quinta-feira, 17 de julho de 2025

Pesquisadores criam prótese com antibiótico para tratar infecções

 

Resultados preliminares de testes foram positivos
A substituição de articulações desgastadas por próteses tem trazido melhor qualidade de vida para pessoas com diferentes quadros de saúde, especialmente idosos, que conseguem voltar a se locomover sem dor após o procedimento. Mas, em alguns casos, a melhora é interrompida por infecções, que demandam um longo tratamento com antibióticos e a retirada das próteses, devolvendo o paciente a uma rotina com limitações.

Um projeto desenvolvido por pesquisadores paranaenses pretende ajudar a mudar esse percurso, com uma prótese biodegradável, fabricada em impressora 3D a partir de um polímero plástico que pode ser associado com antibióticos. O material está em fase de testes clínicos e foi aplicado, até agora, em 15 pacientes, que receberam próteses de quadril no Hospital Universitário Cajuru em Curitiba, com resultados preliminares positivos.
 
“Hoje não existe no SUS uma prótese temporária com antibiótico que seja acessível. As que existem são importadas e de alto custo”, ressalta o professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Felipe Francisco Tuon, que lidera o projeto.

Atualmente, quando o paciente desenvolve uma infecção, ele precisa retirar a prótese permanente de titânio e ficar sem nenhum substituto enquanto a doença é tratada, o que costuma levar pelo menos seis meses. "Nesse tempo, a pessoa vai sentir dor. Dependendo do local da prótese, ela não vai conseguir andar. E fica um espaço vazio, o que aumenta a chance de ter hematoma, uma nova infecção, e acaba acontecendo uma retração muscular", complementa o pesquisador.

A prótese de polímero foi pensada para substituir a permanente durante o tempo de tratamento, com o adicional do antibiótico, que ajuda a controlar a infecção diretamente no local afetado. Depois que a batalha contra as bactérias é vencida, o paciente pode receber novamente a prótese permanente, com menos riscos de complicações.

O uso da impressora 3D também é uma grande vantagem, já que permite tanto a produção em larga escala de modelos padronizados, com um baixo custo, quanto de peças personalizadas.

"Para alguns pacientes que necessitem de uma prótese de tamanho diferente do padrão, é possível fazer uma tomografia computadorizada, e construir uma prótese com as características específicas para aquele paciente", complementa Tuon.

Os pacientes que receberam a prótese temporária de quadril continuam sendo avaliados, e a pesquisa espera fazer testes clínicos com pessoas que precisam de prótese no joelho e no ombro no ano que vem.

A equipe também está ampliando a estrutura de produção, após receber um financiamento de R$ 3 milhões do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O novo centro de impressão 3D vai permitir que as próteses sejam enviadas à rede pública de todo o Brasil.

“O objetivo é fornecer as próteses para todos os hospitais que quiserem participar do projeto. A gente tem aqui capacidade de produção e material para anos de próteses", conclui Tuon
Fonte: Agência Brasil

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Aranha causa cobreiro? Lesões na pele provocadas por herpes-zóster podem ser confundidas com alergia

 


Crença popular que associa caranguejeiras à doença viral é mito e surgiu porque a aranha possui cerdas capazes de provocar reação alérgica

Você já deve ter ouvido falar que encostar em aranha pode causar cobreiro – aquelas lesões avermelhadas na pele, acompanhadas de coceira, formigamento, febre e mal-estar. Mas será que isso tem algum fundamento científico? Segundo o aracnólogo Paulo Goldoni, tecnologista no Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, a resposta é NÃO.

Cobreiro é o nome popular das manifestações que podem ocorrer na pele como consequência da herpes-zóster, doença causada pelo vírus varicela-zoster e que não tem nada a ver com as pobres aranhas. Esse vírus é o mesmo da catapora (ou varicela), doença comum na infância e prevenível pela vacina tetravalente, disponível na rede pública a partir dos 15 meses de idade. A herpes-zóster, predominante em idosos, acontece quando o varicela-zoster é reativado no organismo após ficar “dormente” por um período – ele pode levar décadas para se manifestar e, em algumas pessoas, isso nunca acontece.

ENTÃO DE ONDE VEM ESSA HISTÓRIA DE QUE ARANHA CAUSA COBREIRO?
A palavra “cobreiro” surgiu justamente da ideia de que as lesões na pele são provocadas pelo contato com aranhas, cobras ou até sapos, embora a crença sobre os aracnídeos tenha ganhado mais destaque no imaginário popular. As aranhas associadas ao cobreiro são as caranguejeiras, da família Theraphosidae – aquelas grandes e “peludas” que vemos nos filmes. No Brasil, há 185 espécies descritas dessa família.

