A orientação das autoridades sanitárias brasileiras é que os pacientes permaneçam em repouso, com tratamento sintomático e acompanhamento médico. Em caso de sintomas suspeitos, o ministério pede que o paciente procure ajuda médica imediatamente e informe sobre uma exposição potencial à doença.

Prevenção

Dentre as recomendações citadas pela pasta para prevenir a febre do Oropouche estão:

- Evitar o contato com áreas de ocorrência e/ou minimizar a exposição às picadas dos vetores.

- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas da pele.

- Limpar terrenos e locais de criação de animais.

- Recolher folhas e frutos que caem no solo.

- Usar telas de malha fina em portas e janelas.

Transmissão vertical e microcefalia

Apenas em julho, o ministério publicou duas notas técnicas voltadas para gestores estaduais e municipais envolvendo a febre do Oropouche. Uma delas recomenda intensificar a vigilância de casos e alerta para a possibilidade de transmissão vertical da doença, que acontece quando o vírus é transmitido da mãe para o bebê, durante a gestação ou no parto.

Em junho, a Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas analisou amostras de soro e líquor armazenadas na instituição, coletadas para investigação de arboviroses e negativas para dengue, chikungunya, zika e vírus do Nilo Ocidental. Nesse estudo, foi detectado em quatro recém-nascidos com microcefalia a presença de anticorpos contra o vírus da febre do Oropouche. “Essa é uma evidência de que ocorre transmissão vertical do vírus, porém, limitações do estudo não permitem estabelecer relação causal entre a infecção pelo vírus durante a vida uterina e malformações neurológicas nos bebês”, destacou o ministério do documento.

No mês passado, a investigação laboratorial de um caso de óbito fetal com 30 semanas de gestação identificou material genético do vírus da febre do Oropouche em sangue de cordão umbilical, placenta e diversos órgãos fetais, incluindo tecido cerebral, fígado, rins, pulmões, coração e baço. “Essa é uma evidência da ocorrência de transmissão vertical do vírus. Análises laboratoriais e de dados epidemiológicos estão sendo realizadas para a conclusão e classificação final desse caso”, informou a pasta no mesmo documento.

Fonte: Agência Brasil

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Ministério da Saúde confirma duas mortes por febre oropouche



O Ministério da Saúde confirmou nesta quinta-feira (25) duas mortes por febre oropouche no país. Até o momento, não havia relato na literatura científica mundial sobre a ocorrência de óbito pela doença, informou a pasta, em nota.

As mortes são de mulheres que viviam no interior da Bahia. Elas tinha menos de 30 anos de idade, sem comorbidades, e apresentaram sinais e sintomas semelhantes ao de dengue grave.

Casos sob investigação

O ministério investiga uma morte em Santa Catarina e se quatro casos de interrupção de gestação e dois de microcefalia em bebês têm relação com a doença (Pernambuco, Bahia e Acre). Foi descartado relação da febre com uma morte no Maranhão.

No último dia 11, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica a todos os estados e municípios recomendando o reforço da vigilância em saúde sobre a possibilidade de transmissão vertical do vírus. Com a nota técnica, o ministério pretende também orientar a sociedade sobre a arbovirose.

A medida foi adotada após o Instituto Evandro Chagas detectar a presença do genoma do vírus em um caso de morte fetal, e de anticorpos em amostras de quatro recém-nascidos com microcefalia.

No entanto, o ministério destacou que não há evidências científicas consistentes sobre a transmissão do vírus Orov da mãe infectada para o bebê durante a gestação e nem sobre o efeito da infecção sobre malformação de bebês ou aborto.

Este ano, já foram registrados 7.236 casos de febre do oropouche, em 20 estados. A maior parte foi identificado no Amazonas e em Rondônia. Desde 2023, foi ampliada a detecção de casos da doença no Brasil, por meio de testes de diagnóstico na rede pública em todas as regiões.

Febre Oropouche

A febre Oropouche é uma doença viral. O vírus Orov é transmitido, principalmente, por meio da picada de um mosquito conhecido como maruim (Culicoides paraensis), bem como por espécies do mosquito Culex. No Brasil, o vírus foi isolado pela primeira vez em 1960.

O ministério explicou que a febre oropouche pode ser confundida com a dengue. A doença evolui com febre de início súbito, cefaleia (dor de cabeça), mialgia (dor muscular) e artralgia (dor articular). Outros sintomas como tontura, dor retro-ocular, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados.

Os sintomas duram cerca de dois a sete dias. Mas, até 60% dos pacientes podem apresentar recorrência dos sintomas, após uma a duas semanas a partir das manifestações iniciais. A maioria das pessoas tem evolução benigna e sem sequelas, mesmo nos casos mais graves.

Até o momento, não há tratamento específico para a febre oropouche. A terapia atual apenas alivia os sintomas

Fonte: Agência Brasil