De acordo com Paulo, esses “pelos” são, na verdade, cerdas modificadas capazes de causar reação alérgica. “O contato com essas cerdas pode provocar uma variedade de respostas. Algumas pessoas podem ficar apenas com vermelhidão e coceira, enquanto outras podem chegar a ter pequenas bolhas e feridas na pele, que acabam sendo confundidas com as lesões da herpes-zóster”, explica.

As caranguejeiras com cerdas urticantes pertencem a uma subfamília específica, a Theraphosinae, distribuída em todo o território brasileiro. “Algumas espécies têm o hábito de caminhar, em vez de ficar escondidas em tocas. Com isso, acabam sendo mais vistas pelas pessoas, inclusive nas residências. Segundo a crença popular, essas espécies mais ativas seriam responsáveis pelo cobreiro”, diz o especialista.

As cerdas são usadas como mecanismo de defesa e lançadas quando a aranha se sente ameaçada. Os pelos urticantes podem atingir até os olhos e o trato respiratório, causado intensa irritação. Vale ressaltar que a caranguejeira não é um animal agressivo e esses acidentes só acontecem se as pessoas se aproximam ou tentam segurá-la. Por isso, ao cruzar com uma dessas aranhas, é melhor deixá-la seguir seu rumo.

COMO DIFERENCIAR AS LESÕES: COBREIRO E URTICÁRIA

As feridas da herpes-zóster costumam aparecer, principalmente, no tórax, pescoço e costas, e somente de um lado do corpo. Além de coceira, ardor e formigamento, as bolhas podem provocar dores fortes, já que o vírus fica alojado nas células nervosas. A doença é mais comum em idosos e pessoas com sistema imune comprometido, podendo deixar sequelas como dor crônica. O tratamento é feito com antivirais e existe uma vacina disponível na rede privada de saúde que ajuda a prevenir a infecção.

Já a alergia provocada pelas cerdas da caranguejeira é caracterizada por vermelhidão, dor e coceira intensa no local do contato, não se espalhando por outros lugares do corpo. Também podem ocorrer manifestações sistêmicas, como espirros e tosse. Raramente, pessoas com maior sensibilidade podem ter reações alérgicas mais graves que necessitam de atendimento médico. Já foram descritos, também, casos de inflamação crônica nos olhos.



Cerdas modificadas da aranha podem causar reação alérgica

Tive contato com as cerdas da aranha, preciso tomar o soro antiaracnídico do Butantan?

Não. As cerdas não estão ligadas às glândulas de veneno e não provocam envenenamento. Assim, o tratamento é feito com base nos sintomas da alergia. Apesar de as caranguejeiras terem veneno, assim como os outros aracnídeos, sua toxina não é ativa em humanos e não representa perigo. A picada pode provocar dor local, coceira, inchaço e vermelhidão na pele, sintomas que também são tratados com medicamentos convencionais e que não exigem a aplicação de soro.

Fonte: Instituto Butantan

sábado, 12 de julho de 2025

Brasil retomará fabricação nacional de insulina após 20 anos

 
Tecnologia para produção será adquirida de farmacêutica indiana

O Ministério da Saúde recebeu, nesta sexta-feira (11), o primeiro lote de insulinas produzidas por meio do programa Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), que faz parte da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico Industrial da Saúde. O país voltará a fabricar o medicamento 100% nacional, por meio de transferência da tecnologia da farmacêutica indiana Wockhardt, com base em um acordo com o laboratório público Fundação Ezequiel Dias (Funed) e com a empresa brasileira Biomm.

O ministro Alexandre Padilha participou do evento de entrega do lote com 207.385 mil unidades do medicamento, sendo 67.317 frascos de insulina regular e 140.068 de insulina NPH, na fábrica da Biomm, em Nova Lima (MG).

"Depois de mais de duas décadas sem produzir insulina humana, o Brasil retoma essa fabricação para ser entregue ao Sistema Único de Saúde e contribuir com a saúde da população", destacou Padilha. "É o Brics acontecendo na realidade, mudando a vida da população brasileira e gerando emprego, renda e tecnologia aqui em Minas Gerais", acrescentou, em referência ao bloco econômico que reúne grandes países do chamado Sul Global, incluindo a Índia, país que viabilizou a parceria.
Segundo a pasta, após a transferência total da tecnologia, o Brasil produzirá 50% da demanda relacionada às insulinas NPH e regular no SUS.

"Uma iniciativa como essa traz segurança aos pacientes de que, independentemente de qualquer crise — como a que vivemos durante a pandemia —, o país tem soberania na produção desse medicamento tão importante. Cerca de 10% da população brasileira tem diabetes, e parte dessas pessoas precisa usar insulina. Isso garante tranquilidade, segurança e estabilidade tanto para o SUS quanto para os cidadãos que dependem do medicamento", reforçou Padilha.

A iniciativa conta com investimentos de R$ 142 milhões na aquisição da tecnologia, e cerca de 350 mil pessoas com diabetes serão beneficiadas. Os contratos preveem a entrega para a rede pública de 8,01 milhões de unidades de insulina, entre frascos e canetas, em 2025 e 2026.

A partir da aquisição inicial, de acordo com o Ministério da Saúde, terá início o processo de transferência de tecnologia, conforme previsto nas diretrizes da PDP. Ao final da transferência, a produção do medicamento será totalmente brasileira, com a Funed e a Biomm capacitadas para fabricar o medicamento no país e abastecer o SUS de forma autônoma.

Nas PDPs, instituições públicas e empresas privadas compartilham responsabilidades para a produção nacional do insumo farmacêutico ativo (IFA) e do produto objeto de PDP, em um processo de transferência de tecnologia reversa. A transferência é efetivada por meio de etapas que incluem a realização de embalagens, controle de qualidade dos insumos, produção do produto acabado e do Insumo Farmacêutico Ativo no Brasil, possibilitando, assim, a produção local do medicamento que será fornecido ao SUS.

TRATAMENTO NO SUS

O SUS oferece assistência integral às pessoas com diabetes, desde o diagnóstico até o tratamento adequado, de acordo com o quadro clínico de cada paciente. A porta de entrada para o cuidado é a Atenção Primária à Saúde, que realiza o acompanhamento contínuo por meio de equipes multiprofissionais. Atualmente, são ofertados quatro tipos de insulinas: insulinas humanas NPH e regular e insulinas análogas de ação rápida e prolongada, além de medicamentos orais e injetável para diabetes mellitus.

Fonte: Agência Brasil

sexta-feira, 11 de julho de 2025

SUS vai ofertar novos tratamentos para endometriose

 
Condição afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva no mundo

Mulheres com endometriose terão duas novas opções de tratamento de base hormonal para a doença via Sistema Único de Saúde (SUS): o dispositivo intrauterino liberador de levonogestrel (DIU-LNG) e o desogestrel. Ambos foram recentemente incorporados à rede pública depois de receberem recomendação favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).

Em nota, o Ministério da Saúde detalhou que o DIU-LNG suprime o crescimento do tecido endometrial fora do útero e figura como uma opção para mulheres com contraindicação ao uso de contraceptivos orais combinados. “A nova tecnologia pode melhorar a qualidade de vida das pacientes, uma vez que sua troca só é requerida a cada cinco anos, o que contribui para aumentar a adesão ao tratamento.”

Já o desogestrel, segundo a pasta, pode reduzir a dor e dificulta a progressão da doença. Trata-se de um anticoncepcional hormonal que age bloqueando a atividade hormonal, impedindo o crescimento do endométrio fora do útero, e que poderá ser usado como primeira linha de tratamento, ou seja, prescrito já na avaliação clínica até que o diagnóstico se confirme por meio de exames.

“Vale destacar que, para estarem disponíveis na rede pública de saúde, é necessário o cumprimento de etapas necessárias, como a atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Endometriose”, informou o ministério no comunicado.

ENTENDA

A endometriose é uma condição ginecológica inflamatória crônica que ocasiona o crescimento do tecido que reveste o útero fora da cavidade uterina. Nas mulheres com a doença, o tecido semelhante ao endométrio (que reveste o útero) cresce fora do útero em órgãos como ovários, intestino e bexiga, o que causa reações inflamatórias.

Cólica menstrual intensa, dor pélvica crônica, dor durante a relação sexual, infertilidade e queixas intestinais e urinárias com padrão cíclico estão entre os principais sintomas da endometriose.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a condição afeta cerca de 10% das mulheres e meninas em idade reprodutiva em todo o mundo, representando mais de 190 milhões de pessoas.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam aumento de 30% na assistência relacionada ao diagnóstico da endometriose na atenção primária na comparação entre 2022 (115,1 mil atendimentos) e 2024 (144,9 mil). Ao longo dos dois últimos anos (2023 e 2024), foram registrados, segundo a pasta, mais de 260 mil atendimentos.

Já na atenção especializada, o SUS registrou aumento de 70% no número de atendimentos por endometriose, passando de 31.729 em 2022 para 53.793 em 2024. Nos dois últimos anos, foram contabilizados 85,5 mil atendimentos.

Também houve um aumento de 32% nas internações pela doença, que passaram de 14.795 em 2022 para 19.554 em 2024. No mesmo período (2023 e 2024), o total foi de 34,3 mil internações.

Fonte: Agência Brasil